25 agosto, 2012

[Magic and Mistakes] Secrets

Narração by Draco

No momento que atravessei a porta daquele apartamento, insisti nos meus pensamentos, com toda a minha força, que eu ainda a veria, e feliz. Eu sabia perfeitamente que era o culpado por aquela situação e, se soubesse das consequências antes de ir até aquele bar, eu não teria ido. No entanto, não há como voltar no passado e, se por um milagre eu pudesse, com certeza espancaria a mim mesmo por ser tão idiota.

Assim que saí de lá, deixando Hermione sozinha, não sei como conseguia pensar. Era difícil manter um raciocínio lógico sabendo que talvez eu a havia perdido. Entretanto consegui manter minha varinha na mão direita e de algum modo me vi de frente para uma casa familiar. Na verdade era mais uma mansão do que uma casa, menor do que o meu antigo lar, mas não menos confortável.

Abri o portão negro e segui na direção da porta principal, ao chegar na varanda parei e toquei a ponta da minha varinha na maçaneta. Isso avisaria sobre a minha presença. Em um minuto a porta foi aberta e um homem magro e alto apareceu no portal.

–Draco? O que faz aqui?

–Será que posso passar a noite aqui, Theo? – perguntei baixando meus olhos para o chão.

Eu poderia ir para um hotel bruxo, ou para qualquer outro lugar, mas eu tinha medo de fazer alguma besteira. Eu precisava de alguém que me vigiasse. Só assim eu me sentiria melhor, mas não exatamente bem. Existia uma diferença nisso.

–Claro, entre. – meu amigo falou e o acompanhei.

Theodore me levou até uma sala e percebi que era na verdade o lugar em que ele costumava trabalhar com suas poções. Não era exatamente o lugar que eu mais queria estar, mas também não era de todo ruim.

–Se quiser não precisa ficar aqui, Draco – Theodore foi dizendo enquanto mexia o conteúdo de um caldeirão – Preciso terminar algumas anotações, se quiser peço para alguém preparar um quarto para você.

–Está tudo bem... prefiro ficar. – murmurei folheando um livro qualquer.

Sentei-me num sofá que havia ali e tirei meu casaco enquanto Theo voltava sua atenção para a poção. No entanto ele continuou a me olhar pelo canto dos olhos.

–O que houve? – ele finalmente perguntou – Brigou com a Granger?

Ignorei-o. Definitivamente eu não ia conversar com Nott sobre meu relacionamento. Primeiro porque ele não tinha um. Segundo porque seus conselhos não me ajudariam. E terceiro, ele era um sonserino, pronto para tirar uma com a minha cara.

Ele então desistiu de suas perguntas e voltou a prestar atenção na poção e eu, bem, meus olhos começaram a pesar e uma dor de cabeça começou, com certeza amanhã seria um longo dia acompanhado de uma bela ressaca. E eu precisava convencer Hermione de que eu a amava ainda. Eu tinha que... que.... dormir.

Pensei ter dormido por quase um século. Eu havia sonhado com Hermione e seu sorriso. Desejei vê-lo, eu podia tocá-la e beijá-la. Estava tudo bem, enfim. Mas então, eu acordei e sabia que aquilo não seria possível. Olhei para a janela e já estava claro. Parecia que eu acabara de cochilar, mas já fazia horas que eu estava ali, na verdade. Theo estava sentado na mesa anotando algo em um papel. Ele passara a noite inteira estudando.

Quando percebeu que eu despertara, ele me olhou e eu podia jurar que foi o olhar mais estranho de todos que ele já me lançara. Havia algo em seus olhos azuis. Surpresa mesclada à descrença, talvez. Eu não saberia dizer. Sentei-me e cocei a cabeça. O que havia de errado?

–Qual o problema? – perguntei cansado daquilo.

Eu percebi que minha voz era irritada, o que eu podia fazer? Minha cabeça doía ainda e Theo não estava me ajudando em nada. Ele abaixou os olhos e respirou profundamente.

–Nunca pensei que esse dia chegaria... – Theo falou e aproximou-se de mim – Me dá medo ao ver o quanto louco você ficou. – ele rira.

Theodore apontara para a mesinha do lado do sofá, onde havia uma caixinha de veludo. Fora apenas ao vê-la que eu entendi o espanto dele.

–Caiu do seu casaco. – Theodore falou – não pude evitar ver. Draco, você sabe perfeitamente que isso é completamente insano. Quero dizer, não tenho nada contra ela, mas você tem certeza?

Senti que Nott estava preocupado, mas o que eu deveria fazer? Deixar que a sociedade ou meus pais ditassem meu futuro e minhas decisões? Nem pensar. Eu posso e farei tudo o que eu quiser. Simples.

