27 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Crossfire



O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo.
– Friedrich Nietzsche -


Narração por Hermione Granger

Os tempos mudam constantemente.

Sempre vi a mim mesma como uma garota simples e sem graça, sempre a senhorita inteligente e estraga prazeres. Isso me perturbou durante muito tempo até eu perceber que eu era muito mais do que isso.

Eu era forte e meus amigos, meu alicerce.

Enfrentei desafios que nenhuma criança, em seus mais fantasiosos sonhos, um dia imaginou. Eu cresci antes do tempo, eu precisei disso. Meus medos não estavam somente na minha mente, não eram simples temores adolescentes. Meus medos eram tenebrosos, cruéis, tiravam-me o sono, acordavam-me na calada da noite. Meu medo era comum aos de metade dos bruxos. Eu temia a um ser que não deveria ser nomeado. Temia-o profundamente.

E por essa razão, cresci. Ou melhor, todos nós crescemos e juntos enfrentamos nosso temor.

No entanto, eu não temia só a esse ser cruel. Eu temia a mim mesma, meus sentimentos e pensamentos. E por isso eu quase desisti do amor da minha vida.

Sorte minha ter me rendido a ele.

Sorte minha a paz ser acessível entre mim e Draco Malfoy.


Você sabe pelo que vale apena lutar?

Quando não vale a pena morrer por isso?

Isso te deixa sem ar

E você se sente sufocado?

A dor eleva-se ao seu orgulho

E você procura um lugar para se esconder?

Alguém quebrou seu coração?

Você está em ruínas


Entretanto, a felicidade antes tão deliciosa era também passageira. Agora eu caio, sinto as trevas surgir uma vez mais, sinto a escuridão penetrar no mundo bruxo, um breu interminável no céu ora nublado. Sinto que tudo desmorona lentamente e que eu estou num prédio em chamas. Fuligem cerca-me, fogo queima-me.

Draco Malfoy é um comensal novamente. Sei disso, sinto isso, simplesmente porque é a forma que ele encontra para lutar contra seus medos.

A história é reescrita e os erros se repetem. Queria eu poder mudar algo, não posso, sinto-me incapaz disso.


Baixe seus braços

Desista de lutar

Jogue seus braços para o céu

Você e eu


Deixo minha mão direita cair sobre meu ventre. Estaria minha criança a salvo? Que espécie de mãe eu seria se não desse a ela o melhor de mim? Eu fui uma lutadora no passado, fui umas das pessoas que livrou o mundo de Voldemort.

Nem nasceu ainda e já corre risco de ter sua vida arrancada.

– Você disse que tudo ficaria bem, Draco – eu murmurei deixando uma lágrima escapar – Disse que tudo ficaria bem – repeti abraçando minhas próprias pernas agora.

Senti os braços dele ao meu redor e deitei minha cabeça em seu peito. Solucei.

– Eu prometo a você, vou fazer tudo para que tudo fique bem – Draco sussurrou no meu ouvido e beijou o topo da minha cabeça.

Meu destino está escrito no seu

– Mas o que irá fazer, é inaceitável.

– Hermione, tudo o que já fiz na minha vida foi inaceitável. Não é como se de uma hora para outra tudo fosse ser diferente.

Eu soluço novamente e levanto-me, encaro-o, estou tão próxima dele que sinto sua respiração em minha face. Minha visão está embaçada pelas lágrimas.

– Não diga besteiras, Malfoy! Arriscar-se dessa forma é ridículo. Se ele voltar, o que será de todos? Eu não fiquei meses vivendo numa barraca para que o terror retornasse! Eu... eu...

Sinto-me fraca e Draco me segura.

Estou machucada, ferida.

– Shhh, Descanse, Hermione. Nada irá acontecer a você, prometo.

– Você nunca foi de cumprir promessas.

– Também nunca fui de deixá-la ferida.


Quando você está no final da estrada

E perdeu todo o controle

E seus pensamentos te assombram

Quando sua mente arrasa com sua alma

Sua fé anda por vidros quebrados

E a ressaca não passa

Nada é feito para durar muito

Você está em ruínas


– Tenho que ir. – Draco fala, eu não o solto.

– Não pode.

– Preciso.

– Mas, Draco...

Uma discussão infantil se instaura. Eu agarro a frente de suas vestes e ele solta meus dedos, um a um. E vejo-me incapaz de impedi-lo.

