29 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Hope



Narração by Hermione

Aquela casa era asfixiante, não me pertencia. Eu sentia-me totalmente presa, como se tivesse cometido um crime. Eu temia o mundo, temia a tudo, estava tão sozinha e desorientada quanto uma criança perdida. Aquele lugar era claro, a sala era perfeitamente iluminada e enorme, mas eu via-me no escuro, num ambiente gélido e sem atrativo algum. Eu queria a minha casa, minha vida e meu marido.

Minhas mãos tocavam as teclas do piano e uma melodia doce podia ser ouvida. Música, isso parecia algo tão desprezível em meio a todo aquele mar de perigo e guerra, no entanto era a única coisa que me acalmava. Em cima do instrumento eu havia jogado vários exemplares do Profeta Diário. As manchetes aparentavam ser escritas a sangue, vários ataques e mortes estavam sendo noticiados. Quanta coragem a dos editores! O terror e a pressão sobre a mídia ainda não haviam começado, em algumas semanas ou meses tudo seria intensificado, perseguições eram apenas o começo. E o assassinato do meu chefe foi um aviso. Nosso departamento seria dizimado, afinal, o Departamento de Controle do Uso de Magia era um dos que trancafiaram comensais em Azkaban.

Fechei os olhos, senti lágrimas querendo deslizar minha face. Não permiti. Eu era forte, mais forte do que Draco supunha.

Mas tudo era tão frágil, facilmente despedaçado.


I'm the ghost of a girl
Eu sou o fantasma de uma garota

That i want to be most
Que eu mais queria ser

I'm the shell of a girl
Eu sou a concha de uma garota

That I used to know well
Que eu costumava conhecer tão bem

Dancing slowly in an empty room
Dançando lentamente em um quarto vazio

Can the lonely take the place of you
Será que a solidão pode tomar o seu lugar?

I sing myself a quiet lullaby
Eu canto uma tranquila canção de ninar para mim mesma

Then you go and let the lonely in
Esqueço você e deixo a solidão entrar

To take my heart again
Para consumir meu coração de novo




Dezembro, 19


Narração by Draco

– Por favor, p-por...

Medo saia dos poros daquela mulher. Ela fitava-me com seus olhos claros e repletos de temor. Eu era um monstro novamente, eu era um demônio vestindo uma máscara da morte. Ergui minha varinha, murmurei a maldição imperdoável.

Ela gritou, seus gritos cada vez mais agudos preenchiam minha audição.

Monstro, uma voz sussurrava bem em meu ouvido.

– Calem a boca! – eu gritei, e os comensais ao meu lado silenciaram suas risadas patéticas.

Monstro, monstro, a voz continuou, mas todos estavam calados. De onde isso vinha?

Apenas os gritos da mulher preenchiam o ambiente e eu sentia meu sadismo crescer. Eu era um comensal, no entanto minha função ali não era causar dor, embora parecesse. Deus sabia o quanto aquilo me matava por dentro, o quanto me destruía e tornava-me despedaçado. Aquela trouxa temia a mim, eu a feria, embora não quisesse. Ela não feria mal nenhum a ninguém, não era um estorvo ou uma anormalidade da natureza. E sem eu me dar conta, a maldição cessou.

“Para amaldiçoar é preciso querer” ouvi a voz de meu pai na minha mente.

Ele havia me ensinado quase tudo o que sei, ele tornou-me um comensal perigoso. Antes eu era um garoto assustado, agora um homem frio dividido entre dois lados.

“O que faz aqui?” a memória de dias atrás voltou, quando encontrei meu pai junto aos comensais.

“Isso pergunto eu, Draco. O amante de sangue-ruins é você. O que faz junto aos comensais?” ele contestou e eu não consegui fitá-lo.

Como dizer ao meu pai que eu sou um espião? Como confiar no homem que despreza o que amo?

E como manter minha fachada quando tudo o que quero é fugir da guerra?



