Incantatem

Por que me afastar? Porque éramos inimigos e como tais nos odiávamos. Porque eu era uma Weasley e ele um Malfoy. E principalmente porque estávamos em guerra declarada!

Magic and Mistakes

Hermione volta a Londres depois de dois anos. Ela cresceu e já não é a garota de antes. A guerra contra Voldemort teve seu fim e, agora, nada impede ela de ficar com Draco Malfoy. Isso era o que ela pensava. Em meio às mudanças da sua vida, novo emprego e uma nova casa, perceberá que Draco também tem sua própria vida. No entanto, acabarão sendo um dos casais mais conhecidos do mundo bruxo, algo que não esperavam. As consequências de seus atos se tornarão mais perigosas. Magia e erros, porque nem sempre se pode prever o futuro.

Por Culpa do Destino

Seria certo passar por cima de uma guerra por amor?

Imperius

Ele me olhava com aquelas orbes cinzentas como se estivesse arrependido do que me fizera. Eu fora uma tola, uma estúpida e iludida, afinal, como diabos Draco Malfoy se apaixonaria por uma sangue-ruim, nem ao menos a maldição imperius causaria isso. - Deixe-me explicar - ele pediu, sussurrava, sua voz estava quebrada.

Inimicum

Hermione Granger por anos foi uma pessoa amarga e nunca soube ao certo a razão de Draco a abandonar. Agora ela é uma auror e ele um comensal, entretanto um encontro faz com que ambos voltem ao passado e segredos sejam revelados.

23 julho, 2011

Cap. 5 - Lua de Sangue


Capítulo 5 – Lua de sangue

"Há mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia"
– William Shakespeare –
Dor. Uivo. Garras.
Um grito, lamuriante.
Grunhidos, presos à garganta, incapazes de serem libertadores para, na noite escura, aterrorizarem.
Sangue.
Pintam as vestes, mancham o chão duro.
Aderem-se à neve, tão pura.  
O cheiro de morte, podre, gélido, como carcaças enegrecidas.
Outro uivo e outro grito. Dor.
Lágrimas.
E um pedido mudo por salvação.
Desespero.

Hermione acordou repentinamente e sentiu sua face úmida. Lágrimas escorriam por sua face ininterruptamente. Desejava que aquilo parasse antes que alguma de suas amigas acordasse. No entanto era quase impossível sufocar seus soluços. Não aguentava mais seus pesadelos, eram piores a cada noite. 
Levantou-se e vestiu seu robe por cima do pijama e correu para o banheiro feminino. Era cedo demais para qualquer um estar acordado. Num sábado ninguém fazia questão de levantar-se às quatro da manhã. Mas o pesadelo a tirara da cama.
Seus sonhos eram mais vívidos a cada noite. Vira os olhos negros de um lobisomem fitá-la, ele a devorava com o olhar, como se fosse carne fresca. Seus dedos ossudos a apertavam com força, machucando sua pele. Até agora sentia seu corpo dolorido, como se o sonho fosse real.
Seu ombro doía, bem no lugar onde o dente amarelo fora cravado superficialmente. Por pouco não fora mordida.
Hermione abraçou suas pernas e, sentada no chão frio, imaginou-se na floresta negra, diante de um lobisomem, como acontecera no baile de Halloween. Mas Draco a salvara e pensou que isso nunca mais aconteceria com ela. Duas vezes já fora atacada por um lobisomem. Uma terceira estava por vir, segundo suas visões.
Desejava que seu poder falhasse, que tudo não houvesse passado de um sonho e não uma visão.
Era como viver sob um terror maldito. Segurava uma bomba nas mãos, nunca descobriria quando esta iria explodir.
Ouviu um som vindo do fundo do banheiro e os pelos da sua nuca se eriçaram.
– Quem está aí? – perguntou levantando-se e segurou sua varinha.
Um soluço foi ouvido e Hermione foi até a última privada em passos silenciosos e curtos. Abriu a porta devagar, imaginando quem estaria ali àquela hora.
Alguém gritara.
– SAIA DAQUI SUA ESCÓRIA MALDITA!
– Murta? – Hermione falou um segundo depois.
A menina virou-se para Hermione, reconhecendo-a e através das lentes transparentes da fantasma, a grifinória viu lágrimas.
– A amiguinha do Harry – Murta falou com um sorrisinho malicioso. – Chorando de novo em banheiros?
Hermione deu um passo para trás, ignorando a menina morta.
– É por causa do bonitão Malfoy? – Murta falou com uma voz sonhadora e patética.
– Não!
– Porque se for, acho que você não é a única. – Murta-que-geme falou e Hermione virou-se encarando-a.
– O que quer dizer com isso?
– Aquela menina Moore, ela chora todo dia! – Murta falou visivelmente irritada, como se estivesse falando de algo tedioso. – Vive reclamando de Draco, Weasley e de Anthony...
Murta suspirou e Hermione soube perfeitamente o que se passava em seus pensamentos.
Tanto Draco quanto Anthony eram populares no castelo, e sabia muito bem o porquê.
Mas Weasley? O que diabos Rony aprontara para provocar Lucy?
– Você e Harry ainda estão brincando com poção polissuco?
A pergunta tirara Hermione de seus devaneios. Poção polissuco?
– Não, não estamos – respondeu e imaginou quem poderia estar mexendo com isso e o motivo.
– Snape está uma fera, alguém andou roubando os estoques dele...
“Isso vai causar problemas a Harry” Hermione pensou e sentiu frio, fechando mecanicamente seu robe rosado.
Por que alguém em Hogwarts estaria usando aquela poção? Seria apenas um aluno estúpido e imprudente ou alguém com intenções malignas?

