27 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Escape




Narração por Abelard


O sol nem havia nascido ainda e lá estava eu naquela prisão maldita. Era arriscado estar ali, afinal, qualquer erro e eles poderiam descobrir quem eu era. A marca negra ainda estava no meu braço, e ao contrário de muitos, eu conseguira fugir, simplesmente porque ninguém sabia do meu passado como comensal. Poderia ser um Dolohov, mas fiz algo diferente dos outros. Nunca mostrei minha face num ataque e poucos sabiam quem eu era, o que tornou minha fuga da Inglaterra fácil demais.

À minha frente estava Sophie, ainda trancada em sua cela e pela primeira vez em meses ela aparentava estar nervosa. Era uma novidade isso, já que a francesa sempre optou por esconder seus sentimentos e usava uma máscara de indiferença.

Consultei meu relógio e percebi que faltava cerca de três horas para seu julgamento. E me dei conta de que há uma semana eu dera um ultimato a ela. E Sophie aceitou o acordo que eu propus. Era irônico pensar que em algumas horas ela seria exatamente como eu. Uma fugitiva.

– Para onde você vai me levar? – ela perguntara, obtendo minha atenção.

Sua voz era quase inaudível e por pouco eu mal a ouvi.

– Bulgária – falei e a vi arregalar os olhos – Qual é! Precisamos sair da França e a Inglaterra e Escócia não são opções muito boas. Você será procurada aqui e eu não posso voltar para Londres, de qualquer modo. Seria perigoso.

Qualquer protesto dela foi ocultado por seu nervosismo. Agora era apenas uma questão de tempo e sorte.

– Como você vai conseguir me tirar daqui? – ela perguntou e percebi mais uma nota de nervosismo em seu tom de voz e um leve ceticismo. – Isso é uma prisão, é mais fácil você assaltar um banco do que fugir...

– Apenas confie em mim, ok? – falei já estressado e quando o fiz, percebi o olhar debochado dela.

– Confiar em você? – desdenhou. – Desculpe, mas eu não vejo isso acontecendo.

Não me importei com esse comentário, fiquei apenas esperando. Como ela era a pessoa quem seria julgada, sairia daqui assim que o sol nascesse, o que não demoraria muito. Ali não havia janelas, e eu fiquei imaginando como a francesa conseguia se orientar. Então percebi que ela já perdera a noção das horas a muito tempo.

Como eu esperava, dois aurores entraram e abriram a cela dela, para escoltá-la até o Ministério Francês. Um deles me olhou desconfiado, mas deveria ter suposto que eu era apenas um amigo, já que eu a visitava regularmente. Inocência. Ninguém desconfiaria que a doce Sophie Laurent iria fugir, e pior, com a minha ajuda.

– Você pode ir com ela, se quiser. – Um dos aurores me falou e eu sorri, fingindo estar agradecido.

Mas eu recusei. Disse que iria sozinho para o julgamento, na hora marcada, mas desta vez nenhum deles me deu atenção. Lancei um último olhar para Sophie e sai de lá, pegando minha varinha e aparatando num beco. Com o estralo da aparatação percebi que havia assustado alguém, provavelmente um trouxa medíocre. Virei-me e dei de cara com os olhos arregalados de um homem e tive certeza naquele momento que de fato era um trouxa. Ergui minha varinha e apontei para sua cabeça, murmurando um feitiço e apagando sua memória. Ele caiu no chão e eu saí de lá, espreitando nas sombras e percebendo toda a movimentação de Paris. Eu não estava mais em Rennes. E a capital francesa apresentava-se tentadora a mim, mas eu resistiria. Se não Sophie seria condenada e me mataria assim que saísse da prisão. Fui até o Ministério, mas antes de chegar até lá, fiquei esperando encostado numa parede. Um homem passou por mim apressado, guardando sua varinha nas vestes, provavelmente tinha acabado de aparatar. Eu não perdi tempo e o ataquei. Ele nem mesmo vira de onde o feitiço saíra e em um segundo estava no chão. Levei-o até a rua sem saída que havia ali e o deixei escondido. Peguei sua varinha e a guardei no bolso. E da minha capa negra tirei um frasco com um líquido lamacento. Demorei um tempão para consegui-lo, mas lá estava a poção que salvaria o meu pescoço e o de Sophie. Tirei alguns fios do cabelo castanho do homem desacordado e acrescentei à poção, tomando-a em seguida.

