25 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Prophecy

Narração by Hermione

O ambiente estava pesado, contrastando de uma forma assustadora com o lugar agitado e divertido onde eu estava antes. Em um minuto tudo parecia que daria certo e no outro, o mundo jogava minhas teorias no lixo e mudava tudo. Talvez toda a felicidade que eu sentia nesses dias iria embora, eu pressentia.

Era como se ninguém tivesse o direito de ser feliz, de viver bem. Mas de certo modo, um lado mais sombrio meu já esperava por isso. Olhei para a cadeira ao meu lado onde Draco estava e percebi sua expressão calma, embora eu soubesse que aquilo era apenas uma máscara. Sua defesa natural.

Eu tinha suas armas e essa era a mais eficaz, pois na medida em que todos demonstravam preocupação, ele estava ali com seu olhar frio, inabalável e forte. Era o que todos viam, mas eu sabia que Draco estava tão nervoso tanto eu. Vi um breve deslumbre de Lucius em seus olhos, mas se um dia revelasse isso, Draco não gostaria nada.

Abaixei meus olhos. Por que tudo tinha que ser tão difícil? Paz não bastava?

Fora então que eu senti a mão gelada de Draco sobre a minha por baixo da mesa, tentando me confortar. Sorri e respirei mais fundo. Nesse momento fitei a sala. Os móveis eram nobres e negros, tendo vários entalhes em ouro. Eu não havia entrado nessa sala do ministério ainda e só então reparei que essa sala era raramente usada ou freqüentada, pois eu não era a única apreciando o lugar.

“Compareça ao ministério urgentemente, no nível oito, para uma reunião da máxima importância.

Kingsley Shacklebolt”

A mensagem do ministro parecia não querer sair da minha cabeça, eu havia relido ela duas vezes na boate para então me dar conta de que algo acontecera.

Emily estava à minha esquerda e respirava levemente, embora seu olhar focado no nada me revelasse que ela estava sim, preocupada. Todos estavam.

Repentinamente a porta foi aberta e vi meus dois amigos entrando na sala com Kingsley. Pelo menos eles também estavam ali, embora eu não soubesse se ficava feliz ou triste por eles envolverem-se nisso.

Relaxei, de qualquer forma. Eles me mandaram um olhar e então eu soube. O que nos havia trazido aqui era importante... e perigoso.

Kingsley indicou os lugares para os dois e enfim estavam todos reunidos ao redor da mesa de mármore, tão alva e gélida.

–Sinto muito por convocá-los há essa hora crítica – o homem negro começara – Mas a verdade é que a situação é séria e precisamos a todo o custo resolvê-la.

Levantei meus olhos que estavam pregados na superfície da mesa e olhei para o Ministro da Magia. Eu reconhecia ali a mesma determinação de quando não era ainda o chefe de todo o ministério, quando precisamos lutar contra Voldemort.

–Cada um de vocês está aqui por causa dos seus respectivos departamentos. Preciso da cooperação de todos vocês. Agora... Ronald Weasley, poderia contar aos presentes o que discutimos?

Olhei para Rony do lado oposto da mesa e reconheci certa hesitação e talvez até medo, no entanto, ele prosseguiu.

–Esta noite eu estava com uma amiga, a qual prefiro guardar o nome para protegê-la. Há uma hora aproximadamente ela entrou em uma espécie de transe e disse certas palavras. Uma profecia, para falar a verdade.

Rony pegou um papel no bolso da blusa e o deixou em cima da mesa, apontou sua varinha para ele e cópias voaram para cada pessoa presente naquela sala. Senti medo de ler, mas ainda assim, peguei minha cópia e a abri.

–Essas foram as palavras exatas dela.


À última badalada da noite mais longa um servo d’Aquele outrora o mais temido irá tentar trazê-lo de volta ao júbilo, mas será com o sangue de um inimigo que as trevas novamente assolarão. Guerra e terror. Seus partidários pressentirão sua chegada antes de qualquer outro e um justo terá que cair para restabelecer a ordem.


Um servo. O mais temido. Júbilo. Partidários. Guerra.

Eu deveria estar sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo. Todas aquelas palavras me diziam apenas uma coisa, e eu sentia medo. Um medo genuíno e o mais primitivo de todos. Eu estava apavorada, podia lembrar-me das noites mal dormidas naquela barraca com Harry e Rony. Podia sentir os feitiços de morte que tentaram me lançar. E via o olhar de cada morto na batalha em Hogwarts.

