Incantatem

Por que me afastar? Porque éramos inimigos e como tais nos odiávamos. Porque eu era uma Weasley e ele um Malfoy. E principalmente porque estávamos em guerra declarada!

Magic and Mistakes

Hermione volta a Londres depois de dois anos. Ela cresceu e já não é a garota de antes. A guerra contra Voldemort teve seu fim e, agora, nada impede ela de ficar com Draco Malfoy. Isso era o que ela pensava. Em meio às mudanças da sua vida, novo emprego e uma nova casa, perceberá que Draco também tem sua própria vida. No entanto, acabarão sendo um dos casais mais conhecidos do mundo bruxo, algo que não esperavam. As consequências de seus atos se tornarão mais perigosas. Magia e erros, porque nem sempre se pode prever o futuro.

Por Culpa do Destino

Seria certo passar por cima de uma guerra por amor?

Imperius

Ele me olhava com aquelas orbes cinzentas como se estivesse arrependido do que me fizera. Eu fora uma tola, uma estúpida e iludida, afinal, como diabos Draco Malfoy se apaixonaria por uma sangue-ruim, nem ao menos a maldição imperius causaria isso. - Deixe-me explicar - ele pediu, sussurrava, sua voz estava quebrada.

Inimicum

Hermione Granger por anos foi uma pessoa amarga e nunca soube ao certo a razão de Draco a abandonar. Agora ela é uma auror e ele um comensal, entretanto um encontro faz com que ambos voltem ao passado e segredos sejam revelados.

31 maio, 2011

Cap. 3 - Desvanecer

Capítulo 3
Desvanecer

“Construí uma parede em torno do meu coração, nunca a deixo desmoronar. Estranhamente, eu desejo, em segredo, que ela caia enquanto eu durmo.”
Nothing Lasts Forever - Maroon 5

 “E com isso a humilhação de Draco começa, assim como ele fez comigo tantas vezes. Draco vai sentir tudo o que eu senti. Eu vou derrubar Draco, e não me importo nas armas que usarei”

Lucy fitava o campo cheio de neve. Voava em sua vassoura e não queria descer dali tão cedo. O vento quase machucava sua pele com a violência em que este batia-lhe na face e ela não se importava tampouco.
Condenava a si mesma pelo que fizera, mesmo que estivesse sob chantagem não deveria ter feito aquilo. Draco a mataria se soubesse. Na verdade, ela mesma queria faber isso com si própria.
Como virara aquela garotinha assustada? Já enfrentara comensais e desafiara Anthony em sua forma animal e feroz. Já fora ousada e agira com sua audácia sonserina por diversas vezes. Então por que agora se mostrava tão ressentida e à mercê de Hermione Granger?
Poderia ser tão cruel quanto a grifinória, seria fácil machucá-la ainda mais e estraçalhar aquele coração despedaçado e ensanguentado da outra garota. Mas não faria isso, não tinha forças.
Estava tão sozinha e afundava cada vez mais numa maldita maldição. Seus dias estavam tão contados quanto os de Draco. Ambos nasceram para seguir as trevas e não aceitavam isso. Seria estupidez lutar contra o sistema?
“Irônico”, Lucy pensou sorrindo enquanto sua vassoura continuava a ganhar velocidade.
Ela queria tanto que tudo acabasse... queria que a maldita pedra fosse destruída, não se importava mais com as consequências disso. Talvez a maldição da guardiã acabasse e o sangue herdado de sua mãe não fosse tão importante assim.
Um desejo enorme de pular daquela altura apoderou-se dela. Agora que parara no céu frio e nebulado, percebia o quão tênue era o fio da vida e da morte. Se caísse estava morta.
Nada abaixo dela, senão o chão.
Nada para o alto, senão as nuvens cinzentas.
Voar ou cair.
Voar ou cair.
O desejo apoderava-se dela ainda mais. Era tão simples abrir mão da vida, tudo o que tinha que fazer era pular. Mais nada.
Seu pesadelo terminaria.
Ela soltou uma das mãos do cabo e fechou os olhos. Parecia irresistível pular daquela altura. Entretanto, uma força, contrária aos seus pensamentos, a impelia para que não fizesse isso, como se alguém lhe dissesse que uma vida não poderia terminar assim tão facilmente.
“Lucille, você é grandiosa, nasceu com glória, morra com honra. Simplicidade nunca foi o seu forte, minha querida”
Ela ouvia uma voz, distante talvez. E riu. De fato, nunca fora simples. Sempre fora uma garota fora de parâmetros. Uma morte gloriosa era sua sina. Cair de tantos metros, com vários ossos quebrados e o crânio rachado ao meio não combinava em nada com o seu rostinho angelical.
“Morra jovem e bela, vire uma lenda!” Ela disse a si mesma mentalmente e desceu como uma verdadeira artilheira, sabendo que no dia seguinte Draco provavelmente iria querer seu coração em uma tigela.

***

Draco, por várias vezes, sentia todos os olhares dos alunos sobre ele. Era angustiante. Ouvir os sussurros o irritava, pois sabia que ele próprio era o assunto. Algo acontecera para estimular os nervos daqueles abutres famintos por escândalos. Não poderia ser algo tão simples quanto um duelo de amantes, como houvera há dois dias entre ele e Hermione. Aquilo já era fofoca velha.
Só foi descobrir o que acontecia dentro daquele castelo à hora do almoço, quando Blaise perguntou-lhe como estava, ao que Draco não entendeu.
O moreno revirou os olhos e tentou mudar de assunto, mas Draco agarrou-se àquilo como se fosse de vital importância.
– Por qual motivo eu não estaria bem?
– Pelo mesmo motivo pelo qual Pansy está fervendo de raiva.
– E seria?
Blaise quis fugir mais uma vez da ira de Malfoy, mas percebeu que não havia escolha, empurrou então para o loiro um jornal. Draco olhou os dizeres e um frio apoderou-se de sua barriga ao ler os dizeres Ordem de Merlin. A manchete era clara: As verdades sobre Draco Malfoy e Hermione Granger. Uma foto sua dançando com a garota no baile estampava a página principal e ele pegou-se imaginando quando haviam tirado aquela foto dos dois, sem que percebessem.
Respirou fundo a começou a ler.
O falso príncipe
Um toque de varinha.
Uma pitada de romance.
Um veneno inerente ao desejo.
O sabor do pecado.
Um sentimento que penetra todos os ossos do corpo.
Conto ou não, essa história, com esses ingredientes, até onde algumas pessoas sabem, é real, e está tão perto que tudo parece quase duvidoso.
A serpente beliscou a leoa, encantando-a e colocando um veneno sonserino em suas veias, e ela cedeu. Por mais diferentes que fossem renderam-se um ao outro e a bandeira da paz ergueu-se nos dois castelos, ou pelo menos foi o que aconteceu há alguns meses. Agora a situação reverteu e o que era doce tornou-se amargo, a guerra recomeçou e devo dizer que dessa vez a leoa está na frente.
Se alguém ainda não percebeu qual o assunto dessa edição, eu lhes falo, a gossip da vez envolve Draco Malfoy, puro sangue e sonserino, e eu não poderia citá-lo sem lembrar-me de Hermione Granger, seu mais belo oposto, a grifinória e nascida-trouxa – e ex-namorada do jovem Malfoy.
O namoro, que parecia estar no ápice, nos seus mais lindos e românticos dias, terminou de forma abrupta, talvez com um adeus frio e completamente machucado. O fato é que tudo acabou e o que mais se fala nesse castelo é no motivo para que isso acontecesse.
Teria sido Granger que o enfeitiçou? Será que não tinha mais nenhum frasco que seja de Amortentia? Teria sido Draco que provocou tudo? Mas o que diabos aconteceu entre esses dois?
Não. Não há Poção do Amor envolvida, esse romance começou como qualquer outro, o que se observa, claramente, é que algo aconteceu sim, algo crucial e que não pode ser perdoado. E eu lhes pergunto, queridos leitores, qual é a pior coisa que pode causar uma separação tão fria? O que é mais difícil ou impossível de se perdoar? Quem já amou talvez saiba já a resposta. Mas eu lhes respondo mesmo assim.
Traição é a resposta. É apenas isso que houve. Draco, pelo que já foi comprovado, pouco dá a mínima para o sangue impuro que corre nas veias da garota, tampouco para a sua personalidade corajosa e demasiada irritante. Não. Ele ironicamente aprecia isso nela, entretanto o único problema é que o sonserino não é merecedor de confiança. Draco Malfoy não foi feito para amar, uma vez que não sabe lidar com isso.
Por tanto tempo ambos tentaram agir como adultos, sem perceber que estavam apenas num jogo infantil e, agora, tudo o que há é uma batalha de egos. Uma mulher ferida e um homem egoísta e preconceituoso. Uma combinação nada perfeita e, tampouco, saudável. As hostilidades seguem e nenhum parece querer se rebaixar ao outro. Hermione herdou um orgulho quase nato nas últimas semanas, enquanto o de Draco está consigo desde o berço, sempre o minado, o narcisista e prepotente, sempre o garotinho assustado que quase morreu de medo ao entrar pela primeira vez na floresta proibida. O adolescente sem limites, que não mede as consequências de seus atos, o garoto que duelou com Potter aos doze anos, pelo simples prazer de dizer que enfrentou O Menino-Que-Sobreviveu. Draco Malfoy, o mesmo garoto que apanhou de Hermione aos treze e que, aos quatorze foi humilhado, ao ser transformado em uma doninha por um suposto professor, que na verdade era o Sr. Bartemius Crouch Jr. Draco Malfoy, o jovem herdeiro de uma das famílias mais antigas, que brinca com garotas e nem ao menos sabe o significado de uma reputação.
Filho de um notório comensal, perseguidor de nascidos-trouxas... Qual será o destino de Draco Malfoy senão as trevas? Aposto meu anonimato que esse é o karma do nosso doce loiro.
Ele é como uma serpente, encanta-nos somente para dar o bote, e como um aracnídeo prende-nos em sua teia, dando-nos o veneno delicioso da tortura.
Portanto cuidado, meninas, o maravilhoso príncipe pode se transformar em um sapo, no momento em que menos esperam.
- Miss M.

