14 julho, 2011

Cap. 4 - Entrevista com a Serpente



Cap. 4
Entrevista com a serpente

– A pergunta agora, jovem Malfoy, é só uma: Você quer ouvir a minha história?
A proposta de Steiner ecoou pela sala durante um longo tempo. As mãos de Draco permaneciam frias e suavam, sem ele sequer saber o motivo disso. Sentia certa raiva por aquele homem estar praticamente o desafiando, dizendo o quão estúpido fora as suas decisões até aquele momento. Não precisava de ninguém para perceber a verdade, muito menos dele.
Entretanto, sua curiosidade praticamente gritava, implorava para que o comensal contasse tudo, sobre Lucy, sobre a Guardiã Moore e, principalmente, a relação que Hermione tinha com ele. Esse novo fato, dela conhecer Steiner, era preocupante demais.
– Estou à sua disposição, Sr. Steiner – Draco falou com uma voz ácida e se sentou num sofazinho que havia na sala.
– O que eu ganho com isso? – o homem mais velho perguntou, desafiador.
“Maldito!” Draco pensou irritado com aquela atitude.
– Você ofereceu-se para contar sua história, caso não tenha percebido. Posso muito bem desempenhar o papel de psicólogo enquanto você fica aí, apenas falando, ou deseja também um divã?
– Draco! – Hermione o censurou.
– Quanta prepotência, jovem Malfoy – Charles debochou divertido e olhou para Hermione. – Como conseguiu se envolver com um estúpido como ele?
As bochechas de Hermione coraram levemente e seus olhos castanhos piscaram de forma mais rápida.
– Isso não importa. Se há alguma verdade a ser dita, ela deveria ser dita a mim, não a Draco, ele não tem nada a ver com tudo isso.
– Não sabia que pensava desse modo, Srta. Granger, pensei que vocês já tinham chegado à conclusão de que o que enfrentam diz respeito aos dois.
– Alguém pode me situar nessa conversa? – Draco protestou com raiva. – O que diabos diz respeito a mim e a Hermione?   
– A Pedra do Destino. – Charles sussurrou. – estão ambos presos a esse objeto que nem sequer enxergam a situação do outro.
Hermione fitou Draco e percebeu o silencio sepulcral que se instalou na sala. Charles contaria a Draco sobre o seu destino como Guardiã? Revelaria seus sonhos estranhos ao sonserino, mesmo sabendo que ele trabalhava para Voldemort?
Não. Ele não faria isso, não quando Draco estava mais confuso do que nunca, em meio a uma horda de comensais e adolescentes assustados.
– Charles, estamos perdidos, Draco e eu. – Hermione sussurrou e os olhos castanhos do homem se mostraram ainda mais cansados.
Ele cedera, deixara que as perguntas viessem, olhando-os calmamente e pensando num modo de responder às dúvidas daqueles jovens sem deixar vir à tona o destino perigoso de ambos. Era como brincar num campo minado, Steiner nunca sabia quando uma palavra errada iria explodir na sua frente.
– Quem Juliette é realmente? Por que ela me procura em sonhos? – Hermione contestou e Draco franziu o rosto, não fazendo ideia de quem diabos era a tal Juliette.
– Juliette somente a orienta. Ela sabe sobre tudo, Granger, e representa a mais perfeita guardiã. Poder, equilíbrio, dedicação. Trágica foi a sua morte e o seu destino.
O loiro suspirou, lembrando-se das longas conversas que tivera com a fantasma, no passado, junto com Melanie. Os dois tão jovens e talvez mais confusos do que Granger e Malfoy à sua frente.
– Por que foi assassinada?
– Pense, Hermione. Ela era jovem e bruxa, naquela época tudo era diferente. Pessoas como nós eram perseguidos, queimados e sabem-se lá mais o que; Muitos conseguiram fugir, e recorreram à magia, mas Juliette era uma princesa altamente conhecida, prometida a um homem e apaixonada por outro. Mesmo fugindo com Gerhard e tendo a proteção de Thierry, ela foi encontrada e pouco podia fazer contra seus opressores, principalmente o pai.
– Quem é Gerhard e Thierry?
– Thierry era seu primo e melhor amigo, com quem deveria se casar – Charles principiou – era um príncipe também, e embora a amasse, sabia que nunca a teria. Juliette tinha o coração livre e o único que a tinha verdadeiramente era Gerhard. Mas ele era apenas um plebeu, o casamento entre eles nunca teria acontecido, visto que um plebeu seria sempre um plebeu e um nobre, um nobre.
