31 agosto, 2012

[Incantatem] Cale-me

Queria tanto nunca mais acordar, minha cama era uma companhia muito, mas muito melhor do que qualquer outra pessoa nesse castelo. Mas como sempre havia uma vida me esperando e entediantes aulas de História da Magia logo na primeira aula.

E só por isso me levantei e comecei a me arrumar. Eu estava totalmente pronta, com minha mochila nas costas e já descia para a sala comunal quando vi dois Potter sonolentos saindo de seus dormitórios.

James era a própria face do sono e andava parecendo um morto vivo. Incrível! Ele uma miniatura do meu irmão!

Mal pensei isso e vi Hugo saindo com Lily para tomar o café. Seus cabelos ruivos chamavam a atenção em qualquer lugar que estivessem.

Já no salão principal eu comia uma torrada e bebia meu suco de abóbora. Todos cochichavam e a comida mal descia pela minha garganta. A noticia sobre o fogo da noite anterior havia se espalhado pela escola inteira, para a minha tristeza e desgraça.

A diretora Mcgonagall entrava agora no salão e se dirigiu para o centro, onde todos poderiam fitá-la. O falatório diminuiu assim que ela olhou a todos os alunos.

– Na noite passada houve um incidente no 3º piso, como bem é de conhecimento da maioria a essa hora. Não descobrimos ainda o causador ou causadores do estrago, mas isso é só uma questão de tempo. O culpado tem até o final da semana para se apresentar. Caso contrário, quando descobrirmos a punição será uma expulsão.

Se antes a torrada não descia, agora nem o suco me ajudava. Eu estava começando a ficar desesperada. Olhei para a mesa da sonserina e encontrei automaticamente o olhar de Malfoy. Ele já estava me fitando e observava meu quase ataque silenciosamente.

O olhar dele dizia claramente “respire”.

Mas meu medo não o ouvia.

– Estão liberados para as aulas. – McGonagal falou.

– James, foi você? – Albus perguntou prontamente para o irmão.

– Não! Deve ter sido o Fred – o mais velho replicou.

– Hey, Potter, nem venha. Nem mesmo meu pai faria isso! – Fred reclamou visivelmente ofendido – Além do mais, eu não posso ser expulso, ok? O velho comeria meu fígado.

– Sinceramente, eu nunca achei que vocês dois sequer chegariam ao ultimo ano – Dominique falou tanto para James quanto para Fred – Quero dizer, quantas detenções vocês já ganharam?

– Isso não vem ao caso, priminha. – James falou, porem senti uma leve pontada de orgulho vindo dele, como se as detenções fossem algum tipo de prêmio, um reconhecimento pela sua suposta genialidade.

Do outro lado do salão, Malfoy fez um aceno discreto e apontou o hall de entrada.

Deslizei para fora da minha cadeira. E peguei minha mochila, mal acreditando que eu iria mesmo ao encontro dele. Argh! Situações desesperadas, medidas idiotas!

– Aonde vai Rose? – Nick perguntou.

– Vou devolver um livro. Vejo vocês depois! – eu falei, mas minha prima levantou-se também.

– Eu vou com você, preciso achar algo que me ajude num dever.

Tive que ter todo o autocontrole do mundo, era óbvio que minha face iria me denunciar se eu dissesse “hmmm, vou sozinha, Nick” ou “Eu procuro seu livro, ok?”.

Qualquer resposta iria acabar comigo na hora! E não fiz nada. Minha prima me seguiu para fora do salão e ganhamos os corredores da escola. Malfoy estava encostado numa das paredes e me olhou como se eu tivesse uma doença.

Eu podia quase ler seus pensamentos. Ele estava morrendo de raiva!

Na biblioteca eu devolvi um livro que estava na minha bolsa há quase uma semana e comecei a circular pelas estantes, Nick estava a alguns metros, concentrada na sua busca. Puxei um livro e uma mão puxou-me para trás, levando-me para perto de outra estante, longe da visão da minha prima.

– Malfoy! – eu sussurrei surpresa e ele me olhou estressado.

– Contou a alguém? – o loiro contestou.

– Que? Claro que não!

– Xiiiiiiu! – ele levou o dedo indicador aos lábios e espiou o lugar, pronto para ver se alguém nos olhava.

Obviamente ser visto com uma Weasley estragaria sua popularidade.

