25 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Truth

Narração por Pietro Breine



Flashback

Eu fitava a janela do meu quarto. Estava escuro e silencioso demais. Queria poder ir para fora e montar meu cavalo. Seria mais divertido do que ficar em casa quando eu não sentia nem um pingo de sono, mas eu tinha minhas dúvidas se queria mesmo isso, afinal, estava escuro lá fora.

Ouvi um barulho no corredor e, antes que eu pudesse voltar para a cama e fingir que estava dormindo, a porta abriu-se.

Estava crente de que era papa entrando no quarto e me preparei para uma bronca por ainda estar de pé, mas era, na verdade, Sophie, entrando nas pontas dos pés.

Eu ficava admirado com a habilidade dela em andar tão silenciosamente.

–O que está fazendo aqui? – perguntei saindo da janela, deixando de ver os terrenos de casa – Você deveria estar com sua maman! – disparei olhando para minha melhor amiga.

–Non. Maman está dormindo. – a francesinha falou – Quero aprender a jogar snap explosivo!

Dei uma olhada no relógio e percebi que era mais tarde do que eu previra.

–S'il vous plaît, Pietro. – Por favor, ela me pediu e cedi.

–Uma partida rápida. – falei pegando o baralho e arrumando tudo.

Ficamos quase meia hora jogando e Sophie estava até mesmo ganhando de mim, não havia mistério. Ela sempre aprendia rápido e era a menina mais sortuda que eu já conhecera.

–O que vocês estão fazendo? – me arrepiei. Desta vez papa me pegara desprevenido.

–É minha culpa, Sr. Breine. Pietro non fez nada – Sophie disse levantando-se – e maman também non sabe que estou aqui, non é culpa dela também.

Meu papa olhou para ela fixamente e abriu um sorriso, era incrível e, ao mesmo tempo, injusto. Comigo ele nunca soltava uma só risada e com ela, uma simples hóspede, ele fazia tudo. Bufei irritado, mas ele não ouvira.

–O que estavam fazendo? – ele perguntou lançando um olhar para as cartas no chão e, depois, para mim.

–Estou ensinando ela a jogar snap explosivo. – respondi.

–Quero aprender tudo antes de ir para Beauxbatons.

Papa olhou para ela admirado com aquele estranho desejo. Essa era Sophie, uma garota estranha e prodígio, uma perfeita nerd. Mesmo aos dez anos de idade. Por fim ele deu de ombros e disse para irmos dormir, teríamos tempo para aprender mais coisas amanhã.

Sophie saiu, seguindo para o quarto que dividia com sua maman, nossa governanta. Mas papa, antes dele sair do quarto, lançou um olhar para mim, algo que eu não soube decifrar. Então, ele se fora e fechara a porta.

Eu tinha doze anos e não conseguia entender nenhuma das atitudes do meu pai.

Fim do flashback

Dei uma última olhada na carta e deixei que ela escorregasse de minhas mãos. Era uma brincadeira idiota e de mau gosto, só poderia ser isso.

Querido Pietro,

Espero que essa carta o encontre com saúde e feliz. Sei que seu pai tem entrado em contato com você, mas non sei se o tem respondido. Infelizmente algo horrible aconteceu e nem ao menos sei como dizer isso a você. Sophie está desesperada e precisa de sua ajuda. Ela não tem culpa nenhuma de nada que aconteceu.

Talvez o modo mais fácil seja dizer de uma vez, querido. Seu pai faleceu esta noite e não sei o que fazer. Por mais de vinte anos eu nunca pensei que isso poderia acontecer. Volte Pietro, por favor, por ele e sua memória.

Com amour,
Sra. Laurent

Reconheci a caligrafia perfeita de Nancy e senti sua falta, como de todas as coisas na França. Era como se fosse um choque instantâneo me pegando completamente de surpresa. Aquela carta e aquelas palavras francesas eram intrusas no ambiente inglês onde eu escolhera viver. Sophie está desesperada. O que desesperaria minha melhor amiga de infância? O que a faria ficar tão vulnerável? Seu pai faleceu esta noite... Aquilo parecia irreal. Por Merlin! Como uma pessoa pode deixar de existir desse modo? Dei-me conta então de que entre a morte e a vida havia apenas uma fina linha. A morte estava tão próxima. De novo.

Sentei-me no chão e encostei minhas costas na parede, peguei a carta que caíra no chão e nem percebi que estava amassando-a em minhas mãos. Eu tinha consciência de que em algum lugar naquela sala estava Emily, me olhando, atenta a tudo. Mas uma espécie de globo invisível estava entre mim e o mundo, tornando-me incapaz de perceber algo.

“Você não vai para a Escócia! Tem tudo aqui! Não precisa de mais nada”

Precisava sim, de espaço e liberdade. Precisava de exatamente uma nova vida, longe de Rennes e de meu passado. O espelho naqueles anos fora meu pior amigo, ele lembrava-me de que eu era mais parecido com meu pai do que desejava.

“Tem noção de quantos N.I.E.M's você conseguiu? E vai largar tudo isso simplesmente para estudar administração? Você pode entrar facilmente no ministério com essas notas!”

Ele não entendia. Não era questão de notas, nunca foi. Queria fazer qualquer coisa que me mantivesse longe e, no fundo, apenas escolhi algo que já era uma habilidade particular dos Breine.

“Eu nunca trabalharia para o ministério! Não naquela época, quando tudo parecia corrompido pelas Trevas.”