– Isso parece com aquelas histórias infantis sobre reinos distantes... – Draco comentou enquanto arrumava-se na cadeira em que estava e soltava um som de tédio.
– Pois foi real e aconteceu na França, no século XV, e deveria saber dessa história, Sr. Malfoy, visto que você só existe por causa dela.
– Como é? – o loiro perguntou agora interessado, mas conservou o seu deboche. – Eu existo só porque uma mulher foi assassinada?
O olhar frio que Steiner lançou ao garoto foi o que bastou para o seu tom de escárnio desaparecer. Concluiu que deveria ao menos colaborar com o homem antes que ele desistisse de revelar algo.
– Não. Você existe porque essa mulher teve dois filhos. Gêmeos, na verdade. Apollon e Alexia, filhos de Gerhard. As duas crianças não morreram com os pais, foram protegidos e vieram para a Inglaterra, tendo sido criados pelo irmão de Gerhard.
– Ainda não entendo o que isso tem a ver comigo. – Draco resmungou, embora sua linha de raciocínio lhe dissesse o contrário.
– Gerhard era um Black, o único motivo para ele estar na França era os seus estudos. Ele amava pesquisar sobre artefatos mágicos. Quando percebeu o que aconteceria a ele e à mulher, trouxe seus filhos para cá, para poupá-los e escondê-los.
– Está dizendo que a família Black surgiu disso?
– Não, eles foram só parte dela. Os Black já existiam desde muito antes, mas Apollon deu origem à parte da família que diz respeito àquela tapeçaria antiga no Largo Grimmauld.
– Que tapeçaria? – Draco questionou confuso.
– Há uma árvore genealógica lá, e seu nome está nela. E também faltam muitos nomes lá. – Hermione murmurou olhando para o loiro. – O largo grimmauld foi o lar dos Black, foi onde Sirius viveu.
“Como Hermione pode conhecer mais sobre os Black do que eu?”
– Se você procurar – Charles continuou. – Irá encontrar um nome destruído ao lado de Walburga e Cygnus Black. Ambos tinham também uma irmã, Alecto, e não, essa Alecto não tem nada a ver com Alecto Carrow, a qual você conhece, Malfoy. Ela nunca foi uma comensal e casou-se com Joachim Steiner, mas fugiu, deixando seus dois filhos com o marido, o que a fez ser retirada da tão querida árvore dos Black. E a propósito, ela é minha mãe.
Hermione engoliu em seco.
– Procure também pelo nome Charles, sozinho, apenas ligado a Joachim, já que não se deram ao trabalho de acrescentar o nome da minha irmã abortada, nem o de minha mulher sangue-ruim e da minha filha mestiça.
Draco e Hermione se entreolharam, percebendo o tom de amargura na voz do homem. Finalmente ela sabia um pouco mais sobre Charles e agora tinha tanta certeza se deveria insistir em saber mais.
– Por que a Sra. Steiner foi embora? – Hermione perguntou relutante.
Um riso sarcástico escapou dos lábios de Charles e ele fitou Hermione com certa superioridade, um orgulho ferido que ela reconhecia de longe, o orgulho Black, que tanto vira em Sirius e em Bellatrix.
– Ela não amava o marido e tampouco queria vê-lo voltar-se para a Arte das Trevas. Ela sabia desde o começo que essa seria também a minha sina.
A respiração de Hermione estava branda demais e por alguns instantes ela não viu Steiner à sua frente. Os pensamentos do homem eram fortes e remontavam ao passado, levando até mesmo a mente da grifinória junto com ele.
Uma menininha loira estava sentada de frente para uma lareira e brincava animada com uma boneca de pano. Seus cabelos eram sedosos e davam-lhe um ar infantil, enquanto os olhos azuis amadureciam-lhe a face. Não parecia ter mais de quatro anos. Ela olhava para o irmão, mais velho, já com seus poucos sete anos. Era tão loiro quanto ela, tão belo quanto poderia ser e concentrava seu olhar num ponto fixo no fogo da lareira. Fazia frio no lado de fora, mas a casa, aquecida magicamente, não deixava vestígios da neve gélida.
O fogo cambaleou por um instante e uma faísca pulou para fora do fogaréu, indo para o carpete e quase se aproximando do menino. No entanto, a chama se apagou repentinamente e o menino ficou ali com seu olhar triste e resignado.
