12 agosto, 2012

[Cidade de Sangue] Deixe Morrer


Ethan me encarava, estava espumando raiva e eu apenas sorria. Alheia ao nosso jogo mental, Ann Marie também sorria, totalmente interessada em mim.

– Você e Blake estão juntos? – a loira perguntou sorrindo de forma desafiadora.

– Não, não estamos! – falei, sentindo agora toda a minha alegria se esvair. – E pare de fazer essa pergunta!

– Quem é Blake? – Katherina perguntou curiosa.

Em anos comigo ela sempre insistia para que eu falasse sobre romances, mas eu nunca satisfazia esse seu interesse. Eu era fria demais e meu passado com homens era uma grande piada. Um marido caçador morto, um vampiro cruel sumido, outro vampiro esbanjador e galinha. Sinceramente, eu não tinha a mínima sorte com romances. Blake era o mais normal deles, mas também... ele não era nada, nem ninguém. Não era possível eu me apaixonar por um homem tão arrogante e desprezível.

– Não importa! – eu disse repentinamente, sentando-me no sofá – Blake não é ninguém. E então, o que faz aqui, Ann?

– Vocês se conhecem? – Ethan contestou surpreso.

Eu estava em problemas. Sérios problemas.

“Disse que não iria atrás dela” ele gritou em minha mente.

“Eu não corri. Ela apareceu!”

“Sei, sei”

– Conheci ela na delegacia hoje mais cedo, não é mesmo, Ann? – falei.

– Delegacia? O que fez dessa vez?

– Oh, obrigada, Dominique! Agora Ethan irá encarnar o espírito do meu pai.

– Estou falando serio, Ann! O que fez?

– Estava me divertindo, oras! E as pessoas amam acabar com a felicidade alheia. Já tive sermões demais para um dia, e não vim aqui para falar disso com você!

– Deseja falar sobre o que comigo então? – Ethan contestou impaciente.

– Com você não. – Ann Marie disse toda dona de si e virou-se para mim – tenho assuntos com ela!

Três pares de olhos me fitavam. Ann ansiosa, Ethan com raiva e Kate perdida.

– Assuntos? Que assuntos? E como sabe que vivo aqui? – perguntei.

– Roubei sua ficha na delegacia.

– Você o que?! – Ethan exclamou.

– Roubei, Ethan, roubei! Agora quero falar com ela, Dominique Armstrong, se é que é mesmo esse o seu nome.

– O que quer dizer com isso, menina?

– Quero dizer que sei quem você é, sei o que faz, sei o que você é! – Ann Marie falou corajosa, embora eu sentisse ela temer pela própria vida.

Minha aura estava levemente descontrolada, de propósito. Eu simplesmente não poderia deixar essa menina revelar meu segredo por aí. E exatamente por esse motivo eu deveria intimidá-la.

– Sabe mesmo? – eu perguntei aproximando-me dela e Ann levantou-se. Ela recuou e encontrou apenas a parede.

Sua respiração tornou-se pesada, ela tentava acessar a própria magia, tentava mandar para longe seu medo de mim e eu não fazia o mínimo esforço para esconder minha natureza perversa. Eu queria era que ela percebesse onde se metia. Queria que Ann visse que eu não era uma vampirinha feliz, nem piedosa. Eu tinha trevas, mais do que qualquer um poderia supor.

Eu sentia Ethan atrás de mim, sua fúria crescia, mas ele entendia o que eu estava fazendo. Eu estava provando Ann Marie, eu precisava testar sua coragem, sua ousadia. Ethan sabia perfeitamente que eu não a machucaria.

– Responda-me, Ann Marie: O que eu sou? – perguntei e deixei que meus caninos ficassem evidentes.

A garota recuou ao ver minhas presas, porém ainda havia muita coragem nela.

– Você é uma vampira, Dominique. Eu a contatei e você não pode me machucar. Você deveria me proteger.

– Não é assim que as coisas funcionam. Não dei a você minha lealdade, você não está sobre minha responsabilidade, garota. Agora me diga: Você quer proteção contra quem ou que?

A loira hesitou, ela olhava-me no fundo dos olhos e embora eu não soubesse o que ela pensava, eu lia tudo em seu olhar. Ela estava tentando decidir o quanto eu era confiável.

