Incantatem

Por que me afastar? Porque éramos inimigos e como tais nos odiávamos. Porque eu era uma Weasley e ele um Malfoy. E principalmente porque estávamos em guerra declarada!

Magic and Mistakes

Hermione volta a Londres depois de dois anos. Ela cresceu e já não é a garota de antes. A guerra contra Voldemort teve seu fim e, agora, nada impede ela de ficar com Draco Malfoy. Isso era o que ela pensava. Em meio às mudanças da sua vida, novo emprego e uma nova casa, perceberá que Draco também tem sua própria vida. No entanto, acabarão sendo um dos casais mais conhecidos do mundo bruxo, algo que não esperavam. As consequências de seus atos se tornarão mais perigosas. Magia e erros, porque nem sempre se pode prever o futuro.

Por Culpa do Destino

Seria certo passar por cima de uma guerra por amor?

Imperius

Ele me olhava com aquelas orbes cinzentas como se estivesse arrependido do que me fizera. Eu fora uma tola, uma estúpida e iludida, afinal, como diabos Draco Malfoy se apaixonaria por uma sangue-ruim, nem ao menos a maldição imperius causaria isso. - Deixe-me explicar - ele pediu, sussurrava, sua voz estava quebrada.

Inimicum

Hermione Granger por anos foi uma pessoa amarga e nunca soube ao certo a razão de Draco a abandonar. Agora ela é uma auror e ele um comensal, entretanto um encontro faz com que ambos voltem ao passado e segredos sejam revelados.

30 abril, 2011

Cap. 2 - En Garde

Capitulo 2

En Garde

"O acaso é o instrumento escolhido pelo destino
para que seus mais importantes planos para conosco sejam realizados."
- Charles Tschopp -

A castanha executou um floreio com a varinha ao mesmo tempo em que pronunciava algumas palavras quase inaudíveis. À sua frente Harry tentou em vão repelir o feitiço, mas o moreno foi empurrado e caiu no chão, sentindo-se mal não por ter falhado, mas sim por ter feito isso com Hermione Granger.
Harry a olhou com uma raiva controlada, simplesmente não entendia como Hermione conseguia enfrentá-lo e vencê-lo tão facilmente. Ele deveria ser melhor que ela, e se não o fosse, nunca poderia enfrentar Voldemort. Não era apenas uma questão de ego, era algo que garantiria o bem de todos.
– Onde você aprendeu essas coisas? – Rony perguntou por fim, sentado num pufe e observando todo o duelo dos amigos.
Os três estavam cansados, mas todas as noites iam até a Sala Precisa para treinar. Não importava o quanto as aulas fossem entediantes, Rony, Harry e Hermione sempre faziam aquilo e os dois garotos estavam mais do que impressionados com a amiga.
– Na França – a garota murmurou indo até Harry e o ajudando a se levantar. – Mas isso não importa agora. Vamos Rony, sua vez.
O grifinório levantou-se e brandiu sua varinha e Hermione percebeu o quanto ele aparentava ter os mesmos movimentos de seu mestre. O modo de segurar a varinha e posicioná-la e, principalmente, a mania de erguê-la à altura do seu rosto.
Mas Rony não era seu mestre, nunca poderia se igualar a Charles Steiner. Ele era apenas seu amigo e não iria vencê-la. E, com esse pensamento audacioso, Hermione sorriu e deu um passo para trás, cumprimentando o amigo e finalmente proferindo mais um feitiço que aprendera.
Ultimamente duelar com Rony estava sendo divertido, o ruivo estava se esforçando e até mesmo tentava imitá-la em alguns feitiços. Hermione percebia o quanto ele e Harry estavam interessados nela, principalmente porque desejavam saber onde ela aprendera tantas coisas.
Mas não poderia simplesmente dizer que arranjara um mestre. Dizer que Steiner a ensinara seria, no mínimo, problemático. Primeiro porque ninguém o conhecia nem tinha ideia sobre sua conduta. Segundo porque Charles era um fugitivo e deveria estar cumprindo pena em Azkaban.
Não. Era idiotice revelar algo como isso aos amigos. Isso e suas memórias das férias de Natal.

Flashback

A sala onde estavam era enorme e detalhadamente decorada. Aparentava ser uma mansão enorme e de fato o era. Hermione simplesmente adorara as paredes claras e em tons claros. A tapeçaria dourada foi o que mais chamou sua atenção, não por ser algo de um alto valor, mas por ser algo tão belo. Os quadros na parede apresentavam retratos de bruxos de diversas épocas e ela tinha quase certeza de que eles pertenciam à mesma árvore genealógica, o que a lembrava vagamente da casa dos Black e de sua própria árvore em uma tapeçaria, onde o rosto de Andrômeda e de Sirius Black foram apagados, onde havia também a face perfeita de Draco e uma fina linha ligando Narcisa à Lucius.
Mas naquele momento Hermione não estava preocupada com parentescos, nem com decorações ou fortuna.
Estava preocupada consigo mesma, já que estava tentando, há mais de duas horas, aprender as lições que Charles lhe dava. Entretanto tudo o que conseguia fazer era cair e perder a disposição a cada feitiço que a acertava. O cansaço começava a dominá-la tal como ela previra.
– Pare com isso! – Anthony gritara posicionando-se entre Hermione e o homem.
Ele não parara. Apenas acertou o corvinal com um feitiço e jogou-o contra uma parede. As costas do moreno bateram com força na superfície dura e ele soltou um gemido de dor.
Charles não se importou. Seu oponente era a garota. Ela era quem deveria pará-lo, mas ao contrário do que esperava, ela continuava sentada no chão, fitando o nada. Charles Steiner lançou mais um feitiço e um corte foi feito na bochecha esquerda dela.
– Levante-se! – Steiner gritara, mas Hermione continuava quieta, sem atenção alguma no duelo.
– Eu não consigo. – Ela murmurou. – Eu não quero lutar... eu não...
Ela não pode terminar de protestar, Steiner foi até ela e levantou-a, os braços dele aguentaram o peso do corpo da garota facilmente, mas era difícil mesmo assim. Hermione Granger não queria sair daquele chão. A garota o olhou. Os olhos amendoados dela encontraram os do comensal e ela viu ali arrependimento.
– Eu não sou boa o suficiente – Hermione falara com a voz fraca – eu nunca...
Steiner soltou-a com raiva, não deixando que ela continuasse a falar. Hermione caiu novamente no chão frio e seus olhos brilharam com lágrimas agridoces.
– Você deu um golpe ontem, Granger. Você entrou num cassino e roubou. Não entendo o motivo para você estar assim agora.
Silêncio.
Em algum lugar da sala estava Anthony. Ele desistira de intervir no treinamento da garota, sempre que tentava fazer isso, Steiner voltava-se contra ele e o atacava.
– Eu não sei quem sou. – Hermione sussurrou.
– Não sabe quem você é? – Charles perguntou friamente e abaixou-se na direção dela.
Novamente os olhos castanhos se encontraram e Hermione foi absorvida pela intensidade daquele olhar duro do homem. Era como se ele a estivesse julgando e condenando-a por ser fraca.
– Você é Hermione Granger, guardiã da pedra do destino, amiga do eleito e uma bruxa incrível, ou pelo menos é isso o que você precisa provar a mim. Agora, levante-se e lute, Sangue Ruim!
Hermione ainda ficou ali, quieta, apenas absorvendo tudo, sentindo algo corroer seu corpo. Aquela palavra imperdoável novamente a atingia, assim como acontecera quando a ouvira ser usada contra ela pela primeira vez, aos 12 anos. Assim como a irritou em todos esses meses. Aquela era a palavra que Draco Malfoy usava para ofendê-la. Era a palavra que a sociedade bradava contra ela e outros bruxos.
E se deu conta de que não merecia isso, tinha tanta magia quanto qualquer outro bruxo que se auto-intitulava sangue-puro.
E depois desses pensamentos ela ficou atenta, percebendo o movimento de Steiner. Repeliu o feitiço, antes que pudesse ser atingida novamente, mas não reparou no sorriso discreto de triunfo do homem por finalmente ter uma reação dela, tampouco percebeu que Anthony levantara-se de onde estava somente por vê-la se defender.
Hermione suspirou e fitou o chão novamente, sendo inundada por lembranças.
“Você não sabe de nada que eu sinto...”
“É, pelo jeito eu não sei mesmo. Então o que você quer que eu fale?” Harry perguntou a segurando pelo braço “Que eu não me preocupo com você? Hermione, eu quero nossa amizade de volta, eu só quero você perto de mim, eu quero te proteger, mas você parece que não... Entende.”
“Talvez eu não queira sua proteção”
“Você está ficando mais parecida com ele sabia? Você não enxerga mais nada a sua volta, eu não posso acreditar... Tudo isso é pelo Malfoy. Você está caindo numa armadilha dele, só pode ser isso...”
Armadilhas... Realmente, tudo parecia ser uma armadilha para ela. E então Hermione percebeu o que ignorara daquela lembrança. Harry queria protegê-la, assim como sempre fez desde que eram amigos. Ele e Rony enfrentaram um trasgo por ela. Juntos descobriram que Sirius Black era inocente e desvendaram todo o mistério da câmara secreta, até mesmo fugiram de Hogwarts e foram juntos ao ministério da magia e duelaram com comensais.
Hermione deu-se conta de que não queria ser protegida, mas sim proteger aos outros. Não era tão indefesa quanto parecia ser, mas ainda assim, não tinha forças suficientes para enfrentar os inimigos em seu caminho. Seu próprio poder era um oponente e a dominaria, se não tivesse mais forças.
“Qual é o seu maior sonho?” Draco quebrou o silêncio fazendo essa pergunta.
“Meu maior sonho?” ela repetiu surpresa e ele assentiu com a cabeça. “Eu não sei direito, eu sempre quis ser reconhecida, sabe? Eu queria que as pessoas soubessem meu nome por algum feito meu, mas talvez isso não seja exatamente um sonho, só um objetivo.” Hermione suspirou e continuou como se acabasse de concluir algo. “Não, é realmente meu sonho, fazer a diferença.”
Hermione levantou-se e ergueu a varinha. Essas lembranças a atormentavam nos últimos dias e não conseguia mais aguentar aquilo. Precisava de força e de habilidade, aquela era sua chance para provar a si mesma que era alguém. Novamente estava a postos para duelar e iria enfrentar Steiner. Ele se oferecera para ensiná-la e ela aprenderia. Começaria a fazer a diferença.
A leoa fora acordada e estava alerta. Hermione respirou fundo e percebeu o movimento de Charles, ele erguera a varinha na altura dos olhos e em seguida lançou-se para frente, como se estivesse numa luta nobre, como se sua arma fosse uma espada. E seus movimentos eram deveras nobres e leves, sem a violência que os comensais costumavam usar. Existia algo diferente nele e era isso que instigava Hermione a continuar a duelar.
Mas então toda aquela força repentina dela se converteu em fúria. Não era apenas uma garotinha duelando, não era a grifinória que Bellatrix Lestrange uma vez atacara.
“O que aconteceu, Granger? Está fraca?” a voz de Bellatrix Lestrange soava prazerosa e essa lembrança dava náuseas à grifinória. “Crucio!”
Fraca demais. Isso ficaria no passado. Ela se tornaria forte, porque precisava. Não correria riscos bobos, nem iria permitir que alguém a subestimasse. Era capaz de coisas inacreditáveis e realmente impressionantes. A Hermione Granger certinha e inocente estava morrendo, Draco Malfoy a matara lentamente. Agora ela seria apenas quem deveria ter sido desde o principio, uma incrível e poderosa bruxa.
“En garde!” disse a si mesma antes de atacar Steiner, seu mais novo mestre.

