27 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Insane

Obscurecendo e confundindo a verdade e as mentiras

Portanto, eu não sei o que é real e o que não é

Sempre confundindo os pensamentos na minha cabeça

Portanto, não posso confiar em mim mesma

Eu estou morrendo novamente



Narração por Draco Malfoy


Por trás de ações impensadas há um motivo sólido, um momento de antecipação que faz com que mudemos tudo. Por trás de loucuras há o medo. Medo de perder. Sua vida passa por seus olhos num milésimo de segundo e tudo parece estar desabando, como se só um suspiro separasse você do mundo, da vida. Tudo parecia ser uma corrida contra o tempo, uma parede entre o certo e o errado, a segurança e o perigo.

Eu ainda não acreditava nas proporções que um simples plano havia tomado e de certa forma eu não estava arrependido ainda por ter aceitado tudo o que me fora proposto.

– Draco! – uma voz fraca chamara.

Eu me levantei da cadeira, onde estava sentado e fui até Hermione. Ela estava deitada na cama e eu odiava ter que encarar aqueles machucados, mas ali estavam eles, expostos para mim, como se fossem meu próprio ponto fraco. Seus cabelos castanhos estavam soltos e espalhados pelo travesseiro, havia um arranhão em sua bochecha esquerda e um leve machucado no ombro. Mas no seu braço esquerdo havia uma ferida mais profunda e por sorte nenhuma maldição decepara sua pele. Toquei sua mão e a apertei.

– Como está se sentindo? – perguntei, o que talvez fosse a coisa mais idiota que eu poderia dizer no momento, porque era óbvio que ela não estava bem.

Mas ainda assim Hermione sorriu e aquilo já era tudo. Ainda que estivesse machucada, estava bem e eu estava tão aflito, esperando que ela acordasse, que relaxei somente quando a vi sorrir. Os olhos dela piscaram, como se finalmente Hermione estivesse absorvendo as informações ao seu redor.

– Estou no nosso quarto, mas... o que aconteceu? – Hermione contestou e levou uma das mãos à cabeça.

Provavelmente estava com dores e eu não fazia ideia do porquê. Ou por causa da gravidez, ou por causa do ataque. As dores de Hermione estavam cada vez mais frequentes e eu tinha que me esforçar mais ainda para mantê-la a salvo. Era como ter uma corda grossa no seu pescoço, cada vez mais apertada, cada vez mais sufocante, e eu sabia que era só uma questão de tempo até que esse mesmo aperto me sufocasse.

– Pietro! – ela murmurou, tirando-me dos meus devaneios – o que houve com ele?

– Está na França – falei calmo. – Com Emily.

– E Sophie?

– Desaparecida ainda.

– Gina?

Eu suspirei. Não deveria preocupá-la e dizer a verdade, mas ainda assim eu tinha certeza que ela ficaria insistindo até que eu dissesse a verdade. Encurralado, era como eu me sentia ao olhar para Hermione Granger.

– Draco, o que houve com Gina? – ela perguntou mais uma vez.

Eu engoli em seco.

– Gina não acordou ainda. – Falei e percebi Hermione arregalar os olhos.

– Draco... o bebê...

– Ele está bem – falei tentando acalmá-la e me deitei ao seu lado na cama, deixando que ela relaxasse a cabeça no meu ombro.

– Mas e aquela comensal? Ela foi capturada? – a voz doce dela perguntou e eu neguei, desejando mais do que tudo que aquilo fosse uma mentira.

Desejei intimamente poder dizer a ela tudo, mas não consegui.



Horas antes


Era estranho eu estar parado naquela rua. Era uma decisão ridícula a que eu tinha tomado e, de certa forma, era também compreensível. Eu estava desesperado e aquela era minha última cartada.

Grimmauld Place.

As casas eram simples, mas ali entre o nº 11 e 13 estava uma casa nobre. Uma das mais antigas e nobres famílias bruxas vivera ali. Bruxos puros sangues e ligados inclusive à minha família. Antes era impossível eu enxergar a antiga casa, mas agora eu a via. Potter revelou-me o segredo. Manter aquele feitiço fidelius não era tão inteligente, pois muitos sabiam do segredo, mas agora não havia tantas preocupações quanto a isso. O quartel general da Ordem da Fênix já não era mais Grimmauld Place.

Já estava de frente para a porta e suspirei, batendo nela em seguida. Idiota, era como eu me sentia. Estaria arriscando-me demais... Traidores merecem a morte e até hoje eu nunca vi algo diferente acontecer. Snape morrera por causa disso e, definitivamente, proteger uma mulher não fora algo positivo para meu padrinho. Mulheres são a perdição, pensei amargurado. Hermione Granger é a minha perdição.