Alguns minutos depois eu já estava na porta do Ministério, esperando Sophie com os aurores e estes não tardaram a chegar. Ela ainda estava com o olhar preocupado e obviamente não me reconheceu. Eu agora estava com a aparência do homem do beco. E deste modo eu ia proteger a minha própria identidade. Santa Poção Polissuco! Fui até ela e a própria ergueu uma sobrancelha, pensando que provavelmente eu era mais um funcionário que estaria no seu julgamento. Eu precisava entregar a varinha para ela, já que eu não conseguiria derrotar quatro aurores, sozinho, na porta do Ministério. Mas assim que eu erguesse a varinha, eles me impediriam. E assim eu fiz a última coisa que poderia pensar. Lancei um olhar para um dos aurores e aproximei-me dela, abraçando-a.

Sophie começou a se afastou, mas minha voz a paralisou.

– Você vai sair dessa, Sophie, eu sei que vai. – Falei e movimentei minha mão até o bolso de trás da calça jeans dela, deixando ali a varinha que eu roubara.

Os homens estavam ocupados demais se entreolhando, afinal, aquela cena era algo inesperado e eles estavam confusos, não sabendo se permitiam aquilo, ou se me tiravam logo de perto dela.

– Ataque! – eu sussurrei e desta vez só ela me ouvira e percebeu quem eu era e qual seria o meu plano.

Um segundo bastara para eu pegar minha própria varinha e soltar as mãos dela, outrora pressas. Afastei-me e ergui minha varinha, estuporando um dos aurores. Sophie gritou, surpresa, mas eu mal registrei isso, simplesmente porque ela controlou-se e desarmou um deles, enquanto um me acertou com um feitiço que fizera meu braço sangrar. Mas não havia tempo para sentir dor. Movimentei minha mão e estuporei outro. O quarto prendera Sophie e a ameaçou, colocando sua varinha no pescoço dela.

– Pare, ou ela morre. – Ele falou, mas sua voz tremeu.

Ele poderia ser um auror e ter matado vários bruxos das trevas, mas eu era mais experiente. Eu sabia matar e ele tinha medo de feri-la. Aquela nota assustada no seu jeito de falar era ridícula. Para matar era preciso não se importar. Era preciso ser frio.

– Vá em frente. – Eu falei, e ambos arregalaram os olhos.

– Não pode estar falando sério – o auror protestara, afrouxando o aperto de sua varinha do pescoço da francesa, sem ao menos ter notado o que fizera.

– Nem você – falei e em seguida, aproveitando a chance, o estuporei.

Ele caíra e Sophie foi junto, não podendo desvencilhar-se do homem, nem livrar-se de suas mãos a tempo. Fui até ela e tirei as mãos pequenas e gordas do auror do corpo dela e a ajudei a levantar-se. Mas ela viera com raiva até mim, batendo-me com ódio.

– Como se atreve a fazer isso? – ela protestou. – Como se atreve a mandar ele me matar?

Eu segurei seus braços e a mandei ficar quieta. Ela me obedeceu, ainda com raiva, mas sabendo que não havia tempo para discussões naquele momento. Aparatamos dali em seguida, antes que mais aurores viessem. Assim que meus pés sentiram o chão firme, também senti um tapa certeiro no meu rosto e tentei em vão controlá-la.

– Espere! Eu não estava falando sério! – gritei e a joguei contra a parede, prendendo-a ali. – Ele não a mataria, você é inocente aos olhos de todos, apenas não consegue provas disso. Sophie, eu sabia que ele não faria aquilo.

– Mas...

– Sabe o quanto tivemos sorte? Eu estava contando tanto com o fator surpresa e me assustei ao ver que dera certo. Eles estavam surpresos, por isso não agiram a tempo, por isso eu consegui derrubar um deles e você, o outro, mas eles recuperaram o controle, por um segundo, eu fui atacado e você também. Arriscar sua vida foi o que nos salvou. Ter blefado com aquele auror foi a única coisa que me ocorreu e agora por que está reclamando? Você está viva e livre! E eu... – gritei, completamente nervoso e pela primeira vez percebi que ela chorava.