Fim do Flashback

– Oh, Merlin! – Harry murmurou para si mesmo.
Rony e Hermione pararam imediatamente de duelar e olharam para o amigo.
– O que foi? – Hermione perguntou girando a própria varinha em suas mãos.
– Gina. – Harry falou – eu deveria ter encontrado ela meia hora atrás. Agora ela vai me matar!
O moreno pegou sua mochila e jogou-a sobre o ombro direito, saindo da Sala Precisa e correndo para o salão comunal. Hermione riu do amigo e voltou-se novamente para Rony.
Ambos ainda possuíam o traço de um sorriso nos lábios em razão do que Harry fizera, mas Rony não fazia ideia de que a expressão de Hermione era apenas uma camada fria, ensaiada e nada próxima de um sentimento feliz. E, assim, o sorriso dos dois não tardou a murchar.
– Sabe, acho melhor continuarmos amanhã. – Rony falou, tentando convencer a si mesmo de que aquela ainda era sua melhor amiga.
Hermione aceitou parar o treinamento, mas ainda assim não acompanhou o amigo. Disse que iria terminar seu horário de monitoração e que logo estaria no Salão Comunal.
– Você deveria descansar... – Rony dissera pegando sua mochila – Ninguém estará nos corredores a essa hora, faça como eu e desista de ser um bom monitor...
Hermione riu e empurrou Rony para fora da sala.
– Eu não irei desistir de nada, Ronald Weasley – ela murmurou enquanto a porta da Sala Precisa fechou-se com um baque e desapareceu, deixando somente a parede de pedra no lugar.
Rony voltou-se para Hermione, impedindo seu caminho. Os olhos azuis dele estavam sérios, algo que Hermione via raramente.
– O que foi?
– Estou pensando... qual é o sentido disso tudo? Quero dizer, desde que você voltou não é mais a mesma. Hermione, você sumiu nas férias, foi para a França e mal deu sinal de vida. Agora está tão diferente e aprendeu muitas coisas nesse tempo.
– Rony, eu só aprendi uns truques de duelos – Hermione começou a falar, mas foi interrompida.
– Seja o que for que você aprendeu, não foi só alguns truques. Mas o que mais me impressiona é o fato de esconder isso até mesmo do Harry.
O ruivo suspirou, sabendo que o que dizia era verdade e que Hermione não estava sendo completamente honesta com eles. Antes que pudesse dar tempo para ela revidar, saiu andando, deixando-a sozinha.

Hermione olhou abobalhada para Rony, ele não era, definitivamente, o melhor exemplo de sensibilidade e ela nunca imaginou que poderia ouvir coisas como aquelas vindas dele.  Esperou até que a sombra dele sumisse no meio da escuridão e só então bufou irritada e seguiu seu caminho. Afinal, o que ele sabia para dar lições de moral?
Durante dez minutos ela andou, tentando achar algum aluno desobediente, e acabou percebendo que ela e seus amigos eram quem mais desobedeciam às ordens. Sorriu, lembrando-se do que já fizeram desde o primeiro ano.
Hermione sentou-se no chão, ainda tinha trinta minutos e só então iria para seu dormitório, mas também não ficaria andando sem rumo por aí à espera de um espertinho em quem pudesse aplicar uma detenção. Assim, abriu sua mochila e retirou desta um diário negro de couro. Ganhara-o no natal e não havia nada nele que dissesse de onde viera. Nenhum nome. Nada. Acabou por guardá-lo consigo, tentando escolher o tipo de coisas que escreveria.
Pegou sua pena e molhou no tinteiro, não se importando com o frio que fazia.
A tinta tocou o papel, manchando-o, mas sua mão não se moveu.
“Escrever sobre o que?”
Num passado distante ela escrevia pequenos versos e já conseguira até montar canções, mas não sabia se era capaz disso agora. Optou por registrar ali qualquer coisa, afinal, ninguém leria suas divagações.

Algumas coisas é melhor serem esquecidas
Nós as enterramos em lugares que apenas poderão ser visitados por nós mesmos
Você foi uma versão como nenhuma outra
E eles nunca te dizem o que fazer quando tudo que você vê se foi
Qual o sentido em qualquer coisa quando tudo que eles dizem está errado?

“Ridículo!” ela praticamente falara, mas achou melhor manter isso em sua mente “Estou ficando horrível nessas coisas... não canto mais e nem sequer escrevo! Merlin! Eu sou uma inútil!”
A pena posou mais uma vez no diário e Hermione continuou a escrever, ainda que odiasse suas próprias palavras.

O que você quer ouvir?
Você quer saber quantas vezes eu me parti em pedaços porque você não estava aqui?
O que você quer saber? Isso faz você se sentir viva?
Eu tive que morrer para finalmente te deixar ir

Sorriu, lembrando-se de Draco, sonhara com ele algumas vezes nas últimas semanas, sempre a mesma coisa, um sorriso, uma risada, um olhar. Eles dançavam juntos, por algum motivo. Mas no meio da noite ela acordava e não voltava a adormecer. Draco Malfoy tirava-lhe o sono, talvez não se contentando em somente tirar-lhe sua vida. Ele queria mais, sempre mais. Queria vê-la despedaçar-se como pequenos pedaços de vidro, inúteis, sem valor ou sequer conserto.