– Quantas vezes preciso dizer para não brincar com fogo, Charles? – uma mulher perguntara enquanto guardava sua varinha nas vestes e sentava-se entre as duas crianças. – É perigoso, querido. 
– Quando vou poder fazer magias, mummy? Quando vou ter uma varinha?
A mulher suspirou, desde que o menino começara a fazer magias, aos seis, aquela pergunta se repetia dia após dia. Respondera mais uma vez e outra pergunta viera.
– E quando eu vou para Hogwarts?
Ah, a fase das perguntas! Para Charles o mundo transformara-se num porquê infinito, para Louise, no entanto, era ainda uma quietude marcante. Enquanto o menino não parava um só minuto de falar, a irmã fechava-se num mundo silencioso e só dela e de sua bonequinha.
Os olhos castanhos de Hermione, antes desfocados, voltaram a fitar a sala fria. Charles a encarou com certa raiva no olhar, mas se conteve. Sabia que a garota faria aquilo de novo, era curiosa demais para não usar seu poder e perder a oportunidade de espionar seu passado.
Draco nem ao menos se deu conta da mudança de atmosfera.
– Você disse que essa maldita coisa de guardiã passa de pai para filho, disse que os gêmeos da Guardiã deram origem aos Black – o sonserino retomou a fala. – Você é um Black assim como eu. Portanto quais são as chances de Lucy ser a guardiã sendo sua filha e de Moore?
Um sorriso se pintou no rosto do homem. O jovem Malfoy estava perto demais da verdade.
– Grandes chances, mas você deveria perguntar isso a ela. Eu, Melanie e Lucy somos perfeitos exemplos da manifestação desse poder, mas eu não acho que ela seja a escolhida pela pedra.
– Merlin! Estamos falando de uma pedra como se ela tivesse vontades. – Draco reclamou passando a mão esquerda em seu cabelo dourado.
– E tem – Charles rebateu ainda calmo. – Ela se alimenta da mente de quem a usa, e se seu usuário deixar, sua alma pode até mesmo ser consumida.
– Nenhum livro me disse isso! – Hermione protestara com raiva e surpresa. – Você não me disse isso nunca!
– Wolhein sabe, ele e Lucille estavam estudando sobre isso há algumas semanas, bem antes das férias.
– Oh céus! Wolhein sabe sobre tudo isso?! – Draco perguntou virando-se bruscamente para Hermione. – Quem mais? Potter? Weasley?
A garota acenou com a cabeça, confirmando. Draco apenas soltou uma careta por estar irritado. Não era o único idiota que estava preocupado com aquela maldita pedra.
– Bellatrix, minha mãe, o Lorde das Trevas ou qualquer outra pessoa sabe disso tudo? Que Black’s estão ligados à pedra?
– Sua mãe sabe. Eu mesmo contei a ela. Mas se ela mesma não revelou nada ao Lorde, você faria isso? Iria expor o segredo de sua família?
– Acho que não posso mais fazer isso. – Draco suspirou controlando seu gênio impulsivo. – Não agora. Mas o que farei? Não sei como mentir para um bruxo mais poderoso, preciso mandar informações a ele e vê-lo face a face, às vezes.
– Bella foi burra ao te tornar seu pupilo, meu jovem, ela te mostrou como ser forte, agora aplique o que aprendeu em sua vida. Seja frio e não se importe, quando isso lhe convier. Fortaleça sua mente e o manipule. Tudo o que você tem feito até hoje foi por impulso, e se nada funcionou. Troque sua abordagem, aprenda com Hermione também.
Draco a olhou desconfiado, tentando entender o que Steiner queria dizer. Parecia-lhe um conselho vazio. O que aquela garota sabia sobre autocontrole? Ela era a Srta. Grifinória perfeitinha, a sabe-tudo da escola. Agora tornara-se apenas uma sombra do que era. Sua personalidade era tão fria como o gelo. Deveria tornar-se tão desprezível quanto ela? Não, Hermione não tinha nada a ensiná-lo. Ela era apenas uma versão magoada e indiferente de uma sonserina. A leoa adormecera dentro da garota e uma serpente assumira o controle.
– E o que eu devo aprender com ela? – perguntou ainda olhando-o de cima a baixo com sorriso cínico e nada apropriado.