A porta foi aberta e a figura de Harry Potter surgiu no portal. O cicatriz me olhou desconfiado e surpreso e eu ri secamente. Depois de tanto tempo ele ainda tinha a mesma cara idiota e perdida.

– O que faz aqui Malfoy? – ele contestou.

– Vim aproveitar meu tempo com sua ilustre companhia – respondi revirando os olhos e Potter fechou a cara. – Mostre que tem o mínimo de educação e convide-me para entrar, Potter.

O Santo-Potter saiu da porta e me deixou entrar a contragosto, fomos até a sala e percebi que aquela casa, mesmo tendo pertencido aos Black, agora não aparentava tanta imponência como eu havia pensado a princípio, obviamente a tapeçaria iria ajudar, mas o Potter retirara tudo dali, somente alguns quadros haviam sobrado. Agora parecia uma simples casa, normal demais. Quase fiz uma careta, mas deixei isso para lá. Eu tinha coisas mais importantes parar tratar naquele momento, de qualquer forma.

– Quero fazer um acordo com você, Potter. – falei, direto e curto.

Ele estreitou as sobrancelhas, olhando-me desconfiado.

– Por quê?

– Olha, não sei se você percebeu, mas todos os dias eu fico sabendo de algum ex-comensal que foi torturado e assassinado, e convenha, eu tenho um rosto lindo demais para ser estragado – falei jogando-me no sofá. – Outra coisa... Eu sou importante e você sabe disso. Sou sua melhor opção para acabar com essa revolta de uma vez por todas. Tenho contatos, conheço a maioria dos comensais e descobriria facilmente quem está por trás dos ataques, quero dizer, quem está no comando agora.

– Voldemort está no comando – Potter falou, irritado com a minha atitude arrogante.

– Não, ele não está – falei despreocupado e Potter fez uma careta cética. – Oh, pense! Se ele estivesse no comando, você já teria sido pego muito antes que os comensais traidores fossem punidos. Voldemort é esperto. Ele iria simplesmente extrair até o último suor de seus comensais e só depois puniria os traidores do sangue.

– Com a morte?

– Exatamente – respondi dando um sorriso superior, escondendo o quanto amedrontado eu estava somente por pensar na tortura que com certeza seria infligida a mim.

Potter continuou fitando-me, dividido entre confiar em mim ou não. O nosso passado era forte demais até para ele, não era como se nós fossemos ficar amiguinhos só porque eu havia casado com Hermione, ou porque ele já salvara a minha vida. Era difícil demais curvar-se para alguém e eu sabia que o Potter só iria ceder quando não tivesse nenhuma chance. E eu, bem, eu não iria deixá-lo me usar como último plano. Tudo seria um desastre se o Santo-Potter fizesse isso. Como já havia dito, eu do lado dele naquela guerra seria o melhor que o Potter poderia ter.

– É o seguinte: nós dois precisamos trabalhar juntos, não só por causa do único ponto comum que temos, que é Hermione, mas também por todos os bruxos. Eles não merecem viver as perseguições que viveram três anos atrás, Potter – falei agora realmente sério, deixando minha ironia completamente de lado. – Hermione não merece ser perseguida e torturada novamente, eu simplesmente não posso permitir isso.

– Tampouco poderá evitar – Potter falara e eu fechei meus punhos, sentindo raiva. – Você sabe que se juntar-se a mim, ela também será um alvo. Ela é o seu ponto fraco e todos sabem disso agora.

Ele tinha razão, mas ainda assim, eu teria que arriscar.

– Não estou falando que irei agir ao seu lado abertamente, Potter. Estou apenas oferecendo uma ajuda e te avisando, porque a partir de hoje eu voltarei a ser um Comensal da Morte. Serei um agente duplo, assim como Snape um dia o foi.

Minha voz era fria, com uma amargura e arrogância características de qualquer sonserino. Eu não queria nem deveria estar amedrontado. Era a minha escolha e ninguém a mudaria. Estar no lado das Trevas me garantiria acesso aos planos, já que eu fazia parte da elite. Seria o que salvaria a mim e a todos. Mas, ainda assim, Potter fitava-me com uma descrença ridícula, como se duvidasse do meu potencial. Eu ri de canto, percebendo que ele não era ninguém para me julgar. O especialista em planos loucos e perigosos era inclusive ele, não eu.

– E o que Hermione pensa disso? – ele perguntou-me e pela primeira vez deixou-me sem fala.

