12 agosto, 2012

[Cidade de Sangue] Aliança Profana



O vento batia em meu rosto, o sol o esquentava e tudo o que eu conseguia sentir era um frio puro e negro dentro de mim.

Sentir sempre foi um grande problema, eu odiava isso, cometia os maiores erros quando simplesmente fazia isso. A parte racional em mim gritava, forçava-me a sair daquela cidade o quanto antes, mas teimosia também sempre foi algo que eu tinha, perfeitamente herdado de minha querida mãe.

Suspirei e só então percebi a presença de mais alguém atrás de mim.

Continuei olhando a vista da cidade, o sol estava indo embora, eu só via poucos resquícios dele agora.

O homem era loiro, forte e alto. Eu sentia seu humor, seu estresse e preocupações.

– O que deseja, Ethan? – contestei secamente.

O silêncio continuou perpetuado entre nós. O loiro veio até mim e sentou-se no banco ao meu lado.

– Não gosto desse parque – Ethan murmurou e eu franzi o cenho. – Quando o sol se vai, este lugar é tenebroso.

– Gosto de lugares assim, lembra-me de casa.

– Nunca me contou nada sobre seu passado.

Respirei fundo. Uma conversa desse teor era perigosa. Como eu falaria sobre isso com Ethan? Minhas lembranças perturbavam-me, não era algo que eu queria compartilhar com alguém.

– Você não veio aqui para falar sobre isso, veio?

– Não – foi sua resposta monossilábica.

O vento rangeu novamente e eu queria que Ethan, ao menos dessa vez, confiasse em mim e meus sentidos. Eu entendia sua preocupação em relação aos caçadores e à sua protegida, mas como ele nem ao menos confiava em sua melhor amiga?

– Qual garota você anda perseguindo?

– A menor, no entanto, eu não a persigo – eu respondi.

– E por que tanta preocupação em encontrá-la?

– Realmente não sabe, Ethan? – contestei finalmente olhando-o, era óbvio até mesmo para mim agora.

A mais jovem estava me invocando, ela entrelaçara seu destino ao meu.

– Ela invocou-me, sugou minha força, enfraqueceu meus sentidos!


Malditos instintos enfraquecidos, mal consigo ouvir as rodas do outro veículo cantarem na estrada, só consigo virar o carro, mas é inútil.

Com tamanha velocidade o automóvel capotou e senti algo perfurar meu corpo. Um metal furara meu braço, atingindo até mesmo o osso e eu grito de dor.

Sentimentos e sensações, nos vampiros, são ampliados em 100%, é o que dizem.


– Ela mostrou-se a mim, talvez de forma insciente, ainda não sei dizer.


Saí de minhas divagações e observei meu rosto ser substituído por outro, os cabelos ali já não eram ruivos, mas loiros. A face da garota era jovem e alegre, com olhos azulados realmente penetrantes.


– Ela desperta meus sentidos antes tão controlados.


Ele relaxou, aproveitamento aquele prazer repentino e rápido. E eu mordisquei sua pele. Ele mal percebeu quanto o mordi. Meus caninos perfuraram sua pele e o homem não teve tempo de reagir. Eu apenas o drenava rapidamente, sentindo a força voltar a circular pelo meu corpo.


– E depois disso tudo, ela tornou-me forte.


– Não sou um demônio, meu querido, não exatamente – falei e cravei meus dedos em sua pele, quebrei alguns ossos até sentir seu coração, fechei minha mão sobre ele e num movimento rápido o arranquei.

Nenhum caçador brincava comigo. Eu não era a caça. Era a predadora.


O loiro a minha frente suspirou e escondeu a face entre suas mãos.

– Ann Marie Walker não deveria saber sobre a nossa existência. Ela foi proibida de realizar magias, coisas sobrenaturais assim não deveria ser parte de seu mundo.

– Ela é uma feiticeira, então?

Ethan assentiu e eu sorri. Agora tudo se encaixava.