– Eu tenho medo... por causas das mortes, dos ataques e...

– Não minta! – eu gritei e isso a fez ficar mais encolhida.

– Nick – Ethan sussurrou baixo.

“Eu não sei como isso funciona, não sei como um laço é feito, mas eu vi algo assim antes... no livro da mamãe. Eu quero vingar os caçadores que a mataram. Eu quero que eles sofram”

Ann falava diretamente com minha mente. Ela não queria que mais ninguém soubesse disso. Nem mesmo Ethan.

Ok, agora eu entendia menos ainda. Ela não sabia sobre o laço de Ethan e Heather, não sabia muito sobre magias e agia por pura vingança? Caçadores matavam bruxas também?

Essas questões encheram minha mente, no entanto meus pensamentos foram levados embora quando ouvi uma melodia repetitiva. Ann Marie colocou a mão do bolso traseiro da calça e tirou de lá um celular.

– Eu preciso atender – ela dissera agora calma.

Gostei disso. Ela controlava rapidamente o próprio medo, controlava as emoções, a própria voz.

– Diz aí, Luke! – ela falou animada – arrã... sei... agora? Está uma chuva horrível... Como espera que eu chegue até aí?... certo... tá tá, eu estou aí logo.

– Aonde pensa que vai nessa chuva?

Ethan a olhada de modo avaliativo. Por Merlin! Aquele loiro agia como se Ann fosse sua filha! Era ridículo isso.

– Para a casa do Luke, vou ver uns amigos e você não é meu pai, Ethan, então largue do meu pé! – Ann falou desafiadora e virou-se para mim em seguida – Pouco me importa se há regras nesse negócio de laço. Eu quero sua ajuda e você vai querer a minha para algo, seja para algum assunto particular, como Blake, ou até mesmo para esses ataques que estão acontecendo. Eu posso descobrir quem está por trás disso e você sabe que eu faria isso.

A loira então virou as costas e saiu pela porta da frente, enfrentando tanto a noite, quanto a chuva.

– Desculpe, Ethan, mas essa garota vai me ser muito útil! – falei sorrindo e piscando para meu amigo.

– Nick...

– Já sei, já sei. Não devo fazer nada. Mas saiba, Ethan, isso é um erro, sabe perfeitamente bem que eu posso proteger a garota.

Ethan olhou-me de cima a baixo e deixou escapar um sorrisinho malicioso. Eu estava ciente das minhas roupas ensopadas de água, grudando em meu corpo e destacando meus seios. Eu apenas o encarei de forma desafiadora.

– Nick, você é a vampira mais gostosa do mundo.

– Ethan, sei até onde esse papo leva, depois de décadas achei que tivesse desistido de mim – falei sorrindo descaradamente.

Meu amigo apenas riu.

– Nunca faria isso, minha querida – ele falou. – Você duas querem me acompanhar?

– Onde iremos? – Katherina contestou.

– Bem, acho que está na hora de colocar essa cidade nos eixos. E Nick, acho que você irá adorar conhecer os vampiros de Noctem.

Eu sorri.

– Apenas conhecer?

– Você sabe o que eu quis dizer.

Sim, eu sabia exatamente a que Ethan se referia.

Ele era o chefe de Noctem, quem controlava a tudo e para isso, nada melhor do que soltar o medo por aí.

– Será um prazer isso.



***



A chuva continuava a cair forte, o cheiro da terra molhada era intenso e o frio apenas aumentava. Eu estava sentada num caixote velho. Estava num galpão abandonado, a pintura já estava suja, desbotada, horrível. Katherina olhava as paredes com um interesse enorme e um olhar perdido, um olhar típico dela, uma mente insana e descontrolada.

Havia vários vampiros espalhados por ali. Uma garota de cabelos negros roía as unhas, encarava-me por vezes e logo seu olhar desviava de mim. Uma outra de cabelos avermelhados mantia um olhar de tédio. Dois homens me encaravam com um desejo visível no olhar e outros três comiam Katherina com o olhar. Ela nem ao menos notava isso e se o fizesse, não dava a mínima.