Senti um braço ao redor de mim e percebi só depois que ela Emily, deitei a cabeça no colo dela e fiquei ali, apenas com minhas memórias e fantasmas do passado. E nenhuma lágrima sequer. Elas haviam secado, antes mesmo que eu pudesse deixá-las cair. Eu havia crescido sem elas e não seria agora que eu as derramaria.

Narração por Draco Malfoy

Olhei para os lados e não encontrei ninguém no Beco Diagonal, ainda estava cedo e as lojas ainda estavam fechadas. Depois de me certificar se não estava sendo seguido ou observado, virei para a Travessa do Tranco e entrei num barzinho velho.

Não havia muitos bruxos ali, mas com certeza nenhum deles era amigável. Encontrei então um bruxo negro sentado nos fundos do local e me dirigi até ele. Foi quando me viu e reconheceu-me debaixo da capa negra.

Sentei-me na cadeira à sua frente e tirei meu capuz, ficando mais à vontade.

–Por que me encontrar aqui, Zabini? – perguntei bocejando de sono e ele olhou para um ponto atrás de mim.

Olhei para trás e reconheci outra pessoa bem familiar.

–Nott? – sussurrei. Agora eu já não entendia nada e pelo visto, Theodore também não.

–Relaxe, Draco... – Zabini falou servindo uma bebida em seu copo – Apenas fique quieto aí e preste atenção.

Troquei um olhar com Theo e assim que ele sentou-se na cadeira desocupada, Blásio olhou-nos divertido e, depois, falou diretamente para mim.

–Como vai sua tatuagem?

Demorei uns segundos para entender o que ele dizia, mas então me dei conta. A marca negra. Fiquei confuso. Como Zabini sabia algo sobre isso? Minha tatuagem estava mais escura, mas como ele saberia?

–Por que está perguntando?

–Porque você corre perigo, Draco. Passo metade do meu dia lidando com bruxos clandestinos e você não imaginaria o que eu tenho ouvido. – ele falou bebericando sua taça com arrogância – Acho que você deveria saber que está marcado agora, assim como a maioria.

–Eu sempre fui marcado – falei apontando meu braço esquerdo.

Isso não era novidade, o que ele dizia eu já sabia há um tempo. Mas então, Zabini jogou algo sobre a mesa, era a edição mais recente do Profeta Diário. Eu ainda não tinha lido o jornal naquele dia e me surpreendi ao ver a matéria da capa. “Fuga de Akzaban”.

Agarrei o jornal instantaneamente e comecei a ler a matéria, arrepiando-me ao reconhecer alguns nomes. Comensais estavam à solta. No entanto, meu pesadelo estava apenas começando.

–Draco, você tem que entender uma coisa. – Zabini começou – Esses ataques são apenas o começo, você sabe disso, tudo vai piorar assim como piorou nos últimos anos antes da queda do Lorde das Trevas. A questão agora é que ele não está mais vivo. Agora é uma rebelião em massa. Nem o ministério conseguirá controlar os comensais se eles tornarem-se muitos. Houve muitas outras mortes que o Profeta não divulgou, você trabalha com o Ministro, sabe o que acontece.

–Mas...

–Espere, Draco, deixe-me falar. Com o seu trabalho no ministério você tem duas opções, ou trabalha para os comensais como espião, ou você foge para proteger-se.

O sangue subiu à minha cabeça. Ser submisso aos malditos seguidores de Voldemort ou fugir. Não, tinha que haver mais opções, não poderia começar tudo de novo. Eu precisava de opções, não podia ser simplesmente isso ou aquilo. Vi, então, tudo repetir-se em minha mente. A marca negra marcada a fogo no meu braço, Dumbledore ser assassinado na Torre de astronomia. Vi o rosto ofídico de Voldemort e seus olhos vermelhos. Mas vi, principalmente, Hermione sendo torturada no chão frio da minha casa.

–Não! – exclamei – Não sou mais um adolescente assustado tentando escolher entre dois lados. Não mais. Por que eu fugiria quando posso lutar? Não estou tão assustado assim, nem sou tão corajoso, mas eu preciso proteger Hermione.

Com aquelas palavras minhas Zabini revirou os olhos entediado, como se já soubesse que eu diria aquilo. Mas era a pura verdade, eu precisava protegê-la e meu cérebro já trabalhava fervorosamente tentando achar um modo de manter ela e meu filho vivos.

Fora então que ele se virou para Theodore.

–Seu pai irá te procurar com certeza, então o que você irá fazer? – perguntara.

Nott olhou espantado para Blásio. Era óbvio que ele queria ver o pai, mas ao mesmo tempo tinha medo. Passou então as mãos pelos cabelos, nervoso.

–Theo?

–Eu não sei droga! – falara olhando de cara feia para o outro.

Que beleza! Éramos finalmente três amigos, mais amigos do que quando estudávamos juntos e pela primeira vez nenhum de nós sabia o que fazer. E diferente de antes, pequenos planinhos sonserinos não funcionaria.

–Eu não vou servir a nenhum mestre, nem deixarei Hermione. – falei, tendo absoluta certeza apenas daquilo.

–Não quero ser um comensal. – Theo falara e incrivelmente lembrei-me de mim mesmo, aos dezesseis anos, sendo obrigado a ser um servo e humilhar-me, apenas para pagar os erros do meu pai.

Ele era um fracasso e eu acabei me tornando um também.

Talvez essa fosse minha chance de mostrar o contrário.

–Irei me casar com Hermione, daqui a três semanas. – falei e os dois se engasgaram com suas bebidas.