Virei os olhos, mirando o chão, sem saber o que responder. Se soubesse disso... ela mesma iria garantir que eu fosse torturado até parar de me arriscar em coisas idiotas. Mas Hermione não sabia, nem descobriria.

– Ela não vai saber disso, Potter. Todas as informações que eu conseguir serão transmitidas a você. É o nosso acordo. Eu faço esse trabalho e garanto um final mais rápido para essa situação e em troca Hermione não deverá saber de nada sobre isso – falei.

E o mais incrível foi que ele aceitara, ainda que não quisesse mentir para Hermione. A verdade era que ele estava muito mais interessado no fim daquilo, o que era compreensível. Qualquer um ficaria amedrontado se Aquele Que Não Deve Ser Nomeado voltasse à vida. Novamente.

– Agora que estamos entendidos... – comecei – talvez você devesse saber que eu já tenho algumas informações. Agora tenho certeza de que Pansy Parkinson está ligada diretamente a tudo isso e é muito provável que Jacques Breine também estivesse.

– Jacques Breine? – Potter repetiu franzindo a testa. – O pai do tal Pietro?

– Esse mesmo – falei. – Pansy nunca se casaria com um homem como ele se não quisesse algo em troca. Agora sei que o que ela queria era um colar que conseguimos hoje mais cedo. Armamos para Pansy e o tiramos do Gringotes antes que ela pudesse fazê-lo, mas agora estou pensando... esse homem tinha um grande conhecimento sobre artefatos mágicos, mas no que esse colar poderia ser importante para Voldemort?

Pergunto, sem esperar resposta e percebo que o Potter ficou repentinamente pálido. Hmm, ele sabe de algo pelo menos.

– Diga-me, qual é a utilidade desse objeto?

– Eu não... – ele começa, tentando fingir que não sabia de nada, mas desiste, sabendo que usar essa tática contra mim é inútil. – Pode ser que seja uma... uma horcluxe.

Horcluxe. Horcluxe. O que exatamente é uma horcluxe? Tento lembrar-me e repasso na minha mente alguns objetos poderosos que vi nos livros de Hogwarts e de repente sinto medo. Horcluxes nunca poderiam ser encontrados em livros normais. A primeira vez que vi esse nome sequer fora na escola. Fora durante o meu treinamento como comensal, quando eu estava lendo os livros mais tenebrosos que alguém poderia tocar. Horcluxes eram poderosos objetos das trevas, onde um bruxo guarda parte de sua alma, prendendo-a na terra e evitando sua morte, impedindo assim o ciclo natural da vida.

– Espera, como você pode ter tanta certeza? Artefatos como esse são Magia das Trevas, na sua forma mais pura e cruel. Como saber que esse colar é uma... uma horcluxe, sem nem mesmo tê-lo visto ou tocado?

–Eu não tenho certeza, preciso vê-lo antes. Mas se existe uma forma de Voldemort voltar é por meio de uma horcluxe, ou várias, o que não seria a primeira vez.

Arregalo os olhos, perguntando-me se ouvira corretamente. Não seria a primeira vez. Então me dou conta. O lorde das trevas desapareceu e retornou, e sempre foi invencível. Tão óbvio e eu nunca pensara na possibilidade dele ter feito horcluxes.

– Quantas? – pergunto, não desejando ouvir, mas sabendo que eu deveria ouvir a história por inteiro.

Potter tenta fugir do assunto, mas eu insisto, alegando que já esperei muito tempo para saber a verdade e que já cansei de ver Hermione negando-me esses detalhes do seu passado. Hermione sabe o que eu fiz, mas não faço ideia do que ela fizera no tempo em que esteve com o Weasley e o Potter.

– Sete – ele responde e eu percebo o quanto tudo parece ser apenas uma história, um rumor idiota, mas tão logo penso isso sei que é real. – Sete. O diário de Tom Riddle, que destruí no 2º ano. O anel de Servolo Gaunt, que o próprio Dumbledore destruiu. O medalhão de Slytherin, destruído por Rony. A taça de Helga Hufflepuff, por Hermione. O Diadema de Ravenclaw, que o fogomaldito destruiu, quando estávamos na sala precisa e Nagini, a cobra de Voldemort.

– São seis – falei, percebendo que faltava uma horcluxe.

– Eu.

Se antes eu já estava impressionado o bastante para sentir-me temeroso, agora eu praticamente queria estar em qualquer lugar que não fosse aquela casa. Era informação demais até para mim e agora eu me arrependia por não ter procurado saber de tudo aquilo antes.

Potter era uma horcluxe. Então...

