12 agosto, 2012

[Cidade de Sangue] Alguém que se importe


Tudo o que havia ali era uma enorme e aterrorizante escuridão. O vento forte fazia as árvores dançarem, sons de animais eram ouvidos e arrepiariam qualquer um.

Mas não a mim.

Deixei que meus olhos se acostumassem com o ambiente e comecei a procurar qualquer sinal que indicasse o possível culpado pelos crimes. Meus sentidos eram afiados, funcionavam perfeitamente.

E eu sentia cheiro de sangue, embora fosse seco, antigo. Segui calmamente até o centro do parque e agachei-me, toquei o solo com minhas mãos.

Através da minha magia senti a energia que vinha do solo. Gritos, pavor, medo. Era como ver um dos crimes, no entanto sem realmente usar os olhos, somente outros sentidos.

E então alguém surgiu por trás de mim, tão rápido quanto uma ave num vôo, tão feroz quanto um lobo.

– Como vai, Nick? – a voz doce falou. – É tão estranho te ver... tão humana.

– Dê o fora, Lorena – falei, embora não quisesse que ela partisse, no entanto, quanto mais longe ela estivesse dali, mais protegida.

– Quanta hostilidade!

Minha amiga estava linda como sempre, os cabelos dourados brilhavam, ela tinha um estranho sorriso nos lábios. Lorena acabara de se alimentar, eu sentia o cheiro de sangue impregnado em seu corpo.

– Pensei que sairia da cidade – falei fitando-a fixamente.

– Eu também pensei, mas tenho assuntos aqui ainda.

– Por exemplo?

– É segredo – ela sussurrou levando um dedo aos lábios, misteriosa e debochada.

Suspirei e levantei-me. Olhei para o céu, nuvens de chuva se formavam rapidamente. O cheiro no ar era reconfortante, embora também fosse assustador, angustiante.

Havia outros vampiros na cidade e provavelmente estavam rondando aquele parque.

– Lory, não faça nada estúpido, ok? – pedi sem fitá-la.

– O que eu poderia fazer? – ela contestou baixo.

Senti uma gota de chuva em meu rosto. E outra e mais outra.

A água confundia meus sentidos, meu olfato e visão.

Mas ainda assim, senti o cheiro dele. Cada vez mais próximo.

“Não pode ser verdade!” bufei, completamente irritada.

– Adeus, Nick! Não gosto dessa aguaceira! – Lorena reclamou.

– Espere! Ethan domina essa área, se você fizer algo, não poderei protegê-la, então tenha cuidado se for fixar aqui, embora o mais esperto de sua parte seja partir.

– Guarde seus conselhos, Dominique, nem sempre funcionam – a loira falou desafiante.

Agarrei-a pelo pescoço numa velocidade incrível.

– Não estou para brincadeiras Lorena Fontaine. Posso não ter mais sua amizade, mas exijo respeito acima de tudo.

A garganta dela começava a ficar avermelhada, e eu não sentia pena alguma.

– Se eu descobrir que você tem algo com as mortes que estão acontecendo nessa cidade, eu não a matarei, na verdade, será divertido torturá-la pelas próximas décadas. Tempo é o que mais tenho.

Larguei-a e Lorena lançou-me um olhar ardente de puro ódio e saiu de lá mais rápido do que aparecera.

Lembrei-me então que eu não estava sozinha no parque. Virei-me para o lado e caminhei a passos largos procurando meu chefe cabeça dura e estúpido.

Blake Evans mal me viu, agarrei-o pelo colarinho com força, com uma raiva crescente, algo que eu raramente sentia. Era como um efeito automático, algo ativado com a simples presença dele. No entanto eu tentava controlar minha força. Para todos os efeitos, eu era uma humana aos olhos dele.

– O que diabos faz aqui? – perguntei entre dentes.

– Você veio até aqui, insistiu nisso! Eu não poderia deixá-la aqui, sozinha e desprotegida nesse lugar tão...

– Eu sou uma detetive, já estive em lugares e situações piores! – gritei e a chuva engrossava cada vez mais. – Não preciso de homem algum para me proteger se é o que está pensando.

– Eu discordo! Várias já morreram no mesmo lugar, na mesma situação, olhe tudo isso! Sinta essa droga de atmosfera! Acha mesmo que é um bom lugar para um passeio a noite?

– Eu não estou passeando.

– Tampouco investigando como deveria! – ele gritou.

Seus cabelos estavam grudando em seu rosto, as roupas dele já estavam pingando. Olhei para mim mesma, minha roupa grudava no corpo, eu estava encharcada.

– Onde está seu carro? – ele perguntou.

– Não tenho um, ainda – lembrei com tristeza do meu antigo automóvel, meu lindo bebê, destruído pelo meu adorado colega, o qual não largava do meu pé.

– Veio andando? – Blake contestou incrédulo – você tem fortes tendências suicidas, Armstrong!