Zabini esparramou o líquido pela mesa e olhou-me como se fitasse a um louco. Mas é claro que eu permaneci indiferente. Já esperava isso.

Simplesmente entornei uma cerveja amanteigada em minha garganta, esperando as críticas deles.

–Você é louco! – Zabini atirou – Por Merlin! Pensei que vocês não durariam uma semana em Hogwarts e agora irão casar-se? E agora ainda? Tempos difíceis estão vindo, Draco.

–Pensei que você esperaria alguns meses ou anos, sei lá. – Nott começou a dizer – Quando vi aquele anel tinha certeza que você não teria coragem alguma de propor isso a ela.

–Você sabia? – Zabini virou-se para ele – E deixou o Draco fazer uma besteira dessas?

Fiquei fitando os dois discutirem, achando até certa graça.

–Sei que não se deve colocar a colher em briga de marido e mulher, mas será que o casal aí pode parar de brigar? – alfinetei e os dois olharam para mim com olhares mortais.

–Muito engraçado, Draco. Da próxima vez não te avisarei de nada. – Zabini falou ironicamente, embora eu percebesse que ele achava-me realmente insano por casar-me com uma sangue-ruim.

Levantei-me e peguei minha capa negra na cadeira, dei uma olhada na mesa e no líquido ainda esparramado nela. Então fitei Zabini, sério.

–Sei onde estou me metendo, Blásio. Sempre soube. – falei calmamente.

Ele assentiu e me despedi dos dois. Queria voltar para casa antes que Hermione acordasse.

Narração por Emily Leroux

Eu havia acabado de sair do apartamento de Hermione, com sorte ela e Draco aceitaram me ajudar e eu teria que agradecê-los depois pelo favor que me faria. Corri mais alguns metros, agora já fora do prédio e entrei num beco, aparatando em seguida com um estalo.

Senti o chão e entrei na casa de Pietro, sem ao menos bater. Encontrei-o sentado no escritório, fitando a superfície da parede, desinteressado. Aquilo me cortava o coração, mas eu sabia como isso machucava, eu havia perdido meu pai há quase dois anos.

Sabia também que passar a noite acordado não fizera nada bem a ele.

Peguei sua mão.

–Vamos? – perguntei.

Nos olhos dele havia apenas certa indiferença, mas eu percebia que ele não queria ir a lugar algum. Eu havia prometido a ele que o acompanharia e talvez isso fosse tudo o que ele precisava, apoio.

Pietro estendeu sua mão na minha direção e eu a segurei, sentindo mais uma vez o puxão característico da aparatação e, depois, eu sabia que estava na França.

Havia um campo repleto de flores amarelas e brancas e um longo portão há alguns metros. Fiquei impressionada com o tamanho da propriedade. Pietro era mais rico do que poderia imaginar, mas não parecia nada mimado em minha opinião. Pisquei diante da visão e continuei a segurar a mão dele firmemente. Por um segundo pensei que ele sairia caminhando pelo caminho oposto, mas não, ele seguira em frente.

Pietro ergueu sua varinha e o portão abriu-se com um estalo. Andamos, ficando mais perto da casa a cada passo dado.

Fora então que uma mulher saíra de dentro e correra na direção de Pietro. A mão dele desprendeu-se da minha e encontrou a senhora, que o abraçou soluçando. Ela tinha vários fios brancos no cabelo e a mão era ligeiramente enrugada, mas ainda assim, ela não era tão velha.

–Pietro querido... – ela dissera segurando a face dele com as mãos.

–Nancy... – ele falara fracamente e pela primeira vez senti sua voz tremer.

Ele era forte demais e eu admirava isso, mas não deveria guardar todo aquele pesar para si. Vê-lo assim machucava-me.

–Nancy, como... aconteceu? – Pietro finalmente perguntara.

Antes que a senhora pudesse responder outra mulher saíra de dentro da casa, mas desta vez era uma bem jovem, talvez mais jovem que eu, o fato era que ela era linda, seus cabelos eram negros e iam até os ombros, suas curvas eram proporcionais ao seu corpo esbelto e seu andar era nobre e ligeiramente arrogante. Não sei o porquê, mas eu não gostara nada dela.

–Você é Pietro, certo? – ela perguntou e ele assentiu – Sou Pansy Breine, a...

–Esposa do meu pai. – ele completou, fitando-a criticamente e talvez imaginando o que uma mulher como ela estaria fazendo casada.

–Viúva... – ela falara, piscando os olhos e fazendo uma lágrima deslizar pelo seu rosto – Sei que é difícil uma situação dessas, mas eu não... não sei o que fazer em relação a Srta. Laurent.

–O que aconteceu com Sophie? – Pietro perguntara automaticamente.

Quem seria Sophie?

–Ela não fez nada! – a senhora começou a dizer – Pietro, acredite em mim... você conhece Sophie...

–Ela matou meu marido! – a tal Pansy praticamente gritara.

Então tudo foi muito rápido. Vi a face completamente ferida de Pietro, de dor e descrença, talvez acreditando na mulher mais jovem. No entanto, no outro segundo, eu olhara para a porta da casa e vi ali ele. Não podia ser verdade, não mesmo. Mas ali estavam os olhos azuis e tristes, o cabelo negro e a face pálida. Ali estava o fantasma do meu passado, encarando-me perigosamente.

–Sophie não tem culpa... – ouvi novamente aquilo, sem poder prestar atenção.