***



– Por que não vai embora? – ela gritou, vi lágrimas ameaçaram cair de seus olhos. – Por que não me deixa aqui trancada para morrer?

– Trancada para morrer? Você está segura aqui, Granger!

– NÃO! Estou literalmente morrendo a cada dia, Malfoy! Morrendo sozinha e por dentro. Eu... eu não quero ficar aqui segura se você também não está bem, eu não quero viver num mundo onde eu tenha que fugir sempre, e mais do que isso, eu não quero ficar de braços cruzados enquanto meu marido e meus amigos correm perigo!

Ela se calou, todas aquelas palavras gritadas me atingiam profundamente. Mas o que diabos eu poderia fazer? Eu precisava protegê-la, a ela e a meu bebê.

– Se eu te levar de volta a Londres, o que fará? – perguntei e ela riu.

Por Merlin, aquela risada irônica me irritava demais, ela roubara aquilo de mim há anos e só agora eu percebia o quão aflito eu ficava com essa atitude dela.

– O que acha que farei?

Pergunta estúpida a minha, ela correria direto para a Ordem da Fênix, para a Toca ou até mesmo para o St. Mungus, onde Ginevra Weasley estava.

– Você fica aqui, Hermione. Até que isso acabe.

– E se não acabar?

– VAI ACABAR! – eu gritei e ela recuou.

Eu a assustava, estava cada vez mais nervoso, uma pilha de nervos, e aquilo não era culpa dela, era minha. Mantê-la aqui contra a sua vontade não matava apenas a ela. Uma parte de mim morria a cada dia por vê-la tão infeliz. Maldito Lorde das Trevas, maldito mestiço mal-amado.

–Hermione... – eu sussurrei e tentei abraçá-la, mas ela empurrou-me e subiu as escadas rapidamente.

Segurei minhas têmporas com força. Quem eu era? Um homem estúpido! Um péssimo marido e também um péssimo pai, aquela criança nem ao menos havia nascido e eu tinha quase certeza que eu seria como Lucius, um pai ausente, dedicado a tudo, menos ao seu filho. Um pai explosivo e narcisista. O que eu fizera? Eu apenas condenava Hermione a mais infelicidade a cada instante que eu passava a seu lado.

A porta do quarto bateu com força, Hermione trancou-se lá. E eu mais uma vez estava sozinho, sendo perturbado pelos meus pecados. Aquela maldita tatuagem no meu braço formigava. Como proteger Hermione de tudo isso?

Subi as escadas e me vi de frente para a porta dela. Bati. Nada, apenas o silêncio.

– Hermione, abra – pedi e ouvi somente o nada, encostei minha cabeça na superfície da madeira – Hermi, por favor...

Ouvi o som das chaves serem giradas e prontamente girei a maçaneta.

– Eu não quero mais brigar, Draco.

Meus braços a envolveram. Ela escondeu seu rosto na minha camisa.

– Eu também não.



***



Narração by Harry

– Seu pai está viciado em coisas de trouxas, mais uma vez. Acredita que ele está desmontando outro carro agora? – minha voz era baixa e eu a abraçava ternamente, estava deitado ao seu lado.

O quarto era claro, as paredes brancas sem graça encaravam-me e eu estava totalmente enjoado daquele quarto.

E eu também falava e falava, sem nenhuma resposta por parte dela.

– Rony está cada vez mais louco por Luna, mal acredito nisso! Só você mesmo para ter percebido isso, porque eu nunca adivinharia! – eu ri, sozinho.

Gina continuava imóvel, sua respiração calma e no mesmo ritmo fraco de sempre. Fitei seu rosto, suas várias sardas que tornavam seu rosto lindo, os cabelos ruivos que estavam jogados no travesseiro, desarrumados. Face serena demais.

