25 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Infidelity

Narração by Draco

Eu ainda olhava o ponto onde Hermione desaparecera. Como ela poderia ter feito aquilo? Será que não passava pela aquela cabeça que eu queria protegê-la? Eu simplesmente não suportaria vê-la sendo torturada de novo. Prometi que impediria isso, nem que fosse com a minha vida.

Eu odiava esse lado altruísta dela. O lado grifinório e corajoso, eu queria apenas que ela... entendesse.

Havia perdido a vontade de voltar para casa, não queria ter que olhar para as coisas dela. Eu sentia raiva. Aparatei sem me importar se algum trouxa me visse e senti a fisgada rotineira e, depois, o ar da noite londrina. Entrei no primeiro bar que encontrei e sentei-me na bancada, próximo ao barman. Pedi um wiskey para relaxar e comecei a me sentir melhor à medida que a bebida descia pela minha garganta.

Quem ela pensava que era para agir daquela forma? Tudo o que eu queria era mantê-la bem. Maldita garota! Maldita hora em que eu me apaixonei por ela.

Uma banda tocava algumas músicas entediantes no palco improvisado do bar e soltei uma risadinha de escárnio. O barman parou de secar um dos copos com o pano branco em suas mãos e olhou-me.

–Mau dia? – ele perguntou.

–Você nem imagina – respondi estressado.

Continuei irritado com o som daquele lugar e não escondia minha expressão. Por fim, o barman falou novamente comigo.

–Das duas uma: Ou perdeu o emprego, ou brigou com a namorada.

Olhei para ele e tentei sorrir. Era tão óbvio assim?

–Acho que meu chefe ainda vai querer me ver amanhã. Já ela... – respondi rindo assim como o homem a minha frente.

–Essa é por conta da casa. – o barman falou servindo mais uma dose de wiskey para mim.

–Ao amor. – falei ironicamente e ergui meu copo, entornando-o de uma vez em minha garganta.

Pedi uma bebida mais forte, mais algumas doses e eu esqueceria ela completamente. E era exatamente isso que eu queria naquele momento.

Um som de bateria atingiu meus tímpanos e finalmente me interessei pela banda no palco. Deixei que a bebida fosse para cada célula do meu corpo e abri a mente, sentindo a melodia e as batidas.

What happens to a man when
O que acontece com um homem quando

He spills his heart on a page and
Ele derrama seu coração sobre uma pagina e

He watches words float away then
Ele vê as palavras flutuar em seguida

His feelings lie on the page alone
Seus sentimentos estão em uma página separada

There waiting
Há espera

For someone who cares to read them
De alguém para lê-los

To open their eyes to see them
Para abrir os olhos e vê-los

To see if they can make his thoughts their own
Para ver, se eles podem fazer estes pensamentos próprios


Será que eu estava errado ao impedi-la? Será que eu deveria ter a deixado ir lá e provavelmente morrer? Eu nunca poderia mudar o jeito dela de ser, mas Hermione havia ido longe demais. Será que ela não entendia? Eu tinha apenas ela agora.

–Como assim ‘Me fazia ir atrás de você’? Eu nunca te pedi para me salvar, nunca te disse para cair de cabeça em tudo que me envolva. Você não precisava fazer nada disso.


Eu não precisava fazer nada mesmo, mas o que ela ignorava era que sempre há um motivo por trás do que faço. Ela mudara algo em mim, a coragem. Não importava o que fosse, eu nunca senti medo quando precisava protegê-la. O medo de perdê-la era sempre maior. Mas isso não se aplica às outras pessoas, é claro. Não sou um grifinório. Ela é.


To find out that maybe your life's not perfect
Para descobrir que talvez a vida não é perfeita

Maybe it's not worth what he gives away
Talvez isso não vale o que ele dá


– Mas você parece gostar de correr perigo. Parece divertido, não?

–Eu não acredito que você disse isso. Eu não estou tentando me matar, estou tentando salvar as pessoas que você não tem coragem de proteger, apenas isso, Draco.


You can see that this broken soul is bleeding
Você pode ver que esta alma despedaçada está sangrando

So you can see your feelings inside yourself
Assim você concebe os seus sentimentos dentro de si mesmo

And wander through my heart
E imagina, através de meu coração

Letting you see through me
Permitindo que você veja através de mim

Now only consumes me
Agora ele acabará comigo

Forget your pain, watch me fall apart
Esqueça sua dor e me assista cair.