–Ela envenenou Jacques! Deu-lhe aquele chá durante a minha ausência. Os medi-bruxos disseram que aquilo continha veneno e eu espero que sua filha passe a vida inteira em Azkaban, onde já se viu fazer isso com um homem como ele, que sempre a ajudou?

Eu me sentia deslocada, nervosa e um calor contínuo emanava em meu corpo, então, a última coisa que vi foram os olhos verdes de Pietro, que me segurou, impedindo que eu caísse no chão.

Eu ainda sentia minha cabeça doer quando abri os olhos e me deparei com Pietro. Percebi que eu estava deitada em algum lugar confortável. Olhei ao redor e percebi que estava no sofá da sala de visitas. Além de Pietro, a tal Pansy e a senhora olhavam para mim. Mas o que mais me deixou arrepiada foi o outro par de olhos, tão azuis quanto o mar. Uma mescla de medo e raiva subia à minha cabeça, eu queria pegá-lo pelos cabelos e enchê-lo de tapas.

Mas ao mesmo tempo eu queria correr dali, simplesmente para não ver a face de Abelard Dolohov nunca mais.

–Sente-se melhor? – Pietro perguntara.

Eu, naquele momento, precisava de uma bela definição de melhor. Não, eu não estava, mas como explicar para Pietro o motivo daquilo tudo? Como dizer a ele que Abelard era o homem que acabara com a minha vida e que a salvara completamente ao mesmo tempo?

Era loucura demais para alguém lidar, ele precisava se preocupar consigo agora.

–Sim, estou bem melhor. – falei completamente falsa.

Odiava mentir, mas precisava.

Ele olhou-me, tentando ler minha expressão, entretanto fora em vão.

–Acho que foi sua pressão que caiu, não comemos nada hoje antes de vir para cá.

Eu concordei com a cabeça e ele soube que eu não falaria mais nada, então se levantou.

–Nancy, peça para alguém trazer um café da manhã para ela, sim? – Pietro pedira para a mulher mais velha e esta fora providenciar o que ele pedira – Emily, preciso resolver algumas coisas agora, descanse aqui... se quiser algo é só pedir para uma empregada. Sairei com a Sra. Pansy e com Nancy. Voltarei logo...

Ele falara tudo calmamente e, no fundo, eu sentia falta do seu sorriso.

Nancy voltara com uma bandeja com suco e algumas torradas, deixando na mesinha de centro. Eu me servi, agradecendo a gentileza. Então Pietro afastara-se, saindo por uma das portas junto com as duas mulheres.

O suco de abóbora descia pela minha garganta e eu não conseguia saboreá-lo como costumava fazer, simplesmente porque aquele par de olhos continuava a me fitar, atento.

–Emily... – o homem começara a dizer e eu desejei que ele tivesse seguido os outros.

–Não fale comigo, Abelard. – eu disse sem fitá-lo e continuando a comer.

–Me desculpe pelo o que eu fiz... eu...

–Não há pelo que desculpar. Você quis ir embora e foi, deixou-me para seguir meu caminho... eu segui, agora faça o mesmo. – falei entre dentes, ainda sem ousar encará-lo.

Eu deveria prever que ele não aceitaria aquelas palavras, nunca aceitara de qualquer modo. Sempre me contestou e tentou convencer-me do contrário.

–Emily, sei que você está com raiva ainda...

–Raiva? Eu não sinto raiva, a única coisa que sinto é indiferença. Eu pensava que sentia algo, mas você acabou com tudo no momento em que saiu por aquela porta!

Levantei-me, não sabendo para onde ir, mas tendo certeza de que eu estaria bem em qualquer lugar que Abelard não estivesse. No entanto ele puxou-me pelo braço e forçou-me a encará-lo. Estar tão perto dele lembrou-me de anos atrás, quando eu pensava estar apaixonada, mas na verdade, tudo não passara de uma ilusão.

–Solte-me. – ordenei e tive certeza que vi algo diferente em sua expressão, como se ele estivesse surpreso com a minha reação.

–Você sabe que eu fiz o que era certo. – ele falara – Você estava começando sua carreira, estar em um relacionamento com um Comensal da Morte seria estupidez. E de qualquer forma ninguém te machucaria, você tem sangue-puro e fez o que era certo. Continuou no ministério sem tomar um partido. Se eu estivesse com você, Emily, você seria a mulher de um Comensal e Jean não seria visto com bons olhos também.

Aquelas palavras eram reais, eram verossímeis, mas eu não queria aceitá-las. Ele me havia me abandonado, condenou-me no momento em que fora embora.

–Você sumiu, Abelard e não deu nenhuma notícia, nunca.

–Eu precisava sumir, senão seria preso, mas nunca deixei de enviar o suficiente para você viver bem. E continuarei a fazer isso.

–Fique com o seu dinheiro. – falei com raiva e puxei meu braço, livrando-me do aperto da mão dele.

Por favor, venha agora, eu acho que estou caindo

Eu estou me segurando em tudo que acho ser seguro

Parece que eu achei a estrada para lugar nenhum

E eu estou tentando escapar

Eu gritei quando ouvi o trovão

Mas estou no meu um último suspiro

E com ele deixe-me dizer,

Deixe-me dizer

No fim caminhei para fora da sala. Não sabia para onde ir e assim subi as escadas, sentindo-me como se fosse uma intrusa qualquer. Havia várias portas e eu não sabia qual abrir. Optei pela segunda mais próxima e deparei-me com um quarto cuidadosamente enfeitado, o papel de parede era azul claro e a janela branca. Havia uma cama de casal, embora eu soubesse que uma só pessoa ocupava aquele cômodo. Descobri isso ao reparar nos retratos na estante e em um painel. Havia um menininho sorrindo, depois em outra, um bebê, e assim sucessivamente, como se eu estivesse acompanhado o crescimento de uma criança. A última foto era de uma formatura e reconheci como sendo de Beauxbatons. Ainda que tenhamos estudado na mesma escola eu nunca reparara nele, finalmente eu sabia o motivo. Pietro era inteligente, um sabe-tudo e, só mais tarde tornou-se o que era hoje, um conquistador.