– Hermione está louca, Gina! Não sei se isso faz bem a ela, não sei se Malfoy e eu agimos certo, afinal, ficar na França sem ação a deixa angustiada. Gina, o que eu devo fazer? Hermione não irá me perdoar tão cedo.

Nada novamente, aquele silêncio feria-me. Eu queria gritar, forçar Gina a abrir seus olhos claros. Senti minha face quente e me surpreendi quando uma lágrima escapou. Por Merlin! Qual fora a última vez que eu havia chorado?

– Você precisa acordar, Gina. Eu não sou tão bom sem você.


Mas neste coração de escuridão

Nossa esperança encontra-se perdida e rasgada

Toda fama, como o amor é passageiro

Quando não há mais esperança



Dezembro, 20


Narração by Draco

– Você o que? – perguntei surpreso fitando Pansy e ela riu.

Sua risada esganiçada irritou meus ouvidos.

– Amanhã o Lorde irá retornar e serei eu que farei o feitiço, meu poder com o seu será suficiente.

– Como irá trazê-lo de volta?

– Isso é segredo, Draquinho. Esqueceu-se que não faço ideia de que lado você realmente está? Por que revelar algo dessa importância a você?

Eu bufei. Se ela iria trazer o Lorde de volta, era porque ela possuía a Horcruxe. Mas poderia Pansy ressuscitar um morto? Eu ri, obviamente a linha da vida e da morte não era nada para Voldemort.

Amanhã... o retorno. Eu precisava avisar a Ordem disso o mais rápido possível.



***



Narração by Pietro

Fitei novamente a fachada do prédio. A tão famosa C’est La Vie agora não era nada além de um vazio. Eu acabara de pregar uma placa de madeira e lá a palavra “fechado” saltava, machucava-me profundamente. As lembranças daquele lugar ainda estavam intactas em minha memória.

“Esta é Emily Leroux. Emily, este é Pietro Breine”

“Prazer, Monsieur...”

“Enchanté Mademoiselle”

“Pietro, você pode me fazer um favor? Como costumávamos fazer em Glasgow?”

“Seja o que esteja planejando tem minha autorização. O palco essa noite é seu”

Fechar a boate era sensato, aquele era um ponto onde vários bruxos frequentavam e também um alvo fácil para comensais. Assim como na noite anterior.

Eu ainda podia ouvir os gritos das pessoas quando o C’est La Vie foi invadido. Era algo torturante.

Comecei a andar e as lembranças que vi na mente de Pansy Parkinson continuaram a vir.

“Eu sei que você guarda algo aqui. Algo importante, algo que o Lorde das Trevas presa tanto quanto sua inestimável serpente” o homem fala.

Meu pai mantém um olhar frio, como se o que ele estava ouvindo não fosse nada importante.

“Joseph, se continuar com isso não poderei garantir que você viva o suficiente para sequer ver a ascensão do Lorde”

Os Parkinson mataram meu tio. E meu pai. Levaram Sophie, sequestraram a Jean. Até quando coisas assim aconteceriam? Por causa deles minha vida estava tão confusa como as constelações no céu.

“Pietro, onde está o colar?” a voz de Malfoy veio até mim.

“E o joguei fora” falei, embora estivesse assustado.

Potter e Malfoy perceberam minha reação, meu olhar vidrado. Eu estava sentado na cama, nem sequer levantei-me para abrir a porta para eles. Somente entraram sem aviso prévio.

“O que ouve?”

“Eu ouvi a voz dele, ele disse coisas... coisas que eu não queria ouvir”

“A voz de quem?” Potter perguntou.

“Papa”

Eu poderia sentir os olhos de ambos sobre mim, a confusão, a surpresa.

“E onde jogou fora?” Draco foi o primeiro a questionar.

“Eu tentei quebrá-lo, mas nada funcionava...” eu sussurrei. “E ele continuava a falar, Papa não falava comigo quando podia evitar, ele não deveria falar nada, ele deveria estar morto”

“Onde o jogou, Pietro?”