–Não vejo problemas. – falei olhando de cara feia para ele.

–Não vê? Eu vejo – Theo dissera dando de ombros – Draco Malfoy foi fisgado por uma bruxa nascida trouxa e está louco. Não acredito que irá pedi-la em casamento. E esse anel... duvido que ela diria não, nenhuma diria, até mesmo se fosse eu quem pedisse. – Theodore brincou abrindo a caixinha e olhando o anel de forma debochado.

–Hey! – protestei pagando a jóia de volta e a guardando. – Ninguém me fisgou. Não é como se tudo fosse mudar só por eu pedi-la para casar comigo e, de qualquer forma, acho que não é uma boa hora agora. – falei voltando ao meu tom melancólico.

–Espere até Zabini souber disso – Nott falou dando uma gargalhada e voltou para sua poção.

Percebi que ela começava a fazer bolhas e soltava um cheiro horrível.

–Por que está fazendo tudo isso afinal? – perguntei apontando para a mesa.

–Pesquisas Draco, posso não ter um trabalho, mas é isso que gosto de fazer. Poções é o meu forte, lembra-se? Tenho criado algumas novas ultimamente e os resultados são ótimos.

–Não seja um nerd, Nott. Ou vai acabar vestindo uma roupa preta e dando aulas de poções em Hogwarts. – brinquei e ele fechou a cara, lembrando-se de Snape.

Era ótimo vê-lo entretido em algo, pelo menos assim eu sabia que ele ficaria longe dos ataques que estavam acontecendo. Assim eu saberia que ele não seguiria os passos do pai, nem se envolveria com as trevas. Era o que eu esperava.

E minhas decisões ultimamente, mesmo que idiotas, não eram por completo estúpidas. Tudo bem, foi uma completa burrice ir ao bar, sabendo que talvez, ainda essa semana, eu poderia pedir Hermione em casamento. Agora eu tinha certeza que ela não aceitaria facilmente. Eu não queria me casar, antes. Agora eu sabia que queria viver com ela o resto dos meus dias e era isso que importava. Apenas isso.


Narração by Hermione

Eu ainda me sentia péssima. Minha cama não parecia nada confortável e tudo, exatamente tudo ali, me lembrava dele. O guarda-roupa estava cheio com suas roupas. O travesseiro estava impregnado com seu cheiro Na cômoda seu relógio de prata marcava nove horas. Meus olhos estavam inchados e vermelhos, eu passara a noite em claro chorando, o que fazia de mim uma idiota. Meu corpo doía e eu sentia fome, mas não queria levantar-me e dar de cara com mais objetos dele espalhados por ali. Até mesmo quando ele estava longe, ele mantinha-se perto, torturando-me.

Eu havia dito coisas horríveis a ele, mas afinal, ele não havia feito o mesmo? E bem quando eu assumia isso para Pietro, bem quando conversávamos sobre nosso passado, Draco aparece naquele estado. Seria alguma provação? Seria ele inocente como alegara?

Não. – eu murmurei e ouvi meu estômago reclamar.

Resolvi levantar-me e procurar algo na cozinha. Não teria que trabalhar hoje, tirara o dia de folga e com certeza seria difícil eu sequer passar pela porta da frente. Eu não queria sair. Queria apenas continuar ali, talvez me autodestruindo. Fora então, que alguém bateu na porta. Arrepiei-me, claramente com medo de que fosse Draco, mas fui até o hall. Olhei para o olho mágico e fiquei aliviada ao ver Emily.

Abri a porta e a deixei entrar.

–Hermione, por Merlin… o que aconteceu? Disseram-me que você tirou o dia de folga... – a francesa começara a falar e reparara na minha aparência.

Eu tinha total consciência de que estava horrível. Eu acabara de acordar e nem ao menos penteei meus cabelos. Fora o fato de ter chorado. Vi o olhar dela cair sobre o vidro quebrado num canto da sala e ela não precisou de muito mais para entender.

–Hermione... eu sinto muito. – Emily falou e me abraçou. Era talvez o que eu mais precisava naquele momento – O que aconteceu?

Respirei fundo e contei a ela o que houve na noite passada. Tudo mesmo, mas com menos detalhes. Eu também não havia falado sobre Pietro, mas esse era um segredo já enterrado, ou era o que eu esperava, sinceramente.

–O que eu devo fazer, Em? – perguntei nervosa.

–Primeiro, tomar um banho e se arrumar, você é Hermione Granger. Não se esqueça disso. Depois você irá tomar um café comigo. – ela falara sorrindo.