***

Hermione escrevia rapidamente num pergaminho e pausava o que fazia, por vezes, para ler os livros e certificar-se de que estava fazendo direito suas anotações. Estava na biblioteca pesquisando sobre algumas ervas para o trabalho de herbologia com o Malfoy. Ele já deveria estar ali, mas não. Atrasara-se. Mas também, num sábado quem iria querer terminar trabalhos escolares?
A lista de ervas que deveria constar no trabalho parecia infindável, tudo para segunda. A parte manuscrita estava quase pronta. Mas as ervas, que deveriam colher...
“Eu vou matá-lo!” Hermione pensou pousando a pena no tinteiro e apoiando a cabeça nas mãos, cansada.
– Deveria dormir um pouco, sabe? Estudar demais causa dados à sanidade – uma voz falou e Hermione ergueu a cabeça.
Draco acabara de sentar-se à sua frente.
– O que é isso? – ele contestou pegando um dos pergaminhos e lendo-o. – Você não terminou sua parte ainda? Que desleixada!
Hermione arregalou os olhos, olhando-o com uma fúria de leoa. Desleixada?
– Obviamente você andou decaindo, talvez por causa do Wolhein e sua companhia nojenta... oops! – o sonserino deixou escapar quando rasgou ligeiramente o pergaminho.
Hermione levantou-se. Nunca sentira tanta raiva na vida! Ficara acordada até tarde escrevendo aquilo e ele simplesmente... rasgava!
Pulou em cima dele, ameaçando estrangulá-lo com seus finos dedos. Os olhos azuis brilharam cinicamente.
– Granger, não precisa mostrar seu amor por mim em público, sabe que eu a amo e que adorei a noite passada.
Os olhos castanhos tornaram-se brasas repletas de raiva. Duas garotas do quinto ano os olhavam e outros três rapazes pararam ao ouvir as palavras de Draco Malfoy. Era óbvio que ele queria brincar com a cara dela, já que até onde sabia, a referida “noite passada” consistia em pesquisas para o trabalho que faziam.
– Eu vou matá-lo! – Hermione sussurrou pegando-o pelo colarinho.
– Cuidado, ma chérie, estamos em uma biblioteca, shhh – Draco falou tocando os lábios dela com o dedo indicador.
Hermione afastou-se com esse toque. Draco estava diferente, voltando a ser uma idiota sonserino. Mas tinha que ser sincera, ainda que ele a irritasse preferia esse Draco ao invés do raivoso.
– Ouça-me, Malfoy. Eu quero esse trabalho pronto ainda essa noite. Onde está sua parte? Onde está as ervas que disse que arranjaria?
– Hey, calma. Tenho todas já, guardadas em frasquinhos. – Draco dissera, mas Hermione percebia em seu olhar que ele mentia.
– Draco, eu deveria colocar outro feitiço da verdade em você? Sabe que eu não hesitaria se tivesse, visto que ainda mente e mal.
Ele fitou-a divertido, com uma falsa cara de inocência.
– Que calúnia, como me chama de mentiroso assim?
– Draco!
– Ok ok, falta uma erva ainda. Encomendei todas numa lojinha no beco diagonal, recebi tudo hoje, menos o Cipó-dourado, que está em falta. Então fui colhê-lo nas estufas, mas pelo visto os outros chegaram bem antes e...
– Não acredito, não credito! – Hermione o interrompeu. – Você só tinha que ir às estufas arranjar essas malditas plantas e identificá-las corretamente e nem isso é capaz de fazer, fiquei escrevendo sobre propriedades mágicas durante dois dias inteiros e você... grr!
Hermione levou uma das mãos até a testa, controlando-se.
– Hey, Granger, calminha, relaxe. Eu vou arranjar algo, e bem, pare de escrever, depois termino o que faltou. – Draco falou tranquilamente e aproximou-se dela. – Nos últimos três dias você tem jogado mil coisas sobre herbologia para cima de mim, não me deixou fazer nenhuma pergunta, mas eu preciso saber sobre o Steiner, não me negue respostas.
Hermione fechou os olhos, o perfume deve invadiu suas narinas desorientando-a por um segundo. Maldito Steiner que resolver contar sua historinha comovente a Malfoy!
– Bem, tudo o que sei, você sabe. Ele te contou várias coisas já.
– E quanto a você chamando-o de mestre?
“Você está ferrada, Hermione. Burra!” pensou, tentando achar uma saída fácil para aquele problema.
– Isso é apenas uma forma de me referir a ele.
– Não minta. Sei o que significa tomar alguém por mestre. Isso é mais do que uma relação aluno-professor, então pergunto: O que um comensal como Steiner estaria ensinando a uma nascida-trouxa de 17 anos?
A voz dele era baixa, sussurrada, impedindo que qualquer curioso o ouvisse.
E Hermione via-se sem saídas.
Suspirou.
– Isso não lhe diz respeito – dissera secamente.  
Pegou seu exemplar de Plantas Mediterrâneas e com um toque da varinha fez os outros livros voarem para seus devidos lugares nas estantes.
– Hermione, não pode fugir assim – Draco falou seguindo-a para fora da biblioteca. – Steiner é um cara mal, serve ao Lorde das Trevas!
– Até onde sei, você também serve e alguns meses atrás me disse o quão mal era.
– É diferente. Merda! Não jogue minhas palavras contra mim mesmo.
Draco impediu que ela prosseguisse.
– O que diabos está tramando?
Os olhos azuis fitaram por um longo tempo os olhos da garota, sustentando o olhar decidido dela.
“Merda! Não consigo ler sua mente! Parece uma página em branco!” O sonserino pensou.
– Draco, legilimência em mim não funcionará.
A grifinória continuou seu caminho e desta vez Draco não a seguiu. Não a entendia. Hermione Granger deveria sofrer de um transtorno bipolar. Ela estava diferente da garota que falara com ele depois das férias de natal. Não completamente, mas estava.
Ainda usava seu uniforme de um modo sedutor, meias justas, saia mais curta, diferente da menina certinha que conhecera há seis anos. Até mesmo o modo de falar mudara, tornara-se firme, menos hesitante. Ela era uma caixinha de surpresas.
E agora mantinha contato com um comensal. Steiner. Mal o vira em toda a sua vida, apenas pequenos vislumbres em algumas reuniões. Não ia com sua cara.
“Tsk. Hermione é uma tola ainda” pensou e girou nos pés, seguindo para o caminho oposto ao de Granger e pensando em como conseguir o maldito Cipó-dourado. Ela o mataria se não o arranjasse.
Lembrou-se então que o vira uma vez Floresta Proibida, não muito longe. Não tinha a mínima vontade de ir até lá, mas o que faria? Era sua única e última opção.

