12 agosto, 2012

[Cidade de Sangue] Respire-me


Os lábios dele eram macios, sua boca sugava a minha com paixão, com toda a lascívia do mundo e eu me sentia a pessoa mais feliz. Era como ter um minuto no paraíso. E embora os toques dele me levassem ao céu pela eternidade, aqueles minutos pareciam apenas segundos. Eu ia a loucura, voltava novamente a Terra, onde o chão era firme. Eu estava perdida em seu cheiro, seu perfume, enquanto minha língua procurava a dele com urgência.

Os cabelos negros eram macios, eu amava tocá-los com as pontas dos meus dedos. A mão dele puxava-me pela cintura, colando meu corpo mais ainda ao dele. Eu estava no paraíso, paraíso... e não sabia disso.

“Você é minha” a voz de Blake falou e reconheci um leve sotaque diferente do que estava acostumada em Noctem.

– Não deveria dormir no trabalho, Armstrong – Blake falou e pulei da cadeira.

Seus olhos castanhos encontraram os meus e eu tinha certeza de que estava rubra. Eu havia sonhado com aquele arrogante! Não, não, não! Não era possível isso! Eu estava louca, só poderia ser isso, louca, louca, LOUCA!

– Você está bem? – Blake perguntou levantando-se de sua mesa e vindo até mim.

Eu recuei, mas ele ainda assim tocou minha testa.

– Não está com febre. O que você tem, Armstrong?

Os lábios dele estavam próximos, a mão ainda em meu rosto, os olhos pregados em mim. Alguém, por favor, me mate? Eu não posso, não posso continuar nesse lugar com esse homem!

– Estou ótima – falei pegando minha bolsa. – Vou para casa.

– Boa ideia, dormir é a solução – Blake falou bocejando. – Eu termino as coisas por aqui.

Não ousei abrir a porta, minha mão estava já na maçaneta, mas eu não queria girá-la. Ok, nos últimos dias eu não havia dormido quase nada. Todo o trabalho no consultório e eu ajudando Ethan com os vampiros era desgastante. Lory e Kate dormiam durante o dia, quando elas não poderiam se expor ao sol. Mas e eu? Eu ficava acordada praticamente 24h vigiando a cidade, mesmo uma vampira deve dormir por algumas horas. Eu estava morta, mas Blake, por ser humano, provavelmente estava pior.

Merda, Dominique, você ainda irá se arrepender!

– Você é quem deveria ir – falei virando-me para ele.

Blake fitou-me perdido, afinal, desde quando eu era uma boa pessoa com ele?

– Acho que você deve estar com febre sim – Evans foi dizendo e levantou-se.

Andou até mim.

– Admita, Armstrong, você está preocupada comigo! – ele falou rindo.

– EU? Eu quero é sair dessa cidade logo, quero esse caso resolvido e você morrendo de sono só complica.

– É mesmo? Mas não sente nada, bem lá no fundo? Nem uma preocupaçãozinha?

– Eu n... – antes que eu falasse algo, alguém abriu a porta.

A porta bateu em minhas costas e eu fui jogada contra Blake. Uma senhora entrou na sala e nos viu nessa bela cena. Blake segurando-me pela cintura e eu com os braços ao redor dele.

Ok, os olhos arregalados dela não eram nada reconfortantes.

– Eu deveria voltar depois... – ela ia dizendo e Blake me soltou.

– Não precisa, eu não... nós não...

– Não precisa se explicar, querido, você não tem mais dezesseis anos.

– Armstrong e eu somos apenas colegas, mãe.

Mãe? Arregalei os olhos e ela sorriu ainda mais. A mulher tinha cabelos negros e curtos, um sorriso cativante e belos olhos azulados.

– Eu vejo – a mulher falou e Blake estava totalmente envergonhado.

Essa cena poderia ser desconcertante, mas eu estava adorando.

– Dominique Armstrong, Rebecca Evans. Apresentadas.