– Tudo faz sentido, ela está me convocando com magias, não só com fracos sortilégios de simples humanos, ela é uma feiticeira poderosa. Mas deixe-me entender, você tem uma ligação com a outra, a irmã mais velha...?

– Heather Walker.

– E ela proibiu a irmã mais nova de fazer magias, por que...?

– Porque é perigoso para Ann, ambas são Trigonum.

– O que são Trigonum? – uma nova voz falou e vi Katherina atrás de nós.

Ela estava bem melhor agora, todas as suas queimaduras foram curadas e seus longos cabelos negros caiam-lhe pelas costas. Os olhos claros estavam atentos e a face, curiosa.

Lancei um olhar a Ethan como se para confirmar se eu poderia dizer a Kate ou não sobre esses assuntos nossos. Ele deu de ombros.

“Ela é confiável” o loiro murmurou em meus pensamentos.

Levantei-me.

Trigonum é uma espécie de feiticeiro – principiei. – Eles controlam a mente, o espírito, todas as manifestações psíquicas. São capazes de ler uma pessoa como se lessem um livro.

– Isso existe desde quando? – Kate perguntou confusa.

– Desde sempre, surgiram bem antes dos vampiros.

Ethan olhava de mim para a minha amiga e respirou profundamente antes de começar a falar.

Quadra é o segundo tipo de nível. Feiticeiros Quadra controlam a matéria, são relacionados com a inércia das coisas, são capazes de extrair poder dos elementos, principalmente a terra e a água.

– Já feiticeiros Circulus detêm poderes mais complexos. Controlam tanto os elementos, como o espírito, são o equilíbrio.

Katherina fitou a mim e depois Ethan. Ela parecia confusa.

– Por que estão discutindo isso? Sabem o quanto esses seres são indesejáveis e...

– Quem lhe falou isso, Kate? Quem lhe disse que feiticeiros são... ruins?

– A maioria dos vampiros sabe disso.

Suspirei, talvez não tenha sido uma boa ideia contar isso a ela.

– Kate, sinto muito pelo que houve mais cedo, entenderei se quiser partir daqui, e diga a Lory que peço desculpas. Nunca quis que algum problema ficasse entre nós.

– Você não nos deu respostas ainda, Nick – Kate disse simplesmente. – Como você não queima no sol?

– Magia, oras. Você despreza feiticeiros, mas não reconhece um quando o vê. Fui uma feiticeira quando humana, Kate. E minha magia não morre tão fácil assim. Esse é o segredo e eu não ligo se você espalhar isso para os quatro ventos. A morte anda parecendo mais desejável do que esse mundo ridículo.

Kate olhava-me espantada e eu sentia também sua fúria crescente, o mesmo tipo de raiva que ela sentiu no carro, quando fugimos.

– Acha que me importo com seus segredinhos? Décadas com você e não sei nada praticamente, e ainda assim somos amigas, Nick, o que está fazendo? O que houve de tão ruim que fez com que você duvidasse da lealmente de todos?

– A vida, Kate! É difícil confiar cegamente nas pessoas...

– Vão brigar novamente? Mesmo? – Ethan se colocou entre nós.

Não, eu não queria brigas, queria reconciliação e paz. Mas isso me era negado sempre.

– Nick... eu não quero ficar num lugar repleto de caçadores.

Kate olhava-me tristemente, os olhos claros ainda de menina, embora tivesse anos e mais anos de idade. Eu ainda lembrava-me de quando a achei, entregue à própria sorte, num lugar tão escuro quanto minha alma.

– Então vá.

– Nunca fiquei por minha própria conta. Você ficará aqui, então ficarei também.

Sorri, como diabos eu não confiava nela? Era quase impossível não acreditar na sinceridade de Katherina.

– Lorena sumiu, não a encontro. – Kate continuou. – Acho que está se escondendo de mim.

“Precisamos conversar, a sós” eu disse mentalmente a Ethan.