***

Lucy estava sentada na escadaria do saguão de entrada, ali estava mais calmo do que seu salão comunal e lia calmamente Um guia da magia medieval. Mal arranjava tempo para estudar para os N.O.M’s e entregar seus milhares de trabalhos. Estava chegando à conclusão de que os professores eram pequenas réplicas de um ditador qualquer, visto a quantidade de deveres e lições que impunham sobre os alunos. Enlouqueceria!
“Merda! Estou ficando até mesmo sem finais de semana...” pensou irritada.
– Hey, futura Sra. Wolhein! – uma voz dissera em seu ouvido e Lucy assustou-se, quase derrubando o livro.
O dono da voz não poderia ser ninguém senão Wolhein.
– De onde tirou isso? Cuidado, a loucura bateu na sua porta... – disse com raiva.
O garoto apenas limitou-se a sentar-se ao lado dela e puxar o livro para si.
– Que horror! Você está estudando isso?
– Infelizmente. Mas, Wolhein, não há nada melhor para fazer? Por que não vai estudar para seus N.I.E.M’s ou, quem sabe, procure um outro alguém para encher a paciência. – Lucy disse com um sorrisinho cínico. – Não! Vá atrás da Emilia Bulstrode, ouvi dizer que ela tem um precipício enorme por você.
– Engraçado, estou morrendo de rir, Moore – Anthony dissera não querendo imaginar Bulstrode a menos de dois metros dele, o pensamento dela dava-lhe arrepios. – Acho que você está com ciúmes.
– Acho que você deveria voltar à ala de loucos do St. Mungus.
Anthony riu e ficou olhando-a, prestando atenção no quanto os cabelos louros estavam maiores.
– O que é, Wolhein?
– Ainda está brava comigo?
– Por que vem fazer as pazes comigo sempre que é noite de lua cheia? – Lucy contestou. – É sério, você sempre faz isso!
Anthony sorriu, ela nervosa e irritada era linda!
– Caso eu morra ou encontre algum monstro na floresta, nunca se sabe...
– Você será a coisa mais perigosa naquela floresta esta noite, não se preocupe – Lucy falou e retomou a leitura.
Lera menos de duas linhas quando o livro foi tomado de suas mãos.
– Wolhein! – gritara e levantou-se a fim de recuperar seu livro.
Ele deu dois passos para trás e deixou o volume acima da cabeça da garota. Lucy esticou as mãos, tentando recuperá-lo, mas era mais baixa.
Tony deu um passo para trás e Lucy, à frente. Tropeçou numa falha no chão e cando seu por si estava em cima de Wolhein. Caíra e o levara junto. Maldito corvinal!
Os olhos negros estavam próximos e a ultima conversa deles estava cravada em sua memória. Fugira, como sempre, negando a ele respostas e confissões.
O hálito quente dele bateu em seu rosto e os lábios rosados nunca foram tão convidativos como naquele momento.
Sentia falta do seu beijo.
Repentinamente ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.
Poderia inclinar-se facilmente, mas não o fez.
Limitou-se a levantar-se calada e voltou ao degrau da escadaria, onde estava. Trazia o livro, recém recuperado, consigo.
– Hey little bird, - Anthony a chamou e ela ergueu os olhosVejo-a na floresta esta noite.
Saíra em seguida pela porta principal do castelo, onde o frio deu uma baforada em sua face rosada.
Lucy balançou a cabeça e voltou a ler seu livro.
“O que somos?” a pergunta de Anthony ainda martelava em sua cabeça.

***

Hermione acabava de sair do banho e vestia uma calça jeans quando sentiu uma pontada forte em sua cabeça. Sua visão tornou-se turva e de um instante para outro não via mais o banheiro dos monitores, mas sim a Floresta Proibida. Vira as árvores centenárias e uma cabeleira loira em meio a elas. Um cachecol verde e cinza destacava-se naquele ambiente todo escuro.
“Não acredito que estou atrás de uma plantinha maldita na Floresta Proibida... Maldita Granger sabe-tudo...” ouvira os pensamentos dele.
O piso do banheiro surgiu diante dos seus olhos repentinamente.
Através do espelho via-se com o jeans e um sutiã preto.
“Draco, sua doninha burra!” pensou terminou se vestir-se, colocando um casaco de lã por cima de seu suéter.
Colocou a varinha no bolso da calça e saiu do banheiro apressada, mal dando atenção aos alunos que a fitavam surpresos.
Corria como nunca fizera antes. Como um sonserino inteligente e covarde como Draco ia até a Floresta Proibida à noite e sozinho?

***

Lucy andava calmamente ao lado de Anthony. Já anoitecera e a lua escondia-se em algum lugar.
Um som atrás de si assustou a garota e a fez dar um grito agudo.
– O que foi? – Anthony contestou puxando sua varinha.
– Nada, talvez seja apenas um animalzinho... – Lucy disse baixo e continuou a andar.
Há dez metros adiante, Lucy quase caiu ao enroscar os pés numa raiz velha. Se Anthony não a tivesse segurado, estaria com a cara no chão certamente.
– Odeio essa floresta! – a loira falou com raiva e livrou-se dos braços do corvinal rapidamente.
Quanto menos toque melhor, caso contrário, voltaria atrás na sua decisão de não ceder ao Wolhein.
– Assim que eu me transformar, quero que se transforme também, certo? – Tony dissera sério.
– Bem, é única forma de eu sair daqui viva. – Lucy brincou, mas arrependeu-se mortalmente ao ver que Anthony não gostou do seu comentário. – Relaxa! É como fazíamos antes das férias. Serei sua companhia esta noite!