Afrouxei o aperto das minhas mãos sobre o pulso dela e, sem pensar, levei minha cabeça até seu ombro, descansando ali. Eu estava cansado e a adrenalina do ataque ainda estava no meu corpo, fazendo-me gritar.

– Desculpe. – Pedi, surpreso com mim mesmo por estar fazendo aquilo.

Eu não me lembrava mais qual fora a última vez que falara aquela palavra.

Ainda que tivesse ficado durante semanas naquela cela, a pele dela nunca perderia a delicadeza, muito menos o cheiro de seu cabelo loiro desapareceria. E assim percebi que não estava cansado apenas fisicamente. Minha alma estava cansada e eu já não queria viver nas sombras, fugindo sempre e evitando colocar os pés no meu próprio país.

Saí de perto dela e joguei minha capa na cama, percebi que minha camisa estava vermelha, por causa do sangue, e a tirei também. Antes que eu pudesse pegar minha varinha para amenizar a dor naquele corte, mãos leves o tocaram e percebi Sophie ao meu lado, com a varinha roubada em suas mãos.

Ela murmurou alguns feitiços e a dor no meu braço passou um pouco. Ela conseguira também fechar o corte e fiquei aliviado por isso. Eu era péssimo em feitiços de cura.

– Obrigada por me salvar. – Ela murmurou e a vi desabar na cama, cansada. – Estamos na Bulgária?

Eu assenti e meus olhos pararam num espelho na parede. Minha aparência estava quase normal. Apenas meu cabelo não tinha voltado a ser o que era ainda.

– Eu morei aqui nos últimos meses, antes de ir para a França. – Falei e percebi ela fitar o quarto, curiosa.

– Esse lugar precisa de uma limpeza. – Ela falou, divertida.

E de fato precisava. Havia sujeira no chão e um leve cheiro de bolor. As paredes escuras conferiam ao ambiente uma sensação desagradável, mas era o que tínhamos. Lá fora a chuva caía fracamente e aqui dentro eu ainda era bombardeado com minhas emoções pós-batalha.

– E o objeto? – perguntei, lembrando-me da razão de todo o meu esforço para tirá-la da prisão.

Sophie suspirou e revirou os olhos.

– Apenas espere. – Ela dissera. – Eu preciso de algum tempo e depois descubro se meu plano deu certo.

Eu sorri e percebi que eu não era o único que armava planos loucos ali. E tinha que admitir, Sophie provavelmente conseguira o que queria.




Narração por Pietro



Uma semana pode mudar muito a vida de alguém. E exatamente há uma semana eu recebera uma carta da minha melhor amiga de infância e irmã. Parecia uma loucura, mas ela era esperta e sabia o que estava fazendo.


Desculpe-me por incomodá-lo, Pietro. Sinto sua falta e de mamãe também, mas preciso pedir um favor, não exatamente para meu proveito, mas para o de todos.


Agora eu estava fitando o antigo prédio no Gringotes Francês. Eu precisava entrar, mas algo me segurava na calçada. Meus pés estavam pesados. Mas eu me forcei a entrar, ainda me lembrando de suas palavras.


Assim que a herança de Jacques Breine for liberada, você terá acesso à metade dela. Mas por outro lado, Pansy Parkinson terá a outra parte. E é onde as complicações começam. Ela o matou, eu sei que sim. Convivi naquela casa com ela e no momento em que o Sr. Breine a trouxe eu soube que algo ruim aconteceria. Mas ele estava feliz e eu não queria ser egoísta e condená-lo por estar com ela. Arrependo-me amargamente por não ter feito nada, porque sei que ele me ouviria, e se eu pedisse, a abandonaria.


Culpa. Era o que ela sentia. E eu sabia também que Sophie faria algo idiota, só não sabia exatamente o que. Pela primeira vez na vida ela era quem causava problemas e me preocupava. Ela era quem se arriscaria. E isso era estranho, eu sempre era impulsivo, não ela.

Entrei no Grigotes e me dirigi até um dos balcões, onde um duende me olhou, entediado. Entreguei a chave do cofre, que o ministério me entregara, pela herança ter sido liberada. Quando me entregaram eu soube que Sophie confessara o crime, que não cometera. Mas como ela própria pedira, eu não poderia ir até seu julgamento.