Agora minha respiração estava densa, eu quase não conseguia puxar o ar para meus pulmões. Era difícil. Eu ouvia poucas palavras do que estava sendo dito e sentia um suor frio em meu corpo, acompanhado de um arrepio em minha espinha.

–Não podemos afirmar nada, mas visto essa profecia, há a chance de Você-Sabe-Quem retornar...

–...Ou um seguidor dele.

–...Mas quem garante que essas palavras são verdadeiras? Quem é essa suposta amiga?

–Pensei que Potter o tivesse derrotado...

Eu não conseguia ligar as vozes aos seus donos. Não ouvia quase nada. E, depois, também não podia ver. Trevas.

–Acho que ela está acordando. – uma mulher dissera baixinho.

Senti o cheiro de alguma flagrância e abri os olhos. Eu estava deitada no chão, minha cabeça estava apoiada nas pernas de Draco, pelo o que eu julguei. Emily estava perto de mim também e era dela que vinha o perfume que eu havia sentido.

Minha cabeça doía um pouco, Draco me manteve deitada por um tempo depois de eu ter despertado, embora eu quisesse levantar.

–Como se sente? – Emily perguntou.

Draco me deixara finalmente levantar e me ajudara a sentar novamente.

–Estou bem. – respondi e me senti envergonhada por ter desmaiado. – Deve ser apenas pressão baixa. – falei.

–Tem certeza? Não prefere... – Draco começou.

–Eu estou bem. – falei tentando em vão sorrir. – Vamos continuar com a reunião.

–Cabeça dura. – Draco resmungara enquanto conjurara com um copo e o enchera de água. – Tome.

Quando levei o copo aos lábios senti um gosto salgado na água, mas sabia que aquilo apenas era para aumentar minha pressão. Sorri ao pensar no quanto Draco era protetor.

–Como estávamos dizendo... A profecia é uma prova de que ele pode retornar. Mas temos outra questão. Há alguns minutos me enviaram uma carta. Um auror foi assassinado em sua casa e apenas deixaram uma mensagem. “Sangue-ruins e traidores, a morte é próxima”.

–Estive no local agora há pouco. – Harry dissera. – Não há nada. Nem uma pista sequer. Quem quer que esteja fazendo isso é esperto, não deixa vestígios.

Percebi uma tristeza em sua voz e me dei conta do quanto deveria ser difícil para ele saber que Voldemort poderia estar vivo.

–Cada um de vocês tem seus departamentos, quero que trabalhem juntos para achar quem quer que esteja por trás disso. Sr. Potter, Sr. Weasley, vocês são os aurores responsáveis pelo caso, não envolvam mais ninguém. Srta. Granger, Srta. Leroux, registrem toda forma de magia que conseguirem e tentem identificar a Artes Negras. Sr. Harris, quero sua equipe de obliviadores pronta para agir em meio aos trouxas e intervir em possíveis atentados contra eles. E Draco, esteja bem perto de mim, você é meu assistente agora, terá que resolver alguns problemas, caso isso envolva algum país vizinho.

–Sim, senhor. – Draco respondera.

Senti uma pontada de incomodo em sua voz, mas deixei quieto. A situação era pior do que eu imaginava. Um auror fora assassinado. Quantas mais vítimas haveria? Quantas mais mortes por nada?

Sentia-me cansada e com raiva, eu não queria, nem deixaria que as coisas voltassem a ser como antes. Era uma promessa.

Um a um, todos foram deixando a sala depois da reunião e saí com Draco.

Já fora do ministério eu estava mais calma. Virei-me para Harry e Rony e percebi que eles estavam tensos.

–Como tudo isso começou? Quero dizer, quem...

–Eu estava com Luna na Toca, mamãe a chamou para jantar... – Rony falou – estávamos na sala conversando e de repente ela ficou olhando fixamente para a parede e começou a falar tudo. Foi assustador. Eu então me dei conta, era uma profecia, porque não parecia Luna ali, parecia apenas uma voz que estava dizendo, não ela. Então eu chamei Harry.

–Mas nesse meio tempo eu estava na França, haviam me chamado para investigar o assassinato, já que o auror era inglês. Aí só fui receber a mensagem de Rony quando já estava no ministério. Conversamos com Kingsley e achamos que pode ser Voldemort. – Harry falara fitando um ou dois carros passarem na rua.