– Esqueça o que aconteceu, vá divertir-se, dona Katherina. – Falei e puxei o loiro pela mão. – Dê um tempo a Lory, ela está em choque com a morte de Tony. E direi tudo o que quiser saber quando eu estiver pronta.

“Acha que Kate suspeita de algo? De nós?” Ethan perguntou enquanto andávamos.

“Eu tenho certeza agora”

“E Heather e Ann? Estão seguras?"

“Heather está segura com você, obviamente. E Ann estará comigo”

“Não pode estar falando sério!”

“Ela me convocou, Ethan! Isso chama-se destino, quanto mais você corre para longe dele, mais ele te puxa.”

“Mas Ann não sabe o que está fazendo”

“Dê-me uma chance de descobrir então!”

“Talvez ela não...”

“Sabe que não tenho escolha! Ann pode sim controlar isso, ela já drenou minhas forças, uma vez, já fez o primeiro contato e eu aceitei a tudo, inconscientemente”

“Não pode selar o laço!”

“Por que não?”

“Porque ela é apenas uma menina”

“Quantos anos?”

“16”

“Eu tinha 15 quando fiz o meu laço”

Estávamos a uma boa distância já de onde Kate se encontrava. Ethan largou minha mão bruscamente.

– Seu laço? Você tinha um laço?

– Mas é claro! Eu explorei o máximo que pude da minha magia.

Meu amigo mal acreditava em mim. Eu suspirei cansada.

– Ethan, não quero brigar mais – confessei encarando o chão.

– Okay. Agora me explique sua história de laços.

Sorri. Eu deveria mesmo contar? Foda-se! Ethan era meu amigo. A chave de meus problemas talvez fosse confiar mais. Não era exatamente isso que Kate dissera há pouco?

– Quer mesmo saber, Ethan querido?

Ele assentiu.

– É uma história repleta de castelos medievais e florestas encantadas, no entanto, é regada a sangue.

– Nunca pensei que você fosse tão dramática, Nick.

Eu ri, era bom quando Ethan estava de bom humor. E então comecei a contar-lhe a minha história.



Scotland, 1694



Olho ao meu redor, encaro as árvores centenárias, os arbustos e variadas flores. Ouço apenas sons de animais e sei que não importa o que aconteça aqui, eles não irão fugir ou condenar-me como humanos fariam.

Maldita raça prepotente e temerosa. Para que temer o desconhecido? Não faço mal a ninguém, não sou eu que deveria ser caçada.

Corro até o lago e sinto meu enorme vestido arrastar-se pelo chão. O tecido claro, num tom rosado encantador, suja-se. Olho para trás. Não havia ninguém ali. Viro-me novamente para as águas e vejo meu reflexo, face rosada, cabelos vermelhos flamejantes.

Irônico, minha fama de bruxa começou em razão da cor deles. O vermelho, tão místico, condenava-me. Ergui minha mão, agitei-a no ar. Imediatamente uma quantidade de água elevou-se e veio até mim. Eu amava treinar meu poder, amava brincar com os elementos naturais.

Eu era uma feiticeira Circulus, era o perfeito exemplo do poder, da força. Controlava a tudo, era o equilíbrio.

Circulus.

Quadra.

Trigonum.

Os poderes da natureza, cada um, único por si só.

Fiquei perdida em pensamentos, praticando minha magia proibida, até que ouvi passos e todo o poder quebrou-se, a água caiu no lago e eu me virei com violência. Meus olhos ficaram atentos.

– Quem está aí? – perguntei temerosa.

Meu olhar caiu sobre uma figura escondida nas sombras, senti medo assim que senti sua alma, havia tons escuros, trevas, embora houvesse ali também luz e um leve resquício de humanidade, quase imperceptível.

– Quem é você? – contestei.

Ele veio até mim, era tão rápido que mal o vi, apenas senti sua mão sobre a minha garganta, o aperto forte e sufocante.

– É raro eu ver bruxas por aqui – o homem falou e eu pude ver o quão seus olhos eram claros e belos, azuis cinzentos, como um céu antes de uma tempestade.