– Prazer, Sra. Evans – falei sorrindo.

– Mas que bela menina, Blake, você tem bom gosto! – ela falou e eu corei completamente.

Merda, de que adiantava ser vampira se a vergonha e o embaraço também eram triplicados? Blake apenas fitou a mãe com raiva no olhar.

– O que faz aqui, mamãe?

– Mal o vejo em casa, querido, para falar com você só assim – a senhora falou como se estivesse dando um sermão no filho. – Amanhã é véspera de natal e você não me disse ainda se estará em casa.

– Estou perdido no tempo. Hoje já é dia 23? – ele perguntou e dei de ombros.

Eu também não fazia ideia de que dia era. Toda essa coisa de Natal não era para mim, o máximo que eu teria de uma ceia talvez fosse um pescoço e muito sangue. E talvez Ethan fosse me arrastar para alguma festa.

– Vocês também... detetives que poderiam facilmente perder a cabeça! – ela resmungou e jogou convites na mesa. – Os Lloyd darão um baile, como todo ano, e nos convidou. Você pode chamar alguém – a mulher disse olhando para mim.

– Não gosto da casa dos Lloyd. James é legal, um policial ótimo e meu melhor amigo, mas sua família...

– Blake Liam Evans, você irá nesse baile!

– Mas...

Ok, essa cena era ainda mais bizarra e eu tentava reprimir toda a minha vontade de rir. Blake, o incrível policial estava sendo intimidado pela própria mãe.

– Ok ok, eu irei – ele falou com um sorriso falso.

– Ótimo, vejo-o na festa então, e você também Dominique, vista seu mais lindo vestido.

– Espera! O que? – Blake falou, enquanto a mãe saia da sala. – Eu devo levá-la? Isso é sério mesmo?

Mas ela já não o ouvia. Ele estava de olhos arregalados e se recusava a olhar para mim.

Respirou fundo.

– Não precisa de toda essa cena, eu não poderei ir de qualquer forma – comecei a falar.

– Quais seus planos? – ele perguntou agora interessado e com certo tom de... ciúmes?

– Não tenho nenhum, talvez irei ficar com alguns amigos, nada muito grande. Não comemoro Natais.

– Por quê?

Ok, isso definitivamente não é algo que eu queira discutir. Como dizer a ele que morri no Natal? Como dizer a ele que perdi a pessoa mais importante para mim nessa mesma data?

– Não é uma época feliz – falei simplesmente.

– Mas...

– Eu não quero falar sobre isso.

Droga! Maldito, como ele ousava despertar as minhas piores memórias?

– Tudo bem – ele falou e baixou a cabeça, seus cabelos caíram-lhe pela face e eu o achei incrivelmente lindo.

Mas que droga! Eu não deveria pensar isso, e ele não deveria se meter nos meus assuntos.

– Não haja como se alguma coisa sobre mim importasse para você – falei com mais raiva ainda e ele me fitou. – Não sabe de nada, meu passado ou quem ou sou. E não faça perguntas como se fosse um amigo.

Sai de lá. Eu não aguentaria fitá-lo. Mal pisei fora do escritório de Blake e tombei com alguém.

James Lloyd fitava-me com interesse. Que beleza! Era só o que me faltava.

– Onde vai com tanta pressa, princesa?

– Para longe da sua cara feia – falei com ódio e o larguei lá.

James e Blake, dois lindos e inseparáveis amiguinhos, pois que fossem os dois juntos para o inferno!

Andei até a casa de Ethan e quando lá cheguei, Katherina olhava para fora, esperando o sol se por totalmente. Ethan olhava preocupado para ela. A garota estava totalmente diferente, havia uma expressão temerosa em sua face. Ela abraçada as próprias pernas e os olhos estavam quase desfeitos em lágrimas.

– O que houve? – fui direto até ela e segurei seu rosto entre minhas mãos – Kate diga-me o que há de errado.