“Chamou-me de covarde, disse que maman morreu por minha causa e que Sophie era mil vezes melhor que...”

Slap!

Senti dor e cai na cama. Meu rosto doía, bem onde Malfoy socou. Levei minhas mãos até minha bochecha e fitei-o com raiva.

“Onde o jogou?”

“Pela janela”


***


Dezembro, 21


Narração by Rony

A chuva fria caia na grama, lavava não somente a terra, mas também a mim e todo aquele medo que eu sentia. Eu estava parado bem na porta da casa de Luna. Eu estive ali apenas uma vez e a casa inteira fora destruída, e Xenofílio denunciou a Harry, a Hermione e a mim para os comensais. Digamos que não foi um dia agradável, tampouco um ano bom.

Bati na porta e esperei. Luna logo veio com seu ar sonhador e os longos cabelos loiros presos numa trança frouxa.

– Ah Rony! – ela falou baixo e sorriu, olhou para um ponto atrás de mim. – Hoje está um bom dia para os duendes brincarem no jardim.

Pelas barbas de Merlin! Ela ia começar já com suas bizarrices!

Olhei dentro de sua casa e reconheci uma máquina de impressão. Vários exemplares do Pasquim estavam sendo impressos. Vi a primeira pagina e percebi que o assunto era os recentes ataques a Nascidos Trouxas.

Luna percebeu meu olhar e desatou novamente a falar.

– Estou ajudando papai com o jornal, sou uma editora agora – ela falou toda animada e eu sorri.

Não sabia se isso era bom ou não, quando o Pasquim começou a defender a causa de Harry e a popularizá-lo, Luna foi sequestrada. Será que sempre estaríamos próximos do perigo?

– Luna, será que eu poderia falar com você? – perguntei desajeitado.

– Claro que sim, entre, por favor... – ela puxou a porta e abriu caminho para mim, mas eu simplesmente a puxei pela mão, e ela se desequilibrou.

Luna estava um degrau acima e a segurei. Eu a puxara propositalmente e toquei seus lábios delicadamente. Romance não era comigo, principalmente com uma garota lunática como Luna, mas eu queria beijá-la antes de tudo desmoronar. Sua boca era fina, delicada, como uma boneca de porcelana, e temia quebrá-la.

Afastei-me. Os olhos azulados dela encontraram os meus e seus lábios curvaram-se num sorriso. Era estranho aquilo, eu estava nervoso como nunca estive e mal podia olhá-la. O silencio era constrangedor, embora palavras também o fossem.

Ela então pegou minha mão e puxou-me para dentro de sua casa.

– Você vai ficar resfriado se ficar aí fora nessa chuva, Rony – ela disse de forma doce e eu simplesmente sorri.



***



Narração by Sophie

Aquela chuva fina não me irritava, não era linda, era fria como a noite, indiferente como num dia nublado. Dei um passo para trás e fiz um movimento com meu braço direito. A pedrinha voou da minha mão e pulou três vez o lago límpido, antes de afundar. Joguei mais uma, ela fez o mesmo caminho.

Estava escuro, a lua se elevava no céu, e embora não estivesse tão bela, eu a admirava.

Como minha vida mudara tanto em tão pouco tempo? Eu deveria estar estudando, deveria tornar-me uma perfeita conhecedora das leis bruxas, deveria zelar pela aplicação delas. Mas eu era exatamente o oposto disso, era uma criminosa aos olhos dos outros.

A terceira pedra voou e bateu quatro vezes na água.

– Nunca consegui fazer isso – uma voz falou atrás de mim e assustei-me.

– Isso não me surpreende – eu ri. Era normal zoar Abe e secretamente eu sentia como se ele fosse um amigo, embora eu tivesse minhas dúvidas ainda.

– Está frio aqui, por que não entra?

Je ne veux pas. – Eu não quero, respondi de má vontade.

– Vai ficar escuro logo.