–Não precisa trabalhar?

–Não hoje, eu já ia folgar hoje de qualquer modo. Não precisam de nós hoje. – ela disse e eu segui para o banheiro.

Tomei uma ducha rápida e coloquei um jeans simples, meio apertado, mas ainda assim me caia bem, e uma camiseta rosa. Voltei para a cozinha, me sentei-me à mesa, na frente de Emily e comecei a comer umas torradas com geléia, que estavam muito boas.

–Hermione, tem certeza que Draco...

–Não sei, quero dizer, ele insistiu que era inocente, mas a prova era óbvia demais. Não é algo que eu possa duvidar.

Ela não entendia. Não sabia o que era passar por aquela situação. Continuei comendo, não me dando conta do quão faminta eu estava até aquele momento. Emily pelo visto percebeu isso e quando eu parei de comer de repente ficou me encarando.

–Esta manhã Pietro me convidou para sair com ele. – ela dissera de repente – Eu aceitei, mas não sei se deveria.

Pisquei meus olhos. Pietro queria alguém que o amasse. Por que não Emily? Eles eram adultos e livres e aquilo seria ótimo para eles.

–Acho que você deveria conhecê-lo. – falei pegando outra torrada.

E então me sentia estranha e uma ânsia começou a me atingir. Respirei fundo e ela passou, mas voltou uns minutos depois.

–Hermione... – Emily começara a falar – Sente-se bem?

Eu disse que sim, que não passava que um enjoo matinal. Ela me olhou mais profundamente ainda, se é que isso era possível.

–Você está grávida?

Se eu não tivesse visto seus lábios moverem-se provavelmente duvidaria que ela me perguntou isso. Ela estava louca? Eu… grávida? Ela estava louca! Isso não era possível... era?

–Claro que não! – eu praticamente dissera como se aquilo fosse a pior coisa do mundo.

–Tem certeza? Porque tudo meio que se encaixa. Você desmaiou por causa do estresse, mas ainda assim isso poderia ter sido agravado com uma gravidez. Você está muito alterada, quero dizer, seu humor está estranho. Você chora, você ri. E esse café da manhã, você está comendo muito e sentiu enjoos. Você tem certeza absoluta que não está grávida?

–Eu… bem, não. Mas sei que não estou. Certo?

Ela me olhou como se eu tivesse dito que dançaria balé. Deus! Como eu saberia algo como isto? Meu único contato com crianças simplesmente não existira. Eu nunca sequer troquei uma fralda. Como eu manteria um bebê vivo se eu nem consegui manter um peixe ou sequer Bichento, que ficava por sua própria conta em Hogwarts?

Crianças são bonitinhas e fofinhas, mas longe de mim. Eu atraía choros. Apenas isso.

–Fique aqui. – Emily falou levantando-se e fui para a porta – Eu já volto.

Ela demorou cerca de meia-hora e quando votou trazia um embrulho com ela. Teste de gravidez. Eu quase ri. Eu deveria estar preocupada em salvar meu relacionamento, não com uma possível gravidez. Quero dizer, não havia chances de eu estar grávida.

–MALDITO TESTE! – eu gritei uns minutes depois ao ver a palavra grávida na minha frente – Está errado. Só pode estar errado.

–Não acho que esteja. – Emily falou – Parabéns, Mamãe.

Mamãe. Mamãe. Aquilo não fazia sentido. Sentei-me no sofá tentando respirar, mas era difícil. Isso não deveria estar acontecendo.

A imagem minha segurando uma criança era quase que pitoresca. Esse bebê sofreria com a minha falta de experiência. Eu não podia estar esperando um filho. Não podia. E Draco? Como ele reagiria? Largaria-me de vez para não ter que assumir seu filho mestiço? Comecei a chorar sem perceber.

–Hermione, não chore. Não será tão difícil. Você tem a Draco. Aposto como ele amaria ter um filho com você.

–Tenho vinte anos e estou grávida. E se isso atrapalhar minha carreira... e se...

–Cala a boca. – Emily falou agora estressada comigo – Você é jovem, Draco também e isso não muda nada. Vocês dois se amam e tenho certeza que vão superar essa crise.

–Não é como se você estivesse grávida! – eu falei completamente alterada e não me importando com ela, afinal, o que ela saberia? – Não é como se você tivesse sido traída! Não é como se você não soubesse o que fazer!

Eu estava descontrolada e comecei a chorar. Mas antes que eu pudesse continuar a brigar com Emily e comigo mesma, alguém bateu na porta. Eu não estava nada a fim de abri-la, então Emily fez isso por mim.