Eu estava cansado de tudo aquilo, não precisava vê-la pisar em mim daquela forma. Hermione tinha também defeitos e, de qualquer forma, eu nunca fui um símbolo de coragem. Eu era o oposto dela. Fraco, medroso, suscetível. Eu queria o poder e ela, apenas salvar quem podia. Eu não me importava se tivesse que pisar nas pessoas, ela sim. Contrários. Diferentes. Era o que éramos. E sempre seria assim.


What happens to a soul when
O que acontece com uma alma quando

It's trapped inside his emotions
Ela pressente o interior de suas emoções.

And all of these words he's spoken
E todas essas palavras que ele fala

They bind him to the life he's left behind
Ligam ele a vida que ele deixou para trás.

And every new step he takes
E cada novo passo que dá

He knows that he might not make it
Ele sabe que poderia não fazer isso

To all of these dreams that he has yet to find
Para todos esses sonhos que ele ainda tem de encontrar.


–Draco Malfoy, sozinho em um bar, algo raro hoje em dia, não? – uma voz feminina e debochada falara e eu me arrepiei ao ouvi-la.

A mulher acabara de sentar no banco ao meu lado na bancada e fitava-me interessada. Ela usava uma saia de cintura alta preta que deixava metade da sua coxa à mostra, além da sua blusa vermelha decotada, que atraía olhares de cobiça naquele bar tão conhecido. Algo que eu já esperava vindo dela. Sempre fora assim, desde que eu a conhecera, embora o humor dela frequentemente mantivesse muitos homens longe dela. Poucos queriam conviver com a personalidade forte e manipuladora dela, e quem não a conhecia era quem mais a desejava. Eu era uma exceção à regra, já que ela apenas me encontrava acompanhado de várias doses de wiskey e era meu passado. Apenas por esse motivo eu não a enxotaria de perto de mim, embora devesse.


Maybe your life's not perfect
Que talvez a vida não é perfeita.

But maybe it's not worth what he gives away
Ou talvez isto não vale o que ele dá.


–O que faz aqui? – perguntei de mau humor, mas não me preocupei em manter os olhos longe dela.

–Não acredito nisso, faz meses que não o vejo e é assim que me trata? – a morena reclamou zombeteira e roubou um gole da minha bebida – Sabe Draco, é chato te ver só quando você está bêbado, mas fazer o que, não é? É a única forma de você não sair jogando maldições em mim.

Peguei meu copo de volta e olhei com mais tédio para ela, embora não conseguisse fingir que não estava olhando-a com desejo.

–Eu poderia fazer isso.


You can see that this broken soul is bleeding
Você pode ver que esta alma despedaçada esta sangrando.

So you can see your feelings inside yourself
Assim você concebe os seus sentimentos dentro de si mesmo

And wander through my heart
E imagina, através de meu coração

Letting you see through me
Permitindo que você veja através de mim

Now only consumes me
Agora ele acabara comigo

Forget your pain and watch me fall apart
Esqueça sua dor e me assista cair.


–Então faça – a mulher falou e riu ao ver-me sem reação – Está vendo? Você não me enfeitiçaria.

–Mas você sim – reclamei e decidi que o melhor era sair de perto dela – Eu tenho que ir.

–Tão cedo? E eu que pensava que o teria por algumas horas. Fique, Draco – ela pedira puxando-me pelo colarinho – Não me faça implorar.

A mulher me puxou e depositou um longo beijo nos meus lábios. Mas eu não permitiria que ela me enfeitiçasse como da última vez. Eu precisava fugir da realidade, mas não com ela.


You can see that this broken soul is bleeding
Você pode ver que esta alma despedaçada esta sangrando

So you can see your feelings inside yourself
Assim você concebe os seus sentimentos dentro de si mesmo

And wander through my heart
E imagina, através de meu coração

Letting you see through me
Permitindo que você veja através de mim

Now only consumes me
Agora ele acabará comigo

Forget your pain and watch me fall apart
Esqueça sua dor e me assista cair

As I fall apart
Como eu cair


–Pare – falei quando ela começou a beijar meu pescoço, ainda mais animada, e a empurrei – Eu te disse isso da última vez e repito: Acabou, há muito tempo. Então me faça um favor que deveria ter feito há anos e me deixe em paz. Eu não estou bem e você sabe disso. Eu estou bêbado – falei com dificuldade.