Mas ela não dizia nada, continuava com seu olhar perdido e a pele transpirando medo.

– Ela viu Anthony. – Ethan falou de uma vez.

– Anthony? Ele está morto! Kate...

– Eu o vi, Nick, juro que o vi! – Katherina falou.

– Mas ele está MORTO! – repeti e ela chorou mais ainda... – Talvez tenha sido um sonho, talvez...

– Talvez eu esteja louca, é isso que quer dizer, Dominique. – Kate falou com raiva. – Eu não sei se ele é real, mas eu o vi. Não dou a mínima para o que pensa, eu o vi... Ele, ele está diferente, mas é ele.

– E o que ele disse? O que fez?

– Nada. Ele apenas sumiu dois segundos depois. Num momento eu olhei pela janela e lá estava ele, no outro ele se foi.

– Foi um sonho.

– MAS QUE DROGA, NÃO FOI UM SONHO! – Katherina gritou levando as mãos até a fronte.

Ethan apenas olhava de mim para Kate, tentando entender toda aquela situação.

– Por que teme tanto a isso? Poderia ser uma ilusão, não é? – o loiro perguntou.

Katherina o olhou com mais medo ainda.

– Eu não quero que seja uma ilusão, eu quero que seja real, eu não... eu sou louca.

Loucura. Esse era exatamente o medo da minha amiga. Vi ela sentar-se no chão e chorar. Era como anos atrás, a mesma posição, as lágrimas, os medos.



***


Londres, 1939


– Nick, diga, por favor, que vamos ter alguma diversão hoje! – Lorena pediu fazendo todo o seu drama costumeiro.

Eu parei de andar. Sentia um forte cheiro de sangue. Deixei meu olfato procurar a fonte e Lorena me fitou pouco compreendendo o que eu fazia.

– Nick?

– Há um vampiro aqui – falei.

– Há vários vampiros em Londres, minha querida amiga – Lorena falou com uma cara de tédio.

O céu negro não possuía estrela alguma, o vento frio da noite me atingia, dificultava meu olfato, mais eu ainda assim tentei achar o local onde a criatura estava. Parei em frente a uma casa velha. Fui até a porta e com um impulso a abri.

Não havia luz alguma, no entanto eu poderia andar facilmente por lá. A sala possuía a típica aparência de uma casa londrina, porém eu via apenas sangue e mais sangue. Um corpo estava jogado de bruços no chão, percebi que era um menininho loiro, não tinha mais do que 7 anos. No outro cômodo uma mulher de meia idade estava morta e ao seu lado um homem. Havia marcas de dentes em seus pescoços.

E repentinamente uma figura apareceu bem a minha frente. Os cabelos negros desgrenhados, a face convertida numa máscara de terror. Ela mostrou-me suas presas e rosnou, vindo em seguida para cima de mim. Eu apenas a peguei pelos cabelos e a derrubei no chão.

Uma vampira nova.

– Você os matou? – perguntei me referindo às pessoas da casa.

– Eu nunca os mataria – a garota rosnou e olhei suas pupilas, elas estavam negras. Sede, provavelmente era o que mais ela sentia no momento.

– Você se alimentou deles? – contestei.

Lorena, atrás de mim, conferia se algum deles ainda estava vivo. Não estavam.

– Não! – a vampira gritou.

Seus cabelos eram negros e longos, a face estava suja, mas sua pele era tão clara como uma estátua de porcelana. Suas presas estavam visíveis e profundas rugas circulavam seus olhos.

– E quem foi? – contestei. – Quem os matou?

– Um cara... ele me atacou, eu nunca o vi, ele, ele...

Grossas lágrimas caíram de seus olhos e se misturaram ao seu rosto sujo.

– Eu sinto... eu sinto muitas coisas, eu posso ver no escuro, como eu posso fazer isso? E essas vozes na minha cabeça, eu sinto fome... – ela choramingou.