Eu, nos tempos de escola, nunca reparei nos caras inteligentes, principalmente nos mais novos, afinal, eu era dois anos mais velha que Pietro. Deitei-me na cama, capturando seu perfume através do meu olfato.

Segure-me agora

Eu estou a seis passos do precipício e eu estou achando que

Talvez seis passos

Não sejam tão distantes assim

Ainda estava ressentida por causa de Abelard, o que ele fizera era imperdoável... mas agora eu só poderia pensar em Jean e em Pietro. Pela primeira vez na vida eu estava amando e eu não deixaria que meu medo idiota de me apaixonar acabasse com isso.

Quando eu menos esperava, adormeci.

Pareceu-me que havia passado apenas alguns minutos quando abri os olhos e encontrei Pietro sentado do meu lado, entretanto, já estava escurecendo. Eu havia dormido por um longo tempo, talvez por causa do ataque no beco no dia anterior ou o ataque ao ver meu ex.

Só soube que eu queria muito abraçar aquele homem ao meu lado. Era algo quase vital e eu o fiz, aninhando-me em seus braços.

–Como você está?

Não era uma pergunta muito inteligente da minha parte, mas era o que eu deveria dizer.

–Melhorando, eu acho. – ele respondeu e percebi que havia algo que queria me dizer – A Nancy é a governanta desta casa, trabalha aqui há anos, antes mesmo que eu nascesse. Foi ela que ajudou minha mãe quando eu nasci. Foi ela que praticamente me criou quando... minha mãe morreu.

Sentei-me e olhei-o profundamente nos olhos. Entendi na hora que ele precisava conversar, como qualquer outra pessoa normal.

–Como ela morreu?

Estou olhando para baixo agora que tudo acabou

Refletindo sobre todos os meus erros

Eu pensei que havia encontrado a estrada para algum lugar

Algum lugar em sua graça

Eu clamei aos céus "salve-me"

Mas estou em meu último suspiro

E com ele deixe-me dizer,

Deixe-me dizer

–Depois do parto, não sei o motivo, nunca tive coragem de perguntar... mas, eu fui o culpado, se eu não tivesse nascido ela...

–Se você não tivesse nascido eu não teria te conhecido, nem estaria feliz agora por estar com você. – respondi automaticamente, achando aquela culpa dele ridícula. Ele era uma criança, um bebê.

E não deveria culpar-se assim.

Segure-me agora

Eu estou a seis passos do precipício e eu estou achando que

Talvez seis passos

Não sejam tão distantes assim

–As coisas não acontecem por coincidência. Pietro, nunca foi culpa sua.

–Mas ele me olhava como se fosse. Todas as vezes aquele olhar, como se eu tivesse assassinado a esposa dele. – Pietro falara com dificuldade, como se nunca tivesse falado aquilo para ninguém.

Então eu percebi. Ele nunca tocara naquele assunto, apenas guardou consigo. Fora por isso que ele abandonou a França. Para esquecer seu passado, seu pai e sua mãe. Para não sofrer pelo pesar do pai, que não superara a morte da esposa. Por isso envolveu-se com tantas mulheres e nunca levara nenhuma a sério, para não sofrer. E finalmente ele havia entendido que precisava de uma família, por isso ele contou a Hermione sobre seus sentimentos. Ela o ouviria, mas o rejeitou. E agora, quando tudo parecia estar se resolvendo, não seria eu mais uma para ele formar uma família? Será que ele me amava mesmo, ou estava apenas visando seu objetivo?

Segure-me agora

Eu estou a seis passos do precipício e eu estou achando que

Talvez seis passos

Não sejam tão distantes assim

Eu estou tão distante

No mesmo momento em que pensei isso, me arrependi. Eu o estava julgando sem conhecê-lo, afinal, não estávamos namorando ainda, nem sequer havíamos nos beijado, o que era estranho, se ele dizia me amar.

De repente eu o abracei de novo. Não deveria julgá-lo quando eu também tinha segredos. E ele precisava saber antes que descobrisse por si só.

–Sophie é filha de Nancy e é a minha melhor amiga de infância, é quase como se ela... – Pietro começou a falar, mas parara, repensando suas palavras – ela é uma irmã. – ele continuou com dificuldade – Mas segundo as provas indicam, ela colocou veneno no chá do meu pai.

Arregalei os olhos, tudo ficava cada vez mais horrível e eu não sabia como ele conseguia lidar com tudo aquilo.

–Mas não foi culpa dela. Eu não acredito nisso e irei provar a inocência dela.

–Como pode saber?

Pietro respirara profundamente e senti que ele estava tenso.

Olhos tristes me seguem

Mas eu ainda acredito que tenha restado algo para mim

Então, por favor, venha ficar comigo

Porque eu ainda acredito que tenha restado algo para mim e para você

Para mim e para você

Para mim e para você

–Sophie era filha dele também.