– Je ne suis pas l'esprit.

Eu não o olhei, eu continuava a fitar a superfície do lago. Eu queria estar na França. A Escócia já não parecia boa para mim. Eu sentia falta de casa, de maman. Senti meus olhos esquentarem. Lágrimas, para que serviam? Impedi que elas caíssem e foquei meu olhar no lago novamente. Joguei outra pedra.

– Seus amigos são idiotas – Abelard falou. – Conseguiram perder o colar e agora acho que Pansy o recuperou.

Fechei os olhos. Tanto esforço para nada.

– Não são idiotas.

– Pietro é então, soube que ele estava com a jóia.

– Cale a boca! – eu gritei e me virei para ele.

Finalmente eu o fitava e percebi que sua face era calma, completamente fria. Isso me desconcertou. Eu não via ali o Abelard de sempre, eu mal podia ler sua expressão.

– Não jogue a culpa neles, sendo que você fez tão pouco.

– Pouco? – a indiferença dele vacilou, era tão fácil provocá-lo. – Não foi pouco te tirar da cadeia, não foi pouco passar por cima da Parkinson para salvar a você, nem foi pouco tirar meu filho das mãos dela. Não foi pouco abandonar Emily, nem...

Ele se calou e um silêncio sepulcral abateu-se sobre nós. Ele virou o rosto e eu me aproximei. Eu via em sua face culpa e medo. Não havia arrogância ou o cara espertinho que conheci.

– Seu maior erro foi abandoná-la, é isso que está pensando, não é? – perguntei pouco ligando para a reação dele, eu queria apenas fazer com que ele visse a verdade.

Ou melhor, eu queria saber a verdade.

Mas Abelard não me respondeu.

– Eu te vi com Jean, antes você se convenceu que ficar longe era o certo. Que criança iria querer um pai comensal? E que bem você traria a ele? Mas agora você o conheceu... – eu sussurrei, preenchendo as lacunas que faltavam da personalidade de Abe. – Agora quer ficar perto de ambos, quer vê-lo crescer, eu estou certa, Abelard?

Ele olhou-me.

– Como se sentiu ao descobrir que Jacques era seu pai?

Merda. Provocá-lo não era algo não bom assim. Ele sabia revidar, sabia onde ferir. Suas palavras tinham o mesmo efeito do que uma adaga que atinge um coração. Eu vacilei e ele sorriu.

– Jacques nunca foi meu pai, ele é pai de Pietro. Eu nunca o vi como...

– Besteira. Ele sempre foi um pai para você, ainda que você não soubesse ou percebesse. Eu estivesse em sua casa com Pansy, eu vi fotografias, seu quarto. É fácil perceber como foi sua vida.

– Isso é invasão de privacidade e você não deveria ler minha mente! – protestei com um ódio novo no olhar.

– Pare você de ler a minha!

Eu estava furiosa, não era justo aquele homem me provocar daquela forma. Meus problemas eram meus problemas. Mas eu sempre ousava me intrometer nos assuntos dele, então talvez isso fosse um bom troco.

– Acho que hoje não será um bom dia.

Abelard falou e olhou para o céu. Os cabelos negros dele estavam já encharcados e grudavam em sua face. Os olhos azulados eram tão claros como a água à nossa frente. Perdi-me em seu rosto, nele todo, e inconscientemente me vi admirando-o.

– Pansy convocou a todos para uma reunião.

Seus lábios se moviam e eu fazia esforço para acompanhar o que ele dizia.

– Sinto a marca negra cada vez mais escura e forte, sinto-a formigar, Sophie – ele disse baixo – está me ouvindo?

– Sim – respondi prontamente e virei meu rosto.

O que diabos eu estava fazendo? Era idiotice isso. Senti ele puxar minha mão e colocar ali uma chave pequena.

– Fique aqui, essa é a chave da casa.

– Por que está me dando isso?

– Porque não voltarei.