– Eu vou soltá-la, ok? E você irá se acalmar – falei e lentamente fui largando-a. A garota sentou-se no chão e abraçou as próprias pernas como uma criança assustada. Havia sangue e poeira pelo seu corpo.

– Papa abriu a porta, ele estava lá, sorrindo, ele é lindo, maravilhoso, seus olhos me encantaram. Ele disse que sentia fome, disse que perdera a casa, a família. Não tinha a ninguém. E então papa o deixou entrar, o convidou e ele... ele...

– Não precisa nos contar isso, querida – Lorena falou atrás de mim, seus olhos eram frios, embora eu soubesse que minha amiga ainda assim sentia pena pela menina.

– Primeiro papa... – a garota continuou nos ignorando e falando para o nada, seu olhar estava completamente desfocado. – Depois mama e Philip. E depois... depois...

– Depois você. – Lorena falou e eu a censurei.

A loira apenas bufou irritada.

– Como é seu nome? – perguntei ignorando Lory.

– Katherina – ela foi dizendo, a voz baixa, os braços ainda ao redor de si mesma.

Lorena resmungou novamente e me cutucou.

– Vamos caçar, Nick. Olhe para ela, está faminta! Vamos ensinar o modo como acabamos com a fome.

– Caçar? – a garota perguntou agora olhando de mim para Lory – caçar o que?

– Humanos.




***



Noctem, tempo atual


Eu olhava para o salão e não sentia a mínima vontade de me divertir. Todos riam, contavam piadas sem graça, metade do salão me encarava, os homens cobiçosos e as mulheres invejosas. Eu deveria ter colocado um vestido horrível. Procurei o mais simples, porém elegante, que poderia encontrar. E mesmo assim eu chamava atenção de todos praticamente.

Virei-me para a bancada e pedi um Martini.

– Você deveria ao menos fingir que está se divertindo, Armstrong. – Evans falou e entornou sua taça de champanhe.

– Eu te disse: odeio Natal.

– E por que aceitou o convite?

Puxei-o pelo colarinho, nossas faces próximas demais, os lábios dele a centímetros do meu, os olhos não paravam de fitar-me.

– Sua mãe me pediu, eu não gosto de você, mas ela é legal – falei com a voz mais doce que eu tinha.

– Você está bêbada.

– Não o suficiente.

– Ora, mas quem vejo... – uma voz desprezível falou. – O casal Evans.

– James! – Blake brigou com ele, encarando-o.

– Eu estava sentindo cheiro de cachorro molhado, e olha quem me aparece. Feliz Natal, Lloyd!

– Um doce como sempre, Feliz Natal, Armstrong!

– Que seja – falei levantando-me e indo para fora daquele salão. Entrei numa sacada qualquer e respirei o ar puro.

Merda. Por que eu estava ali? A pior noite do ano com o pior homem de Noctem. Minha sorte era maior a cada ano! Bufei irritada e encarei o céu. Estrelas brilhavam para mim e eu não pude evitar pensar em Lirian. Seu sorriso, seus cabelos loiros e perfeitos. Sua voz! Ah! Eu amava ouvi-la cantar.

Uma lágrima deslizou pelos meus olhos e rapidamente a limpei.

– Uma vampira chorando, incrível! – uma voz falou e eu virei-me.

Ann Marie sorria para mim. Usava um vestido rosado e os cabelos presos.

– Não deveria dizer essas coisas tão alto, Walker – falei.

– E você não deveria deixar Blake por aí sozinho. Foi só você sumir por um segundo e duas já foram atrás.

Olhei para o salão atrás de mim. De fato duas mulheres estavam conversando animadas com Blake. Uma morena e uma loira.

– Aquela não é... – comecei a falar.

– Sim – Ann me cortou – minha irmã. Heather tenta recuperar Blake há quase oito meses. Os dois eram namorados.

Heather e Blake! Isso era realmente uma surpresa. Os dois juntos pareciam mesmo um casal e algo estava corroendo meu estômago.