Draco, ao terminar de ler a matéria da capa do Ordem de Merlin, percebeu que o papel estava mais amassado do que deveria estar ao término de uma leitura. Ele sentia uma veia latejar em sua testa alva e tudo o que conseguia pensar em fazer era torturar alguém, de preferência a tal de Miss M.
Mas não fazia ideia de quem ela era, muito menos onde essa menina infernal poderia estar. Tudo aquilo, todas aquelas palavras, destruíam-no. Era como sentir-se encurralado dentro de sei mesmo. Queria negar, entretanto aquilo tudo era a melhor definição que já vira de si mesmo, embora não desejasse que alguém lesse o jornal e descobrisse isso.
Aquela era uma pequena parte do sonserino. E ele odiava ver-se exposto.
Olhou para a mesa da grifinória e o olhar que procurava foi fácil de encontrar. Hermione Granger também o fitava, de modo perigoso e com um desfio bem claro na face. Ela era responsável por toda a sua humilhação também.
Ao seu redor, alguns alunos lançavam olhares para ele, o que revelava que aquela matéria não demoraria muito para virar o assunto do dia, ou talvez, da semana. Um bolo formava-se em sua garganta e seu almoço parecia pesado demais para descer pela sua garganta. Draco nem ao menos reparou que tremia de raiva e nervosismo.
Levantou-se e saiu dali, optando por ir para o único lugar onde não encontraria muitas pessoas. Com a mochila nas costas se dirigiu até a biblioteca, e mesmo tentando ignorar todos os olhares que se voltavam para ele, não conseguia esvaziar sua mente, perdendo cada vez mais o controle sobre a sua oclumência. Pegou um livro qualquer numa estante e praticamente se jogou numa das mesas da sala, tentando em vão concentrar-se em sua leitura.
– Draco – ele ouvira uma voz doce chamar e a dona sentou-se à sua frente – Draco, como você es...
– Vá embora. – Draco falou secamente, sem sequer tirar os olhos do seu livro.
Lucy arfou nervosamente, não fazendo ideia do que fazer para acalmá-lo, pois era óbvio que o desejo dele naquele momento era saltar no pescoço do primeiro que o irritasse. Se ele ao menos descobrisse que ela fora quem causara tudo isso...
– Draco... – tentou mais uma vez e os olhos cinzentos do loiro quase a mataram.
Uma veia pulsava no pescoço dele e ela podia quase sentir sua respiração tensa.
– Lucy, se ainda sente algo por si mesma, vá embora. Acredite quando eu digo que assim será melhor para você.
Ao ouvir isso, a garota sentiu um arrepio na espinha, algo que nunca sentira, ou lembrava-se de sentir. E condenou-se mentalmente. Aquele joguinho dele e de Hermione traria consequências bem feias, pelo o que poderia prever. Um tão mais possuído pelo ódio quanto o outro.
E levantou-se, voltando à estante onde procurava alguns livros de transfiguração. Ouviu sussurros e procurou por eles. Sua natureza extremamente curiosa era o que a movia naqueles instantes e, assim, Lucy retirou um livro do lugar, espiando o outro lado.
– Você não deveria ter feito isso, é demais até para ele – uma das vozes falou e ela reconheceu Anthony – se bem que eu estou amando vê-lo se afligir assim.
– Tony, você sabe que estou apenas devolvendo o que ele merece. – Hermione falou calma. – Passei muito tempo apenas sofrendo na mão dele, tenho que provocar a mesma coisa em Draco agora.
Eles fizeram uma pausa, somente o tempo de Hermione puxar um livro e folheá-lo.
– Mas esqueça isso agora. Preciso de você hoje à noite, no 4º andar.
– Não posso sair do dormitório tão tarde, eu poderia receber uma detenção.
– Como se isso o impedisse de fazer o que quer. – Hermione debochou. – Hoje, às dez horas.
– Granger, nunca imaginei que você soubesse mandar numa relação tão bem...
– Cale a boca, Wolhein. – Hermione sussurrou batendo nele com um livro e fechou a cara. 
Tony apenas riu da garota e tomou uma de suas mãos, beijando sua pele.
– Seja como quiser, Mademoiselle – o corvinal disse com um forte sotaque francês e proposital, visto que seu inglês era perfeito.
O garoto saiu dali rindo, deixando uma Hermione abobalhada para trás.
– Idiota – ela murmurou sorrindo e recolocou o livro no lugar, concluindo que aquele não era o mais adequado para o que queria.
Voltou então a procurar outro, sem perceber que dois olhos paravam de fitá-la. Lucy devolveu o livro à estante, sentindo um bolo amargo formar-se em sua garganta. Seus olhos voltaram-se para Draco novamente, que ainda tentava ler, embora não prestasse atenção à leitura. Seu orgulho falava alto demais e ultimamente tudo o que ela menos precisava era de mais um problema.
No entanto, Hermione e Anthony mereciam ser torturados por simplesmente brincaram dessa forma com sonserinos.
Lucy balançou a cabeça e voltou até a mesa onde Draco estava.
– Mas será por Merlin?! Eu já falei que não quero você, nem ninguém, aqui.
– Cale a boca, Malfoy, e me ouça. Eu não me importo com fofocas por aí sobre você, não dou a mínima para a minha reputação de estranha, inconstante e louca. Não me importo com as pessoas que acham que tenho um coração frio desde que entrei aqui, muito menos ligo para os comentários que falam sobre a minha aparência. Mas me importo em ver uma garota mesquinha e idiota mexer com você. Não sei o que quer fazer, ou como irá resolver isso com a Granger, mas já falo, se até o final da semana isso continuar assim, nessa guerra fria, eu juro, pela minha vida, que eu vou acabar com Hermione Granger.
– Lucy...
– Eu disse cale-a-boca – Lucy falou pausadamente e com raiva. – Não sou a pessoa certa para isso e nem sequer quis virar sua amiga quando me aproximei de você, mas se ela fizer algo para te atingir novamente, eu não vou medir esforços para fazê-la se lamentar por ter nascido.
– Lucy... – Draco tentou mais uma vez e quase foi interrompido novamente. – Deixe-me falar – finalmente a loira parou, soltando um suspiro de descaso. – Eu não vou fazer nada com Hermione Granger. Disse que não correria mais atrás dela e assim será, mesmo que seja difícil e eu quase esteja desistindo, eu preciso mantê-la longe, lembra? E a forma como ela vem agindo, talvez eu mereça. Por tudo o que e já fiz.
– O que você quer dizer com isso? – Lucy questionou discordando completamente dele e imaginando o que diabos aquele loiro estava pensando. – O que você fez, Draco? – ela perguntou.
– Eu a chamei de sangue-ruim diversas vezes, eu a feri mais do que qualquer pessoa e jurei amor a ela, simplesmente para negar-lhe isso e machucar a nós dois.
– Você é um idiota? Ela sabe de tudo isso e também é tão culpada quanto você. Ela não sabe o que é ser de uma família conservadora, não sabe o que é ter um pé nas trevas e outro na luz, não sabe ainda o que é lutar contra a insanidade.
– E eu espero que ela nunca saiba o que é isso, embora eu queira, realmente, causar-lhe dor.
– Isso é temporário. É o seu ódio por ela se manifestando.
– Você não imagina o que é estar na minha cabeça, tendo que lutar contra as mesmas coisas todos os dias, Lucy. – Draco falou fechando os olhos de forma cansada.
– Estar na sua cabeça é o que eu menos quero, acredite. – Lucy falou sincera, sabendo o quão estranho e perturbador eram os pensamentos de Draco.
Assim como os seus próprios.
A loira pegou sua mochila, cansada daquilo, e saiu de perto de Draco, estava tão distraída e com tanta vontade de dar o fora dali que tropeçou nos próprios pés e quase foi ao chão, se não fosse por uma mão que a segurou firmemente. Lucy olhou para cima e dois olhos azuis estavam sobre ela.
– Deveria prestar mais atenção ao seu redor, Moore.
O tom sarcástico do garoto a irritou profundamente e quando deu por si já estava puxando seu braço de perto dele, sentindo certo asco.
– Não me diga o que fazer, Weasley. – Lucy gesticulou e tentou continuar o seu caminho, mas Rony a deteve.
– Um obrigado já seria ótimo.
– Um saia do meu caminho é que serviria a mim agora. – Ela disse estressada. – Sério, me diga cinco razões para eu não te azarar agora.
A loirinha tentou mais uma vez passar por ele, mas Ronald segurou seu pulso.
– Weasley, o que...
Número 1: Eu acabei de impedir que você caísse. – Rony a interrompeu. – Número 2: Eu não aprontei nada com você quando revelou a todos e em alto e bom som quem Lilá me traiu com o Wolhein. Número 3: Eu a vi ontem, no campo enquanto voava. Número 4: Sei que há algo errado, Hermione está preocupada com você, mas não fala nada sobre isso...
Antes que o ruivo pudesse continuar suas observações, Lucy o puxou pela mão e saíram da biblioteca. A garota praticamente o jogou contra a parede, quando se viram sozinhos, e bateu em sua cabeça com um livro.
– Não diga coisas estúpidas, seu idiota! – Lucy atirou. – Minha vida não lhe diz respeito, muito menos meus problemas.
– Quantas vezes você já quis se matar, Lucy?
Essas palavras de Rony calaram Lucy rapidamente. A pergunta a perturbava e causava uma sensação estranha nela. Pensou em dizer que aquilo era loucura e que nunca pensaria nisso, mas sabia que o grifinório não era um idiota, mesmo que realmente parecesse um, por vezes.
– Sinceramente, eu venho pensando muito nisso – ela começou a responder. – É uma forma rápida de acabar com os problemas.
Silêncio era tudo o que havia depois dessa declaração. O olhar de Rony era quase piedoso e Lucy realmente não precisava disso. Precisava de soluções, não de lamentos. A sonserina deu um passo para trás e tentou retomar seu caminho, teria mais aulas e não desejava atrasar-se, no entanto a voz de Ronald a deteve mais uma vez.
– Na verdade, a morte é apenas uma forma fácil de fugir de um problema passageiro – sua voz era fraca, quase sussurrada, mas a menina o ouvia com uma atenção redobrada. – É apenas um modo de acabar com a dor. É algo permanente demais para que se possa considerar isso uma opção. E mesmo que pareça loucura eu estar dizendo isso, saiba que quero ajudar você, é o que a Hermione antiga faria. E acho que essa é a quinta razão para você não me azarar.
Nunca previra que poderia ouvir aquilo dele. Poderia imaginar Draco ou Anthony falando aquelas palavras, mas não o Weasley. Alguém tão insensível como aquele garoto nunca diria aquilo. Wolhein sim e, no entanto, onde estava ele?
– Eu não sou sua amiga, Weasley. Vá dar conselhos para a Granger – Lucy falou, embora sua voz estivesse completamente quebrada e enfim retomou seus passos, não para a aula de feitiços, mas para seu quarto, um lugar seguro era tudo o que precisava. Longe de Malfoy, Wolhein, Granger e do Weasley, principalmente.
Ele conhecer esse lado negro dela seria perigoso, temia o que isso causaria.