Pare-me... Eu me encontrei acreditando
Uma história é reescrita por si própria e a blasfêmia é permitida de novo
E você era tão perfeitamente imperfeito
E eles nunca te dizem o que fazer quando tudo o que você tem são mentiras
Qual o sentido em qualquer coisa? Isso é apenas mais um adeus

Suspirou e encostou a cabeça na parede de pedra. Se ao menos tudo fosse diferente... Talvez ela agora pudesse sentir algo além daquele vazio dentro de si. Faltava algo e simplesmente não podia admitir o que era. Seria humilhante desejar aquilo que lhe fazia mal, além de ser uma idiotice.
No entanto, intimamente desejava que ele aparecesse a sua frente, nem que fosse apenas para provocá-la e chamá-la de sangue-ruim. Durante várias rondas ele apareceu sempre que ela menos esperava. Fora até em uma monitoração em que eles tiveram seu primeiro beijo. Mas agora tudo o que queria era vê-lo aparecer por ali e, ironicamente, sabia que ele não apareceria.

“Eu prometi a mim mesma nunca mais me decepcionar.”

***

Draco olhava a neve caindo pela janela do seu dormitório, a maioria dos seus colegas estava na sala comunal, mas não quisera juntar-se a eles. Deveria estar monitorando, mas não tinha a mínima vontade de ficar vagando pelo castelo frio. Na verdade, mesmo que não admitisse, não queria encontrar certa grifinória, o real motivo para estar renegando seus deveres. No seu colo estava algo parecido com um livro, páginas totalmente amareladas, velhas e enfeitiçadas. Nos últimos dias sempre estava com ele, somente esperando pelo que parecia nunca vir. Entretanto, naquela noite as páginas nuas foram maculadas e manchas negras surgiram. Manchas com a forma exata da letra de Hermione Granger. Draco lia aquelas palavras enquanto sentia um bolo ser empurrado em sua garganta. Ali estava a garota que estivera procurando tanto, ainda existia um coração em Hermione.

O que você quer ouvir?
Você quer saber quantas vezes eu me parti em pedaços porque você não estava aqui?
O que você quer saber?
Isso faz você se sentir viva?
Eu tive que morrer para finalmente te deixar ir

Draco respirou fundo, apesar de aquelas palavras o ferirem por parecerem frias demais, aquilo era o máximo que tivera dela todo aquele tempo. Palavras.
“Estúpido! Você é um estúpido, Malfoy!” pensou e encostou a cabeça na janela, enquanto continuava a ler o que a garota escrevera.
O mais incrível de tudo era que a menina descrevia não apenas o que provavelmente sentia, mas sim aos sentimentos do sonserino.
“Eu tive que morrer para finalmente te deixar ir” Draco falou assim que leu e sentiu que aquilo fazia todo sentido para ele.
Não era a primeira vez que ela fazia isso, em mais de uma ocasião a grifinória descrevia exatamente o que Draco sentia, como se estivessem conectados ou ela estivesse lendo sua alma.
Isso o fazia sentir-se pior ainda e num acesso breve de raiva ele jogou o velho diário na parede, fazendo com que ele caísse no chão com as páginas amarelas ligeiramente amassadas.
No segundo em que fizera isso a porta do seu quarto foi aberta e uma cabeleira loira entrou. Atrás dela estavam Crabbe e Theodore, que estranhamente seguiam a menina. Lucy ergueu uma sobrancelha e encontrou o sonserino ainda com raiva.
– O que aconteceu?
– Nada – Draco prontificou-se a responder, não querendo falar sobre Hermione.
Lucy continuou a olhá-lo desconfiada, até que se jogou na cama do loiro e sentou-se com as pernas entrelaçadas. A meia-calça branca ficava perfeitamente visível, escondendo um par de pernas torneadas.
Draco percebeu instintivamente que os seus dois amigos mal conseguiam tirar seus olhos da loirinha na sua cama e automaticamente concluiu que isso poderia trazer problemas para a garota. Mas ela não parecia sequer perceber isso e, se o percebia, ignorava. Os cabelos outrora cacheados e até os ombros agora estavam jogados pelas costas e a maquiagem ligeiramente escura dava um ar mais velho à menina de 15 anos.
Chamar a atenção era tudo o que Lucy queria.
– Você não adivinha o que acabamos de ouvir. – Lucy começou colocando um cacho atrás da orelha.
Draco arqueou uma sobrancelha, entretanto, incapaz de decifrar os olhos da amiga, logo perguntou do que ela estava falando.
– Pansy está contando para todos que vocês estão juntos e que foi por causa dela que você abandonou Hermione.
Draco limitou-se a soltar um riso de escárnio e desviou seus olhos para a janela.
Era óbvio que rumores como esse iriam surgir, era só uma questão de tempo até que todos percebessem que o namoro da grifinória e do sonserino tinha acabado.
– Isso é exatamente o que Pansy quer... – Draco sussurrou.
– Cara, nem ao menos sei o porquê de você estar com aquela Granger, quero dizer... ela é amiga do Potter e além disso ela é uma san...
Mal Crabbe começou a falar, Draco saltou do parapeito da janela onde estava, e o interrompeu, apertando sua varinha contra o pescoço do outro. O olhar mortal que Draco tinha no rosto assustaria qualquer um. Era um olhar que há muito tempo ninguém via, embora fosse comum antigamente. Nos últimos meses essa parte de Malfoy estivera adormecida, entretanto, agora o lobo dentro do sonserino estava acordado e ágil.
– O que a Granger é, Crabbe? – Draco perguntou friamente, com sua voz arrastada.
O garoto olhava fixamente para os olhos tempestuosos de Malfoy e não atrevia desviar esse contato, fosse por medo ou simplesmente por submissão.
– Ela é uma... ela é u-uma... grifinória.
Crabbe atropelou-se nas palavras e gaguejou. O insulto à Hermione morrera em sua garganta tão logo a varinha encontrara seu pescoço. E depois disso Draco finalmente abaixara a guarda e voltara a sentar-se perto da janela.
Lucy ainda olhava estupefata para o loiro e sentiu pela primeira vez em meses que não o conhecia. Ainda que fosse o sonserino prepotente que era, não iria permitir que alguém ferisse Hermione ou a insultasse.
E o pior era que ele não queria demonstrar isso, mas no final das contas, Draco sempre acabaria defendendo-a.   
Ainda existia um forte vínculo entre os dois, algo que só eles não percebiam.
Lucy sentiu um arrepio, lembrando-se do que vira nos pensamentos de sua mãe e da profecia que Hermione falara.
Amor e ódio será sua sina. No entanto surgirá um enviado que trará a luz e irá decidir a guerra. Luz e trevas. Bem e mal. No fim nenhum irá ceder, mas alguém terá que renascer.
A questão era: quem seria esse tal enviado? Potter? Malfoy? Era frustrante não saber o que aconteceria, o que a fazia desejar mais ainda poder ver o futuro.
Amor e ódio eram tudo o que havia, por ora, no destino de todos.