O vento não estava tão gelado naquela época do ano, mas o calor de antes já ia embora à medida que o outono se aproximava. Respirei fundo e tentei absorver toda aquela noite. Eu ainda estava usando meu vestido vermelho, mas sabia que embora parecesse bem, por dentro eu era um bagunça.

–Pensei que você tivesse derrotado ele, de uma vez por todas – Emily dissera para Harry.

Sua voz era acusadora, mas não propositalmente, Emily não era o tipo de pessoa que acusava, eu sentia que ela estava com medo, seus olhos azuis brilhavam, tentando lutar contra lágrimas que ela não permitiria que caíssem.

–Eu também, acredite. – O moreno respondera e pela primeira vez sua voz era fraca e continha raiva. – Preciso ir, Gina precisa saber disso também.

–Pensei que Kingsley houvesse dito para não falar nada a ninguém. – Rony dissera.

–Deixar as pessoas na ignorância é a melhor alternativa para o ministério, por hora. – Draco dissera encarando Harry e Rony – Mas ainda assim, se ele realmente estiver voltando, espero que não cometam o mesmo erro de antes. Espero que Kingsley não faça como Fudge e negue tudo. Se eu fosse vocês, deixariam sua Ordem a par de tudo.

Olhei para meus melhores amigos. Draco tinha razão. A Ordem da Fênix deveria saber.

Fechei meus olhos e respirei. Eu me sentia extremamente cansada.

–Vamos para casa, Draco. – falei e ele assentiu.

Aparatamos, mas naquela noite eu não havia conseguido fechar meus olhos. Eu ouvia o tic tac do relógio e não me concentrava em meu sono. Queria dormir, mas não conseguia.

Levantei-me e fui para a cozinha, repentinamente sentindo fome. Abri a geladeira e peguei um pudim. Comi devagar e o açúcar me deixou um pouco menos tensa.

–Acordada ainda? – Draco perguntou entrando e sentando-se à minha frente na mesa. – não consegue dormir também?

Fiz que não com a cabeça e ofereci a sobremesa a ele. Draco sorriu e aceitou, roubando-me uma colherada do doce.

–Ouviu o que Kingsley disse?

–Depende, que parte? – perguntei.

–A parte que ele diz que me quer bem perto dele.

–E daí?

Draco encostou suas costas na cadeira e me olhou. Eu ainda não estava entendendo.

–Pense Hermione. Ele não queria inocentar eu e minha família no meu julgamento. Se não fosse pelo Potter eu poderia estar em Azkaban. – Draco falara – E agora que Voldemort parece estar vivo ele com certeza desconfiará de mim.

–Está sendo paranóico, Draco. – falei tentando acreditar naquilo.

–Pode ser, e eu espero que sim, mas não sei. O ministério irá me vigiar, tenho certeza. É como o ditado, mantenha os amigos perto, e os inimigos mais perto ainda.

–E você seria um inimigo? – contestei Draco acabando de comer e deixando meu pratinho de lado.

–Claro que não. Se tudo isso for verdade, eu já escolhi meu lado.

Isso me deixou mais do que feliz, me levantei e sentei-me em seu colo, beijando seus lábios com paixão e o sentindo envolver minha cintura firmemente.

–Isso é ótimo, meu amor. – falei sorrindo e tocá-lo me fez ficar mais relaxada, como se Draco pudesse espantar todo o mal e manter-me protegida.

E eu esperava sinceramente que ele pudesse.


Narração by Pietro


Entrei no Caldeirão Furado e cumprimentei alguns bruxos que conhecia, sempre tentando parecer cordial, embora o bar não tivesse um cheiro tão bom assim. Fui então, até a passagem para o Beco Diagonal. Precisava ir até o Gringotes e sacar algum dinheiro para pagar algumas contas da boate.

Desde que eu a abrira, tudo parecia ir muito bem, principalmente porque quem frequentava eram as elites do mundo bruxo, e era, mais do que tudo, uma novidade. E eu esperava que essa maré de sorte continuasse.

Fui atendido por um duente mal-humorado e não demorou muito para que eu conseguisse o que queria. Ao sair segui de volta para o Caldeirão Furado, mas no meio do caminho, quando olhei para a Floreios e Borrões, reconheci alguém. Parei e fiquei admirando os cabelos loiros dela caídos nas costas. Nem percebi quando comecei a andar na direção da livraria, mas em poucos segundos eu estava ali, atrás dela.