***

Hermione descia as escadas sem pressa, acabara de sair de uma aula de aritmância e arrumava seu material em sua mochila quando ouviu acordes serem tocados de forma pesada, como se quem os tocasse não fizesse isso há um longo tempo. Ela parou ao ouvir o som, que parecia triste. Foi o que bastou para que ela seguisse sua fonte e desse de cara com uma porta entreaberta. Era a mesma sala para onde correra depois do baile, quando tocara uma canção igualmente triste. Uma voz arrastada e conhecida se fez ouvir entre a melodia do piano, e a surpreendeu.
What if I told you
E se eu te disse
Who I really was
Quem eu realmente fui
What if I let you in on my charade?
E se eu a deixasse descobrir minha charada?
What if I told you
E se eu te disse
What was really going on
O que realmente estava acontecendo
No more masks and no more parts to play
Nenhuma máscara nem peças para jogar

Hermione espiou por entre a fresta, abrindo ligeiramente a porta e tendo o cuidado de não chamar a atenção dele. Oh, como sentia falta de ouví-lo cantar! Nem ao menos conseguia lembrar-se de qual fora a ultima vez em que isso acontecera. Mesmo que ela não pudesse mais tocar nada, por não sentir-se bem frente a um piano, pelo menos ainda tinha isso, e podia jurar que aquela letra era do próprio rapaz.

There’s so much I want to say
Há tanto o que eu gostaria de dizer
But I’m so scared to give away
Mas estou com tanto medo de revelar
Every little secret that I hide behind
Cada pequeno segredo que eu escondo por trás
Would you see me differently?
Quer me ver de uma forma diferente?
And would that be such a bad thing
E seria isso uma coisa
I wonder what it would be like
Eu me pergunto como seria isso
If I told you
Se eu te dissesse

Os dedos longos moveram-se com maestria pelo instrumento e Hermione o amaldiçoou por ele nunca ter-lhe dito que era tão bom assim, era melhor até mesmo que ela, que tocava há anos. Sorrira, recuperando sua inocência e um pouco dos velhos tempos, já mortos.

What if I told you
E se eu te disse
That’s it’s just a front
Que isso é apenas uma fachada
To hide the insecurities I have
Para esconder as inseguranças que tenho
What if I told you
E se eu te disse
That I’m not as strong
Que eu não sou tão forte
As I like to make believe I am
Como eu gosto de fazer acreditar que eu sou

“Oh, Céus! Ele não pode estar falando sério!” Hermione pensara ao prestar atenção à letra. Havia um segredo por trás daquilo tudo, como ela sempre previra, algo que poderia quebrar com toda a fachada de menino sonserino que Draco possuía, algo que poderia fazê-la odiá-lo. “Seria isso o motivo para tudo o que ele faz? O medo de se revelar? Medo de que tudo desmorone?”

There’s so much I want to say
Há tanto o que eu gostaria de dizer
But I’m so scared to give away
Mas estou com tanto medo de revelar
Every little secret that I hide behind
Cada pequeno segredo que eu escondo por trás
Would you see me differently?
Quer me ver de uma forma diferente?
And would that be such a bad thing
E seria isso uma coisa tão má
I wonder what it would be like
Eu me pergunto como isso seria
If I told you
Se eu te dissesse
Oh, if I told you
Ah, se eu te dissesse

Poderia abrir aquela porta e exigir respostas, sabendo que as conseguiria, se quisesse. Arrancá-las-ia à força, se fosse preciso, entretanto teria que parar de ouvir sua voz, que tanto desejou escutar durante muito tempo. Queria apenas que aquele momento durasse pela eternidade.