***

Hermione sentia frio e um ligeiro medo, onde diabos Draco estava? Já andava sem rumo há mais de vinte minutos e tentava em vão penetrar na mente de Draco.
“Sonserino idiota!”    
Ouviu ao longe um uivo e o sonho que a tirara da cama naquele dia veio à sua mente, mais do que lúcido. Esquecera-se completamente dele!
Sweet dreams are made of these
Who am I to disagree?
Travel the world and the seven seas
Everybody's looking for something
Suava frio, temendo por si mesma. As folhas ao seu redor se movimentavam como se pequenos animaizinhos quisessem pregar-lhe uma peça.
Hermione, então, correu. Sem olhar para trás e recebendo vários arranhões na face e nas mãos. Caiu. Sentiu dor. Ferira a palma das mãos ao apoiar-se na queda.
Não ligou para o sangue, mas ao olhar para trás vira o que tanto queria evitar.
Some of them want to use you
Some of the them wanna get used by you
Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused
A fera olhava para seus olhos. As mãos ossudas e peludas eram arrepiantes. Causava-lhe arrepios.
Ele uivou mais uma vez e Hermione assustou-se, dando um passo para trás e caiu na neve gelada.
Uma ave branca surgiu repentinamente e Hermione acompanhou seu voo com o olhar. Poderia estar louca, mas aquele pássaro estava tentando salvá-la. O lobisomem rugiu, ameaçando o pássaro.
Lobisomens atacavam somente humanos, se aquela ave o irritasse, poderia ganhar apenas a morte.
I wanna use you
And abuse you
I wanna know what's inside
Hermione levantou-se e tentou correr para longe dali, sentiu de repente as garras ao redor de si e foi puxada para trás. As unhas amarelas rasgaram seu casaco e arranharam sua pele, uma dor forte a fez gritar quando sentiu a fera machucá-la mais.
Gritava, sem esperança nenhuma de sair dali, mas sentia que sua voz estava presa na garganta.
Onde estava seu maldito poder quando precisava?
Abriu os olhos.
Vermelho. Vermelho.
Sangue.
Vivia seu pesadelo.
Uma luz cegou sua visão e Hermione colocou as mãos nos olhos automaticamente.
O lobisomem a soltou sem prévio aviso e ouviu um lamurio de dor.
Quando seus olhos se recuperaram viu a fera do chão, encharcada de sangue, o braço esquerdo estava dilacerado.
E à sua frente Lucy chorava sem parar, com a varinha em mãos. Seu casaco estava rasgado em várias partes e viu uma ferida em seu braço esquerdo, onde havia mais sangue tingindo o tecido de suas vestes. 
– O que diabos está fazendo aqui? – Lucy gritou. – Não importa agora – agarrou Hermione pela mão e juntas correram.
A grifinória reconhecia que caminho era aquele. Lucy fora rápida e logo já a levava até a passagem para a Casa dos Gritos. Dominou o Salgueiro Lutador com facilidade ao lançar um feitiço.
Hermione ainda estava em choque e completamente paralisada quando Lucy soltou sua mão e deixou-se cair no chão, chorando descontrolada.
– O que faz aqui? – Lucy conseguiu dizer entre soluços.
– Draco... Draco estava na floresta. Vi ele numa visão, mas não o achei.
– Eu o vi há alguns minutos – Lucy dissera e viu preocupação nos olhos amendoados de Hermione. – Mas Draco já está no castelo, já estava voltando quando o vi.
– Lucy, por que está chorando? Está... está ferida?
Hermione tentou aproximar-se, mas Lucy levantou sua varinha.
Sweet dreams are made of these
– Por que estou chorando? Por quê? Será por que acabei de dilacerar o braço de um homem? Ou melhor, o braço de Anthony. Aquele feitiço foi o único que pensei, o único que o atrasaria se corresse atrás de nós.
Hermione arregalou os olhos, espantada.
– Anthony é um lobisomem? – gritara e sua voz ecoou na sala escura da Casa dos Gritos.
Anthony era o mesmo lobisomem que a atacara no ano anterior.
– Eu tenho que ir, tenho que voltar a Hogwarts.
– Sente-se quieta aí agora! – Lucy gritou. – Não vou deixar você por aí para ser atacada de novo e não sairei daqui até o amanhecer.
Diante de um olhar tão furioso Hermione sentou-se quieta no chão empoeirado. A dor era forte, tanto no corpo, quanto na cabeça. Mil idéias surgiam e não acreditava que Wolhein era a fera que a atacara.
I'm gonna use you and abuse you

No horizonte uma linha de luz surgiu, esbranquiçada e luminosa, embora ainda fosse fraca. No lado oposto a lua partia lentamente, distanciando-se ligeira e silenciosa, levando consigo os uivos do lobo.
O sol deixava seu abrigo, mostrando-se ao mundo e jogando sobre a casa asssombrada sua luz. Pela janela os raios entraram e atingiram as duas jovens. A de cabelos dourados tinha uma série de arranhões pelo corpo e um longo corte no braço esquerdo e na face, ao passo que a outra, com cabelos cheios e castanhos, sangrava numa das pernas, encharcando suas vestes de sangue.
De uma das janelas da casa Lucy fitou o lado de fora e um som nas escadas a paralisou. Levantou-se na mesma hora e viu um corpo alto e ligeiramente musculoso. Suas vestes estavam rasgadas em vários lugares, a manga de sua camisa não mais existia, muito menos os botões. A loira tinha certeza absoluta de que o moreno sentia frio.
Naquele mar de gelo, até mesmo ela, cheia de agasalhos, sentia a neve penetrar seu corpo.
O braço dele era puro sangue e vê-lo doía profundamente na alma da sonserina, ela causara aquilo. Anthony olhou para as duas garotas e deixou-se cair no chão de joelhos, mal se importando com o chão duro que o feria, derrotado pelo cansaço e por si mesmo. Era um monstro. Um monstro que chorava. Levou uma das mãos à face e ainda que quisesse correr dali, o chão de madeira atraia seus joelhos como imãs de pólos opostos.
Sentiu alguém abraçá-lo, envolvendo sua cabeça e, sem perceber, deitou-se, apoiando-se no colo de quem o abraçava.
As lágrimas vinham, encharcando seus olhos negros, mas estas não lavavam seus pecados, suas faltas. Era um monstro.
Sentia seu braço esquentar e teve certeza de que Lucy estava fazendo feitiços, diminuindo sua dor e frio.
Sua mão foi agarrada e olhou para frente, vendo Hermione Granger e seus cabelos cheios e cacheados. Inconscientemente, sem saber como, foi levado para velhas lembranças.