– Mas...

Dor e glória,

Mão em mão

Um sacrifício,

O preço mais alto

Ele calou-me, surpreendeu-me. Seus lábios tocaram os meus de forma terna, algo que eu nunca pensei que ele fosse capaz. Não havia mãos a princípio, não havia outro toque que fosse. Somente nossas bocas se interligavam, brincavam uma com a outra, mas logo uma das mãos dele enlaçou minha cintura, colando seu corpo ao meu. A outra tocou meu rosto e secretamente desejei que o mundo parasse. Senti novamente aquela sensação de instantes atrás, quando eu o olhei tão fixamente. Abelard era um comensal e estava me beijando, ele amava ainda sua ex e o filho, e estava me beijando. Não era possível isso significar algo, mas ali estávamos. Ele tocando-me de forma carinhosa. E uma maldita sensação que eu odiava. Eu não queria sentir isso, não com Abe agindo dessa forma, como se estivesse indo para uma batalha.

Batalha.

“Sinto a marca negra cada vez mais escura e forte, sinto-a formigar, Sophie”

Eu o soltei e a compreensão veio até mim.

– Adeus – ali estava seu sorrisinho irônico e um olhar cansado.

Seus olhos brilhavam.

As mãos tocavam a varinha e eu sabia o que ele faria.

Como o veneno em seu braço

Como um sussurro, ela se foi

Como quando anjos caem...

Agarrei sua mão livre antes que ele desaparecesse e senti um puxão desconfortável. Meus pés encontraram o chão firme e me vi numa sala estranha. As paredes eram escuras e pareciam velhas.

– O que pensa que está fazendo? – ele sussurrou e tive dificuldades em entendê-lo.

Seu tom era raivoso e amedrontado.

– Não vai se livrar de mim assim tão fácil.

– Está num covil de comensais, sua tonta. Atrás dessa porta há vários homens que querem matá-la.

– Deixe que eu duele então, podem me matar, mas levarei vários deles comigo antes que eu caia.

– Deixe de ser idiota – ele falou colocando a mão sobre a testa, desistindo. – Fique aqui. Caso alguém se aproxime, aparate. Caso ouça algo que ajude a Ordem, vá dizer a eles. Mas não se deixe pegar.

Eu sorri, Abelard podia ser tudo, principalmente um traidor. Ah, Parkinson, seu maior erro foi perturbar o pequeno Jean!

Abe saiu e deixou a porta entreaberta. Eu poderia ouvir tudo.

– Finalmente a noiva chegou! – uma voz grossa falou.

– Pensei que não viesse mais.

– Como perder algo tão importante? – Abelard respondeu com seu tom brincalhão de sempre.

Um estalo foi ouvido.

– Ah, finalmente! Como vai Draco? – uma voz feminina falou e reconheci a voz enjoativa de Pansy Parkinson.

– Que o show comece!

Afastei a porta mais um pouco e olhei pela fresta. Havia ali um grande salão e os comensais estavam reunidos num circulo oval. Ao centro eu podia ver Pansy e um homem alto e loiro.

– Pansy, como isso acontecerá?

– Paciência, Draco – Parkinson falou e pegou uma adaga de prata e um colar com citrinos, o colar de Helga Hufflepuff, o pagamento pela minha liberdade.


Narração by Pansy

Ali estávamos, todos reunidos para o retorno do Lorde das Trevas. O colar de Hufflepuff brilhava em minhas mãos, eu sentia o leve pulsar de um coração, como se o Lorde estivesse vivo através daquela Horcruxe.

Lembrei-me de como a consegui. Fora fácil descobrir onde o estúpido Breine morava, eu estava pronta para entrar lá em tomar a jóia à força quando testemunhei seu ataque.

Vi ele falar sozinho, como se visse um fantasma.

– Cale a boca! CALE A BOCA! – Pietro Breine gritou e até mesmo eu me arrepiei com essa ordem tão raivosa.