Ele caminha para a própria morte.

Para a destruição.

– Draco! – eu grito.


Você tentou viver sozinho

Quando queimou a sua casa e lar?

Você chegou perto demais do fogo?

Como um mentiroso procurando perdão de uma pedra


Corre, mas a porta do meu quarto é trancada. Soco a porta, tento abri-la, impossível. Draco já não está ali.

– Minha varinha, Draco! Devolva minha varinha! – eu grito, mas estou sozinha numa casa que não é minha, sendo consumida pelo meu medo. Sou prisioneira de Draco. E odeio-o por isso.

Mas como tudo isso começou? Há exatos dois meses, na casa de Emily Leroux, ou pelo menos foi nessa época que tudo piorou.

Num instante tudo estava sob controle, no outro, Gina, Emily e eu somos atacadas por uma comensal mascarada.


Quando é hora de viver e deixar morrer?

E você não consegue tentar mais uma vez

Algo dentro deste coração morreu

Você está em ruínas


Fiquei presa no St. Mungus por três dias, o que não foi nada comparado com Gina. Ninguém sabe o feitiço que chicoteou nela, nenhum curandeiro sequer suspeita da maldição que abateu-se sobre ela.

Gina está desacordada. E isso faz semanas.

A solução de Draco para manter-me viva e segura é a mais ridícula que já vi. Trancar-me nessa casa francesa parece ser mais um castigo do que proteção.

Grito novamente, ninguém me ouve.


Baixe suas armas

Desista de lutar

Jogue seus braços ao ar


***


Dois meses antes



Narração por Abelard Dolohov

Passei as mãos pelos meus cabelos automaticamente, aquilo era o único modo de perceber meu nervosismo, a única característica que denunciava minha máscara fria e indiferente. Eu podia sentir meu rosto converter-se numa careta preocupada.

“Maldita” pensei lembrando-me de algumas horas antes, quando Parkinson trouxera o menino até sua casa.

Não qualquer menino, mas sim meu menino. Se ela soubesse quem Jean Leroux era, o que faria? Mataria a criança? A pouparia? Não. Ela seguiria com seu plano, não daria a mínima para o fato de Jean ser filho de um comensal. Meu filho.

Suspirei, vendo-me numa encruzilhada. O que fazer? Sair dali? Fugir? Expor-me? Deixar que todo meu trabalho fosse em vão?

“Você não tem nada a perder”

“Não sabe o que é perder aquilo o que você ama. Não sabe o que ter que escolher entre a sua liberdade e a vida de alguém que você gosta.”

A voz de Sophie Laurent encheu meus ouvidos e mais uma vez fitei o menininho dormindo tranquilamente no sofá. Bastara alguns minutos para acalmá-lo, para mergulhá-lo em seus sonhos doces. E agora, olhando para a face serena da criança, sentia-me em paz, como se não tivesse que fazer escolha alguma, como se Emily fosse aparecer dali a alguns segundos trazendo seu belo sorriso. Pura ilusão aquilo! Eu jogara essa vida fora para protegê-los, renegara a isso como um homem, evitando trazer complicações àquela mulher e à criança. Não poderia sequer sair pelas ruas sem correr o risco de ser preso.

“Mas no que diabos está pensando, Dolohov?” questionei-me e levantei da poltrona, olhei, então, para fora do quarto, pela fresta da porta aberta. Pansy lia o Profeta Diário e não tinha a mínima noção do que acontecia ao seu redor. Fechei a porta com um cuidado que não possuía. Tirei minha varinha do bolso das minhas vestes e um feitiço silenciador caiu sobre o quarto.

Fui até o menino e o acordei. Ele fitou-me com suas grandes íris infantis e curiosas, exibindo ao mesmo tempo certo medo e curiosidade em relação ao mim.

– Você é o famoso Jean? – perguntei sentando-me no chão à frente do menino.

Je ne comprends pas, monsieur ...? – a voz dele era baixa, porém firme.
Trad: Eu não o compreendo, Senhor...?

Parler en anglais, Jean Leroux, je crois que sa mère lui a enseigné un peu, non?
Trad: Fale em inglês, Jean Leroux, acredito que sua mãe o ensinou, não?