O menininho fitava a mãe separando aquele monte de mato e folhas, não era divertido! Entretanto, como aquilo, que julgava tão tedioso, conseguia agradá-la? Não compreendia. No entanto a mãe sorria e seus cabelos dourados compunham sua aparência pura, juntamente com os olhos castanhos claros.
Tocou numa das folhas e foi repreendido.
“Tony! Non toque em nada!” dissera e seu sotaque afrancesado era evidente “Vá brincarr no seu quarto enquanto maman trabarra”
“Quando papa vai chegar?” contestou-a.
A mãe olhou para o relógio com um olhar preocupado.
“Logo, mon chéri”
O menino sabia que a mãe mentia, no entanto a obedeceu. Fora até seu quarto, subindo as escadas de má vontade. Nada ali era divertido, não podia voar com sua vassoura, nem brincar com coisas que fizessem barulho. Irritaria mamãe se o fizesse. Fora, portanto, até a janela e amou o que viu. A lua brilhava no céu negro e nunca a achou tão linda, de longe até mesmo suas crateras eram belas e com tão pouca idade concluiu que a beleza não era perfeita, era apenas uma questão de saber a que detalhes dar atenção.
“Tony” uma voz doce e de criança o chamara.
Ele assustou-se. Os pezinhos da irmã eram silenciosos e ágeis, mais do que seus poucos seis anos permitiam.
“Vá embora! Madeleine” Tony mandara, mas a menina simplesmente subira na janela com ele, fitando também a lua.
“Por que está bravo comigo?” a menininha perguntou.
“Não estou bravo com você” Anthony falou e encostou a cabeça na madeira da janela. Estava bravo com a mãe e queria que o pai chegasse logo. Tratar Madeleine mal era injusto.
Vira, ao prestar atenção à vegetação escura, dois pontos brilhantes, que dois segundos mais tarde reconheceu como sendo olhos. Uma pelugem negra cobria aquela criatura horrível e a curiosidade aguçou-se no menino. Uma figura apareceu repentinamente na estradinha estreita e Anthony reconheceu como sendo seu pai. Os cabelos negros debaixo de um chapéu cinzento eram inconfundíveis.
Desceu as escadas como se fosse uma furação, ignorando sua mãe e a irmã que também corria. As perninhas finas da menina eram rápidas, mas não tanto quanto as do irmão mais velho, de 12 anos.
“Papai” gritou ao passar pela porta principal.
No entanto algo o parou. A criatura misteriosa que vira há pouco estava a menos de quatro metros.  Ela tinha dentes pontiagudos e amarelos, lembrava-o de caninos de cães. Sua forma era estranha, nem animalesca, nem humana. Era um meio termo entre as duas raças.
Anthony não se lembrava de já ter visto homem tão peludo quanto aquele. Os olhos da fera desconhecida estavam fixados nele e ao olhar ao redor, vira uma figura caída. As vestes roxas estavam tingidas de sangue fresco e o chapéu cinzento, perdido entre as folhagens. A figura excêntrica que seu pai fora dela lugar a um homem impregnado de dor.
Era uma cena macabra.
Anthony não soube o que fazer: correr para o pai ou para a segurança de sua casa?
Era apenas um menino.
Uma respiração ofegante atrás de si revelou que sua irmãzinha também estava ali, chorava silenciosamente, incapaz de mover-se. Sentiu sua face úmida e deu-se conta de que também chorava.
Antes que pudesse agir ou pelo menos optar pelo que fazer, a fera fora mais rápida e num segundo as unhas afiadas penetraram sua pele. Anthony, agora caído no chão, ergueu o braço numa tentativa inútil de se proteger.
A fera estava por cima do seu corpo e era pesada. Sentiu um bafo quente em seu rosto e um segundo depois caninos amarelos rasgaram sua carne.
Gritos. Dor. Nunca vira tanto sangue em sua curta vida.
O veneno fora inoculado antes que percebesse.
“Tony!” Alguém gritara, mas o menino não sabia ao certo quem era a dona daquela voz doce e impregnada de medo.
A fera, repentinamente, o abandonou, o que o deixou aliviado, mas ao erguer a cabeça e olhar atrás de si, teve uma visão, a pior da sua vida. Aquela besta maldita tinha suas mãos agora na pequena Madeleine. A menina tinha os olhos abertos, olhinhos castanhos como sua mãe, olhos agora, sem vida.
Sua cabeça pendia ligeiramente para trás e o braço direito estava num ângulo anormal.
Sangue.
Sangue. Sangue.
Morte.
Anthony perdera a voz, queria gritar, mas sua garganta fechara-se. Em compensação grossas lágrimas encharcavam sua face e quase o cegavam. Lágrimas salgadas mescladas ao medo.
Com a visão embaçada olhou para o céu negro. Vira a lua cheia, a bela lua, testemunha de uma cena macabra. Pela ultima vez na vida vira-a, ao menos de uma forma consciente e não pelos olhos de um animal incontrolável e monstruoso.
Trevas.
Uma bandagem cobria seu rosto e o braço direito. Sentia uma dor insuportável, um naco de carne fora-lhe arrancado e agora se recompunha lentamente. No entanto sentia que isso não fora a única coisa que o lobo levara.
A mãe passou pela porta, parando por um momento, olhou apenas para o corpo do filho e seguiu adiante. Anthony odiava hospitais.
“Mamãe não me olha nos olhos” pensou.
Madeleine olharia, não importava o que acontecesse.
A mãe chorava, rosas brancas, as preferidas da irmã, repousavam no túmulo de mármore. 
O menino sentia que era ele quem deveria estar naquela cova.
Madeleine Sophie Wolhein
1985-1991
“Eu não sei o que fazer, não consigo sequer olhá-lo!”a voz da mãe entrou em seus ouvidos.
Anthony estava no alto da escada, escondido. Na sala, no andar térreo, os pais discutiam.
“Não seja fraca!” o homem gritara, uma bandagem cobria seu braço esquerdo, recém remendado. “Ele não tem culpa pelo o que aconteceu”
“Mas não consigo” murmurou com os olhos marejados. “Eu quero minha filha”
“Olhe para mim” o marido pedira segurando o rosto dela. “Anthony precisa de você”
“E quanto a você? Até agora mal falou com o pobre menino! Não jogue toda a responsabilidade em minhas costas!”
Isso fez ele arregalar os olhos.
“Isso é uma maldição, mon amour. Não entendo porque nós... não entendo o que fiz de tão ruim a ponto de merecer isso”
“Você é ridículo!” a mulher bradou “Maldição? É do seu filho que está falando!!
“Ele não é meu filho mais, é apenas uma fera que vai despertar a cada lua cheia, um monstro...”
PLAFT! A mão da loira voou à face do marido com uma força incrível, a qual não parecia pertencer a tão delicada mulher.
“Nunca se refira a ele desse modo. Nunca!”
Monstro... Seria essa sua sina?
Castigo. Maldição. Papai disse algo sobre merecer àquilo. Fizera algo mal? Estava sendo castigado? Era um realmente um monstro?
Mas Madeleine nunca fizera nada... por que ela também merecia algo pior do que ele?
O menino correu, havia um monitor idiota procurando-o. O vira de relance e se o pegasse seria detenção na certa. Achara uma porta. Entrara. Era melhor esconder-se do que correr sem rumo.
Girou nos pés e fitou a sala. Um espelho enorme com molduras douradas estava na parede. Aproximou-se e viu letras na parte superior.
erised strae hruo ytub ecaf ruoyt on woh si
Não fazia ideia do que aquilo dizia, mas ao olhar para seu reflexo vira Madeleine. Ela sorria e papai e mamãe o abraçavam.
Anthony olhou para trás, mas não havia ninguém mais ali. Olhando para o reflexo novamente, a visão continuava.
Estaria ficando louco ou aquele espelho pregava-lhe uma peça de mau gosto?
“Vovô?”
“Sim?”
“Onde mamãe está?”
“Trabalhando, você sabe. Uma herbologista como ela viaja muito”
“É por isso que moro com o senhor agora?”
O avô assentiu, embora seu sorriso fosse falso.
Adultos pensavam que crianças não distinguiam a verdade da mentira. Em fato, crianças discerniam mais do que adultos poderiam supor, o menino pensara. 13 anos e já era mais dono de si do que qualquer outro jovem.
“Vá ver seu pai, Anthony Wolhein!”
“Para que? Nem ele nem mamãe realmente querem ver-me. Estão aqui só por estar, vovô...” Anthony Wolhein, mais moço, com seus 16 anos dizia, sentindo sua rebeldia aflorar cada vez mais.
“É natal, faça um esforço, ao invés de deixá-los esperando sentados na sala”
“Deixe-os esperar! Desaparecem durante o ano inteiro mesmo... A verdade é que não querem perder tempo com a ovelha negra da família”
“Anthony! Que coisa horrível para se dizer!”
Sou um monstro, o que esperava?, Anthony pensou pegando seu casaco no armário e um cachecol.
“Diga que sumi! Já faz uns quatro anos que eles não comemoram o natal mesmo” Anthony falara e saiu do quarto. Preferia sumir do hotel do avô a ir até seus pais e enfrentar um silêncio sepulcral.