Quando ela voltou, trazia Gina consigo. Eu apenas a olhei e ela entendeu que eu não estava nada bem. Eu precisava da minha melhor amiga. E por um momento durante muito tempo, eu a tinha de volta. Contei a ela tudo. O assassinato. A briga. A traição. A discussão. A gravidez. Tudo. E eu jurava que me sentia muito melhor ao fim da narração. Gina estava chocada com tudo e enquanto ela se recuperava me virei para Emily.

–Me desculpe, – pedi – eu não devia ter dito aquelas coisas... eu meio que surtei.

–Tudo bem. – ela falou, embora eu soubesse que não estava nada bem. Era como se seu tom dissesse exatamente o oposto.

–Draco... eu deveria contar isso a ele... já? – hesitei, não querendo estar de frente para ele.

A ideia de encará-la face a face me amedrontava. Seria difícil, eu ainda sentia uma incrível vontade de espancá-lo, de machucá-lo, como se eu tivesse que provar para ele o quanto doera o que ele me fizera. Era quase que uma necessidade.

–Se Draco te procurar... – Emily começou – acho que você deveria ouvi-lo e não esconder dele a verdade. Tenho certeza que ele amará saber que será papai.

A loira levantou-se do sofá e me olhou, ela não sabia mais o que dizer, ou talvez não tivesse mais nada acrescentar. Era difícil saber. Desde que eu gritara, ela estava retraída. Como se quisesse falar algo, mas não o fez. Emily olhou para Gina e depois para o chão.

–Eu preciso ir. – falara – Sua amiga... Gina, você tem a ela por hoje. Qualquer coisa me chame. Tchau.

–Emily... – chamei, mas era tarde, ela fora embora.

–O que você fez? – Gina perguntara e senti vergonha da minha reação. Eu fora uma idiota completa.

–Besteira. Foi isso que eu fiz. – falei e me levantei do sofá, tentando resgatar minha imagem de amiga, que eu destruíra. – Eu já volto. – falei para Gina.

Encontrei Emily quase entrando no elevador e a parei.

–Me desculpe pelo que falei. – repeti minhas desculpas – Geralmente eu não faço e falo bobagens. Estou confusa e acabo sendo egoísta.

Ela me olhou fixamente e mordeu os lábios, então fitou o chão.

–Você não devia comparar sua vida com a minha como fez. – ela dissera e então me encarou com seus olhos azuis. – Você não faz ideia do que eu passei.

Estreitei os olhos, eu realmente não sabia nada sobre ela, tínhamos nos conhecido há tão pouco tempo e ela não dissera praticamente nada sobre sua vida.

Ela nascera numa cidadezinha na França, tinha uma irmã e seu pai falecera há alguns anos. Era tudo o que eu sabia.

–Por que não me conta então? – pedi calma e tentando recuperar a confiança dela.

Emily deu de ombros e encostou as costas na parede. Eu tinha certeza que ela não queria conversar, mas quando eu havia desistido de arrancar palavras dela, Emily começou a falar.

Surpreendi-me com suas palavras e o segredo que ela guardava. Descobri então, que éramos mais parecidas do que eu poderia esperar. Entretanto, parecia irreal e, ao mesmo tempo, eu estava agradecida. Emily poderia me ajudar a encarar minha vida. Ela, mesmo sendo uma estranha, poderia ser uma amiga. E, no fundo, eu sentia pena. Sua vida fora difícil, mas ela estava ali. Inteira e forte. E por um segundo tudo o que acontecera comigo, parecia ter sido há anos e sem sentido.

–Por que não me contou antes? – contestei e ela deu de ombros.

–Algumas pessoas no ministério sabem e não olham tão bem para mim. – ela falara – Não queria que isso interferisse no meu trabalho, com você. Não me envergonho de nada, mas também não queria que você me julgasse.

Ela tinha razão em querer proteger-se daquela forma.

–Não te julgaria. – respondi.

–E Pietro? Ele me julgará quando souber? – Emily perguntou e percebi que era isso que a assustava. Não a minha opinião, mas a dele.

–Não. Eu não acho que ele se importaria. – falei e esperava que isso fosse verdade.

Eu o conhecia e sabia sobre suas ambições. De qualquer forma, assim que ele soubesse o segredo de Emily, talvez não a julgasse, e eu esperava que ele continuasse a gostar dela, como eu sabia que seria inevitável.