***

Draco olhou para a janela e sentiu seus olhos serem feridos pela claridade do sol. Mas não fora isso que chamara sua atenção. Ao olhar para as camas ao seu redor percebeu que era o único no dormitório. Nada de Zabini, Crabbe, Goyle ou Theodore. Apenas ele ainda estava ali.
O loiro, num pulo, saiu da cama e agarrou seu relógio, percebendo que estava atrasado. Vestiu a camisa branca e a calça negra de qualquer jeito e quase se esqueceu de amarrar os sapatos, mal vestiu seu suéter e já saiu direto para a Sala Comunal, para começar a correr direto para as estufas.
“A Professora Sprout não pode me deixar fora da aula, não posso ficar em detenção logo agora, Merlin!” ele pensou passando quase na velocidade da luz por um corredor e por pouco não atropelou uma quartanista.
A cena, para quem não fosse Draco, era deveras engraçada e melhorou drasticamente quando ele percebeu que estava muito mais frio do que imaginara e que a aula já começara.
Draco entrou nas estufas respirando de forma rápida e descompassada e percebeu que umas garotas o encaravam. Ele tinha consciência de que não penteara os cabelos, apenas os ajeitara com a mão na frente do espelho e nem sequer tivera tempo de colocar sua gravata. Para qualquer um Draco poderia representar muito bem o garoto que acabara dar vários amassos num canto com alguém.
– Senhor Draco Malfoy, finalmente deu o ar de sua graça... Sente-se, por algum motivo, mais importante do que os demais para dar-se ao luxo de tamanho atraso? – Sprout começou a falar, lembrando ligeiramente Snape.
Draco sabia que a professora não ia com sua cara, simplesmente porque o vira maltratar alguns lufanos na semana interior. Agora era a hora para ela humilhá-lo e defender sua casa.
– Desculpe-me. – Draco falou, com a garganta seca e não acreditando no que estava dizendo. – Eu me atrasei e...
– E achou que poderia vir à aula com a aparência de quem acabou de lutar com trasgos?
“Respire, Draco, apenas respira” disse a si mesmo e fez uma nota mental para colocar em detenção qualquer lufa-lufa idiota que encontrasse pelo caminho.
– Isso não vai se repetir.
– Espero que não. Agora seja o primeiro a escolher seu par de herbologia.
Draco olhou para o quadro negro e o leu. Havia algumas plantas listadas e um trabalho a ser feito em duplas, com prazo de entrega dali a três semanas.
Perto do quadro havia uma caixa pequena e a professora o mandou ir até lá a fim de sortear quem seria seu parceiro. O sonserino olhou para os colegas e desejou que pudesse escolher por si próprio. Ficaria feliz em trabalhar com Nott ou até mesmo com Goyle ou Crabbe. Mas, ao invés disso, resignou-se. Não haveria escolha.
Draco aproximou-se da caixinha de madeira e colocou sua mão dentro da mesma. Uma chama esverdeada brilhou, mas curiosamente não queimou sua pele. Ele puxou o braço e abriu o pequeno pedaço de papel que pegara. Não podia acreditar no que lia. Aquele nome o atormentava há meses e aquilo era uma peça de mau gosto, porque Hermione Granger não poderia ser sua parceira de Herbologia pelas próximas três semanas.
“Obrigado, Merlin! Realmente obrigado!”
– Eu não vou trabalhar com ela! – o garoto rosnou para a professora. – Prefiro lidar com plantas carnívoras e explosivins do que fazer toda a pesquisa de campo com a Granger!
– Ótimo, Sr. Malfoy, então aproveite e desista de se formar em Hogwarts, porque isso vai afetar diretamente suas notas – a Professora Sprout anunciou e o loiro sabia que todos na sala o olhavam.
Se antes o fitavam curiosos por ele estar desarrumado, agora estavam completamente extasiados ao descobrirem que ele trabalharia com a ex. Os velhos tempos pareciam voltar, já que Draco Malfoy e Hermione Granger se odiavam novamente.
Draco, agora realmente de mau-humor, andou em passos duros até a mesa onde Hermione estava. A garota já fazia algumas anotações, escrevendo ferozmente em um pergaminho, o que mostrava que ela estava tão feliz quanto ele.
– Malfoy, ficar com essa cara feia e emburrada realmente não irá mudar o fato de termos que trabalhar juntos – Hermione falou, sem desviar os olhos das anotações. – Quanto mais rápido fizermos esse trabalho, mais rápido você ficará livre da minha irritante presença.
O sonserino sorriu sarcasticamente enquanto sentava-se de qualquer jeito numa cadeira e olhava a garota trabalhar.
– Hmm que tal você fazer tudo sozinha e me poupar de todas as provocações? Ficamos ambos com notas. Eu não preciso te aturar e nem você a mim. Todos felizes.
– Que tal você se suicidar? Todos felizes. – A garota replicou secamente.
Dez minutos depois ela jogou um pergaminho para ele e o olhar duro de Draco a fez estreitar os olhos.
– O que é isso? – Malfoy perguntou.
– Sua parte. – Hermione falou com um sorrisinho sarcástico, algo que ela aprendera com o próprio sonserino. – Pesquise tudo isso e me entregue. Eu junto os trabalhos e depois disso planejamos o resto.
Draco limitou-se a soltar uma risada de descaso, como se pouco se importasse com aquele trabalho, mas ainda assim cooperou com a grifinória na hora de descascar algumas vagens ou podar certas plantas que a professora pedira. Sempre num silêncio mórbido, como se as palavras lhes faltassem.   
Draco percebia que a professora Sprout olhava para ele por vezes com raiva na face, o que quase o fez rir, mas conteve-se. Brigar com uma professora seria estupidez. Pegou sua varinha, portanto, e deu um floreio no ar. Um passarinho de papel formou-se no ar e, com um sopro do loiro, ele voara até Zabini.
Queria saber por que Zabini e os outros deixaram de acordá-lo naquela manhã.
O outro sonserino, após ler o recado, olhou para Draco dando uma risada e deu de ombros, como se não pudesse fazer nada para ajudá-lo, mas ainda assim o passarinho voltou, trazendo uma resposta tão ridícula quanto sua pergunta.
“Você não acordou Draco, e acredite: Nós tentamos. Você deveria pedir para a Granger te acordar e não nós”
Draco limitou-se a fazer um gesto obsceno para Blaise, que apenas riu da cara do loiro.
Ao seu lado Draco ouviu um suspiro irritado e percebeu que Hermione não estava cortando algumas raízes como deveria.
Algo a irritava.
– O que houve? – Draco sussurrou. – Brigou com o Santo-Potter ou com a Cenoura-ambulante?
Se Hermione tivesse o poder para matar alguém apenas com um olhar, Draco estaria duro no chão àquela hora. A garota soltou um riso despreocupado e o ignorou.
“Se ele ao menos soubesse um terço dos meus problemas... Tenho que achar uma Pedra ridícula, preciso desenvolver meu poder e Gina, por algum motivo, não fala comigo. Além é claro dele mesmo ser meu problema, me enchendo a paciência...”
– Hmm, pelo visto sim, já que nenhum deles está tão preocupado com você. Nenhum grifinório idiota veio até aqui para o blá-blá-blá de sempre. – Draco riu e percebeu que talvez estivesse certo. – Ninguém veio me ameaçar caso eu te irritasse.
– Porque não adiantaria, Malfoy. Seria o mesmo que falar com uma criança, já que você nunca cumpre promessas.
Draco quis retrucar. Abriu sua boca e pensou numa resposta malcriadamente sonserina, mas antes que pudesse irritar a grifinória novamente, a própria o interrompeu.
– Sabe, que tal você arrumar algo mais interessante para se fazer, pode sei lá... ajudar sua suposta melhor amiga.
– Lucy?
– Não, Goyle... Mas que droga, Malfoy! É claro que é a Lucy, se você não percebeu há algo de errado com ela e caso você ainda não saiba, procure saber o que é!
– Não acredito que aquela loira intrometida contou a você. – Draco falou com os olhos arregalados. – Granger, isso não é uma brincadeira e contar para os seus amiguinhos só vai atrapalhar tudo mais ainda e...
– E o que? Ela foi suficientemente burra para aceitar fazer aquilo. E por Merlin! Como ela espera sair dessa? – Hermione sussurrou e Draco teve que fazer esforço para ouvi-la.
– Eu vou tirar Lucy disso, Granger. Eu que causei tudo e serei eu quem resolverá esse problema.
– Olhe para você Malfoy. Tão prepotente... não percebe o quanto ridículo está sendo? Você tem 16 anos e acha que pode controlar o mundo inteiro com suas mãos. Não é assim que funciona. – Hermione falou sem fitá-lo e terminou de contar algumas ervas e fazer suas anotações.
Com um suspiro longo ela limpou a pequena faca numa toalha e finalmente olhou para o loiro. Seus olhos cinzentos estavam tempestuosos e frios, havia ali uma dureza característica dele. Hermione tocara no seu ponto fraco sem perceber.
Seu orgulho estava ferido.
E ela descobriu que isso a deixava feliz.
Machucá-lo foi a primeira coisa que lhe deu prazer em todo esse tempo e percebeu que essa seria a melhor vingança que poderia ter.