As faces da garota se enrubesceram e ela sentiu-se ofendida.
– Pode aprender a ter um cérebro, por exemplo! – ela atirou.
Ambos se fitaram. Ele ainda cínico e ela, com raiva.
– Hermione Granger é uma nova bruxa e eu tenho certeza que você percebeu isso, jovem Malfoy. Você mesmo já duela de igual para igual com ela e a entende. Ela sim é a sua pior inimiga, pois é a única que sabe como causar estragos na sua vida, como fez recentemente.
A verdade naquelas palavras fez o sorriso do sonserino sumir e a grifinória, por sua vez, sorriu vitoriosa.
– Essa não é a Hermione que conheci, não mesmo – Draco respondeu dando as costas para eles e voltando ao seu lugar. – Agora me fale sobre Lucy. Por que ela não está nessa sala, ouvindo tudo conosco, quando ela é quem mais merece conhecer a verdade?
– Lucy não entenderia. Ela está esperando encontrar um pai ausente e que nunca conheceu. Ela quer um pai que a ajude e a ouça e, no momento, eu não posso ser esse pai.
Draco franziu a testa, deixando claro seu protesto contra o homem.
– Ser pai não é um trabalho temporário, não é algo que se pode fazer num dia e abandonar no outro. Deveria ter pensado nisso 16 anos atrás!
– Já tentou dizer isso ao seu próprio pai, Malfoy? – Steiner contestou.
Aquela pergunta, tão simples, foi uma pancada em Draco. Um soco forte no seu estômago. E ainda assim, ele sorrira; Um sorriso frio, cheio de mágoa e crueldade, algo que estava consumindo-o de dentro para fora. Um bolo formava-se em sua garganta e seus olhos se esquentaram repentinamente. Não iria fraquejar. Não na frente daquele homem horrível.
– Acha que me revidar mudará sua situação frente à Lucy? – Draco contestou. – Você nunca esteve do lado dela, nunca. Agora eu vejo que ela tem sido tola por querer conhecê-lo, uma serpente escorregadia e venenosa.
Draco percebeu o movimento rápido do homem e imaginou sua mão pesada comprimindo seu pescoço, entretanto, o aperto não viera, tampouco o toque de suas mãos na sua pele. A única coisa que o tocara foi o corpo de Hermione no momento em que ela tomara sua frente. Ela estava numa pose de duelo. Inflexível e decidida, com a própria varinha apontava para o pescoço alvo de Charles Steiner.
– Pode ser meu mestre, Steiner, mas não atacará ninguém essa noite.
Um sorriso gélido brotou na face dele, compreendendo muito bem o significado por trás das palavras da menina.
– Eu apaguei a memória da minha filha – o comensal falou ainda com a varinha da grifinória em seu pescoço. – Apaguei onze anos em cinco segundos.
Hermione não resistiu, a mente de Charles chamava a dela. Dessa vez ela não invadira nenhum pensamento, fora colocada lá dentro da mente do homem, como se fosse uma transeunte que prestava toda a atenção ao movimento frenético de uma avenida.
Os olhos castanhos da menina estavam atentos a tudo, prestava atenção aos adultos que conversavam animados e nos sorrisos de um homem em especial. Queria mais do que tudo chamar sua atenção para que pudessem voltar às suas brincadeiras divertidas. Mas ele não a via.
Sua boneca já não era tão interessante quanto parecera antes. Começou a engatinhar e alcançou as pernas de uma cadeira. Ele não a via ainda.
Os olhinhos ameaçaram derramar lágrimas, mas não seria vencida ainda. As mãos pequeninas agarraram a base da cadeira e ela tentou em vão levantar-se.
Caíra.
Mais uma vez tentara ficar apenas sobre os frágeis pés e conseguira. Não era tão difícil quanto pensara. O vestidinho ocre estava ligeiramente amassado, mas conferiam à menininha toda a doçura do mundo.
Repentinamente ela levou um pezinho para frente e teve a impressão de que conquistava o mundo. Outro passinho e já havia esquecido como chegara até ali.
– Ah meu Merlin! – ouvira papai dizer e se distraiu.
Atrapalhou-se nos passos quando ergueu as amêndoas castanhas para fitá-lo e ganhou o chão de repente. Todo o seu trabalho para ficar em pé dissolveu-se, entretanto conseguira a atenção dele.
As mãos do homem a levantaram e a menininha viu-se no colo dele.