There’s so much I want to say
Há tanto o que eu gostaria de dizer
But I’m so scared to give away
Mas estou com tanto medo de revelar
Every little secret that I hide behind
Cada pequeno segredo que eu escondo por trás
Oh, would you see me differently?
Ah, veria-me de uma forma diferente?
And would that be such a bad thing
E seria isso uma coisa tão má
I wonder what it would be like
Eu me pergunto como isso seria
If I told you
Se eu te dissesse

A voz dele tremia ligeiramente e a garota percebia isso de forma clara, e morria por dentro por não poder abraçá-lo. Não se importava em ouvir seus segredos. No começo iludiu a si mesma, dizendo para Draco que não precisava saber o que tanto ele escondia, concordara que ambos não precisavam dividir seus segredos. Quão tolos foram! Isso era o que deveriam ter feito desde o começo. Deveriam ter entregado seus medos um para o outro e, talvez, evitariam tudo o que estavam passando.

What if I told you
E se eu te disse
What if I told you
E se eu te disse
What would it be like
Como isso seria
What would it be like
Como isso seria
If I told you
Se eu te dissesse
Oh, what if I told you
Ah, se eu te disse
Oh, I wonder what it would be like
Oh, eu pergunto como isso seria
If I told you
Se eu te dissesse

Se Draco contasse seus segredos tudo seria diferente.
Se Hermione também o fizesse, tudo também mudaria.
Mas cada um tinha seu monstro interno, e estavam sozinhos, sem armas para usar, apenas as suas próprias mentes perturbadas os ajudaria a vencê-los. E não era uma luta justa, nem nunca seria.
Hermione o viu parar de tocar e quase morreu ao vê-lo se deitar sobre o piano, cansado. Não, ela não o importunaria, sabia perfeitamente que o dia do sonserino fora horrível por causa do que fizera. Deu um passo para trás, apenas para sair dali antes que ele a visse, entretanto esbarrou em uma das armaduras da escola e o barulho do metal chamou a atenção do sonserino. Hermione levantou-se e correu para o corredor mais próximo que viu, e se escondeu na primeira porta que encontrou. Precisava escapar dele, mas estranhamente desejava ser encontrada por Malfoy.
Com as costas encostadas na porta ela respirou fundo, com medo de voltar atrás em sua decisão de manter-se longe, mal percebeu que havia perdido seu gorro ao correr para ali. Saiu de perto da porta e foi até uma das janelas da sala. Lá fora o sol já se punha e uma cabeleireira avermelhada se destacava no ambiente claro e cheio de neve. Gina estava com algumas meninas do seu ano, tentando distrair-se depois das aulas. Percebeu só então o quanto sentia falta da amiga.

***

Draco levantou sua cabeça, ainda com os braços apoiados no piano. Ouvira um som tilintar e deu-se conta de que a porta da sala estava aberta. Num pulo saiu dali e encontrou um gorro tinto no chão, próximo a uma armadura. Abaixou-se e suspirou, sabendo que alguém o vira.
O ar gélido do corredor era tão ruim quanto o ambiente aquecido onde estava há pouco. Passou as mãos pelo rosto, revelando o quanto se afetara com a música e o intruso. Prometera a si mesmo que isso não aconteceria de novo. Iria esquecer Hermione Granger, nem que para isso precisasse apagar todas as suas lembranças, mas para isso teria que parar de tocar aquelas malditas musicas sobre ela.
Algumas meninas do quarto ano passaram por ele, olhando-o com risinhos infantis e que o deixaram pior ainda. Não queria ver mais ninguém naquele dia, tudo se tornaria pior a cada minuto.

***

Hermione consultou seu relógio e percebeu que Anthony já deveria estar ali a esperando, mas tudo o que encontrara fora um corredor frio. Ao seu lado Rony e Harry olhavam-na sem saber o que falar.
– Hermione, por que nos chamou até aqui? – Harry contestou pela centésima vez naquela noite.
– Daqui a pouco você descobre, mas pelo amor de Merlin, coloque sua capa. Não posso fazer nada se o verem aqui à essa hora, Harry. – Hermione respondeu nervosa pelo atraso do corvinal. – Ninguém irá ligar ao ver eu ou o Rony, já que somos monitores, mas você, e conosco ainda por cima... não vai dar certo. Irão presumir que estamos tramando algo, como sempre acontece.
– Então é isso o que estamos fazendo? Voltamos aos tempos antigos, é? – Rony perguntou com um sorriso insensível.
– O que?! Não! Não estamos tramando nada, muito menos xeretando. O que faremos é simplesmente...
– É uma caça a informações? – Rony completou e arfou ao ver alguém se dirigindo até os três.
Um garoto de cabelos negros surgiu e o ruivo quase quis tirá-lo dali a pontapés. Mas Hermione segurou-o pelo braço, impedindo-o.
– Quero que você esqueça por uma noite quem ele é, Rony. – Hermione sussurrou para o ruivo. – Por apenas uma noite vire aliado de Anthony, por favor.
– Não pode me pedir isso. Tudo bem que queremos te ajudar, mas... olhe para ele, Hermione.
– Não estou pedindo para perdoá-lo ou algo do tipo. Apenas para se controlar.
Rony suspirou e ficou com a cara emburrada.
– Só hoje e você vai ficar me devendo muito depois disso.
Hermione sorriu e puxou os dois amigos para perto de Anthony.
– Certo, é seguinte, ouvi certa vez uma conversa entre a professora Mcgonagall e Sprout, elas falavam sobre os registros dos antigos alunos da escola, que eram guardados numa sala ao lado da entrada para o gabinete do diretor. Dumbledore está fora da escola esta noite, pelo o que ouvi. E ninguém vai vigiar este lugar há essa hora, mas temos que ser rápidos ainda assim.
– Rápidos para quê? – Harry contestou.
– Vamos procurar os registros de Charles Steiner e Melanie Moore, e se você é tão esperto como eu sei que é, Harry, acho que também deveria procurar o de Tom Riddle.
– Espera, você quer roubar registros da escola?
– Não, quero apenas copiá-los. Quanto mais rápido acharmos, maior a chance de sairmos daqui sem uma detenção. Mas eu o chamei aqui, Tony, porque não sei nenhum feitiço que abra essa porta sem deixar vestígios de que alguém entrou aqui.
– Então estou aqui apenas para o serviço sujo?
– Exato – Hermione falou e puxou Rony com uma das mãos enquanto empurrava Tony para frente, para levá-los até o final do corredor.
O ruivo seguiu a garota de má vontade, enquanto Harry divertia-se com a cena e Anthony tentava aceitar bem o fato de que estava apenas sendo usado. Os quatro se depararam com uma enorme porta de madeira. Rony adiantou-se e tentou abri-la com as mãos, percebendo que era inútil. Três cabeças viraram-se para Anthony e o corvinal sentiu-se estranhamente nervoso.
Sua capacidade com feitiços era notável, embora poucos tivessem conhecimento das suas excepcionais notas em Hogwarts. Adiantou-se para o portal e tocou a superfície da madeira com a mão esquerda, enquanto sussurrava palavras numa língua que nenhum dos grifinórios entendia. A mão direita segurava firmemente a varinha e um feixe de luz azulado saiu da ponta da mesma, iluminando o ambiente ligeiramente escuro.
Com um último floreio a porta foi para trás e abriu-se, revelando estantes e mais estantes com documentos e livros extremamente antigos.
– Se qualquer um souber o que eu acabei de fazer, Granger, irei amaldiçoá-la pela eternidade. – Tony falou num tom baixo. – Um aluno de dezessete anos não deveria conhecer feitiços complexos e proibidos, especialmente eu.
– Ninguém irá saber. – Hermione sussurrou e entrou na sala, começando a procurar o que tanto queria.
O lugar era enorme e Rony viu-se pensando na quantidade de alunos que Hogwarts já teve desde sua fundação. As estantes eram excessivamente velhas e era uma surpresa não vê-las quebrarem-se, a madeira, embora fosse forte, já estava bastante gasta e corroída pelo tempo. Os quatro jovens dividiram-se na procura, tossindo e espirrando em cima de livros e papeladas. A poeira irritava o olfato de todos.
Harry provavelmente achara algo sobre Steiner, pois balançava alguns documentos amarelados e espalhava mais sujeira ainda, enquanto Rony se encolhia ao ver uma ou duas aranhinhas enfeitando uma estante onde procurava algo sobre Moore.
Anthony reparou num baú antigo, próximo a uma das estantes e preocupou-se em abri-lo. Em seu interior havia fotos tão velhas que mal se moviam. Não reconhecia nenhuma das mulheres que via em vestidos volumosos e em tons pasteis, muito menos os homens com vestes absurdamente fora de moda.
– São os fundadores, Tony – Hermione murmurou ao ver a expressão perdida dele e apontou para uma jovem mulher. – Essa é Rowena, sempre a mais bela. – Na outra foto dois homens sorriam e pareciam melhores amigos. – E aqui estão Godric e Salazar. Eram amigos, lembra-se? Antes dele se rebelar contra os sangue-ruins. Nessa outra foto os quatro estão juntos e pareciam realmente um quarteto formidável! Li em algum lugar que Helga sempre foi o elo entre eles.
– Parece um sonho... – Wolhein sussurrou. – Hoje as casas nos separam mais e mais.
Hermione sorriu e ergueu vários papéis.
– Ficaria impressionado se visse isso – a garota falou.
Numa foto estavam vários jovens e era mais do que visível a amizade entre eles, embora seus uniformes fossem diferentes. Anthony reconheceu um jovem Charles sorrindo e abraçando uma garota.
– Steiner, Moore, Lílian e James Potter, Sirius Black e alguns outros que não faço ideia de quem sejam. – Hermione falou e virou a foto – 1975, acho que é o último ano de Steiner...
– E o que são essas outras coisas?
– Fotos da família Black. Charles com Narcisa e Bellatrix, além de Sirius – ela falara não reconhecendo muitas das pessoas.
Passou então para os registros dele em Hogwarts, notas, detenções, anotações de professores. Não gostava do que via, mas fora interrompida por Rony e Harry.
– Acho que já temos tudo. – O ruivo falara e entregou à amiga o que encontrara. - Aqui há coisas sobre a Moore e Riddle. Achamos algumas coisas sobre a ordem também e uns registros de 15 anos atrás, sobre nascidos-trouxas perseguidos.
Hermione olhou os papéis com certa pressa e puxou sua varinha, fazendo duplicatas. Entregou os documentos verdadeiros para os garotos e enquanto Rony organizava tudo, ela arrumava as coisas que também tirara do lugar.
– Ótimo, agora vamos dar o fora daqui. – Anthony se precipitou e foi para a porta.
Os três grifinórios o seguiram, deixando toda a poeira para trás e Tony voltou a recolocar um feitiço sobre a porta. 
  