No dia anterior se alguém me dissesse que eu enfrentaria comensais junto com Hermione, ou estaria na França agora para um enterro, eu teria chamado essa pessoa de insana. Agora eu descobrira que Pietro tinha uma irmã bastarda, filha de seu pai e a empregada. A vida é inacreditável. Todo esse tempo... e ele pelo jeito como ele dizia, não sabia de nada, até agora.

Segure-me agora

Eu estou a seis passos do precipício e eu estou achando que

–É claro que a esposa dele ficou surpresa, não imaginava...

–Mas por que...

–Por que papa não a assumiu? – ele completara a pergunta – Por que Nancy é nascida trouxa. Não ficaria bem para a imagem de empresário dele. – Senti certa ironia em sua voz, como se ele não acreditasse em suas próprias palavras ou na ação ridícula do pai – Por isso tratava Sophie tão bem. Por isso era sempre a preferida dele e eu... nunca percebi nada...

Então os olhos dele ficaram brilhantes demais e ele deitou a cabeça em minhas pernas. Sua respiração começou a alterar-se.


Segure-me agora

Eu estou a seis passos do precipício e eu estou achando que

Talvez seis passos

Não sejam tão distantes assim


–Nunca foi sua culpa. – eu sussurrei perto do ouvido dele.

–Eu deveria ter voltado antes...

–Pietro...

–... Quando recebi a primeira carta.

–Piet...

–Mas eu ignorei tudo, fugi.

–Você não...

–E agora ele está morto...

–Pietro!

Segure-me agora

Eu estou a seis passos do precipício e eu estou achando que

Talvez seis passos

Não sejam tão distantes assim

Eu praticamente gritara e ele começou a soluçar. Por um momento eu não estava de frente para Pietro, um adulto, mas sim uma criança assustada. E ele chorava pela primeira vez desde que recebera a notícia. Chorava a perda do pai e o arrependimento dele partia meu coração. E eu tinha minhas dúvidas quanto o estado dele na hora do enterro daqui a pouco, talvez fosse melhor ele não ir... mas isso era uma decisão dele e eu o apoiaria.

Por favor, venha agora, eu acho que estou caindo

Eu estou me segurando em tudo que acho ser seguro

Respirei fundo. Talvez fosse hora de contar a ele os meus erros, para evitar que ele se decepcionasse comigo mais tarde. Eu precisava só esperar mais um pouco e torcer para que ele melhorasse, ainda que fosse difícil.

Narração por Hermione Granger

–Draco... olha o que você fez! – exclamei irritada, vendo a bagunça que o loiro fizera.

Havia brincados espalhados na minha sala inteira e Draco não estava nem aí. Simplesmente deitou-se no sofá e ficou brincando com o pequeno Jean em seu colo. E o pior, eu não saberia dizer quem era mais criança ali.

–Relaxa, Hermione... – Draco falou agora fazendo cócegas na pobre criança – Olhe para o Jean! Ele está se divertindo! Não é, Jean?

Dei de ombros e socorri o menino, tirando-o dos braços de Draco. Mas mal eu fiz isso ele começou a remexer-se inquieto em meus braços. Jean queria voltar para Draco.

–Non! – o pequeno dizia, remexendo-se mais ainda.

Fiquei confusa, o loiro estava é judiando da pobre criança. No entanto, deixei-o com Draco novamente.

–Admita, Hermione, serei um ótimo pai. – o loiro falou convencido e me sentei ao lado dele no sofá.

–Mas em compensação não será um bom organizador... Olha a bagunça que você fez... – falei apontando para a sala inteira.

Ele limitou-se a corar, sabendo que eu estava certa. Mas então eu não pude continuar a respondê-lo. Levantei-me e segui para o banheiro. Simplesmente odiava aquilo, eu precisava ir ao banheiro mil vezes por dia, ou para vomitar, ou para fazer xixi, isso sem contar a dor em meus seios e o fato de eu estar começando a ganhar peso. Mas aquilo era tudo normal, e saber que meu bebê estava crescendo saudável já fazia tudo valer à pena.

Voltei à sala e sentei-me novamente ao lado de Draco. Ele ainda brincava animado com Jean.

–O que você acha que é? Menino ou menina? – ele perguntou, virando-se para mim.

–Não sei... – respondi, mas intimamente eu sabia o que eu queria – talvez seja uma menina.

Draco olhou-me pelo canto dos olhos e eu não entendi o motivo.

–O que foi?

–É que... eu acho que é um menino. – Draco respondeu, talvez não querendo discutir sobre aquilo comigo – Mas se for uma menina, tudo bem...

Eu não conseguia acreditar, fazia tão pouco tempo que eu estava grávida e já estávamos pensando no sexo do bebê. Se ficássemos pensando nisso, daria em briga certamente.

–Vamos esperar até o bebê nascer. Não quero saber antes... – murmurei para ele – Não precisamos disso, tudo bem por você?

–Mas é claro! – ele respondeu – Mas a dona Narcisa irá querer saber antes...

–E isso me lembra de que precisamos dar as notícias para ela e para meus pais logo.

Com isso, percebi que Draco afundou-se mais no sofá e novamente eu não entendi sua reação.

–Seus pais... irão gostar disso?

Pisquei os olhos, finalmente entendendo e ri. Draco era tão bobo às vezes.

–Não, Draco. Eles irão mandar prender você e irá trancafiá-lo em uma prisão o resto da vida por ter engravidado a filha deles. – falei completamente irônica e ele arregalou os olhos, fazendo-me rir ainda mais – Eu estou brincando! Por Merlin! Pare de acreditar em tudo.