Eu ri, ele nem imaginava o quanto! Olhei para o céu todo negro. A chuva lavou meu rosto ainda mais. Eu sentia o olhar dele sobre mim, sobre minha face, meu corpo.

Por Deus! Blake Evans era uma caixinha de surpresas, e por que diabos eu me importava? Homens eram pervertidos, pensavam mil bobagens, aquilo era rotineiro, quantos me olhavam diariamente?

– Posso levá-la até sua casa, não é uma boa ideia ficar aqui...

– Por que se importa? – perguntei repentinamente. – Não me conhece, não sabe quem sou, não conhece minha vida, o lugar ao qual pertenço, não sabe minha história. Apenas brigamos o dia inteiro, e aqui está você, tomando chuva e arriscando um resfriado por causa de uma completa estranha.

Blake me fitou atento, medindo minhas palavras, as absorvendo. Aquilo era a pura verdade. E ele simplesmente riu na minha cara. Gargalhou tanto que me senti tola. Eu deveria ter algo realmente engraçado em meu rosto, uma mancha, uma sujeita realmente engraçada ou meu cabelo deveria estar horrivelmente bagunçado. POR QUE INFERNO ELE RIA TANTO?

– Pare de rir! – eu mandei, soquei-o no braço, ele continuou.

Não éramos amigos, não havia acontecido nada. Por que ele ria?

– PARE! – gritei e ele finalmente parou, embora ainda segurasse o riso. – O que isso significa?

– Eu não faço ideia – ele respondeu.

Louco. Louco. LOUCO! Era isso que ele era.

– Claro que faz, o que há de tão engraçado?

– Você, suas palavras... alguém já lhe disse que você soa como se tivesse saído de um romance medieval? É a típica heroína feminista que não aceita ajuda de ninguém e quer frequentemente se provar melhor que todos.

– Não sou!

– É sim, se não fosse, aceitaria minha ajuda.

– Não preciso da ajuda de ninguém!

– Vê? É exatamente por isso que eu rio de você, o que aconteceu de tão ruim que não permite que ninguém se aproxime?

– Eu não quero que você se aproxime, é simples!

Ele fitou-me, agora já não ria, tampouco estava bem humorado. Eu estraguei sua felicidade, ponto para mim!

– Não ligo se a conheço ou não. – Ele começou a dizer. – Vai me achar um tolo por dizer isso, mas sinto como se a conhecesse há um longo tempo. E sua cara, nessa chuva, com raiva e querendo matar-me, querendo a todo custo fazer com que eu desapareça, isso sim é realmente engraçado, admita!

– Não é não! – falei completamente perdida. Havia algo que ele não dizia. – Como pode ter essa sensação de já me conhecer? Hoje mais cedo você disse que nunca viu alguém como eu.

– E digo novamente, é a verdade. É como se já tivesse convivido um longo tempo com você, como se a conhecesse. Mas isso nada tem a ver com o fato de eu não querer você aqui.

– Quer me afastar da cena do crime simplesmente, é isso? Há algo aqui que eu não deveria saber, Evans?

– O que? Não! Pouco me importa esconder ou não algo. Você é ruiva, é linda e uma bela vítima! Eu não te dou mais de 20 anos, você se encaixa no padrão e eu não vou deixar mais ninguém morrer...

Não deixar ninguém morrer? Ow pausa aí! Blake viu uma vítima ser atacada, mas isso não consta em nenhum relatório. E por Merlin! Ele me acha linda?

Sinto minha face rubra, maldito! Ele não deveria dizer essas coisas, e secretamente percebo que suas palavras boas são mais irritantes e destrutivas que as palavras de hostilidade.

Esqueço isso, começo a pensar no que ele disse. Ele viu uma vitima. Foque-se nisso, Dominique!

– Você é uma testemunha! Oh droga! Esqueci de olhar essa papelada! Como não contou isso? Você o viu? Por que não disse? Poderia descrever o assassino e...

– Respire! Eu não o vi, não tive tempo. – Seu olhar era sombrio, sua face se converteu numa careta de medo.

Ele definitivamente viu algo.

– Diga-me o que viu – pedi. – Por favor.

Blake fitou-me quase cedendo e deu de ombros.

– Vamos sair dessa chuva.

Ele falou simplesmente e puxou-me pelo braço.

Okay, eu oficialmente o temia, queria esquartejá-lo vivo, tirá-lo de minha vida. Blake Evans era uma erva daninha, algo que atrapalhava mais do que ajudava, algo que não faria falta se eu simplesmente cortasse fora do mundo. Ele me irritava de todas as formas possíveis!

Avistei o carro dele. Era um diferente do de antes, provavelmente o carro antigo dele tivera perda total. Há! Ao menos eu não fui a única prejudicada.

– O que houve com Ann e Luke? – perguntei enquanto entrava no carro.

– Liguei para a irmã dela e os pais dele. Deixei-os na delegacia e vim para cá.

– Então... ela parece ser bem encrenqueira – comentei.