Seus cabelos finos eram de um loiro dourado e os ombros largos exibiam uma força descomunal. No entanto ele não aparentava ser tão mais velho do que eu.

A única certeza que eu tinha era que aquele homem tão perigoso e misterioso não era humano.

– Você está me machucando – gesticulei fracamente e me concentrei, com apenas um olhar meu, ele recuou. Eu havia queimado sua mão.

– Não teme a mim, jovem dama? – ele perguntou. – Não teme que descubram seu segredo? Sabe o quão cuidadosa uma bruxa deve ser, o que fará caso descubram sua... natureza excepcional?

– Não temo a ninguém, senhor. Muito menos a homens que perambulam pela floresta. E o que você é, afinal?

Ele aproximou-se perigosamente e ficou a centímetros de mim. Eu poderia sentir sua respiração e meu coração batendo com mais força, como se quisesse bombear todo o meu sangue para fora do corpo.

– Eu sou seu pesadelo, menina.

Agitei minhas mãos e ele bateu no tronco da árvore com violência.

– Não brinque comigo, cavalheiro. Não serei piedosa com suas zombarias ridículas.

– Nunca vi mulher mais hostil que a senhorita! Acha mesmo que está a salvo aqui?

– E por que se importa?

– Porque é a mais bela que já vi.

Pude sentir minhas faces esquentarem e recuei. Eu não iria ficar ali para entendê-lo. Henry se zangaria comigo se eu não voltasse para casa.

– Não vire as costas para mim! – ele gritou e entrou no meu caminho. – Diga-me ao menos seu nome.

– Meu nome não é importante – falei mal educada.

Isso causaria grandes problemas a mim, mas eu não me importava em ser rude.

–Diga-me!

– Dominique MacIntyre, feliz agora?

O estranho olhou-me surpreso.

– O que você é Henry MacIntyre?

– Sou sua esposa.



– Espera! Você era casada, Nick? Quantos anos tinha? - Ethan perguntou com os olhos arregalados.

– Quinze, nasci em 1678, o que mais esperava? Os dias mudam, Ethan, querido...

– Mas e esse cara aí, quem ele é?

– Não apresse a história! Sou eu quem narra aqui, meu amor – falei e lancei-lhe uma piscadela. – Eu havia gostado dele a principio, é certo que ele era demasiadamente presunçoso, mas afinal, eu gostei dele. E isso definiu meu futuro. Estava casada com Henry há apenas três meses e já tinha problemas. Henry iria partir para a Inglaterra. Iria prestar serviços ao rei e deixar-me sozinha por longos meses. E isso contribuiu para que eu me afastasse dele.

– Traiu seu marido com o vampiro misterioso, Nick? – Ethan falou divertido.

– Sim, digamos apenas que sim. Henry era um humano, nosso casamento fora arranjado.





A música instrumental entrava em meus ouvidos, Henry segurava-me pela cintura e girava-me seguindo o compasso do som.

– Não fique triste, meu anjo. Sorria. – Henry dissera.

– Como poderei fazer isso, My Lorde? Estará longe daqui por tanto tempo.

– Apenas alguns meses. Verá como o tempo passa rápido.

– E por que irá, Henry?

– Para limpar o mundo da escória, meu amor. Para proteger a todos e a você de ameaças.

– Do que está falando?

– De bruxas, é claro.






– Ele era um caçador?

– Algo assim, a caça às bruxas estava no seu auge, e Henry temia a elas. Sempre escondi meu poder e seria impossível ele me descobrir, mas então eu me descuidei. Pensei que com Henry longe teria liberdade, mas aconteceu exatamente o oposto, eu era vigiada sempre e mal conseguia privacidade.

– Henry foi quem ordenou isso?

– Sem sombra de dúvidas. E com isso comecei a temer a fogueira, o que eu faria se fosse descoberta? Quando menos percebi estava invocando ao homem desconhecido da floresta. Ele era o único sobrenatural que eu conhecia, talvez ele pudesse ajudar-me, ainda que eu não confiasse plenamente nele.