E então ele tirou um papel do bolso e o jogou para mim.

Eu o abri e quase desmaiei. Quase.

Sei seu segredinho Malfoy. Seu e da Weasley-Certinha.

A caligrafia era fina, provavelmente de uma garota.

E tão poucas palavras me fizeram arrepiar.

– Quem você acha que...?

– Rose? Cadê você? – ouvi voz de Nick e vi ela se aproximando.

Malfoy rapidamente saiu dali, se esgueirando para outra estante.

– Aqui! – gritei e Madame Pince me lançou um olhar raivoso pedindo silencio – O que acha desse livro, Nick? – perguntei puxando-o da prateleira.

– Não serve, é avançado ainda para mim. – ela falou e eu tentei achar Malfoy novamente.

O fato de que alguém sabia o que fizemos me assombrava terrivelmente. Suspirei.

Eu estava perdida.


***


A aula de História da Magia foi entediante como sempre, a de Transfiguração, embora fosse uma das minhas prediletas, também não conseguiu me animar. Mil pensamentos cruzavam minha mente. Eu não parava de pensar que seria expulsa. Talvez a essa hora a pessoa que sabia sobre mim e Malfoy já tivesse nos entregado.

A aula acabou e eu peguei minhas coisas, juntando-as. Um dos livros caiu no chão e antes que eu pudesse pegá-lo, um pé horrível pisou no mesmo.

Pense numa garota-problema. A Srta. Sou Popular E Faço O Que Quero. Pensou?

Pois é. Foi ela que simplesmente pisou no meu mais querido livro. Tento reprimir a vontade de socá-la, mas a garota continua a se fazer de desentendida diante do meu ataque.

Loira, lindos olhos castanhos, carinha de anjo, só a carinha!

– Algum problema, querida? – a garota contesta olhando-me de forma superior.

Eu simplesmente odiava essas garotas corvinais. Espertinhas, bonitinhas... arrogantes.

Eu pego meu livro e começo a erguê-lo para jogar na cara dela, mas a menina olha em algum ponto atrás de mim.

– Hey, Lorcan! – ela fala.

– Oi, Camila – uma voz familiar falou e eu instantaneamente virei-me. – Olá Rose.

Lorcan. Disse. Olá. Rose.

Lorcan... LORCAN FALOU COMIGO!

Oh meu Merlin! Eu tinha que parar com isso, cadê o ar quando se precisa dele? POR QUE AS PESSOAS ROUBAM MEU AR? AR! AR!

– Rose?

– Er... oi – falei tentando sorrir, mas eu deveria ter feito uma careta, parabéns Rose Weasley! ANTA! – eu preciso, hmm... ir.

Saí dali quase correndo, enquanto eu jogava minhas coisas na mochila, minhas pernas iam cada vez mais rápidas, até que eu tombei feio com alguém. Eu quase fui ao chão, dois livros voaram para fora da mochila e uma mão me segurava pela cintura.

– Desculp... – eu comecei a falar, mas vi que dois olhos cinzentos me fitavam com curiosidade.

E pela terceira vez em menos de uma semana eu estava mais próxima de Malfoy do que eu realmente queria. Segunda vez só naquele dia. Soltei a mão dele de mim automaticamente e ambos nos agachamos para pegar nossas coisas. Minha mão foi até meu livro de Transfiguração em Magia e a mão do Malfoy foi até a minha.

Sua pele na minha foi como choque num dia de tempestade.

Levantei-me rapidamente e comecei a dar as costas para ele.

– Weasley! – ele chamou puxando-me de volta.

– O que foi?

Só então eu notara que ele estava diferente, preocupado talvez. Havia algo errado e para ele estar falando comigo, era muito errado mesmo. Talvez ele estivesse mais preocupado do que eu com a nossa expulsão.

– Malfoy? – chamei-o e ele me puxou para o outro corredor, onde não havia ninguém.

– É a garota di Angelo que sabe. – Malfoy falou e eu não precisava que ele me dissesse mais nada.

Ela sabia o que acontecera há uma semana.

Ela sabia que destrui a sala de troféus.

Adeus futuro acadêmico!

– Você está entrando em choque de novo! – Malfoy falou cutucando meu ombro.

Eu me encolhi com esse toque e me afastei alguns centímetros.