Jean arregalou os olhos, pensou que o melhor seria fingir-se de desentendido, mas eu entendia muito bem o idioma francês, afinal, era a língua de Emily.

Vi que Jean era um menino excepcional e inteligente e, assim, senti algo diferente, uma sensação estranha de bem-estar, algo que eu não conseguiria nunca explicar. A verdade era que pela primeira vez na vida eu estava de frente para ele, tendo uma conversa e vendo o quão ele era parecido com a mãe. E bem no fundo eu sentia medo. Temia falar algo errado, impor uma imagem ruim sobre mim, assustá-lo. Não, eu não poderia fazer isso nem queria.

– Não sou famoso, senhor, sou só Jean – ele falou com aquela voz infantil e doce.

Sorri, impressionado com a inteligência do menino e com sua educação admirável.

– Ah, desculpe-me então, acho que foi um erro meu, Jean. Ouvi falar que você era um menino corajoso e que não tinha medo de nada.

– Mas eu não tenho medo de nada. – Jean falara agora se sentando mais animado.

– Então você teria coragem de enganar aquela mulher horrorosa lá fora? Teria coragem de enfrentá-la?

– Não tenho varinha, não sei magia que nem maman.

Eu estava impressionado. No meio da decepção do Jean por não poder fazer feitiços, havia também certa animação, um ar sonhador de quem mal pode esperar para ser um bruxo.

– Não importa, você é poderoso, Jean, pode sim irritar ela e sair daqui comigo. Você quer isso?

Jean assentiu, não receando em nenhum momento que algo pudesse dar errado ou que eu estivesse enganando-o. Não que eu estivesse fazendo isso, na verdade, minha mente estava trabalhando em busca de uma forma de tirá-lo dali.

– Mas me diga-me: você é inteligente, não é?

O garoto respondeu que sim novamente.

– Como faço para te tirar daqui sem que a feiosa perceba?

– Qualquer coisa, menos aquele negócio ruim que ela fez, dói, mas ao mesmo tempo não dói, Jean não sabe como falar isso...

– Eu entendo – murmurei, compreendendo que o menino falava da péssima sensação de aparatação.

Deixei então que meu cérebro trabalhasse.

– Gosta de Pietro? – perguntei ao que o menino respondeu, feliz e com uma animação nova. – E ele é bom? Confia nele?

– Ele gosta de maman, gosta de Jean, então sim, porque se você ama alguém, você a protege e dá tudo a ela.

Era como uma cópia de Sophie falando diretamente a mim. E ao pensar nela, algo me ocorreu. Puxei minha varinha e coloquei minha mão por baixo da blusa, puxando um cordão de prata ao redor do meu pescoço, toquei o pingente circular com a ponta da varinha e um brilho azulado encheu o lugar, dissipando-se instantes depois.

Foi até a janela e esperei, Jean me fitava curioso, ele encarava-me totalmente maravilhado em razão do feitiço, ou talvez por saber que eu era sua salvação. Emily o teria salvado também, mas era bem provável que ela não soubesse onde ele estava. Por isso ela não estava ali.

Cinco minutos se passou e sorri, vi uma mulher de capa negra aparatar do outro lado da calçada e seguir até a casa. Ela ergueu os olhos até a janela do andar de cima e as íris esverdeadas se depararam comigo.

Mandei-lhe um sinal, dizendo para que esperasse e em seguida peguei Jean no colo.

– Você vai com a minha amiga, certo? Ela é boa, confie nela e não importa o que aconteça, eu quero que você a obedeça, promete isso a mim, Jean?

O menino balançou a cabeça.

– Eu prometo.

Voltou para a janela e toquei o cordão novamente, lançando outro feitiço para Sophie, lá embaixo. Uma mensagem simples.

“Ataque pela frente, Pansy está lá sozinha. Ataque-me também e leve o menino”

O que se seguiu após isso foi uma explosão. Vi o momento que ela agitou a varinha e a porta da frente explodiu. Abri a porta do quarto e vi que ela arrebentara também a janela, vidros e madeira cobriam todo o chão.

Jean gritou, não por estar ferido, mas sim, assustado.

– Olha só quem resolve dar o ar da graça? Deseja ir a Azkaban querida? – Pansy falou completamente insana.

– Alarte Ascendere! – Sophie bradou e o sorriso de Pansy sumiu completamente. A morena foi puxada para o alto e caiu no chão com um estrondo alto.