Mas agora já é tarde e não há como mudar o passado. Eu irei confessar e o proíbo de ir ao meu julgamento. Não precisa se importar comigo, porque não estarei lá, de qualquer modo. Eu quero que você vá até o cofre do seu pai e tire de lá algo. Parkinson não pode colocar suas mãos nesse objeto, não importa o que aconteça.


– Preciso entrar no cofre 517. – Falei, sem emoções na face.

O duende pegou a chave e minha varinha. Percebendo que eu era o novo dono do cofre. Um Breine. Sem perceber peguei-me pensando que aquela mulher também colocaria seus pés lá dentro e ela não merecia isso. A outra parte da herança era de Sophie, mesmo que permitissem que ela desfrutasse disso.

O duende devolveu minha varinha e me levou até um carrinho apertado, iríamos seguir na direção do cofre agora.


Um colar. O colar de Helga Hufflepuff, uma relíquia perdida pelo tempo. Poucos sabem de sua existência. O Sr. Breine mostrou-me há alguns meses esse colar e disse-me que era importante nunca contar a ninguém sobre isso. Você sabe o quanto ele era apaixonado por objetos raros como aquele e eu não dei importância na época, mas ele voltou a me alertar do quando era precioso e o trouxe para o banco. Naquela noite Pankinson estava já na nossa casa e ouviu nossa conversa. Eu a vi pela fresta da porta.


O carrinho parou e meu corpo foi para frente por causa da parada repentina. Sai de lá e pisei no piso de pedra, fitando o cofre a minha frente e a placa indicando seu número, 517. Eu já estava imaginando o quanto havia lá dentro. Objetos raros e artefatos místicos, a paixão do meu pai. Mesmo que eu já tivesse entrado ali quando criança eu me surpreendi. Tive que admitir, todas aquelas coisas juntas davam a impressão de ser um tesouro perdido.


Sei que esse colar é o que ela procura e assim que puder, ela irá a sua procura. Pietro, você deve ir ao Gringotes o mais rápido que puder e deve procurar um colar prata e trabalhado com citrinos, uma pedra amarela. Cuidado ao tocá-lo, pois penso que há uma mágica maligna nele. E para Parkinson querê-lo eu não duvido disso.


Caminhei lentamente no cofre, procurando o misterioso colar. Olhei para uma estante e percebi vários objetos estranhos, os ignorei e passei a olhar outra estante. Foi então que eu o vi. O colar, prata e com pedras amarelas. Peguei-o, esquecendo as recomendações de Sophie e ao tocá-lo senti uma batida fraca, como se fosse um coração silencioso, batendo de acordo com o meu próprio. Ignorei isso e o coloquei no bolso do casaco. Comecei a voltar para a porta, mas parei. Do meu lado esquerdo havia um vestido branco, lindo e volumoso e lembrei-me dela. Era o vestido de casamento da mamãe. Eu o vira em uma fotografia antiga e sorri. Ela era linda demais e eu tenho certeza de que ainda o seria se estivesse viva. Senti meu rosto úmido e só então me dei conta de que eu deixei escapar uma lágrima. A limpei, cansado de chorar e saí de lá, antes que tivesse mais recordações dolorosas.




Narração por Draco



A porta a minha frente parecia a entrada para um novo mundo, e inconscientemente eu sabia que na verdade aquela era a porta para um velho mundo, um velho Draco, uma velha vida de estupidez. Eu me adiantei para bater naquela porta, mas antes que eu o fizesse alguém a abriu, como se tivessem notado minha presença. Dois olhos me fitaram, olhos familiares, incrivelmente sedutores e amargos.

– O que está fazendo aqui?

– É assim que fala comigo agora, Pansy? – disse divertido e entrei na casa – pelo jeito você teve sorte... e espero que seu marido não se importe com a minha visita.

A porta fechou-se e eu fiquei aliviado. Ela não me expulsaria para somente ir até o Gringotes. O plano estava dando certo e quanto mais rápido Pietro saísse de lá, mais eu poderia sair dali.

– O que? – Pansy contestou e deu-se conta de algo – Oh! Ele não irá se importar, porque está morto.

Não havia emoção em sua voz, apenas a sua costumeira frieza.

–Sinto muito. – Eu murmurei, mas Pansy não prestara atenção.