– Por que terminaram?

– Blake não a ama, não tinha tempo para ela. Heather é possessiva, ciumenta. E o mais importante: os dois não estão escrito nas estrelas.

– Como? – eu falei mal acreditando no que ela dizia.

– Você sabe! Aquela coisa chamada destino! Eu leio as estrelas, aprendi com mamãe e continuo a aprender até hoje. Sou muito melhor do que Heather nisso. Ela não gosta tanto de feitiçaria.

Eu ri e olhei para onde Ann olhava.

– E o que as estrelas dizem?

– Dizem que uma menina causará a maior confusão nessa cidade. Diz que Noctem está um caos e que tudo irá piorar. Uma criatura das trevas terá que fazer uma difícil decisão. Eu vejo sangue, Nick, morte e vingança. Mas vejo sobretudo que você e Blake estão destinados.

– Ow, pare por aí agora! – eu falei assustada. – Não existe eu e Blake. Não existe destino para uma vampira. E mais do que isso, não existe romance entre nós dois, nem nunca haverá!

– Mas...

Eu não queria ouvi-la mais, dei meia volta e entrei de volta no salão. Eu estava cansada daquele ambiente, das pessoas, da comida que sequer provei. Eu estava cansada de Lloyd e de suas ironias, eu o odiava. Estava cansada de Ann e seus mistérios, de Blake e seus segredos.

Queria apenas ir para casa e...

– Onde vai? – a voz de Blake me parou.

Eu estava a três metros da porta de saída. A mão dele fechou-se ao redor do meu braço.

– Eu preciso ir.

– Está cedo, não é nem meia-noite, Cinderela – ele sorriu, seus olhos castanhos eram sedutores.

– Por que não gosta do Natal? – perguntei e automaticamente ele ficou sombrio.

– Isso não é algo que...

– Diga!

– Armstrong...

– Nós começamos com o pé esquerdo. Eu quero um recomeço, Evans.

– Mas isso não é...

– Por que detesta o Natal? – repeti a pergunta e ele bufou irritado.

– Por que eu nasci, ok? Hoje é meu aniversário. E minha mãe morreu nesse dia.

– Sua mãe?! Mas ela não...

– Rebecca Evans me adotou. Ela é uma enfermeira e fez meu parto. Depois que minha mãe faleceu, ela resolveu me criar. – Blake falou olhando-me no fundo dos olhos. – Está satisfeita? Agora seria ótimo você contar o seu motivo para odiar o Natal.

Como dizer a ele que eu morri nessa data? Que ironia. A vida dele começou nesse dia, a minha, acabou. Que seja, é melhor contar sobre a morte de Lirian do que a minha morte.

– Eu perdi alguém importante, alguém que eu realmente amava. Apenas isso.

– Seu pai? Sua mãe?

– Ambos – respondi vagamente.

Mas a verdade era outra.

A pessoa que eu perdera não fora papai ou mamãe.

Fora minha linda Lirian.

– Desculpe, eu não queria que você chorasse. – Blake falou desconcertado e eu limpei meus olhos.

Uma melodia começou a ser tocada e eu prestei atenção nela.

– Sem problemas, Evans – falei sorrindo e olhei para a mulher no palco, que agora tocava o piano de forma bela e nobre.



Help, I have done it again
Me ajude, tenho feito isso de novo

I have been here many times before
Eu tenho estado aqui muitas vezes antes

Hurt myself again today
Machuquei a mim mesma de novo hoje

And, the worst part is there's no-one else to blame
E, a pior parte é que não tem ninguém para culpar


A música preenchia toda a minha alma, a doce voz da cantora distraia-me de tudo e de todos.

– Vamos dançar. – Blake falou pegando minha mão e puxou-me para a pista sem minha permissão. E eu, sem perceber, deixava Blake guiar-me pela pista de dança. Que seja, era apenas uma dança. Eu o abracei mais e nós ficamos dançando juntos, lentamente e no ritmo da melodia. Fechei meus olhos e pousei minha cabeça sobre seu ombro.