– Eu não sou mais – ele completou, talvez esperando que eu chegasse às conclusões erradas. – A alma de Voldemort que estava em mim já se foi. Mas se existe uma possibilidade de que esse colar seja outra horcluxe... bem, então nós precisamos destruí-lo. Então esse colar... como é?

Tento lembrar-me, buscando-o em minha memória e retomando o dia anterior, quando o vi.

– É um colar de prata com citrinos, bem, se você se interessa por história, é um colar de Helga Hufflepuff. Não faço ideia de como foi parar nas mãos dos Breine, mas...

– Hufflepuff? – Potter repete, não acreditando e fica mais tenso. – Uma relíquia como essa é exatamente o que Voldemort escolhia para transformar em horcluxe. Ele era fascinado pelos fundadores de Hogwarts... com exceção de Godric eu acho.

Presto atenção no que ele fala e percebo que Potter entende a mente doentia de Voldemort, quero dizer, ele realmente a compreende.

Tento pensar em algo. Preciso pegar o colar com Pietro e checar logo se ele contém parte da alma do Lorde das Trevas ou não. E, se o possuir, terei que destruí-lo. Fora que eu também devo convencer Pansy de que quero me juntar a ela, sem contar o fato de que Hermione não poderá desconfiar de nada. Que beleza, Malfoy, você arranjou mais trabalho ainda para si mesmo, penso ironicamente.


Narração por Pansy Parkinson


Ver Draco passar pela minha porta era como um sonho que pensei que nunca se realizaria e eu precisava saber se era real ou apenas uma peça que minha mente estava pregando em mim. Nossa conversa parecia mais do que realista e muito semelhante com as que costumávamos ter quando éramos amigos.

Eu desejava que Draco tivesse sido sincero e que estivesse mesmo arrependido dos seus erros. Sorri, sem conseguir me conter e tentei me lembrar do que eu estava fazendo antes da visita repentina dele.

Droga! Eu esqueci completamente o banco. Saí de casa e aparatei no Gringotes francês. Agora eu tinha a chave do cofre dos Breine e poderia finalmente tirar de lá o colar de Helga Hufflepuff.

Mas de alguma forma eu tive um péssimo pressentimento. Depois que pisei no piso de mármore e vi os anões trabalhando eu logo me dirigi até um deles. Pedi para ver o cofre e nenhum deles me negou. Eu tinha uma cópia da chave, assim como o filho do Breine; ele não tinha motivos para vir ao cofre logo hoje, não era como se ele precisasse de dinheiro, Pietro tinha tudo o que queria e Jacques vivia dizendo para mim que o filho nunca precisou de sua ajuda para nada.

Bom, uma coisa a menos para me preocupar. Agora eu precisava somente pegar o colar e o mestre logo poderia retornar. Poder. Era a chave para tudo.

Mas então aconteceu. Eu senti meus olhos cansados de tanto procurarem. Já havia revirado cada quanto daquele lugar e nada. Ao meu redor havia somente quinquilharias malditas e nada do colar, nem mesmo uma pedra ou poeira dele. Simplesmente o nada.

E entendi.

O que me pareceu impossível aconteceu. Eu cheguei atrasada e alguém veio antes de mim. E esse alguém poderia ser somente uma pessoa.

Breine.

Maldito nome que me perseguia, maldito nome que me dava arrepios. Primeiro Joseph, depois Jacques, agora Pietro. Eu sentia raiva, raiva pelo modo como eu sempre era enganada por aquele maldito sangue francês.

Saí de lá quase atirando feitiços em quem estava na minha frente e tracei um plano. Eu teria aquele colar e todos pagariam as consequências se eu não o tivesse. A meia-irmã de Breine estava desaparecida e Abelard também não dava as caras, fui estúpida ao liberá-lo de seus serviços. Não deveria tê-lo mandado embora no dia anterior. Agora ele pensava que estava livre, mas agora sua nova missãozinha seria achar a garota Breine. Se eu a encontrasse isso ajudaria nos planos, mas poderia levar um longo tempo. Assim eu precisava de opções. Lembrei-me da namoradinha de Breine. Loira, olhos azuis, alta. De onde ela era mesmo? A empregada Laurent não parava de tagarelar aquele dia, quando conheci ela e Pietro. Mas o que e ela falou mesmo? Sophie Leroux era seu nome e trabalhava... no ministério da magia.

Sorri, finalmente pensado num plano e numa vingança particular.

Afinal, seria fácil descobrir onde era sua casa, eu tinha meus contatos no ministério.

Fácil demais.

E se dependesse de mim, isso seria divertido.