Narração by Rony

Eu estava deitado no jardim da Toca, acabara de almoçar e esperava o tempo passar para que eu pudesse voltar para o ministério. Havia uma estranha sensação em mim, mas não me importei. Talvez fosse o excesso de trabalho. Eu precisava relaxar mais e até ir a algum jogo dos Chudley Cannons. Harry estava sempre trabalhando, assim como eu, e no tempo livre ele somente sabia respirar Gina, Gina e Gina. Isso irritava profundamente e Hermione era a mesma coisa agora com Draco. Eu sentia falta dos meus amigos e de nossos tempos inseparáveis.

Fora que esse novo ar no ministério também me irritava. Desde que eu falara com Kingsley sobre a profecia, ele agia como se o mundo fosse pegar fogo, o que não aconteceria. Voldemort não voltaria e eu simplesmente precisava acreditar nisso. Era só o que eu tinha.

Nem reparei quando alguém se aproximou de mim, eu estava com os olhos fechados afinal, no entanto senti uma sombra ofuscar o sol no meu rosto. Abri os olhos e vi uma cabeleira loira bem clara.

–Luna! – exclamei sentando-me na grama surpreso e me deparando com ela usando um vestido azulado. Não era estranho. Dava-lhe um ar agradável e com certeza eu não cansaria de olhá-la. Sempre valia a pena.

–Olá, Rony. – ela falou e sentou do meu lado na grama, como se não pudesse evitar. – Seus gnomos são adoráveis.

Acompanhei seu olhar e percebi que de fato ela olhava para dois deles no jardim. Na verdade não eram nada adoráveis. Essa era a última palavra para descrevê-los, mas não me importei.

–Você não tem me visitado mais. – ela fora direta e senti a atmosfera pesada.

A verdade era que da última vez que eu a vira, Luna profetizara aquelas palavras. Fora estranho, irreal e eu senti medo. Não era ela falando. Era apenas uma voz irreconhecível. Qualquer pessoa, não Luna. E se acontecesse de novo? Eu não saberia o que fazer. De novo.

–É... tenho trabalhado. – dei uma desculpa qualquer.

–Mas Harry vê Gina e vocês trabalham juntos. – Merlin! Como Luna podia ser tão imprevisível? Ela tinha o talento de me deixar desconfortável.

–Bem... é. Mas eles são namorados. – falei o óbvio. Dez pontinhos para mim, por ser tão esperto.

Ela ficou quieta, apenas observando o jardim. Conversar era estranho, mas o silêncio era pior ainda, se é que fosse possível.

–Você me evita, Rony. – Luna disse repentinamente e deitou-se na grama, olhando para o céu – Mas não me importo. É como antes.

No mesmo momento que ela disse isso, senti algo corroer dentro de mim. Antes eu a ignorava mesmo, em Hogwarts eu não me importava tanto assim com ela. Mas então surgiu a AD e, depois, a guerra. Agora eu me importava sim com ela. Eu apenas tinha medo. Era fácil entender isso, mas eu não queria que ela soubesse. Luna não fazia ideia sobre a profecia. Como eu dissera, aquela voz não era ela.

–Me desculpe, Luna. – falei sentindo pesar – Você sabe que eu não sei... como agir.

–Eu sei. – ela falou agora sorrindo. – Esse é você.

Sorri. Talvez, se eu tentasse, eu poderia esquecer as palavras dela. Talvez pudéssemos ser amigos. Eu queria. E tentaria. Mas por algum motivo, eu queria ser mais do que um amigo e não sabia a opinião de Luna sobre isso. Talvez fosse isso que me mantinha afastado. Não o medo de uma nova profecia, mas sim o medo de que ela dissesse não. E eu era medroso o suficiente para não colocar um ponto final nessa dúvida.

Narração by Harry

Era de se esperar que algo fosse acontecer. Isso era certo. Mas as palavras de Luna ainda não faziam sentido. Sei que não era meu trabalho isso, mas eu as revisava ininterruptamente, procurando uma informação que talvez eu deixara passar. Mas as palavras dançavam à minha frente, desafiantes. E eu não achava mais nada por trás daquilo.

Estava no ministério, o dia já estava acabando e eu precisava falar com Hermione. Ela, obviamente, era muito mais esperta e seria mais fácil se ela tentasse desvendar a profecia. Esse era um belo defeito em mim. Eu acreditava nas profecias, mesmo que eu tivesse escolhido seguir a minha, e não apenas ser movido por ela. E agora, parecia que nada que eu fizera fora o suficiente. Era frustrante.

Por fim guardei uns papéis que estava preenchendo e pousei a pena no tinteiro. Arrumei a bagunça que fizera na minha sala e peguei meu casaco. Sentia-me cansado, mas pensei em ir para a Toca ver Gina. Ela viajaria amanhã para mais um jogo e eu não a veria. No entanto desisti. Eu precisava de uma boa noite de sono e não ajudaria se ao invés disso eu fosse vê-la. Eu me esqueceria de mim mesmo. Seria inevitável.