Lorena também mantinha a mesma expressão que Kate, ambas demonstravam desinteresse em relação ao lugar, à situação. Ela trocou algumas palavras com Ethan e em seguida veio até mim e Kate, sentou-se ao nosso lado.

– Vai ser divertido trabalharmos juntas. – Lorena falou divertida – É como antigamente.

– Só que agora cada uma esconde um segredo, não é Lory? Estamos tão unidas como pássaros. Se um tiro é ouvido, cada um voa para um lado – Katherina falou.

Ótimo! Ela encarnou de novo o espírito de uma romancista!

Ethan, no centro, esperava apenas. Dois minutos depois um vampiro apareceu. Seus cabelos loiros eram curtos, era forte, arrogante.

– Está atrasado, Dionysus – Ethan gesticulou.

Sua voz era gélida, ouvi-la era como estar de frente para um pressagio de morte.

– E daí?

Mal o vampiro dissera isso, Ethan voou para cima dele, o vampiro caiu no chão e bateu sua cabeça, o som disso foi enorme, era como chumbo caindo no chão. A mão de Ethan pressionava a garganta do outro e ele tentava em vão se desvencilhar do ataque.

Uma garota fez menção de interferir no combate e eu levantei-me, colocando-me entre ela e os dois vampiros.

Ela não ousaria avançar, e apenas recuou, assistindo com angústia ao ataque.

Os olhos do vampiro giravam nas órbitas, sua pele já pálida, agora estava num tom esbranquiçado, aparentava ser um verdadeiro cadáver. Ethan retirou então uma adaga de madeira das vestes e a pressionou contra a pele do homem. Ele gritou, sua dor era nítida, palpável por qualquer um naquele galpão.

– POR FAVOR, PARE, por favor... – ele suplicava, cada vez sem mais força para lutar.

Ethan poderia ficar ali a noite inteira e não cansaria. Ele poderia ser o cara mais gentil da face da Terra, porém também era o mais sádico e sem pena alguma da dor alheia.

– Há regras nessa cidade – Ethan falou baixo, embora todos ali pudessem ouvi-lo. – Eu mando aqui e não permito gracinhas, tampouco falta de respeito.

– ...perdão... eu...

– Quem é o líder dessa cidade?

– Et.. Ethan.

– E o que eu faço com vampiros desobedientes?

– Por fav...

– Responda!

– M-morte.

– Exato!

Mal falou a última palavra, Ethan enterrou a adaga no coração do vampiro e três garotas gritaram. O homem deu um último suspiro antes de sucumbir.

Ethan levantou-se e olhou todas as faces ali.

Todos exibiam medo e eu tinha que admitir que me encaixava entre eles. Ethan dava-me arrepios às vezes.

– A partir de hoje quero que encubram todos os seus rastros. Nada de corpos em qualquer lugar, enterre-os, livrem-se deles a todo custo. Não quero mortes desnecessárias – ele falou em alto e bom som. – Alguém está nos expondo, há perigo aqui, humanos que sabem sobre nós e que não hesitariam em nos matar. Quero que toda informação sobre mortes e caçadores seja reportada a mim. Tudo! Ouviram bem?

Todos ouviram muito bem, Ethan. Pensei sarcástica.

– Nick, Lorena e Kate me ajudarão a cuidar de possíveis... traidores.

Os vampiros olharam de mim para minhas amigas. 15 pares de olhos nos encararam com medo e de certa forma, todos ali sabiam do que nós três éramos capazes.

Nick Armstrong, uma assassina impiedosa, Kate Bennett, uma insana torturadora e Lorena Françoise, a esmagadora de corações, literalmente. Nosso passado nos denunciava a todos eles.

– Ethan, eu... – a garota morena, q qual eu impede de interferir na briga, começou a falar e o loiro foi até ela.

– O que quer me dizer, Íris? – Ethan perguntou colocando uma mecha de cabelo dela para trás da orelha.

A garota tremia e mal conseguia falar.

– Há alguns vampiros novos na cidade.

– Vampiros novos? E por acaso sabem como as coisas funcionam por aqui? – Ethan contestou.

– Eu... eu os avisei, disse sobre você, e eles...

– Eles...

A garota era puro medo, eu sentia isso, todos ali poderiam perceber. Ela fechou os olhos e tentou continuar.