Ela fora até a sala de estar e eu a segui, parando no portal e pensando no que fazer.

“Draco, eu não quero que você veja essa mulher! E se ela voltar a nos infernizar? Eu posso matá-la e realmente não quero passar meus últimos dias em Azkaban”

Eu sorri, achando graça do que Hermione me dissera antes deu vir para cá. Pansy percebeu isso.

– O que é engraçado? – ela perguntou.

– Você. É exatamente a mesma pessoa que eu conheci – menti descaradamente e nem me surpreendi com a minha facilidade para fazer isso.

Hermione temia o que Pansy poderia fazer, mas eu precisava estar aqui. Pietro precisava que alguém distraísse Parkinson enquanto fosse para o banco. Emily não conseguiria fazer isso, muito menos Hermione. Eu era a única e a melhor opção. Eu era o único que conseguia distrair Pansy Parkinson.

– E o que faz aqui? – ela repetiu a mesma pergunta de antes e sentou-se no sofá.

Respirei fundo. Eu não fazia ideia do que fazer. O plano era distraí-la, mas eu não sabia como fazer isso. E também não precisei, pois ela voltara a falar.

– Brincar de casinha com a sangue-ruim ficou chato, foi? – Pansy provocou e eu quase fechei minhas mãos por raiva. Quase.

Eu apenas me agarrei àquilo, sabendo que a manteria falando.

– Algumas coisas não parecem o que são – eu falei. – E certas coisas acabam te decepcionando.

Pansy levantou uma sobrancelha, numa visível face de surpresa.

–Está falando sério, Draco? – a morena perguntou e percebi que ela realmente queria que eu o estivesse fazendo.

Assenti com a cabeça e me aproximei dela, sentando-me ao seu lado. Por um segundo a vi arfar e me dei conta de que o que ela mais queria era que eu dissesse que odiava Hermione Granger e que havia cometido um erro ao casar-me. Mas ela não ouviria isso.

– Eu me arrependo... – eu comecei percebendo que minha voz estava saindo rouca – me arrependo por não ter tido coragem no passado. Arrependo-me por ter sentido medo e não ter feito tudo o que queria. Eu poderia ter muito mais hoje, se tivesse feito as escolhas certas.

Aquela conversa poderia ser inesperada, mas Pansy não se importava, nem suspeitaria de algo. Há muito tempo costumávamos ser amigos, éramos sonserinos e tínhamos conversas como aquela. Conversas sobre o futuro, sobre o Lorde das Trevas e sobre... nós. Pensando agora nisso, eu tinha a impressão de que isso fora há séculos e não anos e, internamente, eu percebi que sentia falta dos meus amigos juntos. Pansy, Zabini, Nott e eu. Amigos e sonserinos.

Mas infelizmente isso não seria possível. A morena a minha frente fizera coisas terríveis e até mesmo Zabini já me decepcionara. Respirei, cansado.

– Draco... ainda há tempo para reparar seus erros. – Pansy falara, supondo que meu erro fora ter me envolvido com Hermione e ter me tornado um traidor do próprio sangue. – O Lorde se aproxima e irá perdoá-lo, se você cooperar com seu renascimento.

Pansy aproximou-se de mim e passou as mãos por meu rosto, num gesto protetor e ao mesmo tempo, cheio de segundas intenções.

Mas antes que ela pudesse fazer algo, uma luz prateada entrou por uma janela e iluminou sua sala, a luz outrora incorpórea ganhou forma e um lobo azulado surgiu sobre meus olhos.

“Draco, preciso que compareça ao ministério. Agora!” o lobo falara e se dispersou, tão logo surgiu.

Suspirei, numa falta irritação e levantei-me. Pansy fizera o mesmo.

– Problemas? – ela perguntou.

– Talvez sim... ou talvez seja apenas algum protocolo preenchido errado. – Falei, revirando os olhos. – Trabalhar para o ministro é um saco. Fico com toda a parte burocrática. – Eu resmunguei. – Mas preciso ir.

Antes que eu pudesse realmente partir, ela me puxou pela mão.

– Você ainda não disse o que veio fazer aqui. – Sua voz doce sussurrou.

– Eu só... precisava te ver. – Falei, sabendo que me arrependeria por aquilo. – Eu vejo o Blásio e o Theo, mas não você. Eu só queria... lembrar dos velhos tempos.