***

Uma luz avermelhada iluminava todo o corredor, conferindo ao ambiente um ar bruxuleante que, somado ao frio, arrepiava toda a pele de Gina Weasley. A garota suspeitava que os amigos estivessem mais uma vez metidos em problemas, já que fazia muito tempo desde que os três saíram juntos àquela hora da noite. Vira-os sair escondidos da sala comunal e tivera certeza de que planejavam algo, principalmente quando viu Harry esconder sua capa da invisibilidade no bolso do casaco.
Poderia estar brigada com ele desde que discutiram por causa de Hermione, mas ainda assim preocupava-se com o moreno e as consequências de seus atos. Rony era seu irmão e Hermione, sua melhor amiga, ou pelo menos sempre pensou que fosse. O fato era que nem a própria ruiva reconhecia mais Hermione Granger. Ela transformara-se numa caixa de surpresas, nem sempre agradável, e essa natureza incerta dela decepcionava até mesmo Harry, que não enxergava mais quem a grifinória era realmente.
“Onde será que estavam?” Gina pensou e ouviu um som abafado.
No mesmo instante virou-se e deu de cara com duas silhuetas à sua frente. Percebeu que era apenas uma garota de longos cachos louros e um garoto mais alto e atraente, ambos sonserinos.
– Ah, são vocês... – Gina murmurou, não sabendo se ficava feliz ou não por não ter encontrado nenhum louco, mas sim Lucy e Draco, que era monitor.
– Bela noite para uma detenção, não acha, Weasley? – Malfoy murmurou passando pela ruiva com Lucy em seu encalço.
– Mas é claro, Moore poderia me fazer companhia. – Gina devolveu, curiosa sobre o que os sonserinos faziam juntos àquela hora.
Lucy limitou-se a lançar um olhar irritado para a grifinória e continuou seu caminho. Tomaram uma escada de pedra e Draco percebeu que Gina estava seguindo-os.
– O que quer, Weasley?
– Para onde estão indo?
– Não te interessa.
Gina não se abalou com as respostas ácidas que recebia e continuou a seguí-los.
– Eu estava pensando, Malfoy – a ruiva começou a falar. – Você bem poderia descobrir o que há de errado com Hermione, quero dizer... você causou tudo isso, então...
O loiro virou-se bruscamente e a garota quase trombou nele, se não tivesse recuado ao ver seu olhar ameaçador.
– Eu não fiz absolutamente nada, Weasley-fêmea – Draco rosnou. – Se ela age de forma estúpida não é por minha culpa, nem tudo o que você lê por aí é verdade, principalmente se você encontra suas informações num jornalzinho idiota.
– Hmm, então aquilo realmente te atingiu – Gina sussurrou. – Por que se irrita tão facilmente se diz que aquela matéria contém apenas mentiras?
Draco queria realmente que Gina não fosse uma garota, pois sentia uma enorme vontade de socar algo. E Lucy divertiu-se com aquilo, segurando o riso antes que o amigo percebesse.
– Você tem sorte, Weasley, sorte por eu estar de bom humor hoje. – Draco falou e virou-se, terminando os degraus e virando o corredor, deixando a ruiva para trás.
Não gostava nadinha daquela atitude audaciosa de Gina Weasley, tampouco do que viu em seguida.