–Também estava mal da última vez, baby, e isso não te impediu em nenhum sentido. – a morena falou e fez menção de levantar-se. – Aliás, sempre esteve.

Eu a puxei de volta com raiva.

–Diga uma palavra sobre o que houve hoje e antes e você desejará a morte, e você sabe que estou falando sério. – falei entre dentes e ela riu mais uma vez.

Deixei-a ir e apoiei a cabeça entre as mãos. Eu havia feito besteira.


Narração by Hermione


Meus olhos já vermelhos por causa das lágrimas malditas que eu deixara cair agora me incomodavam. Eu não sabia o que fazer. Se eu fosse para casa, encontraria Draco provavelmente. Se fosse para a Toca teria que dar várias explicações. Então lá estava minha última opção. Bati na porta à minha frente e esperei até que alguém a abrisse.

Quando encontrei os olhos verdes que eu queria, não pude evitar meu choro. Eu estava nervosa demais.

–Hermione, o que houve? – Pietro perguntou surpreso, pela minha presença ou pelas lágrimas, isso não importava.

–Eu briguei com Draco – respondi e entrei no hall quando ele me puxou para dentro – Preciso da sua coruja emprestada, por favor. – pedi e ele concordou.

Peguei um papel qualquer na sua mesa e comecei a escrever um bilhete para Harry, falando do ataque e o endereço, onde o homem estava morto. Pedi que não envolvesse nem a mim nem a Draco naquilo. Seria melhor assim.

Depois que terminei, amarrei a carta na coruja cinzenta de Pietro e deixei que ela voasse em direção à janela e depois, para longe.

Minhas lágrimas haviam ido embora finalmente. Olhei para Pietro e me sentei no sofá próximo de onde eu estava. Ele sentou-se do meu lado.

–O que houve?

Dei-me conta de que era a segunda vez que ele me perguntava aquilo.

–Draco é um idiota – falei, por fim.

Pietro pegou minha mão e eu encostei minha cabeça no ombro dele. Como nos velhos tempos.

–Vimos um homem ser atacado hoje, em um beco. Havia cinco homens torturando-o. E Draco me impediu de interferir naquilo. – falei depois de uns segundos – Toda a minha vida eu tentei proteger as pessoas, lutar pelo bem comum. E o que ele faz? Impede-me de fazer o que eu mais prezo.

Pietro olhava para frente, para um ponto qualquer do papel de parede azulado, sua expressão era estranha, como se eu estivesse falando alguma loucura.

–Draco estava certo – disse, portanto – era perigoso. Não era como se o Potter e o Weasley estivessem com você.

–Mas...

–Mas nada. Você está errada e sabe disso. É apenas orgulhosa o suficiente para não admitir o óbvio. – Pietro retrucara olhando-me fixamente.

–Quando você se tornou tão sério? – perguntei agora me levantando com raiva.

–Pessoas mudam. – ele falara e desviara o olhar.

Agora eu havia me dado conta. Ele havia mudado mesmo. Quero dizer, onde estava o seu costumeiro copo de bebida? Onde estavam as mulheres com quem ele passava a noite? Onde estava o sorriso conquistador que vi no dia que o conheci?

Parei à frente dele e o fitei demoradamente. A questão que eu não entendia era o porquê dele mudar.

–Pessoas mudam, acredito nisso. Mas qual a razão? – perguntei desafiadora.

Ocorreu-me que talvez nem ele soubesse, já que desviou os olhos esverdeados. Então ele começara a rir.

–Não comece a me questionar, Hermione, se não sairá perdendo. – falara zombeteiro e me olhando.

–O que quer dizer?

–O que eu quero dizer? – ele repetira agora irônico – Hermione eu passei o dia inteiro pensando na Emily e na maldita conversa que tivemos pela manhã. E adivinha o assunto? Você! – Pietro falou quase gritando.

Eu nunca havia o visto usar esse tom. Mas o pior de tudo, por que eu seria o assunto deles? Sentei-me novamente no sofá e antes que eu pudesse perguntar ele continuara.