O que eu estava fazendo? Quero dizer, eu havia visto ela apenas uma vez na minha vida. Tentei dar meia-volta e seguir meu caminho, mas quando me virei ela, por algum azar do destino, me viu, deixando-me sem saber se corria ou não dali.

Bonjour, monsieur. – sua voz dissera atrás de mim e me virei. – Procurando algum livro?

Bonjour – falei agora envergonhado. O que havia de errado comigo? Isso nunca acontecia. – Na verdade non, eu apenas tinha visto a mademoiselle e...

–Decidiu falar comigo e pelo jeito desistiu. – ela completara pegando um livro na estante e o folheou.

–Eu apenas vi que estava concentrada em suas compras, não quis atrapanhar. – QUÊ? De onde eu tirei isso? Péssima desculpa.

Ela riu e me senti pior ainda, só então percebi os livros que ela levava consigo.

Feitiços Defensivos Avançados e As Trevas na História.

–Para que esses livros? – me vi perguntando e ela me olhou receosa.

–Preciso ficar informada, non? Meu departamento trabalha nisso. – Emily respondera evasiva.

–Trabalha com Hermione?

–Oui.

O silêncio tomou conta de nós e me senti estranho. Eu sempre tinha o que falar, sempre sabia como lidar com mulheres. Por que com ela era diferente?

–O que acha de tomarmos um café? – perguntei de repente, desejando mesmo que ela aceitasse.

–Acho ótimo. – Emily respondera – Acho que vou levar só esses. Vou pagá-los e já vamos.

A loira dirigiu-se até o balcão e meus olhos a seguiram. Logo que ela se afastou recuperei minha razão. Ela não era como as outras. Eu não a merecia. E não deveria ser o mesmo cara idiota que era com a maioria das mulheres. E mais do que tudo, Emily não era Hermione.

Controlar-me perto daquela garota era difícil, eu não sabia o que fazer e acabava sendo um idiota. E eu realmente o era, por nunca ter dito a ela a verdade, que eu gostava dela. E a razão dessa omissão era estúpida, ou talvez não, pois eu sabia que ela me rejeitaria. Hermione tinha o Malfoy, já estava na hora de eu superá-la.

–Vamos? – Emily me chamara.

Fui até ela e peguei seu embrulho, mesmo que ela houvesse protestado contra. Seguimos para a primeira cafeteria que vimos fora do beco. Aquela bebida dos trouxas era ótima, eu realmente me sentia relaxado quando a desfrutava.

Sentamos na mesa e percebi que ela estava inquieta.

–Qual é o problema, Emily? – perguntei e percebi a testa dela enrugar-se.

–Não há nenhum problema, Pietro. – ela falara com sua voz doce.

–Você parece preocupada... – insisti e ela deu de ombros, negando.

Olhei para o chão, o que poderia conversar com ela? Por Merlin, era apenas uma mulher, não um dragão.

–Foi chato você ter saído repentinamente do C’est La Vie há dois dias. – comentei sem saber o que falar.

–Desculpe-me, o ministério me convocou, eu tinha que ir. – Emily respondera e sorrira – Mas a minha ausência não foi tão dolorosa quanto a de Hermione.

–Como? – perguntei agora suando frio.

–Ah, você me entendeu – a francesa falou jogando seus cabelos prateados para trás. – Você simplesmente não tirava os olhos de Hermione enquanto ela cantava.

Meus olhos arregalados não eram nada perto da face de Emily, que tinha absoluta certeza do que dizia.

–Emily, acho que…

–Estou errada? – ela me questionou de repente – Você nunca pensou nela dessa forma? Nunca quis beijá-la ou tocar seus cabelos? Nunca sentiu inveja de Draco Malfoy?

Cada pergunta era uma apunhalada e doía mais do que eu poderia imaginar. Eu sabia de tudo aquilo, eu sentia. Mas ouvir outra pessoa jogando tudo aquilo na minha cara já era outra história.

–Você não pode falar do que não sabe. – falei entre dentes. – não me conhece. Nós somos amigos. Apenas isso.

–Mas você gosta dela. É óbvio. Por que não fala tudo?

Eu ri e descansei meu copo na mesa. Há alguns minutos eu não sabia o que falar e agora eu a achava intrometida, mas ainda assim, esperta. Ela era boa em decifrar as pessoas, porque por mais que eu negasse, tudo o que ela dissera era a verdade nua.

Entretanto, quanto mais ela lia a mim, mais exposto eu me sentia.