***

Harry levantou-se do chão mais uma vez, já era a terceira vez que caia ao tentar defender-se dos feitiços de Hermione. E a garota estava de pé, em guarda, apenas esperando o amigo recompor-se.
– Hermione, eu sei que você está irritada com o Malfoy, e ainda que não me diga o motivo para vocês dois terem terminado eu adoraria te ajudar a vingar-se dele, mas não quero ser seu saco de pancadas. – Harry protestou erguendo a varinha.
Hermione suspirou irritada e revirou os olhos.
– Vamos treinar oclumência então, garotinha. – A grifinória provocou – tenho certeza que a sua ainda está péssima.
Harry estreitou os olhos e, já irritado com aquela atitude de Hermione, a atacou, mas o feitiço virou contra o feiticeiro. Ao invés de penetrar na mente dela, a garota foi quem entrou nos seus pensamentos.
Harry acabara de entrar no salão comunal e vira Gina sentada em uma das poltronas lendo um livro concentrada. Sabia que estava atrasado e que já deveria estar ali com ela, mas acabara esquecendo-se da hora enquanto treinava duelos com Rony e Hermione.
Aproximou-se da ruiva e tentou surpreendê-la, mas antes mesmo que suas mãos pudessem abraçá-la, ela desviou-se, levantando-se e encarando o namorado com as mãos na cintura, lembrando a Harry o quanto ela parecia a Sra. Weasley com aquela pose. E esse pequeno fato não o ajudara em nada.
“Onde estava, Harry?” Gina perguntara.
“Gina... me desculpe, eu perdi a hora... Hermione e Rony me distraíram...”
A ruiva riu, não um riso doce e característico dela, mas uma risada irônica e seca.
“Você tem tempo para eles e nem sequer consegue me encaixar na sua agenda lotada...” Gina falou cruelmente e dirigiu-se para seu dormitório.
“Gina, me desculpe...” Harry tentou retê-la ali, e conseguiu isso, mesmo com ela não o ouvindo.
“Não! Eu não aguento mais isso. Quando eu preciso onde você está? Comigo que não. Eu vou enlouquecer assim. Tenho medo de andar por aí sozinha e meu próprio namorado não me ajuda em nada”
“Você não aguenta mais?” Harry repetiu com raiva e se segurando para não gritar. A menina finalmente o tirara do sério. Eu não aguento mais, Gina. Faz semanas que eu tento entender o que há de errado com você! E até agora tudo o que você faz é brigar comigo. Talvez o problema não seja eu, mas você”
“Eu? Não sou eu que vivo e respiro a Hermione! Não vê o quão ridículo isso é? Por Merlin! Você deveriam ser amigos, não ficar pelos cantos como namoradinhos”
Harry não compreendera aquilo. De onde Gina tirara isso? O que existiu entre ele e Hermione já tinha acabado há tempos... Aquele ciúme era ridículo e infundado.
“Desde quando é tão ciumenta, Gina?”
Harry respirou fundo e quando abriu os olhos Hermione estava caída no chão. Ele conseguira tirá-la de sua mente. Levantou-se rápido e a ajudou. Não conseguia olhá-la nos olhos depois da briga que ela vira entre ele e Gina e, principalmente, por ela ser o motivo.
E, por outro lado, a mente de Hermione se enchia de pensamentos confusos. Aí estava a razão para Gina evitá-la e mal conversar com ela ultimamente.
– Você está bem, Hermione? – Harry perguntou.
– Sim... vamos continuar. Pelo menos agora você conseguiu me expulsar. É um avanço, Harry – ela disse tentando disfarçar seu nervosismo e deu alguns passos para longe dele. – De novo! – ela gritara.
Nessa segunda vez Harry lançara o feitiço, mas Hermione não conseguiu revidar. Depois de exercitar tanto sua mente, agora ela não conseguia tirá-lo de lá, simplesmente por causa da cena que vira há pouco. Harry preenchera seus pensamentos e agora estava vulnerável, tentando em vão lembrar-se do que aprendera com Steiner. Isso trouxe lembranças das férias, coisas que Harry não poderia ver.
“Sabe, Tony... no final das contas você não parece tão idiota quanto eu pensei quando te conheci” Hermione falou e recebeu uma almofadada do garoto.
“E você não parece tão inteligente assim!” Anthony disse segurando os braços dela na cama com uma das mãos e com a outra, fez cócegas na grifinória, provocando os primeiros risos sinceros de Hermione Granger naquela semana.
Aquela era uma lembrança muito fácil de Harry interpretar errado e, assim, Hermione concentrou-se em lembranças mais antigas, mas não percebeu que estas eram tão perigosas e sedutoras quanto as recentes.
“Você parece diferente...” a voz de Hermione era alegre e casual, para não se dizer doce, como Harry a definiria naquele momento.
Seus cabelos estavam bagunçados e percebeu que ela acabara de acordar. Uma ruiva estava ao seu lado, devidamente trajada com o uniforme da escola.
“Bom, eu resolvi que nesse ano eu vou lutar por tudo que eu quero...” Gina falou animada “Mione, eu estou apaixonada.”
Somente depois de ouvir isso foi que Harry percebeu que aquela lembrança era antiga, Gina parecia inquieta e ainda aparentava ser a caçula Weasley, não uma garota cheia de problemas e reclusa, que acabara se tornando.
“Pelo Harry?” Havia um desconforto no tom com que Hermione proferiu isso e automaticamente ele se deu conta de que ela controlava sua voz, para não parecer amarga ou magoada.
Hermione estava agindo como uma atriz, maquiando seus próprios sentimentos para não atingir os outros, para não revelar suas fraquezas. E assim o momento se dissolveu, revelando algo que Harry não precisava nem queria ver.
“– ... mas eu quero te conhecer.”
“Malfoy, não...”
Malfoy a prensou contra a parede, suas mãos na cintura fina na grifinória e seus lábios unidos aos delas, havia hesitação por parte dele e era evidente que Hermione sentia asco por estar beijando Draco Malfoy, mas ainda assim, havia algo estranho, eles pareciam realmente um casal juntos, havia desejo mesmo que ainda se odiassem naquela época e isso enfureceu Harry. Um ódio nascia dentro dele e não conhecia o motivo para isso, o que sabia era que ver o Malfoy tocando Hermione era angustiante e, assim adorou ver a garota empurrá-lo.
E novamente Hermione o retirou daquela lembrança, já que ainda lutava para manter o controle sobre a própria mente e expulsar o amigo de sua cabeça. A cena a seguir o assustou, Voldemort apontava sua varinha para uma mulher loira, bela e nobre, mas sua expressão era assustada e um brilho esverdeado a atingiu, cegando-a pela eternidade. Melanie Moore estava morta e ele já vira aquela lembrança há meses, quando sonhara com aquela noite.
“Eu não quero te perder” Hermione dissera enquanto sua face se aproximava da do moreno lentamente.
“Nem eu” Harry viu a si mesmo dizendo isso enquanto beijava Hermione de modo terno pela primeira vez e desejou secretamente poder fazer aquilo de novo.
Lutara tanto tempo para convencer a si mesmo de que o que sentia por ela era genuíno e não mais do que amizade e agora, com uma simples lembrança, o muro que construiu desmoronou e Harry sabia que lembrar-se daquilo traria consequências. “Estou com Gina”, pensou.
Ao mesmo tempo em que esse pensamento passava por sua cabeça ele viu-se beijando Gina no corredor à noite, e lembrou-se de que fora o dia em que começara a namorar com ela, no entanto a visão era do ponto de vista de Hermione. Ela o vira, estava escondida ali perto e deixara uma lágrima cair dos olhos. A grifinória, então, saíra de lá e Draco a seguiu, tentando acalmá-la.
“Não vai nem ao menos lutar por amor?” O moreno ouviu-o perguntar.
“Eu não quero lutar pelo amor dele.” Hermione respondeu “eu não ia conseguir amá-lo do jeito que Gina ama, eu o amo, muito, mas é melhor sermos só amigos.”
Harry ouvira isso e engoliu em seco. Se ao menos soubesse como Hermione se sentia, tudo poderia ser diferente. Talvez agora ela não estaria sofrendo pelo Malfoy.
“Você não sabe de nada que eu sinto...” Hermione dissera.
“É, pelo jeito eu não sei mesmo. Então o que você quer que eu fale?” Harry ouviu seu eu do passado dizer “Que eu não me preocupo com você? Hermione, eu quero nossa amizade de volta, eu só quero você perto de mim, eu quero te proteger, mas você parece que não... Entende.”
A cena dissolveu-se e dessa vez ele via Hermione e Malfoy discutindo.
Você não pode ficar assim por causa dele.” O loiro falara.
“E por que você está preocupado quanto a isso? Deixe-me sofrer em paz!”
“Eu não posso te deixar assim. Você e ele deviam ser só amigos, ainda que eu prefira que não fossem nada.”