***

– Penso que esses feitiços vão nos dar alguma vantagem caso descubram que essa sala foi violada – Anthony murmurou ao abaixar sua varinha e virou-se para os outros três. – Conseguiu o que queria, Granger?
– Mas é claro, no entanto você ainda não está liberado. – Hermione virou-se para os outros dois. – Vejo vocês na sala comunal.
– Hermione... – Harry começou a chamá-la e ela o ignorou como estava fazendo todo aquele dia.
– Preciso fazer algo ainda.
Dizendo isso, ela puxou Anthony pelo braço e juntos mergulharam na escuridão do castelo, levando os documentos que acabaram de duplicar.
– No que ainda serei útil?
– Preciso que me ajude a entender tudo isso, Tony, afinal, você também conheceu Charles.
– Mas deixe-me avisá-la sobre algo... Potter estava com ciúmes e quase pulava no meu pescoço cada vez que eu falava com você.
– Harry não é tão idiota assim, e de qualquer forma, ele não precisa se preocupar, certo?
Antes que Hermione pudesse continuar a argumentar, Anthony a puxou, parando-a.
– Não brinque comigo, Granger – Tony falou com certa raiva na face. – Durante todo esse tempo você esteve me usando para conseguir o que queria. Primeiro na França e agora em Hogwarts. Será que você se esqueceu do que Steiner te ensinou?
Honra antes de tudo. Eu me lembro bem das palavras dele, Wolhein. – Hermione gesticulou e sorriu. – Mas e você, lembra-se? Nunca desista de lutar.
– Isso não é sobre mim.
– Isso é sobre caráter. Você está desistindo de Lucy, pois passa tempo demais comigo.
– Eu não... – Tony começou a protestar, quase perdendo as palavras – E o Malfoy? Você não desistiu dele?
– Ele é um caso completamente diferente. E não estou preocupada sobre isso, já terminei com ele, não teria graça se eu tentasse algo com você para fazê-los sentir ciúmes.
– Então você quer provocá-lo?
– Veja bem...
– Quer provocar o Malfoy, Granger? – Anthony perguntou novamente, antes que ela fugisse da pergunta.
– Mas é claro, Tony.
Hermione sorriu de uma forma que ele nunca vira e sem o consentimento da garota, Anthony aproximou-se perigosamente, puxando-a de um modo tão provocante que ela quase recuou. A surpresa estava impregnada em sua face.
– Eu não tenho nada com Lucy, ela foge de mim como se eu fosse um monstro e embora eu queira desistir dela, não consigo. Ela é um mistério. – Ele sussurrou e retomou suas palavras – Você está apenas me usando, Hermione. E é exatamente por esse motivo que eu quero meu pagamento.
– Tony, o que você...
Tentou falar, mas a atitude dele, além de nova e nada admirável, também era decidida. Sem sequer um aviso, o garoto puxou-a pela cintura e no mesmo instante em que a abraçava, tomava-a nos lábios com um desejo quase que sobrenatural, deixando-a praticamente sem ar.
Anthony sabia que aquilo traria consequências bem feias para ele mesmo, mas não a resistiu. Usaria Hermione para conseguir o que queria, talvez assim Lucy percebesse que ele não esperaria por ela. E deixaria também que Hermione o usasse o quanto quisesse. Essa nova Hermione seria capaz de tudo para irritar o Malfoy e isso o divertia. Eram tão livres e tampouco se importavam com o que aconteceria.
A boca dela era doce e ele podia sentir ela se encolher, talvez por saber o quanto aquilo parecia errado. Não entendia isso, era como lidar com duas Hermiones: uma provocante e que cheia de lascívia; e outra delicada, reservada e certinha. E essa percepção o estimulou a cessar aquele beijo quase pecaminoso.
– O que foi isso? – Hermione perguntou confusa.
– Troca de favores. – Anthony respondeu – E acho que por se envolver desse modo comigo você vai destruir sua reputação, Granger – Tony sussurrou.
– Tudo o que disserem sobre mim não pode me ferir, eles estão somente esperando que eu faça algo errado para acabarem com a minha reputação, portando decidi que não dou a mínima sobre isso mais. – Hermione respondeu.
– Mas deve – Tony falou sem um pingo de ironia. – Se continuar com isso, você irá realmente cair, minha querida.
Com essa última nota, Anthony olhou para um ponto à sua frente, acima do ombro de Hermione. Deu de cara com olhos ferozes e cinzentos, que praticamente o torturavam.
– Parabéns, Granger. Você conseguiu irritá-lo. – Tony sussurrou olhando fixamente para Draco e percebeu que Lucy estava atrás do próprio.
O loiro estava a dois metros de distância, talvez apenas vagando pelo castelo ou simplesmente cumprindo seu papel como monitor. Mas o fato era que tanto ele quanto Lucy os viram e, agora, ele vinha em passos largos até eles.
“Oh-ou. Problemas” Tony pensou largando Hermione e a garota virou-se para o sonserino.
Draco apenas passara reto, ignorando ela e socou Anthony fortemente no rosto. Um filete de sangue escorreu pelo nariz do corvinal e sua reação fora lenta demais, quando deu por si estava jogado contra a parede.
– Draco, pare!
Uma mão de Draco segurava-o firmemente e a outra envolvia sua varinha, mirada em seu pescoço.
– Não sou o tipo de cara que certinho que pode fazer isso, mas como o Potter não está aqui, falo eu. – Draco começou, dizendo suas palavras num tom forte e baixo, tão maligno que aparentava ser realmente filho de comensais. – Não toque em Hermione Granger, e nem sequer ouse. Um cara sórdido como você não merece sequer andar ao lado dela. E quanto a Lucy, nunca sequer olhe para ela, ouviu bem?
O orgulho que ainda restava em Draco o fez soltar Wolhein e só então ele percebeu que Hermione tentara fazê-lo parar.
O loiro apenas lançou um olhar frio a ela.
– Você não pode escolher com quem eu ando ou beijo, Malfoy. – Hermione disse, embora sua atitude fosse ridícula e o tom seco dela houvesse desaparecido.
– Não mesmo, ninguém tem esse direito, mas não vou ficar de braços cruzados vendo você se auto-destruir com um cara tão idiota quanto ele. Embora realmente mereça isso. E também não ficarei sentado vendo o Wolhein brincar com Lucy.
Com isso, Draco saiu andando, deixando para trás uma Hermione despedaçada, um corvinal completamente irritado e uma sonserina ferida.
– Eu não preciso de proteção, Draco. – Lucy gesticulou completamente fria antes que Draco desaparecesse nas sombras.
Tirou, então, sua varinha das vestes, tocando a pele pálida de Tony com ela, no mesmo ponto onde Draco o ameaçara com a própria varinha.
– Saia daqui, Granger. – Lucy falou entre dentes.
– Lucy, por fav...
– SAIA DAQUI! – Lucy gritou, não dando à mínima se alguém a ouvisse e finalmente Hermione foi embora, seguindo para o mesmo lugar para onde Draco fora.
O corvinal encostou-se à parede, temendo o olhar perverso da garota. Por dentro ele sorriu, pois finalmente conseguira o que tanto queria todo aquele tempo.
– Percebeu algo, Moore? Se eu sou o cara maravilhoso que você quer que eu seja, você foge, mas se eu sou um completo idiota, você finalmente me enfrenta. Não é irônico isso? O fato de eu ter que fazê-la colocar uma varinha no meu pescoço? Tudo para conseguir sua atenção.
Lucy puxou o ar para dentro e negou com a cabeça.
– Os fins não justificam os meios.
– É o que eu venho tentando te falar há meses.
A mão da menina tremeu e ela sentiu raiva. Recuou a varinha antes que realmente machucasse Anthony.
– Não pode me julgar desse modo. Eu não preciso de você, Wolhein, nunca precisei. – Lucy falou machucada e deu meia volta.
Simplesmente não conseguiria encará-lo, mas parou ao ouvir a voz dele.
– E lá vai ela mais uma vez... fugindo do cruel Wolhein.

Lucy respirou fundo e ainda sem encará-lo, respondeu suas palavras.
– Então é isso que quer? Deseja que eu te dê um sermão, olhe para você e diga palavras bobas? – a loira balançou a cabeça e virou-se com raiva. – Quer conhecer a real Lucille Moore? Colocarei as cartas na mesa, se for realmente isso que o deseja, Wolhein.
Olhos castanhos sobre negros.
E um sorriso perverso e petulante nos lábios da garota.
Era o que os separava naquele instante.