– Vá embora! – eu gritei e fechei minha janela, no entanto, eu ainda podia vê-lo.

– Vamos, Lady Dominique, você chamou-me aqui, para que agir assim?

– Não o chamei, senhor!

– Sim, chamou. Vi-te chorando em meus sonhos. Bem em sua cama.

– Está mentindo!

– Estou?

Calei-me, o que diabos aquele estranho sabia? Ele apenas me vira na floresta!

– A caça às bruxas irá começar, Nick. Que tal conversarmos a respeito?

Nick? Ninguém me chamava de Nick! Abri a janela.

– O que você é?

– Sou um vampiro.

– E como me vê em seus sonhos?

– Já disse, você me chama, cada vez mais. É magia isso, querida. Você está com medo, sozinha e à mercê de um marido que quer matá-la.

– Henry não faria isso.

– Faria, e você sabe disso. Pode ver em sua aura em todos os momentos que passa com ele.

Suspirei. O que aquele homem falava era verdade, mas como confiar numa criatura da noite? Mamãe sempre me avisou do quanto perigoso isso era, mas nunca levei a sério seus avisos.

– Entre.

Convite feito, ele poderia entrar agora. E mal pisou no chão e já tomou meus lábios, pressionando-os com fervor e lascívia como nunca antes vi. Suas mãos pousaram minha cintura e seguraram-me firmemente até que eu caísse em minha cama.

“Pare” pensei e automaticamente ele parou.

– Interessante, você pode acessar minha mente, Nick. O que mais pode fazer?

Eu estava ofegante e ele continuava a falar de magias.

– Elementos... posso controlá-los.

– Você é interessante – ele repetiu, talvez mais para si mesmo.

– Não disse seu nome ainda.

– Erik – ele falou sorrindo e colocou uma mecha de cabelo meu para trás. – Quando irá partir daqui comigo?

Fechei os olhos, senti eles arderem.

– Henry me matará?

– Sim.

– Mas e se...

– Sabe que sim, Nick.

– E porque está aqui? Porque ajudar-me?

– Porque quero força, preciso disso. Um laço com uma bruxa iria fortalecer-me.

– E o que eu ganho com isso?

– Poder também e posso transformá-la, se, e quando quiser.

– Não posso transformar-me, ainda.

– Por quê?

– Apenas não posso, Erik – repeti e levantei-me.

Eu estava cometendo loucuras, erros. Onde isso me levaria?

– Não sei se devo partir – falei olhando a noite brilhar lá fora.

– Pense com cuidado, my lady.





– Erik? Quem diabos é esse? – Ethan contestou impaciente.

– Ora, Ethan, todos conhecem Erik – falei e cruzei minhas pernas.

Ethan franziu a testa e meio segundo depois me olhou surpreso.

– Você teve um laço com Erik? ERIK, DOMINIQUE? FICOU LOUCA?

– Ele era jovem, Ethan, assim como eu. Todos cometem erros, embora isso não tenha sido um erro, ao menos, me manteve viva.

– Erik é o vampiro mais sanguinário que existe, Nick.

– Exato! Com quem acha que aprendi tudo?

– Nick, por Deus, onde estava com a cabeça? Por que se aliou a ele?

– Porque eu seria morta, porque fui presa e torturada. Ele era o único que eu tinha e eu o amava.

– E onde seu amor está agora?

– Em algum lugar na Europa, provavelmente.






– Eu aceito o laço, Erik – falei e toquei seus cabelos loiros com a minha mão direita.

Erik sorriu.

– Como isso funciona? Você disse que isso o torna forte – perguntei.