Levantei minha varinha e apontei para a loira antes que Pansy julgasse que eu estava do lado dela, no entanto, Sophie fora mais rápida.

– Incarcerous! – a varinha apontava para mim prendeu-me firmemente e caí no chão.

Jean estava assustado, eu via isso claramente. Tentei livrar-me das cordas do feitiço e quando dei por mim Sophie já estava segurando o menino.

– Me dê ele sua, piranha maldita! – gritei vendo Pansy levantar-se.

A francesa bradou a varinha uma vez mais e a morena caiu no chão ardendo de raiva.

– Não me subestime nunca mais, Parkinson, muito menos ouse meter-se com inocentes.

Pansy olhou-se, tomando-me por imprestável e jogava-me impropérios, tentava em vão conseguir o menino, tirá-lo dos braços daquela francesa que sabia muito bem como duelar e, ao cair, Pansy machucou seus joelhos no chão. Ao ergueu-se, percebeu que Sophie sumira, levando Jean e a ultima chance de dela de obter o colar que tanto lhe era importante.

A morena gritou, sentindo raiva e uma crescente demência. E só então me preocupei, e se ela resolvesse descontar toda sua raiva em mim?

Mal pensei isso e ela veio para cima de mim, apontando sua velha varinha com um ódio que me arrepiou.

– Você é um inútil Dolohov!

Agitei minha própria varinha antes que ela me atacasse e a desarmei.

– Você foi tão ridícula quanto eu, aonde diabos aprendeu a duelar? – gritei aquelas palavras e a deixei para trás.

Sai pela porta da frente e ocorreu-me algo repentinamente.

– Nunca mais me coloque para trabalhar como babá! – falei sem fitá-la e aparatei.


***


Narração por Sophie Laurent

Aquele menino era elétrico demais. Mal aparatei no esconderijo e ele já queria sair dos meus braços, mexendo-se com violência e certo temor.

– Me larga agora! – ele gritou e finalmente o larguei.

– Hey! Eu não sou como aquela bruxa maldita. Volte aqui!

O menino correu para a porta da frente e tocou a maçaneta com a mão direita. Eu então segurei a porta, impedindo que ele escapasse.

– Eu quero sair daqui!

– Está frio lá fora!

Ouvi um estralo atrás de mim e virei-me. Abelard acabara de aparatar no meio da sala. Só então o menino parara de fazer aquele estardalhaço e correu para o comensal.

– Eu quero manan!

Abe pegou-o no colo e fitou-me, repreendendo-me.

– O que fez com ele?

– Nada! Ele queria fugir e não deixei. Só isso!

Abelard ergueu a sobrancelha esquerda e mirou o menino.

– O que eu disse sobre obedecer minha amiga, Jean?

– Ela te atacou!

– Claro que sim, eu disse para ela fazer isso, afinal, aquela bruxa má não pode saber que Sophie é minha amiga.

Jean pareceu entender Abelard e só então relaxou, virou-se envergonhado para a mim e murmurou uma desculpa rápida e tímida. Eu sorri, pensando que aquele menininho era o mais fofo do mundo.

– Venha comigo até Londres, Sophie, garanto que devem estar morrendo de vontade de vê-la também.

– É, talvez – murmurei, temendo que alguém me reconhecesse por lá e me denunciasse ao ministério.

Aquela vida de fugitiva era uma droga e eu estava impressionada com Abelard, como diabos ele conseguia ficar livre de Azkaban? Como não o capturavam?

Suspirei, totalmente confusa e aceitei a proposta do comensal.

No entanto fiquei confusa ao vê-lo tirar de um armário um pote cheio até a boca com um pó prateado. Jean, agora livre dos braços de Abelard e sentando no chão, olhou curioso e fez a pergunta que eu estava querendo fazer.

– O que é isso?

– Pó de flu. Vamos viajar até sua casa, assim é mais fácil e não vamos precisar aparatar.

– Aparatar? – Jean contestou confuso.

– É aquilo que a bruxa má fez quando te levou para aquele lugar.

– E o que ela também fez, né? – Jean falou apontando para mim.

– Exato!

Eu fiquei mais confusa quando o menino olhou-me temeroso, uma aparatação era desconfortável, mas nunca imaginei que isso o irritaria tanto.