–Não posso dizer a ela. – falei finalmente e a olhei nos olhos. – Ela está com Draco e feliz. Eu seria um péssimo amigo se destruísse isso.

Silêncio. Eu ouvia somente a respiração fraca dela e não ousava levantar meus olhos. Eu nunca havia dito aquilo em voz alta e só agora eu percebia a veracidade de tudo. O que aconteceu com a história de superar Hermione? Saiu voando em um hipogrifo? Não. Eu não podia ceder assim tão fácil.

–Mas se pudesse, você falaria. – Emily sussurrou.

Por que tanto interesse nesse assunto? Por que isso importaria para ela?

–Talvez, mas a questão é que se eu não disse nada, não será agora que direi. – respondi e ergui meus olhos, fascinando-me novamente pela beleza dela – Mas e você, Emily? Nunca se sentiu tão apaixonada a ponto de tentar controlar-se e acabar enlouquecendo ou parecendo estúpida às vezes?

A mulher à minha frente mexeu-se na cadeira, cruzando as pernas torneadas e evitou meu olhar pela primeira vez naquele dia.

–Emily?

–Não, Pietro, nunca me apaixonei. – ela respondera com uma agressividade controlada.

–Nenhum homem nunca despertou nenhum sentimento em você? – insisti agora espantado.

Ela olhou-me e desviou os olhos. Bebi outro gole de café desistindo da conversa. Mas ela respondera.

–Houve um homem, há três anos. Saí com ele por dois meses. Gostava de passar o tempo com ele. Mas, no final das contas, todos acabam indo embora e nunca mais voltam. Eu não o amava, e a única coisa que ele despertou foi ódio.

–Entre o ódio e o amor existe uma linha bem fina tênue. – falei impressionado com a frieza dela.

–Talvez.

Emily ficara quieta e consultou o relógio, olhou-me e ergui uma sobrancelha insistindo. Ela rendeu-se.

–Eu não o amava, e já não o odeio. – sua voz era cansada – Tenho que ir, o trabalho me espera. Talvez possamos tomar outro café um dia desses, sem essa conversa chata, certo?

–Certo. – falei e me despedi dela.

Quando Emily foi embora eu ainda a acompanhei com o olhar e julguei que tudo o que ela dissera talvez fosse verdade. Eu poderia dizer a Hermione, mas não deveria.


Narração by Draco


Havia terminada de preencher o último relatório que Shacklebolt havia me incumbido. Sentia, pela milésima vez em uma hora, meu estômago roncar de fome. Queria ir logo para casa.

Fechei minhas pastas e as coloquei nos lugares corretos. Dirigi-me então para o elevador, decidindo passar no departamento de Hermione e a raptar de lá. Estava anoitecendo já e eu precisava fazer algo diferente para nós jantarmos. O talento de Hermione na cozinha era tão ótimo quanto o meu de tratador de animais.

Saí do elevador e bati na porta dela. Ouvi um entre e abri a porta.

–Draco? – Hermione dissera surpresa detrás de uma pilha de papéis. – O que faz aqui?

–Vim te raptar. – respondi fechando a porta e me aproximando dela. – Vamos, Hermione, amanhã você termina tudo isso. – falei apontando para a papelada.

–Eu não quero fazer isso amanhã... mas o que eu ganho indo embora agora? – ela perguntou sorrindo e chegando mais perto de mim, roçando meus lábios. – O que eu ganho, Draco?

Me perdi em seu rosto e capturei seus lábios de forma possessiva. A coloquei em cima da mesa de trabalho e os papéis foram ao chão em um segundo. Eu explorava cada canto de sua boca, sentindo um gosto adocicado e sedutor vindo dela e me deixando excitado.

–Não devíamos… estar fazendo isso… aqui – Hermione dissera sem fôlego tentando escapar de meus beijos.

–Você começou, Hermione Granger. Aguente as consequências. – falei soltando-a por um segundo e depois retomando seus lábios.

Fora então que a porta abrira-se repentinamente e me virei.

–Ah, Mon Dieu, me desculpem... eu vou... – Emily começara a dizer.

Olhei para Hermione e ela estava corada.

–Não, Emily, entre. Eu... eu já estava de saída. Continuo o trabalho amanhã. – Hermione falara e puxara-me para fora da sala, fez um feitiço com a varinha e a pilha de papéis caída no chão voltou para a mesa, perfeita e intacta. – até amanhã.