– Sim, é o que me disseram quando eu era humano. Fui como você, Nick. Sou um Circulus, mas escolhi ser um vampiro. Meu pai disse-me que um feiticeiro, quando se une a uma criatura da noite, torna-se forte, capaz de realizar grandes feitiços. E isso é recíproco, vale também para o vampiro. O poder dos dois aumenta, porque estão juntos. E isso continua ainda que você se transforme numa vampira, porque ainda estaríamos ligados.

– Mas não há nenhum ponto negativo? Sempre há.

– Bem, o ponto negativo é que meu poder seria drenado se você morresse. Eu seria apenas... um nada.

– E quanto a me tornar vampira? Isso não me mataria?

– É diferente. Apenas eu poderia te transformar, assim o laço se manteria.

– Faça o laço, Erik. Eu quero partir daqui.

Os dentes dele cravaram-se em meu pescoço e eu senti dor. Não gritei, apenas fiquei ali parada, esperando a dor passar. Senti seus lábios sobre minha pele, num segundo ele me mordiscava, no outro, beijava-me. A dor dava lugar a um prazer delicioso, no entanto ele parou.

Erik tirou um colar do bolso e mordeu a própria mão. Seu sangue pingou no pingente e ele pegou minha mão, apertando-a contra a sua. Nós dois segurávamos a jóia.

Erik murmurava palavras encantadas.


Dou-te poder, dou-te vida com meu sangue

Peço o mesmo de vós

Ainda que não possua trevas e morte

Em sua singela existência, como eu possuo

Doo-me a ti

Torno-me teu servo

E também senhor

Compartilharemos poder e glória

Torno-te imortal,

Com meu sangue

Até que essa corrente se quebre

E a prata derreta

Sirvo-te, de bom grado




– Por que queria partir? – Ethan voltou a fazer perguntas.

Dessa vez eu me calei.

– Por que não queria ser uma vampira? Disse que isso a salvou, mas como?

– Prenderam-me e Erik me salvou. Eu não poderia fugir sem sua ajuda e o mais fácil seria eu me transformar.

– E quando isso aconteceu?

– Quando completei 16 anos. Ainda lembro-me de todas as palavras que Erik proferiu.

– Quais foram as palavras?

– E à criatura da noite será dada velocidade, para que assim fuja de seus Inimigos ora tão fortes e impiedosos, força lhe será concedida, já que todo predador necessita de uma saciável presa. Sua sina sede será e a luz será como uma maldição. Olhos de demônios não verão nunca o sol, porque este será maldito a eles, sob uma visão ora privilegiada ora difusa. Contemplativa beleza. Eu a crio e torno-me teu mestre. Beijo-lhe com os lábios frios da morte, clamo a ti: Viva!

– Poético, parece ser algo tirado de romances medievais.

– Erik cria os próprios feitiços, não é a toa que sou tão... diferente.

– Você é a garota de um demônio, Nick, isso sim.

– Ora, não fale assim dele, Ethan.

Meu amigo olhou-me como se achasse graça em tudo aquilo.

– E Henry? O que houve com ele?

– Eu o matei.

– Não o amava?

– Mas é claro que sim, no entanto ele me caçaria até o inferno e eu nunca teria uma vida.

– Falta algo nessa história, Nick.

– Claro que falta, eu não contarei a ninguém sobre minha prisão e torturas, muito menos o que vivi com Erik. Não é algo tão... bom de se ouvir.

Sentei-me no chão, a terra estava seca. Estrelas olhavam-me fixamente.

– Diga-me, Ethan, ainda irá me expulsar de Noctem?

– Não. Eu não poderia fazer isso.

Silêncio novamente. Era fácil simplesmente falar com ele, assim tão normal. As palavras saiam com facilidade.

– Sobre os caçadores... eu os tirarei daqui.

– Isso será meio impossível.

– Não se eu descobrir quem está causando tantas mortes. Se eu pegá-lo, talvez eles vão embora.

– Boa sorte, MacIntyre.

– Esqueça meu nome de casada. Prefiro Armstrong, sempre.

– Esse sobrenome vem de onde?

– De meus pais, é claro, Sr. Ethan Ward!

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