–Emily é legal e linda, Merlin, até agora não entendo o motivo de eu estar tão fascinado. Aqueles olhos, aqueles cabelos...

–Ela tem sangue veela – falei ao vê-lo com o olhar perdido.

–Isso explica muita coisa. – Pietro falara agora perdido em pensamentos e talvez até um pouco decepcionado – Francesa, linda, loira, veela. É demais para acreditar. – então ele rira.

–Pietro, por acaso você não está gostando dela, não? – perguntei sorrindo.

Ele piscara confuso e rira nervosamente.

–Não, é claro que não, a conheço há tão pouco tempo. Não seria possível, seria?

–Talvez. – respondi – Não acredita em amor à primeira vista?

–Não. Não acredito. – Pietro falou fechando a cara – A questão é que não é por ela que estou apaixonado. E eu preciso me livrar disso, pois é complicado demais para mim.

–O que está tentando dizer? – perguntei agora confusa.

–Lembra-se daquela noite na Escócia? – Pietro perguntou e eu gelei – ainda me lembro perfeitamente e...

–E nada. – cortei ele – Combinamos que aquilo não foi nada. Você e eu sabemos disso. Foi apenas uma consequência do álcool. Éramos amigos e apenas isso. E você disse que preferiria esquecer, para que nada ficasse estranho entre nós.

–Eu sei o que eu disse, Hermione – ele replicara – Não devíamos ter feito aquilo.

Flashback

A castanha andou até a porta do apartamento quase tropeçando pelo caminho. Esperou que o homem ao seu lado abrisse aporta e a deixasse entrar.

–Não seria melhor eu aparatar para casa? – ela perguntara ao entrar e deixou-se cair no sofá.

–Louca do jeito que está? Irá acabar estrunchada, ou se for a pé, assaltada, ou sabe-se lá Merlin o que mais.

–Quero minha cama, Pietro. – ela reclamara como uma criança e deitara no sofá.

–Por que exagerou hoje, Hermione? – ele sentou-se numa das extremidades e deixou a cabeça dela em seu colo. – E aquela música? Qual o motivo dela?

–O motivo é exatamente o que a música fala, Pietro. “Eu tenho uma garrafa da meia-noite, vou bebê-la. Um único bilhete me leva ao tempo que tínhamos antes. Quando tudo parecia tão certo. Se apenas por essa noite, uma garrafa da meia-noite vai aliviar a minha dor de todos esses sentimentos que estão me deixando insana. Eu penso em você. E está tudo bem. Se apenas por esta noite...”

–Sei o que você disse, Hermione... a questão é... por quê?

–Esqueça. – Hermione falou vencida e cansada – Não importa de qualquer forma...

Pietro não entendia que ela sentia falta de Draco e bebera para afastá-lo de seus pensamentos. Hermione fechou os olhos e quando tornou a abri-los Pietro a olhava atentamente. Verdes sobre castanhos. Ela já não sabia o motivo de fitá-lo tão fixamente, mas aqueles olhos eram belos e a atraíam como se fossem imãs. Ela ergueu a mão e a pousou sobre o rosto dele, como se quisesse gravar sua expressão. Então a face de Pietro foi descendo e descendo, até que os lábios dele tocaram os dela num beijo lento e doce em razão das bebidas que ambos ingeriram naquela noite.

Hermione sentou-se e continuou a beijá-lo sentindo-se como há tempos não se sentia. A mão dele puxava-a pela cintura e a chamava, sabendo que a desejava. Sua boca pairou sobre o pescoço dela fazendo ali uma trilha de beijos quentes e insanos. A queria e só agora havia descoberto.

Pegou-a no colo com cuidado e a levou até seu quarto, depositando-a sobre a cama.

Continuou a tomá-la pelos lábios urgentes e ele próprio arrancou sua camisa, deixando suas costas expostas às unhas de Hermione.

Uma noite de desejo, para que ambos se esquecessem do mundo. E um erro, dos dois.

Hermione não sabia que se arrependeria daquilo, nem Pietro esperava apaixonar-se por sua melhor amiga.


Fim do Flashback


–Você precisa entender, Pietro, que o que fizemos não foi inteligente... foi...