Mal vira isso e já estava fitando a Sala Precisa. Somente alguns segundos depois percebeu que Hermione o expulsara de sua mente.
Olhou, então, para onde ela estava. Ambos estavam de frente para o outro.
“Eu? Não sou eu que vivo e respiro a Hermione! Você deveriam ser amigos, não ficar pelos cantos como namoradinhos”
“Você e ele deviam ser só amigos, ainda que eu prefira que não fossem nada.”
Harry ouviu as vozes de Gina e de Malfoy. A mesma coisa dita por lábios diferentes.
Eles teriam razão?
Harry encarou Hermione como nunca tinha feito antes. Os olhos da amiga vacilavam. Ter suas memórias expostas era algo com o qual não lidava muito bem, como qualquer outra pessoa. Harry ter conhecimento sobre essas coisas antigas era desconfortável. Havia no olhar esverdeado dele uma surpresa genuína ao qual ela não conseguia encarar. Desistira dele há muito tempo, não havia porque desenterrar seu passado. Não queria ter seu coração estraçalhado mais uma vez.
Expulsá-lo de sua mente fora algo difícil, mas ela precisava aprender oclumencia, para o seu próprio bem e para que sua magia não a dominasse.
– Hermione... Gina sabia disso? Ela sabia que você gostava de mim? – Harry perguntou, surpreendendo-a.
Mas é claro que ela sabia, Gina era esperta demais, sabia desde o começo de tudo. “Antes mesmo que eu mesma percebesse. Ela foi quem percebeu também que eu me apaixonara pelo Malfoy, sempre era a primeira a saber.” Hermione pensou e não precisou dizer nada, Harry já sabia a resposta para sua pergunta antes mesmo de perguntar.
Hermione pegou sua mochila e saiu da sala. Não queria passar por aquilo agora. Não tinha forças para encarar Harry. Gastara toda a sua energia em evitar Malfoy.
“Não, não é possível isso! Merlin me odeia ou eu fui uma mulher realmente má em outra vida e estou pagando pelos meus pecados!” ela pensara e no mesmo instante sentiu uma mão fechar-se sobre seu pulso.
Quis soltar-se, mas não conseguiu. A mão a puxou e forçou ela a encarar quem quer que estivesse segurando-a. Mas Hermione não se deparou com os olhos verdes de Harry. Os olhos que a fitavam eram tão negros quanto o céu de uma noite de lua cheia.
– Tony! – Hermione falou relaxando.
– Está fugindo de quem, pequena? – o Corvinal perguntou divertido e notou o estado dela.
Pelo pouco que conhecia de Hermione Granger, já conseguia perceber quando havia algo diferente nela. Concluiu que algo acontecera.
– Granger, talvez eu não seja um ótimo amigo ou confidente, e nem sempre eu serei chamado de confiável, principalmente por causa da minha ficha e de tudo o que tenho feito, além das partes profanas da minha vida, que revelam o quão inocente eu sou – Tony falou num tom que pouco disfarçava sua ironia e sorriu de forma canalha para garota. – Bem, você me conhece e agora pode me dizer o que houve?
Hermione deu uma risada sincera, divertindo-se com toda a reflexão que o corvinal fizera de si mesmo e se encostou a uma das paredes, passando os dedos nervosamente pelos cabelos castanhos.
– Duas coisas aconteceram hoje, Tony. Duas coisas que têm nome e sobrenome – Hermione murmurou. – A primeira chama-se Draco prepotente Malfoy e a segunda, Harry tapado Potter. Agora, diga-me: o que fazer quando tudo não faz sentido algum? Quero dizer... como saber se eu ainda amo o Harry ou se odeio o Draco?
O moreno riu e a prensou contra a parede de forma sensual, surpreendendo-a.
– É simples – ele sussurrou no ouvido esquerdo dela e segurou as suas mãos em suas próprias.
Um arrepio tomou conta da garota, mas ainda assim ela não o empurrou. Aquilo seria completamente diferente se fosse com outra pessoa, mas aquele era apenas Anthony e, por mais quente que ele fosse, ela não se imaginava aos beijos com ele.
– Hermione, é você quem tem que saber o que você sente – Tony falou e beijou seu ouvido, sorrindo. – Diga-me: Se eu fosse o Malfoy ou o Potter, o que você sentiria?
– Se Draco Malfoy me beijasse agora... – Hermione começou a dizer e tentou pensar, com a boca do corvinal descendo para seu pescoço de forma provocante.
O que ela sentiria? Raiva? Não. Isso não definiria seus sentimentos. Hermione sentiria desejo, isso sim, e uma vontade enorme de nunca largá-lo, algo maior do que ela. E se Harry a beijasse? Sentiria aquela mesma sensação de felicidade? Talvez sim, por mais que ainda dissesse que o que existia entre eles fosse apenas uma amizade genuína, sabia que era muito mais do que isso.
E Anthony... ele estava provocando-a. Era como ele fazia as coisas. Primeiramente uma provocação e depois uma análise detalhada de suas reações. Ele não a desejava, estava ali a beijando apenas para atordoar seus pensamentos. Ele amava Lucy, mas estava se aproveitando demais de Hermione.
– Anthony... – Hermione sussurrou e finalmente o garoto parou e a fitou nos olhos – eu entendo agora. – Disse mais para si mesma do que para ele – Há uma diferença grande entre Harry, Draco e você. Eu não te amo, mas ainda assim não há como não sentir algo por você... uma pequena atração que seja. Mas eu amo Harry e sou apaixonada por Draco. Merlin! Não poderia ter dito tudo isso simplesmente?
– Não. – O corvinal falou e a beijou na bochecha, soltando-a em seguida – é muito mais fácil te confundir. E agora o que você fará com essas informações?
– Nada. Gina ama o Harry e ele a ama também. E Draco nunca será bom o suficiente. Somos de mundos diferentes e opostos não funcionariam bem juntos.
– Ficaria impressionada se soubesse de certas coisas sobre essa sua conclusão aí, Granger, mas quem sou eu para explicar as coisas à Hermione Granger? E você precisa superar as pessoas... principalmente o Malfoy, sabe?
– O problema, Anthony, é que eu não tenho tempo para seguir em frente.
– E nem para ficar aqui nesse corredor jogando conversa fora... Sabe, temos aula de duelos agora com o Woodsen e você não pode escapar dessa tão fácil assim.
Hermione soltou um suspiro baixo. Tinha se esquecido da aula de duelos. Tudo o que queria era tomar um banho quente e colocar sua cabeça em seu travesseiro. Queria esquecer-se de tudo e de todos, mas ainda assim ela foi com o garoto até o salão de duelos, onde vários alunos já se acomodavam em alguns pufes à espera do professor.
Hermione percebeu que Harry estava ali com Rony, mas evitou olhar para eles, indo para junto de Lilá e Parvati.

O burburinho das vozes dos alunos diminuiu no instante em que o professor entrou no salão. Como se fosse uma regra importantíssima, nenhuma das casas se misturava, verde e vermelho nunca estavam juntas, tampouco amarelo ou azul. Nas tapeçarias destacavam-se os símbolos da escola: o leão dourado, imponente e corajoso, como a maioria dos alunos daquela nobre casa; a serpente prateada, orgulhosa e astuta, tendo representantes indiscutivelmente à sua altura; a águia de bronze, bela, aparentando sabedoria e um grande espírito; e o texugo negro, paciente e leal em sua essência.