– Mas... Por que ela não falou nada ainda?

– Para nos chantagear, é claro.

– Então dê a ela o que ela quer! – falei simplesmente.

– O problema é que não é tão simples assim.

– Por que não?

– Ela quer Lorcan.

Se eu não estivesse olhando para Malfoy, eu iria pensar que eu estivesse louca, mas ele falara exatamente aquelas palavras que ouvi. Camila di Angelo, a garota mais linda e prepotente da corvinal queria Lorcan.

Okay Rose Weasley, está na hora de tirar seu exército de campo. Eu não sou nada perto de Camila, talvez seja uma formiguinha, uma inútil e descartável formiguinha.

Malfoy fitava-me profundamente e sorriu. Eu queria muito saber o motivo disso, mas eu realmente não imaginava;

– Isso está ficando interessante – ele sussurrou e se aproximou ainda divertido, perigosamente divertido. – Weasley, você gosta do Scamander.

– Não gosto! – praticamente gritara, ainda que sentisse minha face enrubescendo.

– Gosta! – ele exclamou agora rindo e eu soquei seu peito. – Ai! Por que me bate? É a verdade!

– Eu. Não. Gosto! – falei entre dentes e socando-o a cada palavra dita. – Eu só, eu só não sei como juntá-los. – menti descaradamente.

Malfoy estreitou os olhos me avaliando. Eu odiava mentir, mas eu nunca falaria a verdade a ele.

– Eu te ajudo. É só fazer o que eu mandar...

– Mas, Malfoy...

– Tudo bem, Rose? – uma voz atrás de mim falou e eu virei-me assustada.

Albus fitava-me como se eu acabasse de fugir de um hospício.

– Tudo ótimo, Al – falei mal acreditando em mim mesma.

Puxei meu primo e mostrei a língua a Malfoy.


***


Mas é claro que ele não me deixaria em paz. Logo que entrei na estufa para a aula de herbologia, notei um passarinho voando para minha mesa. Peguei-o imediatamente e não ousei fitar Malfoy.

– O que é isso? – Al perguntou soando curioso e suspeito.

– Nada. – falei simplesmente e ele fechou a cara.

O que eu falaria para ele? Malfoy e eu estamos amiguinhos, decretamos paz para não nos ferramos nem sermos expulsos. E também iremos juntar meu amor com uma idiota corvinal. O que acha meu querido, Albus?

Não. Fico com o “nada” mesmo.

Simples, direto, magnificamente petulante e nada vergonhoso.

Esperei meu primo começar a mexer nas plantas e abri o bilhete. Uma caligrafia perfeita estava grafada ali.

Sétimo Piso. 20h.
- S.M.

É, pelo visto ele também gostava de ser direto.


***


Tic tac tic tac. Deus! Eu realmente odiava o som de relógios! O meu no pulso estava me irritando profundamente. Pior do que se encontrar num corredor escuro com Scorpius Malfoy... é levar um bolo do mesmo.

Não que isso seja um encontro ou algo do gênero, não! É apenas um... um... será que existe uma palavra para definir um encontro forçado com seu inimigo?

Não, acho que não.

Consultei meu relógio novamente e o tic TAC interminável ainda me irritava. Onde diabos ele estava?

Mal pensei isso ouvi passos e ele cruzou o corredor. Agarrou meu braço me puxando com ele.

– Hey! – reclamei, mas continuei andando.

Quase trombei nele quando Malfoy parou e ficou fitando uma parede com um interesse totalmente novo. Ele era louco? Eu o socara com tanta força assim, por acaso?

– Malf... – comecei a falar, mas parei.

Portas estavam surgindo do nada, na parede de pedra. Lembrava-me vagamente de ter lido algo em Hogwarts - uma história. Aquela era a sala precisa! Antes que eu pudesse me recuperar do choque, Malfoy me puxou para dentro da sala e fechou a porta.

O lugar estava decorado de forma simples, alguns pufes estavam espalhados, a lareira estava acesa e uma estante enorme de livros ocupada uma parede. Estava pasma, caminhei até os livros e li os títulos. Eu sabia que eu estava parecendo uma louca rata de biblioteca para o Malfoy, mas eu não me importava. Aquele era um tesouro.

– Vejo que amou minha coleção, Weasley.

Eu ergui uma sobrancelha o olhei.

– Sua coleção?