***

Draco, sem saber ao menos aonde ir, começou a andar rápido na primeira direção que escolhera e, ao ver um trinco na parede, entrara. Era um banheiro qualquer e fora direto até uma das pias, onde abriu a torneira e lavou o rosto.
Tudo parecia ir contra ele. Sua reputação era destruída, Hogwarts parecia um inferno, Wolhein beijava Hermione, Lucy ficava cada vez mais insana, e seu destino se aproximava.
Recomeçou a tremer e assustou-se com o seu reflexo no espelho. Parecia doente e pálido demais, com olheiras no rosto que não o lembravam de sua beleza característica. Não queria ver isso e, sentindo sua raiva aumentar, socou o espelho.
Os estilhaços caíram pelo chão e o cobriu de brilhos, uma gota avermelhada pingou na pia, manchando a superfície de mármore. Só então Draco percebeu que sua mão sangrava. Um corte fora feito no nó dos seus dedos e a dor era afiada, fazendo-o se esquecer dos problemas e da sua dor psicológica.
Olhou para o espelho quebrado e sorriu, mas seu sorriso logo murchou. Num pedaço de espelho quebrado um rosto rosado bem atrás dele chamava sua atenção. Os olhos dela o fitavam com certa pena e piedade que ele sabia que não merecia nem desejava.
Draco, sem pensar, virou-se para a garota, já com a varinha nas mãos.
O brilho azulado quase a atingiu, se Hermione Granger não tivesse desviado para o lado. Ela alcançou a própria varinha nas vestes e o enfeitiçou, deixando-o tonto. Draco cambaleou e caiu no chão, colocando sua mão saudável na têmpora.
 – Draco, você está louco? Por que fez isso? Olhe a sua mão! – Hermione falou e se aproximou, sentando-se ao seu lado e pegando a mão ferida.
A pele dela, tão quente, o surpreendeu e Draco puxou sua mão, agarrando a dela com força.
– Por que está aqui, Granger? Quer me humilhar mais? Deseja descobrir mais segredos para que todos nessa escola possam rir de mim? – o garoto controlou-se para não gritar, o que era difícil, e então deu-se conta de que não deveria, nem queria se controlar. – Conte a todos o que viu todo esse tempo, diga a todos o quanto patético sou, um príncipe transformado em sapo que canta canções. Não parece cômico?
– Draco, você está me machucando. – Hermione falara assustada com aquela reação agressiva. – Apenas diga que me odeia. Isso é tudo o que você quer me falar, não? – a garota perguntou, sentindo o seu orgulho falar mais alto.
O sonserino apenas levantou-se e a ergueu junto, prensando-a contra a parede. Com a mão esquerda, tirou um gorro do bolso e mostrou a ela, deixando que a peça caísse no chão.
Hermione soltou um palavrão baixo por aquela peça tão ridícula ser sua denuncia. Os braços dela estavam paralisados e os uniformes de ambos já estavam sujos com o sangue do loiro. Os olhos de Draco estavam mais cinzentos, pelo o que Hermione percebera.
– Diga-me, vai realmente querer comprar uma briga comigo? Comigo? Isso não é algo inteligente para se fazer, Granger. Porque Merlin sabe o quanto eu te amei e só você não aceita isso. Acreditar que um sonserino como eu possa sentir algo por uma sangue-ruim é ridículo para mim, mas é real. Aconteceu. E quem tem medo de falar sobre sentimentos é você. Olhe para si mesma, foi deixada de lado pelo Potter, porque era burra demais para confessar o que sentia! Olhe para si mesma antes de falar de mim. Foi você que caiu, Granger, foi você que se apaixonou por mim, e é você que tem a perder com isso, porque a partir de hoje sua luta é comigo.
– Draco, me solte. – Hermione pediu sentindo dor nos seus pulsos.
Arrependia-se de estar ali. Viera apenas porque o vira debilitado e completamente perdido. Desistira de esconder-se e viera para confortá-lo e, ainda que quisesse realmente feri-lo, percebia que fora longe demais. “No que diabos eu estava pensando?” Hermione se perguntou quase deixando uma lágrima escapar. Lutara tanto para ficar longe dele e ali estava, presa entre Draco Malfoy e uma parede dura e fria.
– Publicar aquela coisas não me torna mais fraco, sabia, Granger? Aquilo não muda quem eu sou. Muda você, pois eu nunca pensei que fosse capaz de fazer isso. – Draco sussurrou no ouvido dela.
– Draco, eu não pretendia... – ela começou, mas fora interrompida.
– Mentiras! – ele gritou com raiva. – Você é uma grifinória mentirosa e imunda. E eu realmente não sei o porquê de eu estar aqui tocando-a. Não quando eu poderia torturá-la.
– Você não faria isso.
– Faria sim, e sabe por quê? – Draco questionou de modo frio e ela não respondeu, seu sorriso sarcástico a feriu profundamente – porque eu posso, e desejo feri-la, porque cada vez que eu a olho, eu sinto essa necessidade básica de torturá-la, talvez para acabar com toda essa dor em mesmo, talvez para apagar nosso passado clandestino. O fato é que eu desejo isso, tanto quanto desejo beijá-la.
Isso a surpreendeu mais do que tudo. Ali estava o lado de Draco que sempre desejou evitar, esse era o seu lado violento e possessivo, era o lado que despertava sua impulsividade.
E não se controlou ao vê-lo tomar os seus lábios, surpreendendo-o também. A língua dele buscava a sua com urgência, a mesma urgência que houvera no ultimo beijo de ambos, há semanas, exatamente na noite em que tudo terminara.
Não havia inocência no modo como Draco soltou os braços dela para, então, puxá-la pela cintura, com uma atitude quase agressiva. Ele deu um passo para trás e puxou-a até uma bancada de mármore, onde a garota sentou-se e envolveu suas pernas na cintura do loiro.
Entre beijos frenéticos a lascívia crescia, acordando aos poucos e eletrizando os corpos de ambos. Não havia carinho entre eles, tampouco ternura, apenas algo tão primitivo quanto a luxúria. As mãos de Hermione passeavam nas costas dele, enquanto sentia as mãos do próprio loiro em sua coxa, subindo cada vez mais, entretanto, estranhamente ele não invadia sua privacidade.
Aquilo a assustava ao mesmo tempo em que a encantava, e imaginou como seria tudo se tivesse ficado no salão principal durante o baile. Mas não. O beijo de Draco e Pansy fora real, ainda existia. Mas ela não queria parar, deseja aquilo como Draco. Sentia o mesmo que ele, mesmo que tentasse negar. Queria feri-lo e desejava-o.
Mas então Draco parou de beijá-la, visivelmente assustado.
– O que fiz? – ele perguntou, segurando o rosto dela entre suas mãos.
Hermione não entendeu a pergunta a princípio, mas ao sentir os dedos dele limpando seu rosto foi que percebeu que suas lágrimas escaparam. Nunca se sentira tão viva como naquele momento. Ele fizera o que ninguém conseguira, toda a sombra dentro dela diminuíra.
Sentia suas bochechas esquentarem e não percebeu que aquilo era um vestígio de inocência num mar de luxuria.
– Eu estou cansada. – Hermione sussurrou. – Eu não consigo... sentir, quando você está longe. Mas que droga, Draco! Por que faz isso? Por que se aproxima de mim quando na verdade não quer permanecer na minha vida?
Hermione o empurrou e tentou ir para longe, fugir dali, mas os dedos dele agarraram-na pela cintura e os braços a abraçaram por trás.
Oh, Merlin, ela sentia falta disso, definitivamente.
– Você não vê, Hermione? Eu tenho tanto medo de revelar quem sou... – ele sussurrou no pé do ouvido dela, fazendo-a estremecer levemente e sorriu com isso. – Tenho medo do que você pensaria de mim se realmente me conhecesse.
Parecia tão fácil acreditar nele, mas o momento de fraquezas já se fora. Ela terminara tudo simplesmente porque não conseguia confiar nele. Virou-se e percebeu que o machucado na mão dele deveria estar realmente doloroso.
– Você nunca vai saber o que acontecerá até que o momento de riscos chegue. Você precisa se sentir no controle, mas comigo isso é impossível. Eu me tornei tão instável que preciso de uma base. E logo. Mas não posso apenas escolher confiar em você. Não quando tudo o que eu peço me é negado.
– E o que você pede, Hermione?
– A verdade, a mais pura verdade. Eu quero você, sua alma inteira, seu corpo. Mas enquanto não abrir mão disso, nunca poderá me ter. Dar e receber. Uma troca equivalente. É tudo o que te peço.
Ela olhou para o nó nos dedos dele e estremeceu mais uma vez, incapaz de permanecer ali. Se ficasse, cederia a ele. Mas se fosse, voltaria às trevas.
– Você disse e fez coisas imperdoáveis, Malfoy – Hermione disse perto demais dos lábios dele. – Qualquer um perceberia esse seu teatro, esse seu falso ódio por mim. Não adianta pedir desculpas pelos seus próprios erros, sendo que você mesmo os planejou. Mas não deixe para fazer suas escolhas quando for tarde mais, meu querido.
– Você também fez coisas imperdoáveis. Você o beijou, Granger. Apenas para provocar ciúmes, mas isso mostra que, de algum modo doentio, você ainda se importa comigo, para querer me atingir desse modo. – Draco sussurrou. – Eu não sei se posso lidar com isso, com essa atitude tão... sórdida.
Os olhos castanhos foram ao chão e pela primeira vez ela sabia o que era sentir vergonha de si mesma, porque Draco estava certo. O que ela fizera fora sujo. Fora baixo demais.
– Desculpe-me, Malfoy – ela falara – não estivesse no meu perfeito juízo nos últimos dias, mas enquanto fui uma idiota apenas por algumas semanas, você foi durante anos, essa é a minha desculpa, mas e você? Qual é sua desculpa para o que fez no baile?
– Essa atitude sua... Tudo isso... Tem a ver com que eu fiz?
Hermione quis negar, dizer que não se importava, mas estaria mentindo e Draco sabia qual era a verdade antes mesmo de perguntar.
– Isso não te diz respeito, Malfoy. Isso é sobre mim, não sobre você.
Com essa última nota ela soltou a mão dele, e se dirigiu para fora dali, escondendo uma lágrima solitária que insistiu em cair.
No entanto ao sair, viu a sombra de um homem transformar-se em um felino e assustou-se. Draco ouviu o grito da garota e foi até ela.
O gato deu um pulo, tentando fugir dos dois estudantes, mas Hermione ergueu sua varinha e o feitiço foi mais rápido que felino, atingindo-o em cheio. Ele caiu no chão, estuporado e olhando para todo aquele pelo ocre, Draco e Hermione podiam facilmente pensar que ele estivesse morto.