Eu não a olhei quando disse isso, mas senti ela apertar meus dedos com mais força, para depois soltá-los.

–Eu tenho que ir – sussurrei e dessa vez eu realmente fiz isso.

Eu saí da casa e deixei Pansy para trás, sabendo que desta vez meu passado não iria embora, nem desapareceria.

– Draco! – ela chamou, encostada na porta e eu parei, mas ainda assim eu não a fitei. – Eu não quero te ver morto. E o que eu disse antes, sobre haver uma chance para você, é verdade. É uma opção, que eu quero que você pense.

Ali estava, a chance para eu não ser morto por traição. Ali estava meu passado batendo de novo na porta. Ali estava ele, puxando-me novamente para um buraco sem fundo.

– Eu vou... pensar. – Foi a única coisa que pude proferir e aparatei.

Meus pés tocaram o chão, depois do desconforto rotineiro e eu vi Hermione no jardim de casa. Emily e Pietro estavam com elas.

– Um lobo? Seu patrono é um lobo? – perguntei, debochando. – Tão clichê!

– Cala a boca, Malfoy. – Pietro respondeu, mal humorado, mas percebi que ele não se importava pela piada.

– Conseguiu?

– Yeah! – Pietro respondeu e tirou do bolso um colar.

O motivo para toda a minha encenação com Pansy.

– E sua irmã? Foi inocentada ou...?

– Sophie fugiu. – Emily falou – Acabei de sair do Ministério Francês. Aparentemente um homem apareceu e atacou os aurores. Os dois aparataram e até agora eu não sei mais nada. Obviamente agora ela é uma fugitiva.

– Mas quem ajudou? – perguntei, mesmo suspeitando que eles não faziam ideia.

E de fato não faziam. Eu não a conhecia, mas pelo jeito a menina Breine era esperta o bastante para conseguir despistar um bando de aurores.

– Como foi com Pankinson? – fora Hermione quem contestou.

– Normal... – respondi distante – fiquei jogando conversa fora com ela e sai assim que vi o patrono de Pietro. Mas isso tudo foi para exatamente o que? Por que esse colar é tão importante?

Minha pergunta ficou no ar, pois Pietro deu de ombros. A única pessoa que poderia nos informar aquilo estava desaparecida, e eu não tinha tanta certeza de que a acharíamos tão fácil assim. Era Sophie quem teria que nos achar. Por hora o que tínhamos que fazer era guardar aquele artefato.

Mas eu não conseguia pensar direito. Meu encontro com Pansy estava perturbando meu cérebro.

“... ainda há tempo para reparar seus erros.”

“ É uma opção, que eu quero que você pense.”

Uma opção ou sentença, seja o temo que fosse, eu não queria me enveredar novamente para o lado das trevas, no entanto, Pansy ainda confiava em mim e no julgamento sonserino. Se eu pudesse somente... Não. Era perigoso demais e eu não saberia como lidar com isso, já que não poderia deixar Hermione sozinha e desprotegida agora. Ou talvez pudesse protegê-la e ser útil ao mesmo tempo.

“... ainda há tempo para reparar seus erros.”

Realmente, eu poderia reparar meus erros. Erros os quais eu cometi na última guerra, ao escolher o lado de Voldemort e me tornar um comensal. Fiquei tempo demais pensando e parado, que não percebi Hermione fitando-me. Havia algo em sua face, uma ruga formava-se em sua testa, mostrando que ela também estava presa em pensamentos.

Mas então ela percebeu que agora era eu quem a fitava, e sorrira.

Eu havia acabado de escolher o meu lado naquela guerra. Eu havia acabado de escolher a minha ruína ou salvação. O que seria, só o tempo diria. Mas eu precisava arriscar, por Hermione, e por meu filho.

Eu precisava encontrar o Potter, ele era o único que poderia saber sobre minha escolha, ironicamente, porque a partir de hoje eu me tornaria um espião duplo. Mas com minha lealdade a Harry Potter. Realmente, a vida tem uma péssima mania de dizer o quanto estamos errados e tinha também um humor negro, porque eu nunca pensei que chegaria o dia em que eu trabalharia para um grifinório com uma cicatriz horrível na testa.


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