Saí da minha sala e cumprimentei alguns bruxos pelo caminho até que eu saísse de lá. Precisava procurar algum lugar onde não houvesse trouxa nenhum. Assim, comecei a andar e ao olhar para trás vi dois homens. Eles fingiram não me reparar, mas não sei se foi instinto ou simplesmente meu treinamento como auror, mas eu sabia que eles estavam me seguindo e não apenas passando por ali por coincidência. Eu tinha uma sorte magnífica.

Puxei minha varinha das vestes e fiquei pronto para um possível ataque. Olhei para trás, mas ele não veio como esperei. Fiquei atento, virei-me para frente novamente e assustei-me ao vê-los. Haviam me enganado.

–Crucio! – o feitiço veio rápido, mas desviei-me, era fácil demais fazê-lo.

–Estupefaça! – bradei segurando a varinha de azevinho e acertei um deles. Pareciam mais estúpidos e despreparados a cada ataque. Eu poderia rir na cara deles se fosse seu líder, ou talvez, poderia torturá-los pela ineficiência.

O outro conseguiu me acertar no braço esquerdo e fazê-lo sangrar. Senti raiva e o derrubei com um feitiço qualquer. Ele caíra e me aproximei, não antes de paralisar ao outro homem. Peguei-o pelo colarinho e o empurrei contra a parede, mantendo a varinha em seu pescoço.

–Quem é você? – perguntei entre dentes e ele não me respondeu. – responda a pergunta!

–John Macnair. – ele falou e percebi sua feição dura e mal-humorada.

–Parente de um comensal? – perguntei lembrando-me de Walden Macnair, morto na guerra bruxa – E seguindo os passos dele? – debochei e ri. – Por quê? O que você quer me atacando?

Ele nada falara e ameacei-o com a minha varinha. Havia temor da expressão dele, no entanto, o homem rira na minha cara.

–Sempre o confiante Harry Potter... acha mesmo que eu te falaria algo? Seu tempo aqui vai acabar, Potter. E você sabe disso, é inevitável. – ele falara debochado – É só uma questão de tempo.

Eu sabia que não conseguiria arrancar mais nada dele, seria perda de tempo. Assim, eu o estuporei e fiquei olhando para os dois homens no chão. Como poderiam ser tão estúpidos para apoiarem as trevas? O que eles pretendiam? Trazer Voldemort de volta, outrora o mais temido?

Passei a mão na minha cabeça e parei bem em cima da cicatriz. Ela não me incomodava, deveria doer se Voldemort ainda estivesse vivo, ou pelo menos era o que eu pensava. Ergui, então, minha varinha e fiz um patrono mensageiro. Precisava avisar ao ministério sobre esse ataque, assim, o veado brilhante tomou forma e seguiu para meu trabalho. Em alguns minutos eles estariam aqui.

Seria estupidez minha acreditar que aquilo era apenas uma revolta dos comensais e suas famílias. Eu tinha certeza que não se tratava disso. A época dos perigos estava voltando, assim como aconteceu antes, quando todos acreditavam que o Lord das Trevas se fora para sempre. Quando eu era um bebê e o derrotei.

No momento que me dei conta disso, ergui minha varinha novamente e enviei desta vez dois patronos. Eu precisava ver meus amigos. Senti até mesmo uma alegria, como se estivéssemos em Hogwarts, tramando algo como fazíamos. Era como se não tivéssemos nos separado. Era hora de descobrirmos juntos, o que fazer. Sem o ministério, sem professores, sem a Ordem da Fênix. Por hora.

–Não entendo. – Hermione falou enquanto andava de um lado para o outro na sala – O que eles querem com esses ataques repentinos?

–Assustar é claro. – Rony falou esparramado no sofá – O Profeta está omitindo eles, mas uma hora ou outra, todos descobrirão que algo está acontecendo e aí o medo vai ser incontrolável.

–Como antes. – falei irritado – É previsível isso. Ataques e mortes. Estão até mesmo punindo os ex-comensais, os que abandonaram a causa anti-trouxa. Isso é ridículo!

Hermione parou de andar e sentou-se numa das poltronas. Pensei então que, com o silêncio repentino, ela estivesse lembrando-se do que passamos naquela casa.

Estávamos no Largo Grimmauld, a casa que Sirius me deixara.

Interrompi o silêncio e comecei a falar.

–O que acham de tentam procurar algo na profecia, pelo menos um fato que nos ajude? – perguntei e ambos concordaram.