– Bom, mais ou menos. Eu trouxe alguns aqui desde que comecei Hogwarts, a maioria estava aqui quando achei a sala, mas são meus, é como vejo.

Malfoy tinha uma coleção de livros maior do que a minha. Isso sim era um milagre, a novidade do século!

– E depois eu que sou amante de livros! – eu falei com raiva e quase lhe taquei um na cara, se ele não tivesse desviado eu com certeza acertaria.

Ele fitou-me como se eu fosse louca.

– A diferença é que eu gosto de coisas além de livros. – Malfoy falou desafiante.

– Tipo?

– Quadribol, poções, filmes, garotas.

– Eu também gosto de outras coisas – falei sem pensar, somente para não perder aquela discussão.

– Mesmo?

– Arrã – disse com raiva e dei-lhe as costas.

Continuei a olhar a sala, mexi nos livros dele sem avisar, pouco me importando com o fato de pertencerem a um sonserino tão idiota.

– Eu te chamei aqui porque precisamos decidir o que fazer em relação à di Angelo.

Eu o ouvia atentamente, embora não quisesse.

– Ela quer o Lorcan e ele não me suporta.

Li duas linhas de um livros de transfiguração e dois segundos depois senti ele ser puxado de minhas mãos. Malfoy estava com raiva, próximo demais e com os olhos mais parecendo uma tempestade.

– Está me ouvindo?

– ESTOU! – gritei com mais raiva ainda.

– Preciso que você seja amiga dele. É uma Weasley, poderá fazer o que quiser, e mesmo assim eu te direi tudo o que deve dizer a ele. – Malfoy falou. – Vamos Weasley, ele me odeia. Eu não posso fazer isso sozinho.

– Por que não faz algo a di Angelo? Chantageie ela também oras!

– Weasley! Você tem uma bela mente para o crime. Poderia muito bem ser uma sonserina.

– Me poupe, Malfoy!

– Eu pensei nisso... em chantageá-la. Mas primeiro devemos descobrir algo podre dela.

– Pare de falar tudo como se existisse um “nós”.

– Nós não precisamos ser inimigo sempre, Weasley. Depois que resolvermos esse problema você pode me ignorar a vontade. Mas por favor, não piore o que já está uma merda.

– Boca suja!

– Eu falo o que eu quiser!

– E eu faço o que me dá na telha! Boa noite, Malfoy! – falei me dirigindo para a porta.

Mas não pude dar nem meio passo. A mão dele fechou-se ao redor do meu braço e me jogou contra a parede. A outra mão encontrou meu pulso e eu me vi presa entre a parede e o próprio Malfoy.

– Me solte!

– Não!

– Não estou brincando.

– Nem eu. Diga que me ajudará!

– Um Malfoy pedindo ajuda para uma Weasley? É isso mesmo? Merlin! O mundo acabará hoje!

– Cale a boca Weasley!

– Vem fazer – respondi o que foi a coisa mais estúpida do mundo.

– Ok. – foi sua única e curta resposta e somente por um segundo esqueci que estava presa em seus braços.

Não havia algo mais perigoso para se falar do que aquilo que eu disse. ONDE ESTAVA MINHA INTELIGENCIA QUANDO EU PRECISAVA?

Num minuto eu era Rose Weasley, no outro, não era nada. Tudo o que passava pela minha cabeça era Malfoy, Malfoy, Malfoy.

O maldito tomara meus lábios à força, prensando-me contra a parede ainda mais. Senti seu cheio, asfixiante e de algo que me lembrava doces. Baunilha talvez. Eu não sabia dizer ao certo. Tentei soltar-me, tentei afastá-lo, mas quando me dei conta, estava na verdade cedida a ele. Eu o beijava de volta, contra a minha vontade.

E então ele afastou seus lábios, os olhos cinzentos fitavam-me com curiosidade, mas a máscara fria continuava ali.

Olhei para o chão, eu era uma estúpida!

– Diga o que tenho que fazer com Lorcan. E descubra logo algo que eu possa usar contra di Angelo – eu falei agora olhando-o com intensidade, sem temer mais nada.

Empurrei-o e sai de perto dele, caminhando em passos largos para a porta. No entanto, parei.

– Quando isso acabar, esteja longe de mim, Malfoy – falei ainda de costas e finalmente sai daquela sala.

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