***


Branco e vermelho eram as cores que eu via. As paredes da pequena casa eram brancas e o lugar parecia aconchegante, as janelas eram vermelhas e a cortina impedia que eu ficasse o interior da casa. Ao redor algumas árvores perdiam suas folhas, que caiam no chão, formando um cobertor em tom de sépia.

Tudo parecia calmo. E eu tinha certeza absoluta que isso mudaria. Eu era o furacão que causaria um desastre ali.

Peguei minha varinha e fiz um feitiço, sentindo que havia quatro pessoas na casa. Franzi a testa, não esperando aquilo e me concentrei, sabendo que quem quer que estivesse ali, não poderia atrapalhar meus planos.

Então eu me aproximei de uma das janelas e a abri silenciosamente, entrando por ela. Dei de cara com uma sala arrumada, com algumas flores e dois sofás. Percebi que vozes vinham da cozinha e me agarrei à minha varinha ainda mais.

Passo a passo eu me dirigi até lá e fiquei espreitando, vendo o contorno de uma mulher alta e ruiva, que falava animadamente.

–Fico pensando... um menino como Jean deve dar muito trabalho, mas ainda assim ter uma criança parece um sonho – ela fala e eu levanto uma sobrancelha, tendo certeza absoluta que ter uma criança parece ser mais um pesadelo. – Hermione, você tem que me deixar ser a madrinha do seu filho!

Ao ouvir isso eu congelo, tendo consciência das palavras que ouvi. Ouço risadas e um comentário qualquer. Somente pensar que ela poderia estar carregando um filho de Draco me dava arrepios e náusea. Era ridículo demais. Uma sangue-ruim como a Granger não poderia dar à luz ao herdeiro dos Malfoy.

Sinto raiva, sabendo perfeitamente que eu era quem deveria ser a mãe dessa criança. Eu era quem deveria estar com Draco. Mal percebo que estou apertando minha varinha forte demais. Faíscas avermelhadas saem por ela e eu mal presto atenção à conversa.

Mas um detalhe não foge da minha cabeça... aquele menino do qual elas falam é filho da Leroux. Isso também pode ser útil a mim.

– Você está se esquecendo de uma parte importante – ouço uma voz nova e espio, sabendo que é Emily Leroux. – Crianças não têm autocontrole, só sabem bagunçar e pelo jeito como Jean sempre apronta, eu nem quero pensar em quando ele começar a estudar magia.

Respiro fundo, não gostando nada daquilo tudo. Sinto um sentimento estranho corroer meu corpo e minha garganta seca repentinamente. Eu queria destruir tudo.

Levanto a varinha e aponto para a primeira que vejo na minha frente. Os cabelos ruivos esvoaçam-se e o corpo da Weasley cai no chão com um baque surdo.

Now I will tell you what I've done for you
Agora vou lhe dizer o que eu fiz por você

Fifty thousand tears I've cried
Eu chorei cinquenta mil lágrimas

Screaming deceiving and bleeding for you
Gritando, enganando e sangrando por você

And you still won't hear me
E você continua não querendo me ouvir

I'm going under
Estou afundando


A adrenalina começa a possuir meu corpo e meu braço move-se sozinho, tentando acertar outra, mas dessa vez eu não consigo. Aquelas duas foram rápidas, provavelmente porque receberam treinamento em batalhas. Assim eu não consigo atacar nenhuma delas. Obviamente elas não me reconhecem, sou uma comensal e uso a máscara característica das Trevas. Movo-me para o lado e defendo um feitiço. Meu próximo ataque impossibilita qualquer movimento da loira e ela cai no chão também, capaz apenas de observar tudo.

Meu alvo principal torna-se a Granger. Olho para ela, varinha em punhos, o olhar frio e resignado. Sei que ela é um oponente à minha altura, ainda que seu sangue seja sujo.


Don't want your hand this time I'll save myself
Não quero sua mão, desta vez eu me salvo sozinha

Maybe I'll wake up for once (wake up for once)
Talvez eu despertarei de uma vez só (despertarei de uma vez só)

Not tormented daily defeated by you
Não atormentada diariamente derrotada por você

Just when I thought I'd reached the bottom
Apenas quando eu pensei que tinha chegado ao fundo

I'm dying again
Eu estou morrendo de novo


Atacamos ao mesmo tempo, mas o feitiço dela encontra a parede e perde-se no ar. O meu a atinge no braço, fazendo-a gritar de dor. Eu rio, sentindo prazer naquilo e decido que Hermione Granger tem que sofrer. Mas antes que eu possa atacar novamente, ela faz um floreio e me empurra para trás. Minhas costas encontram a parede com uma violência exagerada e eu sinto dor. Uma doce e suportável dor. Eu rio de novo, sabendo que isso a irritará. Mas também sei o quanto insana eu devo parecer, rindo daquela forma e agindo como uma maluca. E como John Dryden já dizia, “há na loucura um prazer que só os loucos conhecem". E eu realmente não dou a mínima para como eu pareço, porque há sim um prazer na dor alheia. E eu sinto isso.