Agora, olhando para os dois, não entendia exatamente o porquê dele querer salvar aquele menino. Eles pareciam se dar bem, mas ainda assim, aparentavam serem estranhos um para o outro.

– Então, quem é sua maman? – perguntei para Jean, já morrendo de curiosidade sobre ele e toda aquela situação em que eu fora metida.

– A bruxa mais poderosa do mundo! – o menino respondeu e Abe riu abertamente.

Por Merlin! Vê-lo rir era a ultima coisa que eu poderia imaginar que um dia veria! Abelard Dolohov rindo parecia uma raridade da natureza, algo visto apenas uma vez e nunca mais.

– Emily Leroux é mãe dele.

– Espera! Emily era uma das encarregadas sobre o meu julgamento, ela é a namorada do Pietro, não é?

– Exato. Pansy queria o colar, por isso pegou Jean para chantageá-los.

– E onde você entra nessa história, até onde sei você não é um salvador de criancinhas indefesas.

– Eu não sou uma criancinha indefesa! – Jean protestou visivelmente ofendido.

– É claro que não, querido, você é o mais corajoso de todos! – falei sorrindo e o finalmente o vi sorrir para mim.

Olhei novamente para Abe e percebi que eu não ganharia mais explicações por ora.

– Vamos? – ele virou-se para Jean e entregou-lhe o pó. – Sophie vai te mostrar como fazer, certo?

Fitei-o com um ódio na face, eu preferia aparatar mil vezes, mais simples e fácil. Mas aquilo era por Jean. Joguei o pó na lareira e labaredas esverdeadas surgiram. Posicionei-me dentro dela e murmurei meu destino.

Fui absorvida pelas chamas e fechei os olhos, assim que me vi segura percebi que estava dentro de uma sala simples. Puxei minha varinha e limpei a fuligem em minhas vestes.

Uma mulher fitava-me surpresa e só então percebi que ela era Emily. Sua aparência era desoladora, os olhos estavam inchados e vermelhos. Sua varinha estava apontada para mim e só então percebi que ela me reconheceu. Novamente chamas verdes brilharam e Jean saiu de lá, seguindo por Abe.

Vi Emily arfar e correr para o menino, pegando-o no colo e beijando-o nas bochechas.

– Jean! – Emily gritou quase chorando - mon fils... par Dieu!

Era uma cena linda, embora eu sentisse pena do menino sendo esmagado pela mãe.

– Merci, Sophie! – Emily fitou-me, agradecendo e seu olhar parou em Abe.

Olhei para trás, percebi que ambos olhavam-se atentamente, nenhum sabia o que dizer. E repentinamente Abe destruiu o contato visual, virando-se para a porta da frente.

– Sophie está segura por enquanto como pode ver, e talvez seja melhor dizer isso a Pietro... – ele murmurou sem fitá-la. – Não diga a ninguém que estive aqui, Em.

Ele deu um passo na direção da porta e fiz menção de segui-lo.

– Obrigada, Abe – ouvi Emily murmurar e ele estacou. – Eu não sei porque fez isso... porque ariscou-se, mas...

– Você sabe exatamente porque fiz isso – Abe murmurou e virou-se. – Não finja que não sabe. Eu te disse a verdade sempre e ainda mantenho minhas escolhas. Protegê-lo não é só sua tarefa e sabe muito bem disso. Agora destrua aquele maldito colar antes que Parkinson o consiga. Não sei qual a importância dele, mas aquilo não deve existir.

Emily fitava-o, a preocupação e o nervosismo estavam estampados em sua face. Jean olhava-me curioso, com aqueles olhinhos azulados e um olhar penetrante e concentrado.

– Adeus, Emily. – Abelard murmurou e eu o segui.

Estávamos fora da casa já, a rua estava pouco movimentada e alguns automóveis passavam. O frio da noite londrina congelava meus ossos. Fechei meus olhos sentindo o vento gélido e quando os abri Abe fitava-me calmamente.

– Ele é seu filho – murmurei comigo mesma, não como uma pergunta, mas sim afirmação.

Fazia sentido aquilo. E Abelard não precisou confirmar aquilo a mim. Ele estendeu sua mão e eu a aceitei. Sua pele estava tão fria quanto a minha. Aparatamos, então, e tive que admitir: ele era um mistério maior do que pensei.