De um lado da sala olhos castanhos estavam inquietos, pertenciam a uma Hermione Granger fria e indiferente. Sua máscara se dissipava a toda hora e qualquer um que a observasse durante algum tempo notaria certa irritação em sua face, isso porque ela já havia percebido que lançavam a ela olhares furtivos e curiosos, afinal, ela era quase uma celebridade, já era conhecida como a amiga do Potter e uma das bruxas mais inteligentes de Hogwarts, mas agora era a ex-namorada de um dos sonserinos mais desejados. Todos queriam saber o motivo do rompimento e a razão para tamanha frivolidade, mas apenas boatos circulavam pelo castelo.
“O Malfoy estava enfeitiçado, talvez a Amortentia tenha perdido o efeito”
“Ouvi falar que ela o traiu, com o Potter”
“Não, foi ele que a esqueceu, beijou uma garota e a Granger descobriu”
Todas as conversas a deixavam de mau humor, entretanto sabia que dali a um tempo todos esqueceriam aquilo, assuntos vêm e vão, era preciso somente esperar por um novo escândalo na escola, um que não a envolvesse.
Do outro lado do salão, Draco estava controlado e frio, evitando olhar para Hermione. Mas o espírito humano, tão complexo e inexplorado, é extremamente traidor e, assim, ele não conseguia controlar-se. Seus olhos tempestuosos acabavam indo exatamente na direção dela antes que ele mesmo percebesse.
Draco sentiu uma cotovelada em suas costelas e xingou num tom baixo.
– Pare de olhá-la, Malfoy – Lucy falou, pois já percebera o que ele estava fazendo. – Lembre-se: você escolheu isto, agora se comporte!    
– Eu não entendo isso, Lucy... faço de tudo para ficar longe, mas tudo conspira contra mim. Agora eu tenho que fazer um maldito trabalho com ela. – Draco resmungou. – Isso vai dar merda, é a única coisa que posso prever.
– Talvez o universo não esteja conspirando contra sua prepotente existência, Sr. Malfoy. – Lucy sussurrou. – Talvez tudo isso seja apenas uma forma dele dizer que você e a Granger seja algo que deva acontecer, entende?
Antes que Draco pudesse retrucar a menina, o professor Woodsen a chamou para duelar com uma garota do 7º ano. Lucy foi obediente até o centro do salão, onde cinco duelos já aconteciam. “Perca de tempo” era o que o sonserino pensava daquilo tudo “Como se alguém nesse castelo fosse suficientemente bom para me vencer...”
Se antes Draco pensava que o Universo realmente o odiava, depois desse pensamento ele teve uma bela confirmação desse fato. Steiner o encarou e em seguida lançou um olhar furtivo para Hermione.
“Não, isso não.” Draco pensou “Por favor... por favor... não me faça duelar com a...”
– Próximos a duelarem: Malfoy e Granger! – o professor Woodsen falou, em alto e bom som.
Em dois cantos da sala dois pares de olhos se reviraram, Draco escondeu o rosto nas mãos, para não precisar encarar as faces curiosas e extasiadas naquela sala. E Hermione viu-se encarando o professor, sentindo um profundo ódio do homem. Duelar com Draco? Ela nem ao menos conseguia encará-lo! Fora que queria vencê-lo, mas para isso teria que mostrar sua nova habilidade em duelos, o que geraria um falatório infernal. Ela queria mais do que tudo machucá-lo e lançar mil azarações no loiro, mas como fazer isso sem que ele soubesse de seu poder? Draco era tão bom quanto ela, entretanto, o garoto não fazia ideia disso.
– Você dois estão com problemas de audição, por acaso? – Woodsen rosnou, observando a hesitação de ambos.
E isso era tudo o que todos queriam ver, um confronto entre o ameaçador Malfoy e a sabe-tudo Granger.
Ambos levantaram-se e foram até o centro do salão. Pelo canto dos olhos Draco viu Lucy estuporar seu oponente e finalizar seu duelo. Tudo para ver a luta dele e de Granger.
– Cumprimentem-se – Woodsen mandou autoritário e Draco curvou-se.
Os cabelos loiros caíram pela sua face pálida e os olhos azuis permaneceram no rosto impassível da garota, mostrando uma atitude superior e um olhar totalmente perverso.
– Granger – o professor chamou a atenção dela, mostrando claramente sua irritação.
Finalmente, e a contragosto, a grifinória curvou-se, cumprimentando Draco e ela viu um sorriso divertido perpassar por aquele rosto malicioso.
“Antes seu ódio, do que indiferença” Draco pensou.
Assim que se endireitaram, os dois mantiveram uma pose nobre. Draco aprendera a duelar com o pai e Hermione, com Harry, mas principalmente, com Steiner.
Draco atacou primeiro, entretanto, ela parou seu feitiço e revidou, acertando uma azaração nele.
Os alunos que assistiam tinham a ligeira impressão de que os dois praticavam esgrima, pois ambos seguravam suas varinhas como se portassem espadas. Nenhum disposto a deixar a guarda baixa, nenhum disposto a perder. Mas a verdade era que aquela luta era puramente mental. Cada gesto, cada olhar, cada passo em falso ou hesitação, era o que contava ali.
Anthony, que observava atento num canto, percebia que o duelo deles lembrava o duelo das serpentes, ou melhor, o duelo de Lucy e de Draco, antes das férias. Hermione revidava todos os golpes e analisava seu oponente atentamente, sempre andando em círculos, nunca parada. Pequenos feitiços dela atingiam Draco, e Anthony percebeu que a tática dela era vencê-lo pelo cansaço.
Ela tinha uma tática. Assim como Lucy. E observando isso, Anthony percebeu que a loira era excepcional em duelos, sendo que havia uma chance dela ter aprendido tudo com Charles, já que eles eram parecidos demais, nos traços físicos e no temperamento, tão independentes e audaciosos. No entanto, a garota já havia deixado claro que aprendera tudo com a mãe e que nunca conhecera o pai.
Havia algo errado naquela versão, algo que sempre ignorara e que agora percebia. Conhecera Charles na França e sabia por experiência própria o quanto manipulador o homem era.
– Incarcerous! – Draco bradou e uma corda prendeu os pés da garota.
Ela lançou outro feitiço nele e o fez desequilibrar-se, ganhando tempo para livrar-se do aperto da corda, mas antes que pudesse terminar, sentiu algo gelado cair sobre si e olhou para Draco com fogo nos olhos.
– Você jogou água em mim? – ela quase gritara, sentindo seus ossos congelarem e seu suéter se aderir em seu corpo.
Com um floreio ela puxou a água de si e apontou a varinha para Draco, quase dando um banho nele também, se não fosse uma barreira que ele criou. Mas, ao tentar aproximar-se dela, ele deu um passo em falso e por pouco não foi ao chão ao escorregar no chão molhado.
– Rictumsempra! – Hermione gritou, agora com os pés livres e aproximou-se dele.
Draco sentiu dor, mas vendo-a tão perto levantou sua varinha. Estavam a centímetros perto um do outro e a varinha de cada um apontava perigosamente para o pescoço nu do oponente.
As respirações quase se misturavam e todos na sala pareciam petrificados.
Se não fosse pelo professor separá-los, talvez eles permaneceriam ali a noite toda.
Ao fim do duelo eles novamente se cumprimentaram, um com mais raiva do que o outro, mas nenhum deixando transparecer isso.
Hermione voltou obediente para seu lugar e percebeu que Tony fora até ela.
– Granger, isso foi...
– Horrível, eu sei. Se ele estivesse aqui, com certeza me mataria a me ver duelar de forma tão... tão... – Hermione disse, tentando achar uma palavra que melhor definisse o que acontecera – patética.
Anthony apenas balançou a cabeça, ignorando o comentário. Se Steiner a visse iria adorar deixá-la se matar nas mãos de Draco Malfoy.
– Não é isso. – Ele falou – Estive observando você e bem... você me lembrou a Lucy, e Draco têm alguns movimentos bem parecidos com os dele também.
Mesmo aos sussurros, nem Wolhein, nem Hermione poderiam deixar o nome de Charles vir à tona. Seria arriscado.
– Você me fez prometer que a ajudaria a investigá-lo e descobrir tudo sobre o seu passado. O fato é que só sabemos que ele estudou aqui e que foi condenado a cumprir uma pena em Azkaban. Ainda não sei como descobrir o que ele fez, muito menos como acessar os arquivos dele aqui em Hogwarts. – Tony continuou.
Hermione girou sua varinha com seus dedos finos enquanto tentava pensar num modo de ter acessos aos documentos da escola. Aprender algumas coisas com Steiner era uma coisa, mas confiar nele era algo completamente diferente.
E era isso que ela e Tony deveriam descobrir: ele era confiável ou não?
No momento em que teve esse pensamento teve um vislumbre rápido de Harry encarando Gina. Algo rápido, mas que mostrava o quanto ele estava preocupado.
E então Hermione arfou. Acabara de ter uma ideia que resolveria parte de seus problemas.
– Tony, me encontre amanhã na sala precisa, depois das aulas. – Ela sussurrou – já sei exatamente o que fazer.
No outro canto da sala o olhar de Draco Malfoy queimava sobre a grifinória.
– Já disse para parar de olhar para ela! – Lucy falou baixo, só para Draco.
Ele bufou, completamente irritado, pensando seriamente no que vinha acontecendo. E então sua conversa com Hermione na aula de herbologia naquela manhã veio à tona.
“Ela foi suficientemente burra para aceitar fazer aquilo. E por Merlin! Como ela espera sair dessa?”
Hermione era cética demais. Ele encontraria um modo de ajudar a amiga. Não era tão insignificante naquela guerra quanto Hermione pensava. Se ela ao menos soubesse o que significava ser um Malfoy, daria mais crédito a ele. Mas ela era apenas uma garota comum. Nunca imaginaria o poder que sua família tinha.
– Por que contou a Hermione sobre aquilo? – Draco a questionou, incapaz de olhá-la nos olhos.
Lucy franziu a testa, não sabendo do que ele estava falando e Draco, ao não ouvir a resposta dela, estranhou.
– Sobre o que aconteceu com você... lembra-se?
– Ah, isso! – Lucy exclamou, tentando disfarçar sua confusão.
O fato era que ela não falara sobre isso para Hermione.
– Draco, Hermione é mais esperta do que você, sem ofensas, mas ela saberia lidar com isso de uma forma melhor.
Draco a fitou, visivelmente ofendido.
– Draco, por favor, eu não preciso de drama agora, eu preciso salvar o meu pescoço e não há ninguém que poderia fazer isso por mim.
A loira estava falando sério, sua mãe estava morta e o pai estava desaparecido. Seus tios eram trouxas e ela não sabia qual era o seu parente bruxo mais próximo. Ela estava sozinha. E Draco sabia disso.
– Eu vou te ajudar Lucy, só deixe tudo comigo. – Draco falou calmo.
– Tudo o quê?
– Bem, você precisa da pedra, eu preciso cumprir minha missão. Assim que eu fizer isso, a pedra é sua, aí sim você pode entregá-la ao Lorde. Nós dois estaremos livres.
Um minuto de silêncio caiu sobre os dois sonserinos, um silêncio sepulcral, onde as mentes trabalhavam tentando desvendar como seria o futuro se o Lorde das Trevas ganhasse a guerra. Lucy não refreou sua língua e quebrou a atmosfera silenciosa.
– Draco... qual é a sua missão exatamente? Por que sempre fecha sua mente quando fala sobre isso?
– Porque você não concordaria se soubesse, e adivinha? Eu não quero que você me faça desistir disso. – Draco respondeu e a partir de então ficou calado, não dando espaço para mais comentários da amiga.
Lucy não tão parecida com ele, podia ser uma sonserina típica, mas não fora criada como a única herdeira de uma família poderosa. Cada um vivia seu próprio destino. E ela precisava aprender que segredos e poder era o que movimentava toda a sociedade.