I'm going under
Eu estou afundando

Drowning in you
Me afogando em você

I'm falling forever
Eu estou caindo pra sempre

I've got to break through
Eu tenho que passar por isso

I'm going under
Eu estou afundando


Eu a olho e ergo minha varinha, não conseguindo impedir seu feitiço, sinto dor novamente e tento não grunhir. Parece impossível, mas eu consigo e a olho de uma forma que eu mesma mal conseguiria explicar. Raiva e inveja estão estampadas na minha face, dissolvidos numa máscara fria. Eu levanto minha varinha e a derrubo no chão, querendo mais do que tudo vencer a grifinória naquele duelo cruel e doloroso. Lutamos até de forma selvagem, deixei de lado toda a nobreza que eu possuía em meu sangue e sucumbi a uma loucura atraente.

Eu não queria me controlar, queria apenas feri-la e acabei até mesmo me esquecendo do real sentido de eu estar ali naquela casa. Esqueci meus planos, esqueci o que deveria estar fazendo.

– Crucio! – eu brado, deixando que a maldição saia da minha boca com uma naturalidade incrível.

E da boca da sangue-ruim saem apenas gritos agonizantes.

Eu ri mais uma vez.


Blurring and stirring the truth and the lies
Obscurecendo e confundindo a verdade e as mentiras

So I don't know what's real and what's not
Portanto, eu não sei o que é real e o que não é

Always confusing the thoughts in my head
Sempre confundindo os pensamentos na minha cabeça

So I can't trust myself anymore
Portanto, não posso confiar em mim mesma

I'm dying again
Eu estou morrendo novamente


Eu poderia cessar o feitiço, dizer o quanto inferior ela é, mas não consigo. Eu quero apenas ouvir seu lamento, como se fosse uma vingança por ter tirado a única coisa que um dia importou a mim. Sinto a raiva pulsar em minhas veias, assim como o veneno ardente da maldade. Sinto prazer na dor dela e me sinto melhor, de certa forma.

– Pare! – uma voz fala e eu mal percebo que ela pertence à Leroux.

Estou ocupada demais para ouvi-la.

I'm going under
Estou afundando

Drowning in you
Me afogando em você

I'm falling forever
Eu estou caindo para sempre

I've got to break through
Eu tenho que passar por isso


Ouço um estrondo distante e percebo que o som não foi tão longe assim quanto me apareceu. A porta da frente foi aberta e um homem alto entrou por ela. Quando eu vejo olhos verdes estão me olhando surpresos. Ele é o culpado por tudo e quando penso nisso, lembro-me do que deveria estar fazendo ali. Uma parte da minha sanidade volta à tona e eu percebo que fiz uma grande idiotice. Deixo a Granger de lado, sabendo que ela está fraca demais para me atacar. Viro-me para o homem que acabou de entrar. Pietro Breine.

Ele me olha com certa pena e medo, sem me reconhecer também. Vejo raiva nos seus olhos maravilhosamente belos e percebo seu movimento rápido. Desvio, mas não sou rápida o bastante. Num segundo ele ataca de novo e acaba me acertando.


So go on and scream
Então, vá em frente e grite

Scream at me I'm so far away
Grite comigo, estou tão longe

I won't be broken again
Eu não serei quebrada novamente

I've got to breathe I can't keep going under
Eu tenho de respirar, não posso manter-me afundada


Antes que eu pudesse evitar Breine invade a minha mente. Minha oclumência está baixa devido ao meu momento de loucura e adrenalina e, assim, ele vê coisas que nunca deveria saber.

Eu estou lendo um livro na sala e um homem entra, acompanhando meu pai. Ambos não percebem minha presença ali e não controlam o tom de voz que usam. O desconhecido tem cabelos castanhos e um olhar arrogante, esverdeado e nobre.

“Eu sei que você guarda algo aqui. Algo importante, algo que o Lorde das Trevas presa tanto quanto sua inestimável serpente” o homem fala.

Meu pai mantém um olhar frio, como se o que ele estava ouvindo não fosse nada importante.