– Melly, você viu isso?
– Sim, Chuck, eu vi – a mulher falou divertida. – Não seria melhor colocá-la no chão para que aprenda direito a andar?
O homem não ouviu a esposa, ficou apenas fitando, maravilhado, a menininha e sua atenção já não era da mulher.
– Nunca vi alguém provocar isso em Charles. Nunca vi um homem tão centrado ser subestimado por uma criança – uma voz nova falara, mais arrogante e com um ar parecido com o de Charles.
– Ora, Ciça. Eu apostaria minha vida como Lucius age de forma parecida com Draco. – Melanie disse rindo.
Narcisa riu e sua beleza era evidente em cada feição, desde os fios loiros até os olhos frios e azulados. Ela olhou para o menininho no chão, que brincava animado com alguns livros infantis velhos. O loirinho apenas fitava os desenhos de forma indiferente, e seus olhinhos azulados procuraram a mãe quando percebeu que rasgara parte do papel velho. Sua carinha inocente e ao mesmo tempo culpada divertia Narcisa profundamente.
– Lucius é louco por esse meu príncipe! – a mulher dissera.
– Por quê? – Hermione gesticulou agora fora das lembranças do comensal. – Eu não entendo. Por que agir desse modo com Lucy?
– Eu fui preso duas semanas depois que ela entrou em Hogwarts. Fiquei naquela maldita prisão durante cinco anos praticamente. Pouco, se comparado a outros prisioneiros, mas o suficiente para perturbar a cabeça de qualquer pessoa. Eu estava certo de que seria beijado por um dementador e teria fugido de lá há muito mais tempo, se conseguisse pelo menos me transformar. Mas minha magia estava tão ausente quanto meu espírito.
Charles tinha um olhar insano ao narrar aquilo e Draco puxou Hermione ligeiramente para longe do homem. Sabia o que era aquilo. Vira o mesmo olhar em Bellatrix, quando ela fugira também de Azkaban. Aquele lugar só guardava horror e sombras.
– Você foi quem a ensinou a duelar, não foi? Ensinou coisas a Lucy antes mesmo que ela tivesse idade para estudar...   
– Lucy é talentosa e não queria esperar Hogwarts para aprender. Eu ensinei a ela pequenos truques, como se defender e feitiços básicos. Lucius fez o mesmo com você, Malfoy.
– Lucius não é um pai modelo. – Draco gesticulou.
– O que aconteceu com o menino que tinha o pai como Deus? Você queria ser exatamente como ele, meu jovem...
– Coisas mudam, exemplos acabam decepcionando.
– Não vire as costas para Lucius, você sabe muito bem o motivo para ele agir como age. O Lorde das Trevas é a sua prioridade. Destrua esses pensamentos, Draco. Lute contra aquilo que lhe faz mal.
– E como você tem feito isso? Apagando a memória da própria filha?
– Quanto menos ela soubesse sobre mim, mais protegida estaria, isso foi decisão minha e de Melanie. Agora, adoraria sair dessa sala abafada, já disse coisas demais.
– Não, não disse. Ainda não entendo o que fez com Lucy.
– Mas que droga! Já perceberam o poder da mente dela, acha que ela lidaria bem com um comensal a caçando, roubando informações sobre mim e sua mãe? Lucy é a chave de tudo, suas lembranças, se viessem à tona e caíssem nas mãos das trevas, decidiriam essa guerra. Ela sabia demais e eu... eu não poderia protegê-la.
– Não acha que é tarde para pensar nisso, principalmente agora que ela...
– Draco! – Hermione o repreendeu, sabendo perfeitamente que trazer o problema de Lucy para a conversa só pioraria as coisas. – Lucy vai ter que se virar sem o pai, como tem feito até agora.
– Mas, Hermione...
A garota virou-se para o loiro e segurou sua mão fria. Os olhos castanhos perfuravam os azuis de um modo desconcertante e Draco via ali que talvez ela estivesse certa. Nem mesmo Steiner poderia ajudar a filha.
– Como diabos consegue ser uma filha da mãe numa hora e depois muda completamente de atitude? – Draco contestou ao notar aquilo.
Hermione suspirou e sorriu.
– Do mesmo jeito que você muda da raiva para a ironia.
Ao virar-se novamente para o homem mais velho Hermione percebeu que agora ele fitava a noite pela janela da sala. 
E intencionalmente penetrou em sua mente mais uma vez naquela noite.