–Impensado, irresponsável e quantos mais “is” você quiser... mas aconteceu. E você fugiu de mim. Quando eu acordei esperava te encontrar e o que vejo? Minha casa vazia!

Pietro olhou-me com raiva. O que eu deveria ter feito? Eu não gostava dele, foi uma aventura, nada mais. Eu amava Draco e sentia a falta dele. Por isso eu bebi tanto a ponto de nem andar direito conseguir. Por isso a canção que eu cantara aquele dia.

Mas nada poderia justificar eu ter dormido com Pietro. Eu disse a mim mesma que aquilo não foi nada e me convenci disso. Por que ele não fez o mesmo?

–Eu te disse que... – comecei a dizer, mas ele me interrompeu.

–Eu sei o que você disse. Mas eu menti. Não foi uma noite para mim. É verdade que eu sempre me embebedava e acordava com uma mulher a cada dia. Mas você não estava ali e não era as outras. Você era minha amiga. E juro que tentei apagar essa lembrança. Fingimos que ela não existia, nada mais normal para evitar um clima estranho entre nós. Até agora.

Fui até a janela ainda ouvindo-o e senti a brisa da noite no meu rosto. Se tudo fosse mais simples...

–O que mudou agora? – perguntei fechando meus olhos por um segundo.

–Não sabe mesmo?

Ele estava apaixonado, como dissera há pouco. Como eu não percebera?

–Por que só está falando isso agora? – perguntei então.

–Porque é difícil fingir que não sinto nada. Machuca muito. Prefiro ouvir de você que devo desistir. É sua escolha. Sim ou não. Não posso insistir em algo que você não queira. – Pietro falara aproximando-se da janela onde eu estava e forçou-me a olhá-lo.

Eu havia brigado com Draco e agora estava ali, sendo exposta aos meus próprios segredos e com medo de machucar Pietro.

Por que tudo tinha que ser difícil?

–Pietro, eu gosto de você, mas minha história com Draco, mesmo sendo complicada demais, não deixa de existir. Acho que sempre vou escolher Draco, independentemente de nossas brigas.

Arrisquei olhar para ele e percebi que mesmo decepcionado ele sorria. Pietro aproximou-se de mim e beijou minha testa.

–Seja feliz, Hermione, e que o Draco não ouse te deixar triste. – ele falou e abraçou-me – Agora é minha vez de ser feliz, também sou humano.

–E o que vai fazer, Pietro? – perguntei fitando-o nos olhos.

Ele continuou a sorrir misterioso e murmurou algo como “Você verá”. Ele tinha razão em procurar o que queria, pelo menos agora estava livre de mim e todo aquele sentimento. Pelo menos ele soube desistir antes de encarar uma guerra já perdida.

Eu já tinha uma ideia do que ele queria e do que faria. Ele não mudara por mim. Mudara por ele e para seguir seu sonho. Ele queria uma família e eu não poderia dar isso a ele.

Sorri internamente e falei para ele que precisava encontrar Draco. Eu queria me acertar com ele e desculpar-me por ser tão ridícula. Só esperava que ele aceitasse essas desculpas.

Saí da casa de Pietro e olhei para trás, onde ele ainda me fitava.

–Sabe, senti uma certa decepção em você quando comentei sobre a Emily e seu sangue veela...

–Imagina, foi impressão sua... – o moreno respondeu passando a mão esquerda no cabelo, seu sinal típico de nervosismo.

–Ah, tudo bem então... – falei virando-me de volta para a rua, mas acrescentei em seguida – Estar maravilhado é diferente de estar apaixonado. Não se confunda. E lembre-se, você me superou, ou irá superar.

–Não esquecerei – ele sussurrou – e Hermione, não brigue sem motivos racionais.

–Combinado – falei e aparatei em seguida.

Depois do desconforto rotineiro senti o chão firme e me deparei com a travessa escura perto de casa. Saí de lá e me dirigi para meu prédio, onde minha cama confortável me esperava e, com sorte, Draco também.

Ao abrir a porta da frente, percebi que as luzes estavam todas apagadas. “Talvez ele esteja dormindo” Pensei, mas era improvável, não era tão tarde assim. Ao ligar a luz da sala me deparei com o vazio. Ele não estava aqui. Fui para a cozinha e assaltei a geladeira, pegando um pedaço de torta que sobrara de ontem. Depois de esquentá-lo voltei para a sala.