E depois disso vi o colar voando na minha direção. Ele caiu bem aos meus pés e eu mal acreditava na facilidade com que tudo aconteceu. Peguei a jóia e tentei descobrir se era a original.

Sim, era. E veio às minhas mãos tão facilmente.

Eu tinha a horcruxe e meus planos dariam certo.

Mal sabia eu que algo tão ruim como aquilo poderia possuir uma pessoa, exatamente como possuiu a Pietro Breine.

Olhei para Draco e sorri.

– Venha até mim, Draco Malfoy – falei estendendo a minha mão e ele hesitou.

No entanto, o loiro caminhou até mim e eu o deixei no centro do círculo.

Peguei a adaga de prata presa à minha cintura e toquei a minha marca negra com ela levemente. Murmurei um feitiço e senti o poder em meu corpo.

Ouvi um sino soar, era um som vindo de um lugar longe dali, entretanto, como mágica, eu podia ouvir as badaladas.

À última badalada da noite mais longa...

... um servo d’Aquele outrora o mais temido irá tentar trazê-lo de volta ao júbilo.

Olhei para Draco e puxei seu braço esquerdo, eu o feri com a adaga, abri um corte sobre a marca negra dele e deixei que o sangue caísse sobre o colar de pedras amarelas. Draco gritou sentindo dor e eu me limitei a continuar o feitiço.

... mas será com o sangue de um inimigo que as trevas novamente assolarão.

O Lorde das Trevas retornaria, meu nome seria visto com nobreza novamente, papai se orgulharia de mim, a filha que ele outrora renegava por ser tão dispensável. A filha que manchara o nome da família.

Guerra e terror. Seus partidários pressentirão sua chegada antes de qualquer outro...

Poder, glória, eu previa a tudo isso. O feitiço ia se completando e o colar rachava-se. Eu não estava quebrando-o, estava liberando a alma do Lorde, mesmo fragmentada aquela pequena parte dele faria com que tudo voltasse ao normal.

Os trouxas deveriam conhecer o seu devido lugar.

Traidores mereciam a morte e o Lorde iria garantir isso.

– Immobilus! – ouvi uma voz grossa bradar e eu não consegui me mover. Meu corpo não mais me obedecia.

O feitiço atingiu-me e eu vi perfeitamente meu agressor. Ele possuía elegantes olhos azulados, ainda que desprezíveis. Ele era Abelard Dolohov, mais um traidor imundo.

Mas agora não existia somente a ele de inimigo, a sala foi invadida por pessoas estranhas e outras familiares, que eu reconhecia como sendo da maldita Ordem da Fênix.

Finite, Incantatem, murmurei mentalmente, o mais forte que eu podia. Por sorte minha varinha ainda estava comigo e meu feitiço mental teve sucesso. Senti meu corpo mover-se novamente.

Olhei para o chão. O colar havia se partido. Eu tinha minhas dúvidas sobre se tudo ocorreu certo, Dolohov prejudicou minha magia, fez com que eu me distraísse. Uma névoa esbranquiçada saiu da jóia e Abelard, perto de mim, gritou.

Senti um tremor, um arrepio indescritível.

Abelard curvou seu corpo e ajoelhou-se com violência no chão duro e frio. Ele gritou, e eu tinha certeza de que algo realmente ruim estava acontecendo.

No entanto eu ri, incapaz de refrear-me. Maldito! Aguentasse agora as consequências de sua traição.

Olhei novamente para seus olhos e suas pupilas não mais eram azuis.

Eram vermelhas.

Como sangue.

... e um justo terá que cair para restabelecer a ordem.

Eram as pupilas de Lord Voldemort.


Neste coração de escuridão

Toda esperança encontra-se no chão

Todo amor, como a chama é passageiro

Quando não há mais esperança

Como o veneno em seu braço.

Como um sussurro, ela se foi

Como um anjo

Anjos caem

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