A mão de Hermione soltou a de Anthony, ela precisou conferir se era realmente verdade o que vira naquela noite. No colo de Lucy, tão serenamente, não via o lobisomem que a atacara, nem o jogador de quadribol que tanto vira jogar, muito menos o corvinal que a beijara. Ali estava o menininho assustado das lembranças que acabara de violar.
O menininho abandonado pelos pais e deixado aos cuidados do avô.
Entendia agora perfeitamente suas conversas na França.
“Onde eles estão?”
“Meu pai está em Londres. Trabalha no ministério. Minha mãe é herbologista. Viaja pelo mundo”
“Que interessante”
“Acredite, não é”
Quem diria que Anthony tinha um segredo tão sangrento?
– Não conte a ninguém, Hermione – a voz de Tony era fraca, amedrontada.
Lucy acariciou seus cabelos carinhosamente e o abraçou com mais força.
Ela sabia, sempre soube, Hermione concluiu e entendeu também a relação daqueles dois. Um apoiava-se no outro, dividiam segredos.
– Não direi nada a ninguém.
Hermione fechou os olhos, sentindo o terror ainda impregnado na própria pele e na de Anthony. Pegou, então, sua mão novamente. Sem penetrar em sua cabeça, o que surpreendeu o rapaz.
– Não irei dizer a ninguém – repetiu e sorriu. – Conheci um lobisomem incrível, um que já tentou matar-me e a Harry e Rony também, no 3º ano. Ele é um homem incrível, o melhor professor de DCAT que Hogwarts já teve.
Anthony sorriu.
– Remo Lupin me disse o quão brilhante e inteligente você é – o corvinal sussurrou. – Ele é realmente incrível.
Dessa vez Hermione era quem exibia uma surpresa no olhar.
Nos olhos negros do rapaz Hermione concluiu, aquele destino era o pior de todos, era uma vida de preconceito semelhante à sua.
Ser um lobisomem era mil vezes pior do que ser uma sangue-ruim.
E percebia também mais. Lucy e Anthony estavam mais envolvidos do que imaginavam. Ela o abraçava como se sua vida dependesse disso e enquanto Hermione apertava uma de suas mãos, Lucy envolvia a outra com força.
Um necessitava da presença do outro.