– Eu não quero ir para a cama, mamãe! – a loirinha protestara agarrando-se aos lençóis da cama dos pais. – Tem um bicho papão lá!
Charles deu uma risada alta e divertida e agarrou a menina pela cintura, puxando-a.
– E onde está a bruxa poderosa que irá enfrentar ele, hein?
– A mamãe não é poderosa – ela resmungara.
– Hey! É claro que eu sou! – Melanie dissera com uma falsa cara ofendida.
Charles olhou de uma para a outra de forma divertida.
– Pare de mentir Melly – dissera provocando a mulher e se virou para a menina. - Eu não estou falando da mamãe, senhorita Lucille...
– Eu estou cansada demais para enfeitiçar ele, papai!
– Cansada? Então vá dormir, pequena.
Charles viu a carinha marota dela e percebeu quando a menina se enroscou mais nos lençóis da cama dele e de Melanie. Seus poucos cinco anos já revelavam uma natureza completamente teimosa e independente. Já era difícil convencê-la a ir para a própria cama e a arrumar sua bagunça infantil. Nem queria imaginar como seria dali para frente, principalmente quando sua magia se manifestasse.
O loiro se jogou de bruços sobre a cama repentinamente e empurrou Lucy para fora, surpreendendo até mesmo Melanie.
– Hey! Isso não vale! – a loirinha reclamou e tentou em vão recuperar o seu lugar. – Mamãe!
A mulher apenas riu e a pegou no colo, levando-a para o próprio quarto. A menina, embora não admitisse, estava cansada demais até mesmo para recusar novamente ir para o quarto.  
– O que houve com seu pai?
– Morreu na Primeira Guerra Bruxa, um auror o matou.
– E sua mãe e irmã?
– Nunca mais vi minha mãe, acho que ela não voltaria para ver o filho como um comensal. Mas Louise vive na França, nunca pode ir à uma escola de magia, já a magia nunca lhe aflorou, por isso vive como uma trouxa. Pelo menos lá ela está segura.  
– Pelo que luta? Qual a razão para seguir Voldemort?
– Não diga esse nome, Srta. Granger. É amaldiçoado. – Charles sussurrou ainda fitando o céu negro. – De qualquer modo, luto por Lucy, embora seu namorado duvide disso.
– Draco não é meu namorado. – Hermione revidou com raiva.
– Continue repetindo isso e em menos de dez anos se verá casada com ele.
O rosto de Hermione tingiu-se com uma cólera controlada enquanto o sonserino se deliciava com sua expressão.
– Preciso partir – o comensal sussurrara, ainda perdido em seus pensamentos.
A varinha fora levantada, seu pulso continuava naquela posição sem conseguir lançar feitiço algum. A menina dormia um sono doce e profundo. Os cabelos loiros, tão longos e cacheados, se espalhavam pelo travesseiro. Em menos de um mês era conheceria o melhor lugar do mundo. Ela encontraria um segundo lar. Hogwarts a aguardava.
Alguém fungara atrás de si e, olhando para trás, vira Melanie derramar uma lágrima.
Virara-se novamente para a garotinha. Tão serena.
Tão dona de si.
Como ela encararia isso, se um dia soubesse? Traição?
Os olhos dela se abriram repentinamente e arregalaram-se. Apenas isso bastara para que ele murmurasse o feitiço, o mesmo que destruiria sua vida.
“Obliviate!” dissera o olhar da menina tornou-se desfocado.
Era uma Black. Uma Steiner. Mas não se lembraria disso.
“Adeus, Lucy” murmurou e não percebeu uma lágrima escapar de seu olho esquerdo. 
– Devolva minha varinha, Srta. Granger. – Charles murmurou, expulsando a grifinória de sua mente.
Ela já sabia demais. Sobre ele, sobre a pedra. Cabia agora a ela mesma descobrir mais sobre si. Sozinha.
Hermione pegou as duas varinhas que guardara consigo e destrancou a porta com um floreio. Charles adiantara-se para ela e pegou a varinha que lhe foi oferecida.
Os olhos castanhos caíram por um momento sobre a garota e ali permaneceram, guardando-lhe as feições.
– Não fuja dos sonhos, Hermione. Por mais terríveis que lhe pareçam, ainda são úteis – murmurou, sabendo perfeitamente o que passava pela mente da grifinória.