***


Narração por Emily Leroux

– Não entendo. Eu devo ser uma espécie de guardiã dela? – pergunto aos três homens à minha frente. Estou totalmente boquiaberta. – Ela quase tornou-se uma auror! Sabe duelar tão bem quanto vocês dois!

Não acredito nisso, homens são idiotas demais.

– Ela está grávida, Emily. Grávida e com os nervos à flor da pele! – Malfoy protesta.

– Grávida. Não doente. E é óbvio que irei protegê-la do que quer que a ameace em sua ausência, mas não deveria agir como se Hermione fosse uma garotinha – viro para o moreno. - Potter, garanto que você e o Weasley não durariam nada sem ela e agora estão querendo tirá-la disso? Não podem, Hermione está no meio dessa guerra desde o momento em que se tornou sua amiga.

Fito Draco, totalmente calmo, o que é incrível, visto que também é uma falsa calmaria essa sua máscara. Weasley mira-me quieto, à margem de tudo, como se não concordasse com uma só palavra. E Potter, à minha frente, está nervoso, o olhar preocupado.

– Gina está em coma, Emily! Totalmente enfeitiçada e se tiver algo que eu possa fazer para deixar Hermione segura, farei, porque por algum motivo vocês três são alvos fáceis. Seu chefe foi morto, o Pai de Pietro e não sei mais quantos. A questão é, posso eu ficar de braços cruzados?

Potter simplesmente explode e eu me encolho, há verdade em seus gritos, mas ainda assim não consigo concordar com suas atitudes.

– Seja o que vocês estejam planejando, eu não farei parte disso e se Hermione perguntar, direi o que sei. No entanto, a protegerei. Pietro fará o mesmo, tenho certeza disso – falo sabendo que minhas palavras são verdadeiras.

– Quero que a leve para a França – Draco fala sem fitar-me. – E não deixe que volte para Londres. Vocês duas serão liberadas do Ministério e não farão nada em relação à profecia de meses atrás. Nada, entendeu?

– Não recebo ordens de você, Malfoy. – Falei ultrajada e já querendo tirá-lo de minha casa.

– Emily, por favor – pela primeira vez o Weasley falou, e eu me calei. Por algum motivo eu confiava mais nele do que em qualquer um naquela sala.

– Está bem – eu digo, sabendo que as conseqüências de tudo aquilo virão rapidamente.

Pietro me matará por isso, mas ao menos Jean estará longe de Londres.

Longe do palco da guerra bruxa.

– E Pietro? Onde ele deixou o colar? Ele apenas nos mostrou, mas com tanta confusão eu esqueci completamente disso. – Potter falou mais calmo.

– Pietro o destruiu. – Falei, lembrando-me do dia anterior, quando contestei Pietro sobre a jóia.

Harry e Ronald se entreolharam e ficaram tensos repentinamente. Havia algo errado.

– Onde Pietro está? – Rony perguntou-me.

– Na casa dele, qual o problema?

– Rony, fique aqui com Emily. – Potter falou dando-me as costas.

– O que diabos houve? – eu repeti a pergunta, mas Potter já fora embora com Draco em seu encalço.

Olhei para o Weasley e seu olhar não era nada feliz.

– Aquilo é perigoso, Emily, e não pode ser destruído tão facilmente. É só o que posso dizer – o ruivo falou e eu deixei-me cair no sofá.

Desgraças e maios desgraças ocorriam, quando haveria paz?


***


Narração por Draco Malfoy

Eu sentia frio. A neve já tomava conta das ruas, das casas, de toda a cidade de Londres. E eu particularmente amava o efeito que toda aquela água congelada causava, era algo belo e que valia a pena de se ver, embora o gelo fosse escorregadio e facilitasse qualquer tipo de queda ou deslize.

Eu me agarrava a esses detalhes, focava-me nisso, na beleza, para então poder manter minha sanidade, minha linha de raciocínio e concentração. Eu teria que ser forte, como nunca antes o fui. Esperteza sempre esteve comigo e agora era o que eu mais precisava. Obviamente, entrar em um lugar tão perigoso não podia ser considerado como um ato inteligente, mas eu não me importava. Estava ali por ela, para que o futuro não fosse destruído e para que meu filho não crescesse no mesmo ambiente que eu cresci.

A dor atingia cada pedaço do meu corpo, no entanto eu tentava em vão ignorá-la.