***

– Por que não contou antes, Lucy? Eu o ajudaria. – Hermione sussurrou, ajeitando seu travesseiro.
Encontrava-se na enfermaria. Madame Pomfrey a enchera de bandagens e poções de cura. Seus ferimentos doíam bem menos agora. E o braço de Anthony estava completamente regenerado. O feitiço de Lucy fora fraco, e sua forma de licantropo o salvara de maiores danos.
– Anthony e eu temos um pacto. Não podemos sair por aí contando os segredos do outro.
– Mas isso... deveria ter dito!
– Bem, agora você sabe. – Lucy falou e virou-se de costas para a grifinória.
Na cama ao lado da sua, Anthony descansava, suas pálpebras escondiam as íris negras e, se não estivesse sob o efeito de poções, estaria tendo um pesadelo.
– Lucy?
– O que é?
A grifinória hesitou, tentando achar as palavras certas e prosseguiu.
– Você sabe tudo sobre ele?
Lucy continuou a fitar o rapaz, prestando atenção às feições serenas. Seu braço estava enfaixado, bem como sua testa, o que cobria parte dos cabelos desalinhados. A loira suspirou.
– O que quer saber exatamente, Granger?
– A menininha... Madeleine... Anthony culpa-se pela morte dela, eu vi isso...
– E o que esperava? É a natureza dele, Anthony faz tudo o que pode e o que não pode quando precisa proteger alguém. Ele tinha apenas 12 anos quando ela faleceu. Sempre foi inteligente e bom com feitiços. Até hoje pensa em como tudo seria se ele tivesse levantado sua varinha. Madeleine talvez estivesse vida, ele talvez não seria um lobisomem, o pai talvez não o odiasse e a mãe talvez o olhasse. Talvez, talvez, a vida é cheia disso.
Nada era como deveria. Madeleine estava morta, o Sr. Wolhein, coberto de cicatrizes e Tony carregava uma maldição.
– Anthony era apenas um menininho assustado, não poderia fazer nada – Lucy concluiu baixo.
Ainda é uma criança assustada” pensou.
– O que ele pensou quando o vi? Quando soube que eu sabia seu segredo?
– Não faço ideia. Parei de ler pensamentos há algumas semanas, pelo menos quando posso evitar.
– Isso é irônico. Ultimamente tudo o que Tony queria era que você lesse sua mente.  
Lucy riu.
– Eu não preciso disso para saber as verdadeiras intenções dele. Olho para ele e consigo lê-lo tão facilmente... E outra coisa: não quero estar 24 horas por dia na cabeça pervertida de Wolhein.
– O que quer dizer com isso?
Lucy sorriu maliciosa e virou-se de volta para Hermione, olhando-a fixamente.
– Uma vez, na biblioteca, enquanto eu pegava um livro, vi Anthony pensando em como a saia da Chang era curta e em como seria estar dentro da sua... como ele pensou? Ah sim, dentro da sua sala comunal.
Hermione estava escandalizada. Estava mesmo ouvindo Lucy relatar sobre aquilo!?
– Outra vez ele tentava imaginar-se em um ménage à trois e devo dizer, aquilo si foi algo perturbante. Ele se imaginava com a Weasley fêmea e outra garota corvinal que segundo ele tinha uma bela comissão de frente. Primeiro despia uma e depois a outra, beijava-as ao mesmo tempo e enquanto acariciava uma, deixava que a outra brincasse com seu... brinquedinho.
– Lucy!
– O que é? É verdade, ficaria impressionada com os pensamentos dos caras desse castelo. Zabini até hoje quer me levar para a cama, não imagina o que ele pensa! Goyle imagina Pansy nua sempre que a vê e toda vez que estou perto dele, tento não ler seus pensamentos. Goyle tem vergonha de falar com as garotas, fica mais com sua mãozinha, se é que me entende.
Lucy não evitou uma gargalhada.
– Parkinson? Mas... grrr! Não me faça vomitar, Moore! – Hermione protestou enojada.
– Acho que os pensamentos do Potter te interessariam e muito, Granger.
– Pensamentos do... espera! QUÊ?
– Algo relacionado a um basilisco entrando numa câmara secreta. Merlin! Eu ri horrores quando li isso na mente dele.
Hermione arregalou os olhos e sua boca formava um perfeito O.
– Houve também aquela vez em que ele fantasiou como seria se você tocasse em...
– Chega! Isso é... doentio. Como pode ouvir essas coisas e não se sentir insultada?
– Eu me acostumei, Granger. Os instintos dominam a todos, mas devo admitir, o Weasley tem umas ideas bem... loucas, por assim dizer. Até mesmo para um legume como ele, mas Draco o supera, com absoluta certeza, consegue ser pior até mesmo do que Anthony.
– Draco O QUÊ?
– Ora Hermione, eles são homens e tem um brinquedinho interessante, como impedir uma criança de brincar?
A imaginação da grifinória voava longe.
– Nunca mais vou olhar para um brinquedo sem pensar em besteiras.
– O que posso fazer? Tudo tem duplo sentido. E a garotas não ficam para trás se quer saber. A maioria pensa em Draco, Potter e Wolhein, até mesmo em McLaggen, mas durante o torneio tribruxo, Krum e Diggory estavam em alta.
Lucy conservou um olhar sonhador no rosto, olhando abobalhada para o teto da enfermaria. Hermione não demorou muito para entender o que aquilo significava.
– Lucy!
A loira saiu dos seus devaneios assim que ouviu se nome.
– Imagine o Diggory com toda aquela carinha de anjo. A Chang foi sortuda demais! Merlin! Será que ele era bom de cama?
Hermione limitou-se a balançar a cabeça, o pensamento de Harry e Draco tendo fantasias com ela ainda a assombrava. E não queria pensar em Cedrico Diggory, não mesmo!
– O que Draco... pensa? – viu-se perguntando, já que não conseguiu controlar-se.
Lucy riu maliciosa.
– Peça para ele dizer, ou melhor, peça para ele mostrar.
A face da grifinória ardia de tanta vergonha que sentia.
– Draco e eu nunca... – começou a dizer.
– Eu sei. – Lucy a interrompeu. – E acredite, se depois de tanto tempo Draco ainda corre atrás de você, não é só por causa de sexo.   
Hermione sorriu. Era bem capaz daquilo ser verdade, mas o que ele fazia e sua atitude... eram quase imperdoáveis.
– Você beijou todos eles: Draco, Potter, Krum, Wolhein. Todos jogadores de quadribol, pelas calças de Merlin, Hermione Granger, você é uma Maria-vassoura!
A grifinória enrubesceu tanto que sua face ficara tão rubra quanto os cabelos de Ginevra Weasley.
– Isso é... que droga, não leia minhas lembranças!
Lucy rira mais uma vez, era ótimo conversar com a Granger, era como ter uma melhor amiga. E seria realmente bom, se ela não fosse amiga do Santo-Potter.