“Ele sabe... Sabe que estou tomando poções para dormir sem sonhar. Mas que culpa tenho eu se essa é a única forma que encontrei para me livrar de pesadelos tão horríveis?”
Charles Steiner saíra e deixou Draco Malfoy e Hermione Granger para trás. A garota olhara para o sonserino e viu ali um olhar distante e frio.
– É certo deixá-lo ir? Sinto como se estivesse traindo Lucy.
Hermione o entendia perfeitamente. Sentia o mesmo desde que vira o comensal na França.
– Isso não é sobre eu ou você, Draco. É a escolha que fizeram. Steiner não quer ser encontrado, por ora, e Lucy já desistiu de buscá-lo. Ambos têm problemas muito maiores e pode discutir o quanto quiser, Draco, mas uma aproximação agora só pioraria as coisas.
O loiro a fitou, pálido e fraco. Hermione era o cérebro, era quem pensava em tudo antes que ele sequer cogitasse um problema. Ela deveria ter razão.
“Merlin! Parece que faz horas que estivemos na sala precisa!” pensara consigo.

***

Lucy mirava Anthony com um sorriso completamente insano e cruel. Queria dizer a verdade ao corvinal, mas as palavras fugiam da sua mente. A coragem lhe faltava e a razão se esvaia dela aos poucos.
– O que quer de mim, Wolhein? – a loira perguntou afetada pela aquela situação.
A lembrança dos lábios de Anthony pressionando os de Granger estava cravada no fundo de sua mente perturbada.
– Você.
“Previsível... e clichê” Lucy pensou com raiva, mas ainda assim seu rosto esquentara e o estômago dera um solavanco repentino.
– E espera conseguir isso se atirando na primeira que encontra? Por favor... não seja estúpido ou tente me fazer de idiota.
A garota deu um passo para trás fazendo menção de sair dali, mas ele a deteve.
– Você acabou de dizer que me mostraria a real Lucy, se eu desejasse.
– Você sabe muito bem como sou. Controladora, instável, manipuladora e desprezível. Eu armo contra as pessoas e nem sequer sinto culpa pelas consequências. O meu erro sempre foi me importar demais. Hoje só tem uma pessoa a qual eu confiaria.
– Malfoy?
– Malfoy.
Silêncio. De um lado Anthony continuava a fitá-la e Lucy evitava seu olhar.
– Está com problemas. Sei disso e queria ajudá-la.
– Por que não se preocupa com sua própria vida? 
Um olhar magoado surgiu no rosto dele. Anthony sentou-se no chão frio, incapaz de permanecer em pé diante da loura.
– Acha que é fácil viver de aparências? Eu luto todo dia para que meu segredo não venha ao conhecimento de ninguém. Não sabe o que é viver com medo de que...
– De que as pessoas o julguem. – Lucy completou. – 99,9% das pessoas têm o mesmo medo.
Cruel. Era isso que poderia definir Lucy perfeitamente. Os lábios avermelhados dela exibiam um sorriso perverso e ele poderia jurar que ela estava pensando em formas de humilhá-lo, de atingi-lo.
E Tony não se importava, porque de certa forma, isso era uma válvula de escape para a menina.
Desde quando se tornara submisso a ela? Não sabia, mas deseja retornar ao tempo em que sua maior preocupação era onde levar uma garota num encontro ou em como tornar-se o melhor no quabribol.
Desde quando Lucy Moore tornara-se tão essencial?
Naquele corredor frio Anthony olhou para uma janela e através do vidro fitou o céu, onde uma lua crescente brilhava. Na noite seguinte fitaria uma bela e terrível Lua Cheia.
– Eu não entendo. Por que é tão cruel comigo? – perguntara sem encará-la.
A pergunta a pegara desprevenida e ela bobeou por um instante.
– Eu não... eu não sou...
– Sempre tem algo perverso para dizer, algo para criticar. Sempre acaba tentando me ferir.
– Isso é mentira! Eu não faço isso, apenas não suporto sua atitude e...
– O que somos? – Anthony a cortou, finalmente a olhando.
Isso a calou completamente. Arregalou os olhos, lembrando-se do modo como ele a beijava tão repentinamente e em como sua mão a segurava firmemente, como se tivesse medo de que voasse para longe, como um pássaro.
You don't own me
I'm not just one of your many toys
You don't own me
Don't say I can't go with other boys
Tentou gesticular algo, mas gaguejava como uma criancinha amedrontada.