Queria que Draco voltasse logo... assim poderíamos fazer as pazes.

Depois de comer, deitei no sofá e fiquei pensando em Pietro. Ele estava apaixonado todo esse tempo e eu não percebi nada. Mas talvez o que houve hoje fosse o melhor que poderia acontecer, ele deveria desistir mesmo e amar outra. Talvez Emily, pelo menos ela também quer um namorado e pelo jeito que o olhou na boate não demoraria muito para cair de amores por Pietro.

Ouvi a maçaneta da porta girar e ela abrir-se em seguida. Olhei para o portal e me deparei com Draco.

–Até que enfim você chegou... – comecei a dizer e levantei-me do sofá – Precisa falar com v...

–Agora não, Hermione – ele falou baixo e caiu no sofá, massageando as têmporas – Estou com dor de cabaça para brigar mais ainda...

–Mas... – comecei a protestar e me aproximei dele – Eu não quero mais brigar.

Quando falei isso percebi que ele ainda não dava atenção a mim, senti então o cheiro familiar do álcool e me dei conta de que ele estava bêbado. No entanto o que mais me chamou atenção fora uma marca vermelha no colarinho dele. Uma marca de batom.

–Onde você estava? – perguntei entre dentes, tentando em vão controlar minha raiva e orgulho ferido – Estava divertindo-se?

–Hermi...

–Pelo jeito estava mesmo, e garanto que outra mulher também.

Ele fechou os olhos e deixou a cabeça cair para trás, acordaria amanhã pior do que hoje com certeza e me peguei desejando isso internamente.

–Draco! – gritei.

–Fique quieta, Hermione. Tudo está rodando. Minha cabeça dói...

–E vai doer ainda mais. – sussurrei com ódio e comecei a bater nele – COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE FAZER ISSO COMIGO?

–PARE! – Draco berrou segurando meus braços e levantando-se do sofá – Eu não fiz nada.

–Nada? Então fui eu! – falei e senti minhas costas encostarem-se à parede quando Draco me empurrou para elas.

Draco estava com raiva também e parecia lutar internamente contra si mesmo.

–Hermione, eu não...

–O QUE É ESSA MARCA DE BATOM ENTÃO? – gritei cortando-o e olhando para o pescoço dele.

Ele olhou sua camisa e se deu conta, tentei soltar-me dele, mas não consegui.

–Eu estou bêbado. Garanto que nem você consegue pensar muito quando está embriagada.

Ele tinha razão, era verdade. O que eu fizera com Pietro há um ano era a prova perfeita disso, mas eu sabia que a melhor defesa dele era o ataque e o culpado ali era ele, não eu, já que eu não o namorava na época.

–Não te forcei a beber.

–Tem certeza? Porque isso tudo é sobre você. – Draco falou me olhando nos olhos.

–Não pedi para que…

–EU NÃO TE TRAÍ, DROGA! – Draco gritou com mais raiva ainda – Nunca. Ouviu? Nunca sequer cogitei isso.

Manter um contato fixo com os olhos dele era perigoso e acabei fechado meus olhos e depois fitei o chão.

–Me solte, Draco. Quero sair daqui – falei tentando empurrá-lo, mas ele me segurou firmemente contra a parede.

–Não até que você me ouça.

–Eu não quero te ouvir, chega de mentiras. – falei e o empurrei com mais força.

–Sou um mentiroso mesmo, sei que isso não muda, mas desta vez não estou mentindo, Hermione. – ele falou e ao arriscar mirá-lo fiquei hipnotizada pelos seus olhos azuis.

Um misto de ódio e desejo me invadia. Eu queria acreditar, mas tudo falava exatamente o oposto. Eu queria apenas esquecer e beijá-lo. Concluí que a ignorância às vezes é a melhor coisa. Se ele tivesse escondido aquela mancha, se tivesse feito qualquer coisa para me esconder, um feitiço qualquer para limpá-la... talvez seria melhor, porque agora eu não conseguia acreditar nele.