Be my friend
Seja meu amigo

Hold me, wrap me up
Me segure, me envolva

Unfold me
Me descubra

I am small
Eu sou pequena

I'm needy
Estou carente

Warm me up
Me aqueça

And breathe me
E me respire



– Estão nos encarando – Blake sussurrou em meu ouvido e estremeci.

– Que se danem – falei, embora estivesse ligeiramente envergonhada em ter a atenção daquele salão.

Não éramos um casal.

Não éramos ao menos amigos.

Então por que diabos eu me importava com ele?


Ouch I have lost myself again
Ai, eu me perdi de novo

Lost myself and I am nowhere to be found,
Me perdi e não há lugar nenhum pra me encontrar

Yeah I think that I might break
É, eu acho que poderei quebrar

I've lost myself again and I feel unsafe
Me perdi de novo e me sinto insegura


– Armstrong...?

– Pare de me chamar assim, ninguém me chama por Armstrong!

– Do que eu deveria chamá-la, Srta. You-Don’t-Know-Me?


Be my friend
Seja meu amigo

Hold me, wrap me up
Me segure, me envolva

Unfold me
Me descubra,

I am small
Eu sou pequena

I’m needy
Estou carente

Warm me up
Me aqueça

And breathe me
E me respire



– Dominique, Nick, que seja! – falei olhando-o nos olhos.

– Como quiser, Dominique. – Blake falou e lançou-me um sorriso.

E de alguma forma meu maldito sonho veio novamente até minha mente. Eu o beijando-o, ele me abraçando. Tudo parecia tão real, como se eu já o conhecesse, como se eu o tivesse beijado antes, como se...

Fosse destino.

Automaticamente eu larguei Blake e o fitei demoradamente.

“Eu vejo sangue, Nick, morte e vingança. Mas vejo sobretudo que você e Blake estão destinados.”

Meus pensamentos estavam confusos, lembranças se misturavam em minha mente. Eu ouvia perfeitamente a voz de Ann em minha mente.


Be my friend
Seja meu amigo

Hold me, wrap me up
Me segure, me envolva

Unfold me
Me descubra,

I am small
Eu sou pequena

I’m needy
Estou carente

Warm me up
Me aqueça

And breathe me
E me respire

– Acho melhor eu voltar para casa – falei calmamente. – Tenho um longo dia amanhã.

– Eu a levo.

– Não – eu disse e suspirei. – Não é necessário, eu prefiro ficar sozinha com meus pensamentos.

– Eu fiz algo ruim?

– Vejamos, você destruiu uma das minhas mais lindas blusas.

E quebrou todo o meu carro no acidente, pensei, mas isso ele não deveria saber.

– Vocês mulheres, fazem uma tempestade por qualquer coisa! – Blake bufou – deixe-me levá-la, Dominique.

– Eu não irei morrer no caminho para casa.

– Acontece um ataque a cada dois três dias. É um padrão e eu não gosto de correr riscos.

– Então hoje acontecerá algo?

– Segundo as previsões... sim. Tenho viaturas por toda a cidade praticamente. Tudo o que eles devem fazer é ligarem para mim e...

– Respire – falei sentido seu nervosismo.

Levei minha mão até seu rosto, ele fechou os olhos.

Mas mal fiz isso, ouvi um grito. Não um perto dali, no salão ou no outro lado da casa. Era longe. Era de Ann Marie, e ela me chamava. Aquela idiota saíra da festa, colocou-se em perigo pelas ruas da cidade. E agora gritava por mim.

O celular de Blake tocou.

– Adeus, Blake Evans. Feliz Natal e muitos anos de vida! – falei soltando-o.

Ele tentou me parar, mas não pôde. Estava ocupado demais atendendo ao telefone.

E enquanto isso eu corria.

Corria por Ann Walker.

E pela sua vida.

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