***

Lucy saiu do salão de duelos apressada, estava cansada depois daquele dia tão cheio. Principalmente porque precisava estudar muito se quisesse passar nos N.O.Ms, além de ter esses problemas malditos agora e não achar mais nenhum detalhe sobre seu pai. Tudo parecia estar caindo e transformando-se em ruínas. Draco. Hermione. Anthony. Ela não aguentava mais viver na mente deles e, por isso, parara de ler seus pensamentos. Descobrira que era muito mais difícil lidar com seus próprios problemas ao saber dos deles.
E mal pensara isso quando vira uma sombra na porta ao seu lado, quando passara por ela. Quase teve um ataque por assustar-se e percebeu que era Anthony, encostado na porta e sorrindo para ela.
– Faz uma semana, Moore – ele falou. – Uma semana inteira que não fala comigo e simplesmente foge de mim.
Ela queria negar, dizer que estava sem tempo para tudo, mas seria apenas uma meia verdade, porque a verdade era que ela não suportava mais a distância entre eles e, ironicamente, não queria condená-lo a romance complicado com ela.
Lucy já tinha problemas demais e Anthony os complicaria.
– Eu nunca te disse que ficaria com você, Wolhein.
– E qual é seu medo? Quais são os seus segredos? – ele perguntara, sentindo sua raiva se manifestar. – Por que não deixa, pelo menos uma vez na vida, alguém te ajudar?
– Porque eu já me decepcionei demais e acredite, envolver mais pessoas nisso complicaria tudo mais ainda. – A loira falou e se contraiu quando Anthony aproximou-se mais dela.
A mão direita dele acariciou sua face lentamente e ela desejou que o garoto nunca parasse de fazer isso.
– Diga-me o que está te deixando assim, Lucy. Apenas diga.
– Você pode dizer isso o quanto quiser, Wolhein. – Ela sussurrou. – Não adianta insistir, isso é problema meu!
A mão que outrora a acariciava ternamente se afastou do rosto pálido da menina e ficou parada ao lado do corpo dele.
– Tem razão, mas quando ficar bêbada e indefesa, não vá me procurar, Moore. – Tony falou, embora soasse cruel, queria realmente dizer aquilo, apenas para machucá-la.
Porque sempre existe esse desejo interno e, por vezes, reprimido, de ferir a quem se ama. Ainda que o arrependimento venha depois.
E isso realmente machucou Lucy.

Ao vê-lo sair andando para longe dela, quis segurá-lo e contar tudo o que estava acontecendo. Mas não o fez por causa de seu maldito orgulho. Ela estava decretando guerra a Anthony Wolhein.
Ao virar-se para o caminho contrário ao dele, deu de cara com Hermione, que quase a assustou também por sua aparição repentina.
– Por que todos querem me assustar hoje? – perguntou revirando os olhos.
Mas Hermione não rira nem demonstrou uma reação à isso.
– Lucy, eu preciso de um favor. – Hermione falou, direta e seca, encarando a loirinha.
– Ah, é? O que é agora? Quer mais aulinhas sobre a pedra? – Lucy perguntou debochada, já que o encontro com Tony a deixara completamente afetada. Não se importava em ferir alguém naquela noite.
E Hermione era um alvo fácil, pisar nela era algo simples. Mas não dessa vez, como Lucy percebeu logo.
– Não. Quero que você publique isso no Ordem de Merlin – a grifinória falou e deu a ela um pergaminho que escrevera. – Escreva como quiser, mas tudo isso deve constar no jornal.
Lucy piscou os olhos rapidamente, lendo o que Hermione escrevera e não acreditando em nenhuma daquelas linhas.
– Está falando com a pessoa errada, Granger. E outra coisa... isso tudo – ela apontou o pergaminho – são mentiras.
– Eu não estou falando com Lucy Moore agora. Estou falando com Miss M. A Editora-chefe e fundadora do jornal, que por acaso ou não, já publicou materiais sobre mim.
“Oh Morgana! Como ela descobriu quem eu sou?” Lucy perguntou-se e a resposta surgiu na sua mente “Seus poderes. Merda! Ela está ficando mais poderosa.”
– E eu devo te obedecer porque...?
– Porque caso você não faça isso, a professora Mcgonagall irá receber uma prova irrefutável de que você vem escrevendo bobagens sobre os alunos, além de envolver-se com bebidas não permitidas para menores de idade.
– Você não seria capaz disso, Granger.
– Ficaria impressionada com o que eu posso ou não fazer, Moore.
O tom de Hermione era novo para Lucy. O que a fez amaldiçoar Draco, por tê-la transformado naquilo.
– Draco é meu amigo, não posso fazer isso com ele – falou, tentando em vão escapar daquilo.
– Pode sim. E não poderá dizer nada a ele.
– E onde minha fidelidade deverá estar? Com Draco ou você?
– Você escolhe, Lucy, é simples. Draco é seu amigo e um sonserino realmente talentoso. Vocês são iguais. Já eu, sou apenas uma grifinória vingativa e chantagista. Sua escolha.
– Não pode fazer isso com ele, Hermione... – Lucy tentou mais uma vez.
– Lucy, chega uma hora em que um anjo deve decidir entre ser bom ou cair, porque existem verdades ocultas e que  não devem ser reveladas. Sou eu ou ele. E nesse caso serei eu que cairei. E também serei eu quem o fará cair junto. Draco Malfoy escolheu isso e é exatamente isso que ele merece.
– É disso que se trata? Vingança? – Lucy perguntou e seu olhar continha um ódio genuíno. – Pisar no Draco te torna mais viva? Faz com que se sinta melhor?
– Talvez. – A grifinória sussurrou, entretanto sua voz falhou levemente. – Isso me torna viva. E você vai publicar isso, Lucy, você sabe que sim. E com isso a humilhação de Draco começa, assim como ele fez comigo tantas vezes. Draco vai sentir tudo o que eu senti.
Havia uma sombra por trás de seus olhos castanhos, algo completamente insano e que não combinava em nada com Hermione.
Num instante ela via Lucy no corredor com ela, e no outro ela via Draco já em seu dormitório. Seu violão estava com ele, e os dedos finos e levemente ásperos o tocavam agilmente. Uma melodia tão triste e calma, por vezes dolorosa e pesada. Algo que realmente a afetava e a deixava sem defesas, como todas as coisas que envolviam Draco.
Ele não cantava, nem precisaria, aqueles acordes falavam por ele. Falavam por ela.
Mas ao piscar seus olhos, ela deixou de vê-lo. Lucy a fitava, ainda com raiva do que Hermione estava obrigando-a a fazer.
Mas a grifinória não desistiu.
– Eu vou derrubar Draco, e não me importo nas armas que usarei, Lucy.

Oh they never tell you what to do when all you see is gone
What's the sense in anything when what they say is wrong?

N/a: A sem-moral está de volta! ahhauhusshs

Primeiramente, não postei por falta de inspiração e tempo para escrever. Finalmente minhas provas acabaram e eu nem quero imaginar como vai ser no final de Junho. Tudo de novo ¬¬

Enfim. Vou tentar voltar a postar com frequência. E se eu não conseguir... bem, eu vou tentar. Isso já vale algo, certo? :B

Sobre o cap... Hermione completamente doida, indiferente e má. É eu sei. Essa não é a Hermione. Ela piora no próximo cap, e o Draco vai colocá-lo nos eixos \O/

SUHSHUSHUHSUHSUS

Esse é o único spoiler que dou, como recompensa. Revelo mais na prévia, que postarei o mais rápido que puder ;D

Sobre a Lucy, por Merlin! Digam-me suas teorias sobre o que aconteceu nas férias ò.Ó

Estou esperando...

A música que o Draco dedilhou no violão no finalzinho e a Hermione escreveu no diário dela, é Imperfect, do Stone Sour. Recomendo que ouçam.

En Garde, para quem não sabe, é uma expressão da esgrima. Quer dizer "Em Guarda", é o mesmo que ficar em posição de combate. Ou seja, eu associei isso aos duelos, enfim... é só para ficar esclarecido...

Bjos :*