– E é, Ann é um furacão, depois da morte dos pais ela só foi se transformando. Ela e Luke são amigos desde que eram pequenos, mas ela era quem o controlava mais, Luke sempre foi um dos que mais arranjam problemas por aí, e Ann começou a seguir o exemplo dele e a bem... agir de forma estranha.

– Como assim?

– Esquece, isso não é algo bom para você ouvir.

– Pare com isso, estou curiosa – falei e liberei minha magia.

Ele estava fitando o painel do carro e eu o olhava atentamente, lendo seus pensamentos conturbados. E eu via. Ele sabia que Ann era diferente, sabia que ela andava praticando magias.

“Ann, pare com isso, por favor!” a voz dele soava em algum lugar distante

“Essa é quem eu sou, Blake, sabe tão bem quanto eu que não se pode lutar contra quem somos”

“Isso é magia negra”

“Não, não é. É das trevas porque você acredita que é”

“Claro que não, seja o que você esteja fazendo, não é certo, Ann Marie”

“Há diferença entre luz e trevas, abra os olhos e eu te mostrarei algum dia”

“Heather largou a magia”

“É o que pensa”

E repentinamente me vi sendo expulsa de sua mente. O olhei surpresa, ele fitou-me calmo.

Como ele me bloqueou de sua mente?

– Esqueça Ann e seus problemas, você nem a conhece...

Blake tinha um ar triste, tirou sua jaqueta e eu quis matá-lo por isso. Tirar roupas não me ajudaria nada no momento. Distração, distração! Oh Merlin! Eu precisava me distrair. Mas ele era uma visão tão boa de se ter, Blake era um policial, academia moldou seus músculos e... DOMINIQUE ARMSTRONG! Foco fora dele!

Comecei a olhar para fora, eu via sombras se movimentarem.

Vampiros.

Vida eterna a Erik Heins! Só assim para eu poder esconder de Blake essas reações automáticas e tolas.

– Onde mora? – Blake contestou.

– Por... por que quer saber? – gaguejei. Merda! Há quantas décadas eu não gaguejava? Alguém por favor, mate-me! Ou cave um buraco, preciso sumir pelos próximos séculos!

– Bem, primeiro porque está chovendo. Segundo porque você não tem carro. Precisa de mais motivos ou quer que eu te expulse do meu carro e te deixe sozinha de uma vez?

– Prefiro ir andando! – falei já abrindo a porta, mas a mão dele me conteve.

A pele de Blake era quente. Sentir esse toque era como sentir uma carga de eletricidade. Os olhos dele estavam próximos demais. Eram de um castanho lindo, e lembrei-me do acidente dias antes. Meu sangue o curou completamente e eu adoraria saber o que ele pensava sobre sua recuperação total em tão pouco tempo.

– Você não vai sair deste carro. Acredite, lá fora é perigoso. Agora me diga. Aonde você vive?

Bufei irritada e o empurrei para longe. Ele fazia-me de boba, tomava-me por tola.

E o jeito como ele falava, era como se soubesse o que havia lá fora. Ele sabia sobre bruxos, talvez soubesse também sobre vampiros.

Falei o endereço de Ethan para ele e fechei a cara o resto da viajem até lá. As ruas estavam desertas e tudo o que eu pensava era naquele idiota do meu lado, cheio de segredos. Eram mistérios demais para um simples dia.

– Você não falou ainda sobre o que viu no parque, não disse nada sobre o assassinato – sussurrei.

– Não irei repetir essa história, desculpe – Blake falou com as mãos grudadas no volante e os olhos focados na rua. – Amanhã você lê meu depoimento, certo?

– Okay – falei e continuei fitando o lado de fora do carro. Na janela as gotículas deslizavam, sumiam.

E a chuva apenas continuava, forte, lavando toda a cidade por alguns minutos.

O que eu estava fazendo realmente ali?

Nunca me importei com crimes ou com tudo isso.

A cidade era de Ethan.

Eu não possuía uma casa, deixara meu lar a um longo tempo.

Então por que eu me importava?

A ordem entre nossa espécie estava abalada e isso irritava-me. Eu precisava ajudar Ethan a consertar aquilo, a proteger a nós mesmos. E havia também Ann Walker. Cada dia uma nova surpresa sobre ela, cada dia eu percebia que ela era realmente importante.

Eu deveria fechar nosso laço?

O que Ethan diria sobre isso?

E o que Blake tanto queria comigo?

Mistérios, mistérios, como eu os odiava, mas também eu não poderia viver sem eles!

Avistei a casa de Ethan e fiz Blake parar o carro.

Toda aquela repentina aproximação era estranha, confusa demais para mim.

– Obrigada, Evans – falei e abri a porta.

– Esteja no escritório amanhã cedo, Armstrong! – Blake gritou e eu lancei-lhe uma careta.

Entrei em casa e congelei.

Anna Marie Walker estava bem a minha frente, sentada no sofá de visitas, conversando animadamente com meu querido Ethan.

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