“Joseph, se continuar com isso não poderei garantir que você vida o suficiente para sequer ver a ascensão do Lorde” papai fala friamente, colocando um final na conversa.

E mesmo naquele momento eu sei como a história daquele homem acabaria. Ele seria morto por saber demais, afinal, ninguém ameaçava o Lorde.


I'm dying again
Eu estou morrendo novamente

I'm going under
Eu estou afundando

Drowning in you
Me afogando em você

I'm falling forever
Eu estou caindo pra sempre

I've got to break through
Eu tenho que passar por isso


A cena dissolve-se e agora estou na biblioteca de casa. Ouço um barulho, como se algo estivesse arranhando a janela e percebo que alguém acabara de entrar por ela. Fico parada atrás de uma estante, não ousando revelar minha presença, nem fazendo ideia de como reagir diante disso. Se ele fosse perigoso e eu gritasse, estaria perdida. Observo apenas e percebo que ele vai até um retrato antigo do meu bisavô, que há décadas está pendurado ali. O homem apenas retira o quadro da parede, revelando um cofre. Com a claridade da lua que vem da janela eu me perco nas feições dele.

Olhos verdes claros.

Cabelos castanhos e com poucos fios brancos, quase raros por assim dizer.

Ele não é tão velho, mas também não é novo. Parece ter entre quarenta e cinquenta anos, seja qual fosse sua idade exata eu não fazia ideia de qual era. Vejo-o tirar de lá um colar. Prata e com pedras amarelas, belo, ainda que não aparente ser tão valioso. E então ele espia o cômodo, certificando-se que está sozinho. Infelizmente minha varinha está no meu quarto e eu não posso usar magias fora de Hogwarts ainda. Ele é um ladrão e eu não deveria deixá-lo escapar. Eu grito então, esperando que meu pai venha logo até aqui. Mas o que eu vejo é somente a escuridão e sinto uma dor aguda, como se tivesse batido minha cabeça no chão. Aquele maldito me estuporou.


I'm going under
Estou afundando



Minha lembrança se modifica e eu sinto dor, muita dor. Minha pele queima ao mesmo tempo em que sinto meu corpo sofrer uma compressão e ser machucado.

“Menina idiota!” minha mãe grita com raiva. “A culpa é toda sua! Se tivesse feito algo o Lorde não nos puniria por perder algo tão importante.”

Tento me levantar, mas sou atingida pela maldição Cruciatus novamente.

E em outro lugar sei que a tortura do meu pai é bem pior do que minha. Isso é apenas uma punição pela minha estupidez, um castigo por ser tão ingênua. A punição de papai vai além dessa, é pelo seu fracasso como comensal e guardião.

– Chega! – eu grito tentando tirá-lo da minha mente, mas não possuo forças suficientes.

Vejo Jacques Breine do outro lado da rua, o mesmo homem que condenou minha família ao roubar o colar de Hufflepuff. Sinto raiva e o sigo até uma loja de antiguidades, percebendo que ele é o dono dela. Tento não chamar atenção para mim e me arrepio quando ele olha para meu rosto. E se ele souber quem eu sou? Mas tão logo penso nisso ele sorri.

“O que a senhorita deseja?”

Sei que ele não me reconheceu. Sua memória não é tão boa afinal. Eu tinha apenas 15 anos na época e agora estou diferente, mais alta, mais bela, com os cabelos longos. Já não sou mais uma menininha. E sorte minha ele não ter ideia de quem eu seja.

Existia uma chance pequena dele ainda ter o colar, uma chance que deveria ser considerada. Sorrio, falando o quanto me interesso por objetos antigos. Minto descaradamente e ele acredita. Os olhos verdes são os mesmos, cansados e doces. “Pobre homem...” penso já traçando um plano.

Recupero o controle, irritada por Pietro ver meu passado e coisas tão importantes. Ataco-o, tentando pagar na mesma moeda. A surpresa foi demais para ele e consigo penetrar seus pensamentos.

Ele anda devagar pela rua, mal prestando atenção no caminho e permitindo que seus pés o levassem para qualquer lugar que fosse. Tinha acabado de receber mais uma carta do pai. Coisas como “Volte para a França já, Pietro!” e “Você deve aprender a cuidar dos negócios da família” eram comuns nas cartas agora.

De repente esbarrou em alguém.

“Desculpe” ele murmurou automaticamente.

Foi então que ele encontrou olhos castanhos e prestou atenção demais à boca dela. Eu arfei. Aquela mulher era a Granger, ele a conhecia. Voltei a me concentrar na visão. Ele percebeu que a Granger também o fitava avidamente.