– Eles disseram que não se importam e que o matariam facilmente.

Ethan riu e eu o fitei com espanto. Por Merlin! Ele era a face de um demônio.

– Não se preocupe, Íris. Eles não são nada – meu amigo falou e pegou a mão da garota, levando-a até um sofá velho, sentou-se lá com ela ao seu lado. – Todos estão avisados. Reunião encerrada.

Mal ele falou isso, todos os vampiros ali desapareceram, menos um garoto moreno. Ele não aparentava ter mais do que dezessete anos.

– Ethan...

– Diga, Mitra.

– Quero sair de Noctem, as coisas aqui mudaram muito, eu quase fui morto essa semana por um maldito caçador, eu nunca senti tanto medo em todo a minha vida e...

– Vá, mas me mande lembranças, ok?

O garoto sorriu, embora ainda estivesse abobado com a capacidade de Ethan de ser gentil quando queria.

– Íris virá comigo – o vampirinho disse.

Olhei para Ethan e cruzei os braços. Kate, ao meu lado, fitava a chuva caindo do lado de fora.

– Como quiser, Mitra. – Ethan falou e virou-se para a garota ao seu lado – Íris?

– O que?

– Pare de tremer.

– Certo.

Íris tentava em vão. O corpo do vampiro morto ainda continuava ali. Ela não parava de fitá-lo. Íris possuía uma pele pálida, mas lindas e enormes madeixas negras. Os olhos eram com de mel, mas verdes na luz. Era fora uma bela humana, e agora, uma perfeita vampira.

– Íris – Ethan a chamou novamente. – Você não precisa temer mais aquele idiota, está livre!

Olhei novamente para o corpo no chão e entendi. A reação dela não era somente de medo de Ethan. Não, ela temia também ao vampiro morto. Dionysus era seu senhor, ele a criara e sua obediência pertencia a ele, seu criador. Ela agora lutava contra o impulso de matar Ethan.

Olhei para os dois.

– Eu não consigo. Isso é mais forte, Ethan – a garota falara. – Eu sinto o cheiro do sangue dele aqui, e só penso em matá-lo.

Ethan tocou a mão dela e fechou os olhos. Que beleza, ele ia recorrer a magias!

– Quero que vá com Mitra. Deixe Noctem, fique a salvo. Sei que você o odiava da forma que podia, mas agora seu criador não existe, você livre, afinal.

– Obrigada – Íris falou e levantou-se – Você é um enigma, Ethan Ward. Um verdadeiro enigma.

A garota ainda o temia, mas ainda estava impressionada com meu amigo. Ela apertou a mão de Mitra e juntos eles saíram de lá.

– Ethan, Ethan, você é um enigma – eu brinquei e ele socou meu ombro.

– Cale a boca, Nick. – falou e sorriu, o seu típico e lindo sorriso.

Mal ele falou isso, lembrei-me do dia em que eu o conheci.

A atmosfera do salão era quente, fragrâncias estavam no ar, e o jazz me distraia. Peguei uma taça de champagne e deixei minha cabeça cair para trás, encostei-me da cadeira estofada. O som me encantava, a musica era uma das poucas coisas que faziam a vida valer a pena.


I hate's to see dat ev'nin' sun go down

Hate's to see dat ev'nin' sun go down

Cause ma baby, she done lef' dis town

If I feel tomorrow lak ah feel today

Feel tomorrow lak ah feel today


Abri meus olhos, alguém me encarava descaradamente. O homem alto sorriu e sentou-se ao meu lado.

– Bela música, não?

Ele era loiro, seus olhos claros eram lindos como o céu. E o sorriso? O mais lindo do mundo! Mas ele era ousado demais, e seu jeito todo divertido me impelia a me divertir com ele.

– Seria mais bela se me deixasse ouvi-la – falei sorrindo.

– Garota hostil – ele falou e virei-me encarando-o.

Senti uma energia estranha vindo dele, ah, ótimo! Um vampiro.

– Se quer um pescoço essa noite, sugiro tentar outra garota.

Ele ficou-me com mais atenção e eu sorri fixamente para ele.

– Acho que já encontrei a garota perfeita para me divertir essa noite – o loiro falou. – Prazer, Ethan Ward.

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