–Você não pode simplesmente fazer isso comigo no trabalho, Draco. – Hermione dissera enquanto caminhávamos pela rua à procura de um beco para aparatar.

–Como eu ia adivinhar que alguém chegaria? – perguntei dando de ombros.

–Sempre chega alguém...

Eu ri e viramos a esquina. Quando achamos um beco, parei antes de entrar nele. Eu ouvia vozes e sussurros. Olhei e lá havia um grupo de homens. Eram cinco, pelo o que eu contara e, aparentemente, todos seguravam varinhas.

–Por favor...

A voz de um sexto homem no centro era esganiçada e repleta de medo. Eu sentia o temor dele só de ouvir sua voz. Ele estava caído no chão, de joelhos. Sangrava.

–Crucio! – o homem da ponta murmurara e o que estava caído gritara.

Somente o som de seu grito me lembrava da maldição e me fazia contorcer-me de agonia. Era pior do que parecia. Era como reviver o passado.

–Não. – Hermione murmurara e eu a segurei com todas as minhas forças, abraçando-a por trás e tapei sua boca com uma das mãos, para impedi-la de falar e nos entregar.

Senti uma lágrima dela tocar minha pele e disse a mim mesmo que eu estava fazendo o certo. Ela queria ir até os homens e impedir aquilo. Mas eram cinco contra apenas eu e ela. E pelo o que eu via, não eram quaisquer pessoas, eram bruxos das trevas, prontos para matarem.

Olhei mais atentamente e reconheci o homem que estava sendo torturado. Era um antigo comensal, que servira como espião para a Ordem da Fênix e fora perdoado de seus crimes. E então eu me dei conta.

“Sangue-ruins e traidores, a morte é próxima”.

Era o que o recado do assassinato do auror dizia e agora eu via a prova. Os traidores eram comensais que trabalharam contra Voldemort. Comensais como eu.

Hermione tentou se soltar e em seus movimentos eu sentia sua súplica para poder impedir o que aconteceria. Mas era inútil.

–Ninguém se rebela contra o Lorde das Trevas. – um deles dissera.

–Avada Kedrava!

A luz verde atingira o ex-comensal e ele caíra, sem pulso, sem expressão. Sem vida.

E assim seria com todos os outros como ele, era uma nova época, disso eu sabia. Mas não podia deixar que essa treva se espalhasse novamente.

Concentrei-me e aparatei com Hermione antes que algum deles nos visse.

–Por que fez isso, Draco? – Hermione protestara quando a soltei.

Estávamos agora perto de casa e seria uma batalha até eu conseguir acalmá-la. Aproximei-me e tentei tocar seu ombro. Ela se afastou.

–Você deixou aquele homem morrer! – ela dissera começando a andar pela calçada.

–Aquele homem era um ex-comensal e se não percebeu seria cinco contra dois. Seria suicídio, Hermione. – falei indo atrás dela, tentando acompanhá-la.

–Suicídio? – Hermione virou-se para mim, deixando sua face próxima à minha – Foi suicídio ir atrás de horcruxes e viver por meses numa barraca, cada noite em um lugar diferente? Isso foi suicídio cair nas mãos de sequestradores, Draco? – ela praticamente jogara na minha cara – Foi suicídio salvar você do incêndio na sala precisa? Foi?

Segurei seu braço prevendo que ela bateria em mim.

–Foi, Hermione, e eu não aguento mais isso. Toda vez é sempre a mesma coisa. Você quer o perigo. Deseja-o. Entrava em florestas com comensais por causa do Potter e me fazia ir atrás de você. E agora quer entrar num beco com cinco deles prontos para matá-la?

–Como assim `Me fazia ir atrás de você’? – ela perguntara agora com mais raiva – Eu nunca te pedi para me salvar, nunca te disse para cair de cabeça em tudo que me envolva. Você não precisava fazer nada disso.

–EU SEI! – eu gritei de repente – Mas você parece gostar de correr perigo. Parece divertido, não?

Lágrimas brilhavam em seus olhos e eu me dei conta de que não me lembrava de quando fora nossa última briga.

–Eu não acredito que você disse isso. – ela sussurrara. – Eu não estou tentando me matar, estou tentando salvar as pessoas que você não tem coragem de proteger, apenas isso, Draco.

Aquelas palavras ditas por seus lábios me acertaram, doeram. Ela me tomava por um covarde. Antes mesmo que eu pudesse responder, ela aparatara. Para longe de mim.


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