Eu conseguiria, um dia, suportar aquela maldição, mas agora isso me parecia impossível. Sentia descargas de energia, facas pontiagudas e uma agonia terrível por todo lugar.

Tremia, desejando que aquilo parasse.

Trevas era o que eu podia ver no momento, a penumbra me sufocava e aqueles rostos condenavam-me.

Traidor, eu conseguia ouvir seus pensamentos fortes e direcionados a mim. Amante de sangue-ruim.

O rosto da mulher a minha frente iluminou-se. Ao menos ela estava feliz, e somente por isso minha fachada seria mantida e funcionaria.

E então ela cessou a Maldição Cruciatus.

Pansy Parkinson só via a mim, e não o que havia por baixo da minha máscara.

– O que faz aqui, Malfoy?

– Desejo reunir-me ao Lorde novamente – falo firme, embora minha voz seja baixa e eu esteja me curvando para a comensal.

– Mas você desertou, por que voltar agora?

– Eu apenas estava tentando ficar vivo, o Lorde fora derrotado pelo Potter, tive medo de que fosse condenado a Azkaban.

– E por que não voltou antes, quando sentiu sua marca arder?

– Shacklebolt está me vigiando de perto. Se eu me reunisse a vocês, os denunciaria, e se abandonasse o ministro, denunciaria a mim mesmo. Eu não seria de muita utilidade se isso acontecesse.

– E voltou agora, por quê? – ela repetiu a pergunta da qual eu fugira a princípio.

– Porque você me chamou – falei, sabendo que isso me daria uma vantagem sobre Pansy.

Seu olhar surpreso confirmou a mim que eu estava ganhando, ela iria cair no meu jogo exatamente como eu havia planejado.

– E a sangue-ruim? Ou ela será traída ou nós seremos. Quem será dessa vez, Draco?

– Nunca passou pela sua cabeça, Pansy, que talvez estando com ela eu possa ter acesso ao Potter? Esqueceu-se de que eles têm aquela organizaçãozinha, a Ordem da Fênix?

Isso calou Pansy por um instante. Ela abriu sua boca e fitou-me com um tipo de atenção que eu nunca recebera dela. Ela estava estudando-me intensamente.

– Jurará lealdade ao Lorde das Trevas, Draco Malfoy?

– Toda lealdade do mundo.

– E o trará de volta conosco?

– Sim.

Pansy aproximou-se, sua face estava próxima demais da minha.

– E se a morte da sangue-ruim for ordenada por ele, impedirá que isso aconteça?

– Ordens são ordens – falei calmamente, meu olhar frio e indiferente estava em minha face.

Graças à Bellatrix minha oclumência era perfeita.

E graças ao sangue Black, eu era um ator nato.

– Jure isso a mim pela sua vida. – Pansy dissera finalmente e os pelos do meu braço se eriçaram de medo. – Faça um voto perpétuo comigo, Draco.

– Para que? – outra voz deixa-se ouvir e eu sinto medo, medo de verdade agora. – Como agirá, Srta. Parkinson, se nem ao menos confia em seus homens?

Virei-me assombrado. Ali estava meu pai. A barba feita, os cabelos loiros. Eu via a mim mesmo nele.

– Sr. Malfoy, não diga como eu deverei agir, Draco é um traidor, assim como... – ela se cala, obviamente percebeu que estava falando algo que não deveria.

– Assim como eu? – Lucius Malfoy fala e só então me lembro de como costumava ser cruel.

Eu o vira há meses.

– Se quer ser uma líder, haja como uma. Só vejo a senhorita cometendo erros e mais erros.

– Mas eu não sou a líder disso, Malfoy! Seu filho cometeu mais erros e alguém deve puni-lo. Sou apenas uma tenente.

– Obviamente, que cargo a filha do Sr. Parkinson teria? Mas já não está cansada de manchar a honra de sua família?

Do que papai estava falando? Honra? Desde quando Pansy fizera algo para manchar o nome Parkinson? Olho para ela e vejo o quão irritava está.

– Não diga o que não sabe, Sr. Malfoy – ela diz entre dentes e vira-se para mim – Você está livre por hoje, Draco. Caia uma vez mais e irá desejar a morte. Traia ao Lorde e sua sangue imunda conhecerá o que é uma tortura de verdade.


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