– O q-que somos? – repetiu, como se não acreditasse no que ouvia. – Ora, nós... nós...
Não tinha uma resposta para isso, para como se pela primeira vez na vida estivesse se deparando com teorias complexas demais para sua mente jovem.
Anthony levantou-se e ela deu um passo para trás, como se quisesse fugir. Por Merlin! Por que inferno simplesmente não o largava ali? Por que se importava com as vadias que ele beijava?
– Eu quero uma resposta – o rapaz cobrou.
Don't tell me what to do
Don't tell me what to say
Lucy deu mais um passo para trás e o que suas costas encontraram foram apenas uma parede dura. Quando percebeu, Anthony a prendera ali ao colocar seus braços também na parede de pedra fria.
Encurralada.
– Anthony, eu não...
– Nós somos...?
Don't try to change me in anyway
Sua respiração era tensa e descompassada. Num minuto era a Srta. Arrogância e no outro essa menininha sem reação. Como poderia?
Tinha mil coisas na cabeça, coisas que a preocupavam e que a destruiriam, parecia idiotisse estar ali, tendo uma conversa como aquela com Anthony Wolhein, era quase tão inútil do que Ronald Weasley ter sensibilidade para com ela.
“Por que diabos estou pensando no Weasley? E por que Wolhein não me deixa em o paz?”
Será que ele não compreendia que não queria ajuda de ninguém?
Perguntas como aquelas que ele lhe fazia a perturbavam.
– Precisa parar de construir esse muro tão alto ao seu redor, Lucy. Precisa deixar as pessoas se aproximarem.
So just let me be myself
That's all I ask of you
– Para que? Para que possam ir embora? Pessoas parecem fazer um curso especial de como abandonar Lucy Moore.
Afastara-o, empurrando-o para o lado e saíra dali, sem uma direção certa. Sabia apenas que não aguentaria continuar ali com ele a pressionando.
Correr parecia-lhe a única solução no momento.
Correr de Wolhein. Correr do mundo.
Por que ninguém se importaria com seus sentimentos.
Mamãe estava morta.
E o pai a renegara.
Estava fadada a um destino marcado pelas sombras e pela morte.
Por que arrastar Anthony com ela? Ou ele acabaria morto, ou certamente depressivo.
O corvinal tinha seus próprios problemas para lidar.
 Lucy parou de correr. Encostando-se numa pilastra. Cansara-se de tudo. De sua vida, das pessoas. O que estava fazendo consigo mesma? Desejava Anthony, queria-o. Voltaria para ele naquele mesmo instante e pouco se importaria com o mundo. Era egoísta e o teria somente para si, mal importando-se se isso arriscaria a vida dele.
Mas tudo o que a segurava era um maldito orgulho. Como saber se ele não iria quebrar seu coração em pedacinhos? Como ter certeza de que seria a única?
I'm young and I love to be young
I'm free and I love to be free
To live my life the way I want
To say and do whatever I please  

N/a: O cap ficou curtinho, eu sei, mas pensem no último, ok?
Primeiro: Eu não postei antes porque estava ocupada com uns projetos novos, então deixei a fic de lado por um tempinho. Estou de férias, então vou tentar postar pelo menos o cap 5 e 6 ainda esse mês. Sim, isso é um desafio a mim mesma. E falando nisso, provavelmente serão capítulos de 15 pags aproximadamente.
Esse cap 4, foi feio especialmente para o Tio Steiner, quem gostou dele hein? É um pai ruim, na minha opinião, que os fins não justificam os meios, mas... sei lá, ele é um personagem interessante ;D
Draquito entendendo as coisas finalmente e Hermione ainda meio confusa, ah ela ainda está voltando aos poucos ao que era. Afastar os sonhos e aproximar-se do Draco ajudou nisso, mas até quando essa trégua deles vai durar?
Lucy mais e mais confusa e não cede ao nosso querido Wolhein ):
Falando nisso... acho que as coisas vão esquentar no próximo cap. O que pode aconteceu numa noite de lua cheia?
Ah! Outra coisa, mal acredito que amanhã verei Relíquias da Morte D:
Só por causa disso, irei tentar postar o cap 5 em uma semana. Ok, vou me arrepender por estar trabalhando com prazos, mas espero conseguir.
Os trechos que aparecera nesse cap são da musica You don’t own me da Joan Jett, recomendo ^^


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