“Você está bem?” ele perguntou.

“Estou ótima, a culpa foi minha, estava distraída”

Então a cena muda. O francês está sentado junto com Leroux, conversando com ela.

“Foi chato você ter saído repentinamente do C’est La Vie há dois dias.” ele comentou.

“Desculpe-me, o ministério me convocou, eu tinha que ir.” Emily Leroux respondeu e um sorriso surgiu nos lábios dela. “Mas a minha ausência não foi tão dolorosa quanto a de Hermione.”

“Como?”

“Ah, você me entendeu. Você simplesmente não tirava os olhos de Hermione enquanto ela cantava.”

“Emily, acho que…”

“Estou errada?” ela questionou. “Você nunca pensou nela dessa forma? Nunca quis beijá-la ou tocar seus cabelos? Nunca sentiu inveja de Draco Malfoy?”

Eu pisco os olhos e então o cenário se dissolve. Estou num quarto, com as mesmas pessoas, mas agora há um menininho deitado na cama.

“Esse é o meu filho, Pietro” Emily falou sentando-se na beirada da cama. “Normalmente é minha mãe quem cuida dele, mas ela teve que viajar para a França essa semana e minha irmã voltou para a escola também... ela está no último ano já...”

Vejo Pietro olhar para o menino meio desorientado, mal acreditando no que houve, mas eu vejo além disso. Há um brilho no olhar dele, algo como um olhar paterno.

“Mas... como?”

No outro segundo não há mais uma criança, nem a francesa. Estou num outro quarto. Pietro está na cama, sobre o corpo de uma mulher. As costas dele estão nuas e as mãos dele arrancam a blusa dela com pressa. Quando vejo quem é ela eu não acredito, mas ali estão os cabelos castanhos e enrolados. Ali está Hermione Granger. Eu rio, sendo expulsa na mesma hora da mente dele.

Observo os olhos esverdeados com interesse e olho para a Granger no chão e depois para Leroux. Ambas sentindo dor e impossibilitadas de se movimentarem.

– O meu pai... você... você... – ele tenta falar algo, sabendo agora quem eu sou, mesmo com a máscara, mas não o ouço.

Eu o ataco e ele vai ao chão também. Ando até o francês e me abaixo, sentando-me no chão ao lado dele. Minha face está próxima demais de seu rosto.

– Seu pai destruiu minha família, querido – eu sussurro. – Na verdade, foi seu tio que começou tudo. Joseph era seu nome, não? Pois bem, ele foi quem descobriu segredos do Lorde e até hoje não faço ideia de como fez isso – parei, fechando os olhos e buscando detalhes na memória. – Obviamente ter matado-o não resolveu as coisas. Ele contou tudo para o irmãozinho Jacques, que cuidou das coisas. E percebo o quanto isso está no sangue de vocês. Mesmo estando morto o legado dele ainda está vivo, pois aqui está você, duelando contra mim. Não é irônico?

Pietro olha para mim com medo e percebo que estou começando a cair no precipício da insanidade de novo. Controlo-me.

– Eu quero o colar, Breine. Dê-me o colar e sua amada francesinha fica bem, ou melhor... esqueça ela. Sua família destruiu a minha, o que acha de eu terminar o que comecei? Já levei seu querido papai, o que acha deu levar seu querido Jean? Dê-me o colar e o lindo Jean não vai sofrer arranhão algum.

Quando falo isso me levanto e vou até o andar de cima, nem preciso procurar muito. A casa é pequena e facilmente entro no quarto no menininho. Ele dorme, alienado do que acontece no andar de baixo. Sorrio e o pego no colo, ele não acorda, por sorte. E aparato, sabendo que quando eu chegar ao meu destino, com certeza ele irá chorar, simplesmente pelo desconforto que essa magia traz.

E é isso que acontece. Quando eu aparato dentro do meu quarto na casa de Londres que possuo, a maldita criança abre a boca e seu choro preenche a sala. E percebo que não estou sozinha. Abelard me olha com surpresa e certa descrença.

– Até que enfim você resolve aparecer! – falo com raiva.

–Pansy... o que está fazendo essa criança? – ele pergunta, me ignorando e prestando atenção apenas no menino, mais atenção do que deveria.

–Bem... ele é o nosso plano B, meu querido – falo sorrindo e olho para a criança, que ainda chora. Entrego-o para Aberlard, já cansada da choradeira. – Faça-o parar, isto é, se você puder – falo com diversão.

“Chore criança, o mundo é cruel demais...” penso ironicamente enquanto o homem ainda olha para o menino num misto de surpresa e talvez medo.

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