***

Ao acordar, os olhos castanhos encontraram uma parede de pedra, olhou para o outro lado e através da janela, viu o céu negro. E só então percebeu que sua visão estava diferente, era humana, não mais pertencia a um gato veloz e audaz. Também não conseguia distinguir os cheiros daquele lugar, tampouco contava com qualquer habilidade felina. Era apenas um homem.
– Deveríamos ao menos chamar Snape – uma voz arrastada falara, preocupada, atraindo a atenção de Charles.
– Não! Não iremos chamar ninguém! – essa ultima voz era mais do que familiar, pertencia, para surpresa do homem, a Hermione Granger.
Charles procurou sua varinha em suas vestes, mas ela já não estava ali. Ao levantar-se, seus olhos encontraram os de Hermione, com raiva e impaciência.
– Minha varinha, Granger – ele pedira com nenhum resquício de simpatia.
Draco posicionou-se na frente dela de forma patética e protetora, nas mãos do loiro o homem reconheceu sua varinha. Adiantou-se para pegá-la, mas tão logo fez isso, Draco apontou sua própria arma para o homem, ameaçando-o caso se aproximasse mais.
– Abaixe essa varinha, moleque – o homem rosnou e Draco não obedeceu. – Granger, faça-o abaixar isso.
Hermione olhou de um para o outro, os dois loiros fitavam-se com raiva no olhar, mas eram tão parecidos que poderiam ser pai e filho, embora também fossem diferentes em muitos outros aspectos. Charles tinha um porte nobre enquanto o de Draco continha apenas arrogância, além dos olhos mostrarem emoções totalmente diversas.
– Como você o conhece, Hermione? – Draco perguntou, mantendo sempre seu olhar não nela, mas em Steiner. – Como você conhece um comensal como ele?
– Draco, eu não te devo satisfações. – Hermione respondeu e pegou sua própria varinha.
Com um floreio ela trancou a porta daquela sala e, em seguida, com uma estocada rápida, convocou a varinha de Draco, tirando-a das mãos dele, juntamente com a de Charles. O que deixou Draco extremamente confuso e irritado.
– Você não vai ameaçar Charles, Draco – ela falara. – E a varinha dele fica comigo também.
– Eu não entendo – Draco sussurrou. – Pensei que só sua personalidade estivesse mudando, mas pelo jeito sua inteligência resolveu tirar umas férias bem longas, Granger.
A grifinória limitou-se a dar um sorriso irônico a ele e sua língua afiada se colocou em uso.
– Um dia minha inteligência volta, já a sua reputação...
Malfoy quis revidar, mas sentia muito ódio para isso. Era inacreditável que depois de tudo o que acontecera ela ainda tivesse aquela atitude. Aquela Hermione despertava um desejo genuíno nele de causar-lhe dor, talvez para inibir o que sentia dentro de si. Hermione Granger era a raiz de todo aquele mal. Ela precisava se sentir como ele, só assim o entenderia, mas mão podia simplesmente fazer isso. Steiner estava ali e infligir-lhe-ia, talvez, o dobro de dor que ele causasse a Hermione.
– Sr. Steiner – Hermione falou com respeito, o que confundiu Draco mais ainda. – Eu não posso deixá-lo ir ainda. Não da forma como desapareceu na última vez em que nos vimos. Eu quero respostas, e as terei nesta noite.
– Alguém sabe que estou aqui?
– Somente eu e Draco.
– Pois bem. Faça suas perguntas, mas tenha cuidado, assim que suas palavras se formarem, é impossível fazê-las desaparecer.
Hermione identificou ali um aviso quase explícito. Ela não deveria expor-se tanto a Draco, nem revelar-lhe coisas sobre seu destino e a pedra. No entanto, ela não poderia ser tão sutil, queria saber de tudo.
– Sabe onde está a Pedra?
Aquela pergunta, tão simples e direta, foi o que calou Draco de seus protestos contra Steiner.
– Sim e não.
– Explique. – Hermione pediu, sentindo raiva do modo como ele fugia de suas perguntas.
– Eu o entreguei a uma pessoa há anos. Não sei sobre o seu paradeiro hoje.
– A quem você entregou?
Charles olhou para Draco, desconfiado e não respondeu.
– Você não deveria saber disso ainda, Hermione.
– Por quê?
“Porque ainda não está pronta” Charles falou em pensamento a ela.
Hermione deu uma pausa e percebeu que Draco ouvia tudo, com um interesse grande demais. Se o expulsasse da sala, Charles fugiria na primeira oportunidade. Que Draco ficasse, portanto, e depois lidaria com ele.
– Como isso funciona? Como alguém se torna...
– Genética. Isso passa de uma geração a outra, a mesma maldição sempre. Portanto é preciso que ambos os seus pais tenham esse gene mágico, pois ele nunca se manifestará enquanto não encontrar seu par, ou alelo, se preferir. Mas nem todos possuem tanto poder. É preciso ter um equilíbrio. Poder demais causa destruição.
– O quanto é poder demais?
– O da guardiã. Por isso há somente uma. Se existisse outra força tão semelhante à dela, seria o caos. Por esse motivo todas têm seu ponto fraco, todas.
– Como se descobre qual é?
Charles sorriu e também deixou essa pergunta no ar, olhando diretamente para Draco. E Hermione entendeu que ele não queria revelar algo como isso com o garoto por perto. Seria arriscado, visto que Draco era próximo demais de outros comensais e daria essa informação ao Lorde das Trevas. Charles tinha o que Draco ainda não possuía: Um domínio maior sobre a própria mente e um poder imensurável comparado aos outros comensais.
– Não é hora de conversarmos sobre isso. – Steiner falou, portanto.
– Por que Melanie foi morta? – Hermione perguntou, embora não quisesse forçá-lo a responder.
– Porque Melanie lutou contra o Lorde anos atrás e porque ele descobriu que ela era uma guardiã, ele ignorava que existisse mais guardiãs. Ele não tinha esse conhecimento, mas o jovem Malfoy mudou esse pequeno fato.
– O que você quer dizer com isso? O que você fez, Draco?
O loiro apenas abaixou a cabeça, envergonhado dos seus atos e percebendo o tamanho de sua estupidez.
– Ele vem pesquisando muito sobre a Pedra do Destino. – Charles respondeu por ele. – E tudo o que descobre acaba revelando ao seu querido Lorde.
Vergonha se estampou na face de Draco e um sentindo de revolta surgiu dentro de si.
– Fui criado nas trevas, o que eu deveria fazer quando tudo o que tenho é colocado sob ameaça? Deveria abandonar minhas origens?
– Deveria lutar contra aquilo que o ameaça, simplesmente. – Charles respondeu.
– E diz isso se baseando em quê? Sabe que não é assim que funciona.
– Pelo contrário, Malfoy. Minha vida, desde os dezesseis anos foi exatamente como a sua. Filho de comensal, família conservadora e um romance proibido. E tudo isso aliado ao fato de que eu tinha alguém do meu próprio sangue para proteger. Foi só depois de decidir o que eu queria que consegui fazer as escolhas certas.
Aquela resposta impressionou Draco, no entanto ele continuou impassível.
– A pergunta agora, jovem Malfoy, é só uma: Você quer ouvir a minha história?

*** continua ***
Capítulo 4 . Entrevista com a Serpente
Em breve ;D


Este capítulo é dedicado à minha linda quase-beta e Dramioníaca, Nadine.
Desejo a você, minha amiga, tudo de bom e muita felicidade. Que você complete muitos e muitos anos e aproveite bem sua vida. Saiba que encontrar você no mundo das fics foi realmente ótimo. Discutir minhas ideias com você é algo indescritível, e vou fazer você voltar a amar meus personagens originais. O Anthony é o meu bebê e você não pode odiá-lo u.u shusushs
Bem, desejo um Draco lindo-gostoso-maravilhoso para você, não o meu é claro, um outro, se existir um dia ;D
So... Happy Birthday beautiful :*
This is for you ^^

Gabi Ravenclaw