Ele me olhou irritado, como se estivesse com raiva da minha brincadeira, mas a única coisa que ele fez foi deixar Jean no chão e me prendeu no sofá, debaixo do corpo dele.

–Draco, não! – pedi quando ele começou a fazer cócegas em mim.

–Isso, Srta. Granger é para nunca mais enganar um Malfoy! – Draco falara e eu estava perdendo o fôlego já.

Queria que ele parasse antes que eu tivesse um ataque cardíaco, mas acho que a única razão que o fez parar foi um barulho alto de algo se quebrando.

Olhei para o lado e vi um vaso de flores espatifado no chão, com terra para todo lado e Jean do lado, olhando para nós de forma sapeca e um pouco culpada.

Confesso que aquela cena era muito fofa e eu e Draco começamos a rir do pequeno, minha mãe havia me dado aquele vaso e eu estava procurando algum modo de me livrar dele, agora Jean havia ajudado muito.

Meia hora depois ele já estava menos elétrico e eu percebi que estava com sono. Preparei a mamadeira dele e o alimentei em meu colo. Depois arrumei a minha cama para que ele dormisse ali. O mais incrível era que Draco estava divertindo-se com aquilo tudo. Eu tinha certeza que isso não duraria, afinal, em alguns meses ele teria que acordar no meio da noite e lidar com o choro do próprio filho. Isso não era nada comparado com o que viria.

Assim que Jean dormiu, o que levou algum tempo, eu coloquei várias almofadas ao redor dele, para que não caísse da cama caso rolasse para o lado enquanto dormia. Voltamos então para a sala, sentei-me abraçada com Draco e percebi que estava cansada e que ainda teria que arrumar toda a bagunça.

–Sabe de uma coisa, Hermione? – Draco perguntou.

–O que?

–Você será uma ótima, mãe. – ele falou e sorri.

Inclinei-me em sua direção e beijei-o ternamente nos lábios, explorando-os do modo como costumava fazer enquanto ele puxava-me pela cintura em sua direção.

É, eu amava aquele loiro mais do que pensava.

Narração por Pietro Breine

Já fazia horas que Emily estava inquieta. Desde a nossa chegada à França ela estava mais do que nervosa e, por vezes, eu não a reconhecia. E pela primeira vez em anos, eu havia chorado, na frente dela ainda por cima. Até agora eu não saberia dizer se ela me acharia um fraco ou não.

O fato era que eu nunca imaginei que me sentiria tão péssimo como me sentia naquele momento. O enterro fora desgastante e embora eu tivesse chorado tanto no meu quarto com Emily, eu não conseguia derramar nenhuma lágrima sequer naquele momento, como se elas tivessem secado.

Mas havia algo mais e eu precisava conversar com alguém sobre isso. Emily era a melhor escolha, pois me entendia e era esperta o suficiente para chegar a uma conclusão.

–Percebeu a reação da Pansy? – perguntei sentando-me na minha cama – Quero dizer... aquele choro todo não parecia... verdadeiro.

–Também pensei isso – Emily falou hesitante, como se não tivesse tanta certeza se deveria falar aquilo – Parecia um teatro.

Então realmente não fora só impressão minha.

–Ela o matou.

Eu tinha certeza daquelas palavras. De algum modo fazia sentido para mim. O casamento precoce, ela uma jovem mulher, ele um homem sério e muito mais velho. Apenas alguns meses de casamento. Ele morto repentinamente. Sophie não faria isso, não colocaria veneno em sua bebida. E a ausência de Pansy parecia ter sido planejada, para que as provas não caíssem sobre ela.

Expus tudo à Emily e por um momento pensei que ela julgar-me-ia um louco, mas não.

–Sabe... você parece a Hermione às vezes e só agora eu percebi isso. – ela dissera e eu levantei uma sobrancelha, confuso – Você é inteligente e pelo o que esse diploma aqui fala, você obteve todos os N.I.E.Ms que poderia receber – a loira falou apontando para um papel na parede do quarto.

Quis que ela nunca tivesse entrado ali. Aquele lugar continha tudo sobre mim, ou melhor, quase tudo. Mas ainda assim era parte da minha vida, exposta a ela.

–O que eu devo fazer sobre tudo isso? – perguntei.

–Nada. – Emily falou e aproximou-se de mim – Eu irei enviar um relatório ao ministério francês e irei pedir uma investigação detalhada. Sophie não poderá ter sua varinha quebrada nem será julgada até que provem que ela é a verdadeira culpada.

Sorri, aquela mulher era perfeita, mas ainda assim, conseguia tratar esses assuntos com a frieza necessária.

A loira me fitava calma e eu não sabia como reagir diante do que ela iria me dizer em seguida.

–Agora precisamos voltar à Londres. Está na hora de você conhecer o meu passado, Pietro – foram suas palavras.

Eu não entendia exatamente o que ela queria dizer com aquilo, mas aceitei voltar com ela.

Cerca de meia hora depois, saímos da minha casa e prometi a Nancy tirar Sophie da prisão. Eu precisava fazer isso.

Peguei a mãe de Emily e aparatamos de volta à nossa cidade, entretanto, diferente do que pensei, estávamos em um beco próximo à casa de Hermione.

Tentei contestá-la, mas ela limitou-se a balançar a cabeça e começou a andar, puxando-me junto com ela.