– À última badalada da noite mais longa um servo d’Aquele outrora o mais temido irá tentar trazê-lo de volta ao júbilo. – Hermione falou de cabeça.

–Noite mais longa... – Rony sussurrou – Ela existe Hermione?

Ela pareceu se concentrar, tentando lembrar-se e a concentração dela era tão intensa que era quase possível ouvir seus pensamentos.

–Existe. – ela dissera por fim. – O solstício de Inverno.

–Voldemort irá retornar nesse dia então? – me peguei dizendo – No inverno? Que ótimo.

–Pode ser esse ano, ou o outro. Fica em aberto isso. Mas como diz, um servo dele irá trazê-lo, um comensal eu acho.

–Mas e a outra parte? “Mas será com o sangue de um inimigo que as trevas novamente assolarão”, um inimigo nosso ou inimigo de você-sabe-quem? – Rony perguntou.

–Não sei, acho que nosso. – respondi - Só alguém que o apóia poderia trazer as trevas de volta.

Ficamos quietos. Já estávamos discutindo há quase uma hora e não chegávamos a nada. Apenas a suposta data do retorno dele. Mas afinal, quando era o solstício? Perguntei isso a Hermione.

–21 de dezembro. – ela respondera e percebi sua expressão perder-se por um segundo, como se ela não se sentisse bem repentinamente, mas depois, seu olhar voltou ao normal. – Temos pouco mais de três meses para controlar os ataques e evitar tudo isso então. – ela completou.

–Queria não ter que me preocupar com ele mais, quero dizer? Se for mesmo Voldemort, como ele sobreviveria? – perguntei fechando os olhos cansado.

Eu havia escolhido lutar o contra as Artes das Trevas, eu era um auror, mas de repente, eu queria não ter escolhido isso, apenas para não passar por tudo de novo.

–Quem saberia? – Rony falou e o silêncio sobrecaiu novamente sobre nós.

Eu sabia que assim como eu, nenhum deles queria aquilo, me senti mal, como se eu houvesse trazido isso à tona. Talvez fosse sempre assim, nós três lutando contra o mal. Se eu pudesse mantê-los vivos... era apena por isso que eu lutava, para não ser responsável por mais mortes e porque eles eram meus amigos. Ou melhor, meus melhores amigos.

–Quem diria... nós aqui nessa casa, planejando lutar. É como os velhos tempos. – Hermione falou por fim.

–Sim. Como os velhos tempos.

 ***

I'm not a perfect person
Eu não sou uma pessoa perfeita

There's many things I wish I didn't do
Há muitas coisas que eu gostaria de não ter feito

But I continue learning
Mas eu continuo aprendendo

I never meant to do those things to you
Eu não pretendia fazer aquelas coisas com você

And so, I have to say before I go
E então eu tenho que dizer antes de ir

That I just want you to know
Que eu apenas quero que você saiba


Draco olhou pela janela do quarto que Theodore mandara preparar para ele. Havia ido trabalhar naquele dia, mas não encontrara Hermione no Ministério, ela havia faltado do trabalho. Pensou que o único motivo era para não ter que encontrá-lo, mas de qualquer modo, ela tinha razão.

Pela janela havia uma lua cheia, linda e perfeita, e novamente ele desejou estar com ela e explicar tudo. Tinha culpa, mas apenas dera valor a ela, quando perdeu a única coisa que amava.

“Eu ainda a terei de volta” Draco pensou “É uma promessa”.


I've found out a reason for me
Eu encontrei uma razão para mim

To change who I used to be
Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new
Uma razão para começar de novo

And the reason is you
E a razão é você


Hermione descansou a cabeça no travesseiro. Apoiava um livro nas pernas, segurando-o na página que parava. A leitura a tranquilizava, mas em algum momento sabia que não poderia fugir da realidade. Fechou o livro e levantou-se. Indo até a janela do seu quarto. Fitou as estrelas solitárias e sentiu-se como elas. Ainda tinha medo que Draco a procurasse, mas desejava que ele fizesse isso, de qualquer modo, mesmo que forçasse a porta e a beijasse do modo como a beijou durante a briga que tiveram. Olhou para a lua no céu negro e sorriu. Ela era tão bela...

Passou então a mão sobre o ventre. Ainda que não aparentasse estar grávida, de algum modo queria sentir a criança. Vê-la crescer dentro do seu corpo. E pela primeira vez ela aproveitou a ideia. “Serei mãe” pensou e internamente temeu qual seria a reação de Draco.