– E quanto a você? Pelo que sei é tão ruim quanto eu! – Hermione contestou.
– Não sou amante de capitães de quadribol, mas admito que beijaria Krum de bom grado.
– E quanto a Anthony?
– O que tem ele? – Lucy perguntou instintivamente e lembrou-se do incidente mais cedo no saguão.
– Quando pretende admitir seu amor?
– Bem, talvez no dia em que ele deixar de beijar grifinórias chatas.
– Haha! – Hermione resmungou. – Ele desistirá de você se não agir.
– Que desista!
– E aquele beijo... – Mione começou a dizer, mas a loira a interrompeu.
– Ele queria beijá-la, aquele lobo filho-da-mãe me colocou em sua mente inconscientemente. Ele não sabia que eu o estava vendo naquele momento, mas sua mente gritava para a minha, me chamava. Tudo porque aquele tapado queria que eu soubesse que ele pode ter quem quiser, então eu deveria me decidir logo, antes que fosse tarde.
– E por que não diz a ele...?
– Pare com perguntar difíceis, Granger, você é tão complicada quanto eu, seu doce e dramático romance com o Malfoy é uma prova irrefutável, e nem preciso citar Potter, que a persegue mais do que a Você-Sabe-Quem. Sério, Hermione, Voldemort irá encontrar seu nariz e você ainda estará no meio desse draminha Malfoy-Potter.
– E o que quer que eu faça!?
Acorde! Apenas isso. Daqui há uma hora a notícia vai se espalhar e Hogwarts inteira irá saber que você está na enfermaria. Draco virá correndo e chegará cuspindo fogo pelas ventas. Gritará com você, irá tomá-la por irresponsável e estúpida. Depois virará para mim e dirá o quão inútil sou. Anthony, se estiver acordado, irá vir com ironias e Draco o olhará com raiva, trocarão algumas farpas e, depois, Draco irá olhá-la, verá o quão ferida está e se você tiver sorte, Granger, ele irá embora furioso, se tiver azar o Potter aparecerá na porta e é bem capaz do Malfoy o azarar por não protegê-la.
– Como tem tanta certeza?
– Ele é meu melhor amigo, depois de um tempo é fácil presumir suas atitudes.
Hermione encostou a cabeça no travesseiro. Draco era complexado demais.
Mal fechou os olhos e ouviu a porta da enfermaria ser aberta violentamente.
Draco entrava com raiva e no fim Lucy previra o que aconteceria, mas calculara mal o tempo.
– O que você fez? – Draco rugiu para ela.
– Fui às compras, Draquito, mas não sabia que era liquidação, um monte de pobres bruxos me atropelou dentro da loja e não pude comprar nenhum presentinho para você. – Hermione respondeu irônica e por um segundo deixou Draco estupefato.
Ãh? Que merda, Hermione, não venha com brincadeiras! Isso é sério, olhe para si mesma, está cheia de machucados! – o loiro virou-se para Lucy. – O que diabos estava fazendo na Floresta Proibida com ela? Pensei que tinha o mínimo de bom senso!
– Você entrou lá ontem, fomos atrás de você, Draco. Eu segui Hermione, já que era óbvio que ela seria estúpida o suficiente para entrar lá, e Anthony seguiu a mim. Essa grifinória idiota é a culpada, atraiu um trasgo horrível quando ficou gritando “DRACO! DRACO! MEU AMOR”
Hermione olhou Lucy com fúria, ela era a culpada agora? De onde aquela história ridícula surgira? Meu amor? Lucy estava mesmo sacaneando-a depois de tudo que acontecera?
– Eu não falei nada sobre meu amor ou essas bobagens! – Hermione protestou.
– Como soube que eu entrei lá? – Draco perguntou à Granger.
– Eu... eu...
“Eu tive uma visão, prazer, sou Hermione Granger, a bruxa guardiã da Pedra do Destino!”
– Eu o vi entrando quando olhei para a floresta por uma janela.
– Estava me espionando?
Agora Draco exibia um sorriso divertido diante do embaraço da garota.
– Espiando você? Bateu a cabeça, Malfoy? O que tem bebido no café da manhã? Chá de cogumelo?
– Bem, minha sanidade é melhor do que a sua. Pode ser a toda-poderosa amiga do Potter-testa-rachada, mas até onde sei, toda vez que entra naquela floresta acaba acordando na enfermaria! A questão é: até quando isso? Até que morra atacada por alguma criatura ou um bruxo das trevas?
Hermione sentia-se minimizada, era uma criança pega numa travessura.
– Pare de agir por impulso e use o seu precioso cérebro!
– Não fale assim com ela, Malfoy! – outra voz surgira perto da entrada.
“Pronto. O circo está armado!” Lucy pensou dando gargalhadas por dentro, enquanto Hermione escondia o rosto no travesseiro.
– Ora, ora, se não é o Grande Potter! Onde estava? Por que não deu uma de herói e salvou o dia?
– Não enche, Malfoy. – Harry falou ignorando-o e indo direto para a amiga. – O que houve?
– Harry, não é uma boa hora para...
– Harry, meu amor, bla bla bla...
Draco estava com os braços cruzados no peito e deixou um riso cínico escapar, enquanto imitava ridiculamente Hermione.
– Quando o Potter for embora, talvez eu volte – o loiro dissera, saindo da sala com raiva no olhar.
– Espero que essa doninha morra antes que isso aconteça. – Harry murmurou baixo.
“Mas ele vai voltar” Hermione pensou e sorriu. “Quando eu menos perceber” completou em pensamento e encostou-se novamente na cama.
Harry a fitava ainda esperando uma resposta e Lucy olhava agora fixamente para Anthony.
Queria tranquilidade, queria fugir de tanto terror. O que precisava fazer para conseguir isso?

N/a: Eis mais um capítulo! Não sei como escrevi 24 páginas em tão pouco tempo. Ia postar ontem, mas não tive tempo de revisar. Entretanto fui rápida, ok? u.u
Suhushushuhsuhshssshua
Sério, foi um recorde lindo esse.
O que acharam do cap? O que pensam do Anthony? Tadinho do meu bebê ):
Bem, já são 23:25 então não vou ficar me atendo a detalhes agora, sorry.
O que importa é que postei O/
A música é Sweet Dreams (Are Made Of This) na versão do Marilyn Manson, esotu viciada nessa música e recomendo para quem curte melodias mais pesadas e um pouco macabras. Mas para quem não gosta, pode ouvir pela versão da Annie Lennox e David Stewart. Aliás, escrevi esse capítulo inteiro ouvindo Marilyn Manson :\
O negócio sobre a câmara secreta e o basilisco na conversa da Hermi e da Lucy eu tirei do Twitter, tem cada cantada tosca por aí! sushsuhssuhus 
(Momento em off) Assisti HP7 e nadei em lágrimas, cara, foi perfeito esse filme *---*
Então é isso até o cap que vem!
E lembrem-se, comentários animam um autor SEMPRE :*