Estávamos indo direto para o apartamento de Hermione e eu não entendia o que isso tinha a ver com o seu passado.

Logo eu estava de frente para a porta de madeira, que eu já havia visto antes. Quem atendera fora Draco.

–Boa noite, Draco. – Emily falou – Será que podemos entrar?

–Claro. – o loiro falou, abrindo espaço para nós.

–Onde Jean está? – ela perguntara e eu fiquei confuso.

Quem seria Jean?

–No quarto, dormindo. Pode ir até lá se quiser.

Vi ela sorrir e automaticamente pegou minha mão, levando-me junto com ela. Acenei para Hermione, que estava no sofá e de repente parei.

–Emily, o que exatamente significa isso? – perguntei mais confuso do que um cego perdido.

–Fale baixo, Pietro – ela pedira levando um dedo até os lábios – Jean está dormindo.

–Mas quem... – comecei a perguntar e ela empurrou a porta entreaberta do quarto.

Então eu vira. Na cama havia uma criança, um menininho loiro e dormindo como um anjo. Deveria ter aproximadamente dois anos. Fora quando eu percebera que eu já o vira. A mesma criança. O mesmo sorriso infantil, ainda que estivesse descansando.

Flashback

–Você não sabe como é ser eu. Nunca saberia. É fácil dizer. – joguei essas palavras em Hermione e levantei-me.

Fui para longe dela, não queria ouvir suas palavras vazias e tentativas inúteis de me animar. Mas ela viera até mim mesmo assim e uma bola acertou seu pé. Virei-me e vi um menininho correndo atrás da bola a fim de recuperá-la, mas a criança hesitou ao ver que o brinquedo estava perto de mim agora.

–Boule. – ele disse baixo e timidamente, não desviando seu olhar dos meus olhos.

Abaixei-me e sorri, oferecendo a bola para o menino, que a pegou e saiu correndo novamente com ela. Não devia ter mais do que três anos. Uma moça acompanhava o garoto de perto e eu tinha quase certeza que era apenas uma babá e não a mãe, era jovem demais para ter um filho, embora a moça e a criança tivessem cabelos loiros, quase dourados.

Hermione também os mirava e de repente percebi que toda a minha frustração fora embora.

–Sabe, Hermione… eu daria tudo para ter uma família. Tudo mesmo. – disse distante.

(Capítulo 6 - Disaster)

Fim do Flashback

–Esse é o meu filho, Pietro. – Emily falou sentando-se na beirada da cama.

Pisquei, não entendendo o que ela estava dizendo.

Esse é o meu filho.

Filho? Emily tinha um filho? Como isso era possível?

–Normalmente é minha mãe quem cuida dele, mas ela teve que viajar para a França essa semana e minha irmã voltou para a escola também... ela está no último ano já...

Então a garota que eu achei ser a babá da criança, era a irmã de Emily na verdade.

De qualquer forma, eu ainda estava perdido demais para absorver muita coisa.

–Mas... como? – perguntei sentando-me na cama também, como se precisasse testar se o menino era mesmo real.

–Eu tinha 22 anos quando engravidei. Lembra-se do cara que eu falei para você? O que você disse que provavelmente eu amava? – ela perguntou e eu confirmei – Eu nunca o amei, foi apenas um namoro rápido, mas com consequências. Ele me abandonou, de qualquer modo e eu jurei nunca mais tentar encontrá-lo. A única coisa que eu precisava era cuidar de Jean, principalmente com toda aquela guerra no mundo bruxo.

Fazia sentido, pelo o que eu percebera, era escondia seus segredos de mim e agora era natural revelá-los. Ela não amava esse homem, nem odiava. Sentia apenas mágoa. O que era normal. Quem em sã consciência abandonaria uma mulher grávida?

–Quem ele é? – perguntei, sentindo raiva dele.

–Não importa. – Emily falou – Eu não tenho mais contato com ele nem preciso de qualquer ajuda. A partir do momento em que ele partiu, perdeu todo o direito de ver o filho. E não há nada que você possa fazer, Pietro.

Tinha que haver algo. Não era justo aquela criança crescer sem um pai, talvez não ter um fosse pior do que ter um como o meu.

–Eu precisava te contar isso, e peço que não fique chateado por eu não ter dito antes. Normalmente os homens fogem de mim quando descobrem. Minha natureza veela os atrai, mas minha vida os repele.

–Como você pode ser tão boba a ponto de achar que eu fugiria? – perguntei encarando-a. – Eu nunca faria isso, Emily.

Ela sorriu e percebi o quanto era belo o seu sorriso. Sem pensar eu a puxei pela cintura e toquei seus lábios com uma paixão que eu nunca sentira. Aquele beijo era mais vivo do que qualquer outro que eu já tivesse experimentado.

Era como se depois de um longo tempo eu finalmente estivesse enxergando a luz.

Fora quando eu lembrara, depois da tempestade o sol sempre aparecia.

Ela ficara comigo aquele dia inteiro, ouvira tudo o que eu tinha para falar e ainda assim, tinha medo que seus segredos me deixassem magoado.

Emily estava errada, não havia nada que me faria desistir dela. Ela tinha seu passado, eu tinha o meu, quem eu seria se a julgasse?

Assim que eu me separei dela, percebi que Jean estava acordando.

–Maman. – ele chamou, levantando-se e se pondo no colo dela e me fitando-o curioso.

–Hey, Jean! – falei sorrindo assim como ele.

Eu estava pronto para um novo recomeço, perdera uma pessoa importante e ganhara outras duas.


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