I'm sorry that I hurt you
Eu sinto muito ter te magoado

It's something I must live with everyday
É algo com que devo conviver todos os dias

And all the pain I put you through
E toda a dor que eu te fiz passar

I wish that I could take it all away
Eu gostaria de poder retirá-la completamente

And be the one who catches all your tears
E ser aquele que apanha todas as suas lágrimas

That's why I need you to hear
É por isso que eu preciso que você escute


Emily deitou-se na cama. Estava com sono e sentia-se nervosa. Teria um encontro com Pietro no dia seguinte. Não sabia o que fazer, ou se falaria a verdade a ele logo de cara. Muitos a abandonaram por temer o que ela sempre falava. Não queriam assumir um relacionamento com ela. Mas ele era diferente. A atraía. E Emily tinha medo de se entregar logo de cara, porque tinha quase certeza de que ele seria como os outros. Apenas mais um que pensava estar saindo com uma francesa linda, sendo que ela era muito mais do que isso.


I've found out a reason for me
Eu encontrei uma razão para mim

To change who I used to be
Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new
Uma razão para começar de novo

And the reason is you
E a razão é você


Pietro fora até sua bancada de bebidas e pegou um wiskey de fogo. Ao lado dele, numa mesa, havia uma caixa e dentro dela, várias cartas. Ele fora até ela e colocara mais uma ali. Todas estavam endereçadas a ele. Todas vinham de Rennes, na França. Sua casa.

Não conseguira abrir nenhuma delas. As poucas que abria, havia sempre insistências para que voltasse. E ele não queria isso. Doía lê-las, então preferia manter-se afastado. Deixar que as cartas envelhecessem e as palavras se tornassem opacas. Queria uma vida nova, queria deixar tudo para trás.

E finalmente estava superando Hermione e Emily enfim aceitara um convite seu para jantarem juntos.

“Nova vida” pensara ao entornar a bebida.


I'm not a perfect person
Eu não sou uma pessoa perfeita

I never meant to do those things to you
Eu nunca quis fazer aquelas coisas para você

And so I have to say before I go
E então eu tenho que dizer antes de ir

That I just want you to know
Que eu apenas quero que você saiba


Gina jogava dentro de uma mala várias peças de roupas, quando finalmente decidiu sobre quais peças levaria consigo tentou fechar a mala e não conseguiu. Tentou então arrumá-la melhor. Teria mais um jogo naquela semana e tinha grandes chances de vencer o Campeonato Mundial de Quadribol. Estava mais do que feliz. Olhou então para o anel de noivado em sua mão. Tão perfeito e lindo. E se deu conta de que amava Harry mais do que pensara. Queria estar com ele naquele momento ou pelo menos antes de viajar, mas sabia que seria melhor não. Precisava descansar.

Suspirou e deitou-se na cama. Seu pôster das Harpias de Holyhead ocupava boa parte da parede, mas fora para o retrato na cômoda que olhara. Ela e Harry abraçados.

Nada poderia estragar aquela felicidade que sentia.


I've found out a reason for me
Eu encontrei uma razão para mim

To change who I used to be
Para mudar quem eu costumava ser

A reason to start over new
Uma razão para começar de novo

And the reason is you
E a razão é você


Harry tentava dormir mais do que tudo. Já era tarde e precisaria acordar cedo para trabalhar. Mas estava inquieto demais até mesmo para fechar os olhos. De algum modo sabia que tudo estava diferente. Havia algo estranho em Hermione naquele dia, mas não perguntara o motivo.

Pelo menos ela desvendara algo na profecia e, a cada segundo, tudo parecia mais real e perigoso. Pedira a mão de Gina, estava quase recebendo uma promoção no Ministério. E agora um inimigo surgia, como a felicidade para ele fosse proibida. Como se tudo o que acreditava e queria estivesse prestes a ser destruído. “Nada irá acontecer” pensou, “Não irei permitir”.


I've found out a reason to show
Eu encontrei uma razão para mostrar

A side of me you didn't know
Um lado meu que você não conhecia

A reason for all that I do
Uma razão para tudo que faço

And the reason is you
E a razão é você


Ao dirigir-se para a cama, ele bateu o dedo no pé da cama e urrou de raiva “Droga” disse mentalmente e sentou-se na cama. Tinha sido um longo dia e Rony já bocejava de sono. Deitou-se e percebeu que gostou de ter se encontrado com Harry e Hermione. E também gostou de Luna ter visitado ele mais cedo. Fora um ótimo dia, tirando o fato de alguém ameaçar sua paz. Adormeceu quase que instantaneamente. Só não sabia que tudo mudaria, nem suspeitava do que aconteceria futuramente.

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