Mas antes que eu pudesse impedir a mim mesma puxei-o de encontro a mim e o beijei com volúpia, sugando seus lábios e deixando que ele largasse meus braços e começasse a puxar-me pela cintura de encontro a ele. Aranhei sua nuca, acariciando seus cabelos loiros tão finos. Eu o queria, eu o desejava, mas numa parte do meu cérebro ainda estava meu orgulho e meu coração já estava despedaçado demais para eu dar ouvidos a ele.

–Não me importo. Guarde suas desculpas para você – falei finalmente parando de beijá-lo e desta vez consegui escapar.

Fui para longe dele e ouvi o som de vidro sendo quebrado. Virei-me e percebi que Draco havia quebrado um copo que eu deixara sobre uma mesinha ali perto e agora sua mão esquerda continha sangue.

–QUE DROGA, HERMIONE! Não fiz nada essa noite. Apenas bebi e...

–Escorregou em uma piranha no bar, só isso? – perguntei e ele me olhou com mais ódio.

–QUER A VERDADE? EU BEIJEI UMA MULHER, HERMIONE. É ISSO QUE QUER TANTO SABER?

–Essa é a verdade que já sei. E quer saber mais? Acabamos aqui, Malfoy. – disse com meus olhos começando a ficar embaçados e segui para o quarto, trancando a porta com feitiços para que ele não pudesse abrir, mesmo que explodisse.

Encostei-me na porta e deslizei até o chão, agora chorando mesmo. Como eu poderia ser tão estúpida? Tudo o que eu queria era que tudo fosse normal. Mas não, quando eu menos espero Draco me faz isso.

–Hermione, me desculpe... – ouvi a voz dele abafada pela porta e conclui que ele estava do mesmo jeito que eu, sentado exatamente atrás de mim. – Por favor.

Eu não queria me importar com ele, não queria sentir. Se eu pudesse fazer tudo isso ir embora, ficaria bem. Mas eu não tinha esse poder.

–Vá embora, Draco. Não quero te ver nunca mais. – falei tentando não soluçar, fora em vão.

Continuei ali, abraçando minhas pernas encolhidas e com meu queixo sobre elas. Se tudo fosse como era antes... eu ficaria melhor. Mas nada tinha volta.


***


A morena livrou-se no homem embriagado que ainda insistia para que ela o deixasse fazer mais coisas do que apenas beijá-la. Assim que conseguiu manter as mãos dele longe dela, saiu do bar em que estava. Draco Malfoy já havia ido embora há um longo tempo, não compensaria continuar ali. Virou a rua onde várias pessoas aproveitavam a noite londrina e entrou em uma travessa. Pegou sua varinha na bolsa que carregava nas mãos e também um anel de ouro que guardara ali mais cedo. Recolocou-o no dedo anelar e olhou para a aliança dourada, como se a admirasse. Finalmente fechou a bolsa e concentrou-se na aparatação, deixando os ares de Londres e entrando em território francês, exatamente na entrada de sua casa. Passou pelo portão negro e começou a andar na direção da porta da frente, passando pelos jardins tratados que seu marido insistia em cuidar. Uma empregada estava na varanda, levando o lixo para fora e viu a mulher.

–Boa noite, Sra. Breine. – a empregada falou educadamente, mas a outra passou por ela como se não a visse.

Ao entrar em casa, já no hall percebeu que o marido estava na sala de estar. Foi para lá e o olhou calmamente, atraindo a atenção do homem para si. A mulher andou até ele e sentou-se ao seu lado, aninhando-se nos braços dele.

Os cabelos do homem já rareavam em algumas partes da cabeça, mas o tom do seu cabelo era castanho. Seus olhos verdes eram intensos, mas já não continham tanta vida como costumavam ter, no entanto brilhavam perto da mulher, muito mais jovem e alegre, com seus cabelos e olhos negros.

–Como estava Londres, mon amor?

–Tudo maravilhoso, querido, você deveria ir comigo um dia desses, fazer algumas compras, passear e relaxar... – a morena falou sorrindo – E você não acreditaria no tamanho dos olhares de inveja que minhas amigas lançavam à minha aliança... Diziam que era linda demais e que eu tenho sorte, mas sabe de uma coisa, amor?

–O que?

–Não estou nem aí para essa aliança – a jovem mulher falou antes de beijar o marido nos lábios. – Estou mais interessada em você.

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