17 novembro, 2010

Cap. 3 - Weakness


As horas estavam passando mais devagar do que deveriam, o fantasma do Binns continuava a falar e falar, como se alguém estivesse prestando atenção naquela aula chata de História da Magia, nem ao menos eu estava ouvindo. O que era, senão ruim, preocupante. Era claro que eu não estava bem. Quem estaria?
Rony estava quase começando a babar enquanto cochilava com a cabeça apoiada no braço e Harry estava com um olhar mais perdido que cego, era aquele olhar que só idiotas apaixonados conseguem fazer. Decididamente, eu não estava gostando nem um pouco daquilo. E, para piorar, o Malfoy olhava para mim, era um olhar desafiador, como se soubesse de um detalhe que eu não sabia ou ignorava. Aquilo estava me irritando.
Eu não devia ter brincado com ele ontem, muito menos devia ter me escondido naquele armário com ele, só de me lembrar, me dava arrepios, era difícil imaginar o que poderia ter acontecido, ou melhor, não era difícil, mas sim, apavorante.
Era óbvio que era somente isso que ele queria. Brincar. Me machucar. Me usar. Ponto final. Eu não cairia nos joguinhos dele.
Depois do que pareceu um século e de pensamentos assassinos nada agradáveis envolvendo aquele professor-fantasma-chato a aula acabou. Como sempre, eu saí da sala sem esperar Harry e Rony, eles iriam para outra aula, enquanto eu iria para a de Aritmancia.
No entanto, eu não poderia prever que Gina estaria lá na porta esperando Harry, me apressei o máximo que pude, mal respondi o “oi” dela e já virei o corredor, mas ele estava lá, tampando a minha passagem.
–Me deixe ir, Malfoy. – eu disse entre dentes.
Ele apenas se aproximou de mim e sussurrou com sua voz arrastada:
–Olhe para trás, Granger. – eu não queria olhar, sabia o que havia atrás de mim, mas ele me obrigou.
Rony já havia ido e, por isso, Harry beijava Gina, a puxava de encontro a ele pela cintura, sorria...
Eu quis ir embora de lá, mas Draco continuou a me segurar, não permitindo que eu fosse. Eu quis socá-lo, amaldiçoá-lo.
–Por que você faz isso? – eu perguntei com minha vista começando a balançar.
–Eu? Eu não estou fazendo nada. – ele tivera a cara de pau de dizer – É você, Granger, você que gosta de sofrer.
Eu não ia ficar ali ouvindo aquilo e tendo aquela visão. Não mesmo. Empurrei ele, e segui meu caminho, não ligando para onde estava indo. Eu queria só sair daquele lugar. Precisava de ar, entretanto, para minha mais completa falta de sorte, Draco me seguira. Por Merlin! Eu, com certeza, não havia jogado uma pedra na cruz, mas sim um tijolo inteiro!   
–Não tem nada melhor pra fazer não, Malfoy? – gritei com raiva.
–Não, isso está divertido. – o cretino dissera ironicamente.
Como eu queria fazê-lo engolir todos os dentes e a própria língua! Virei-me para ele, ficando mais perto do que eu deveria. Podia sentir até o ritmo acentuado de sua respiração. Droga! Não era hora de reparar nele assim!
–Pela última vez, Malfoy, me deixe em paz.
Em seguida, continuei meu caminho, ele não fora atrás de mim dessa vez, mas antes que eu pudesse sair de lá, ouvi sua voz, clara e arrastada.
–Dói muito, Granger? – perguntara – Dói não ser correspondida por aquele que sempre esteve perto de você? Aquele que foi sempre seu porto seguro?
Aquilo me machucou, mas eu nada disse, apenas segui em frente, odiando a mim mesma mais do que a Draco.

:::  :::

Como ela conseguia ser tão irritante? Hipócrita. Superficial. E ainda não sei porquê me importo. Definitivamente, eu a odeio. Draco, Draco... Por que você é tão burro?
Eu andava despreocupado até a cozinha de Hogwarts, segui por um corredor de pedra e iluminado por archotes. Havia vários quadros nas paredes, mas dirigi-me a um em especial. Havia uma pêra nele e fiz cócegas nesta, fazendo-a transformar-se em uma maçaneta. Entrei e tive a visão de vários elfos trabalhando. Alguns foram até mim, buscando atender-me e pedi uma garrafa de hidromel a eles.
Abri a garrafa e tomei um gole, sentindo a bebida arder em minha garganta. Eu pouco me importava se ficaria bêbado ou não. Simplesmente precisava fugir da realidade.
Não conseguia entender como alguém poderia ser tão cabeça-dura, ou melhor, não podia entender o porquê de eu querer estar perto dela.
–Idiota... – murmurei para mim mesmo e entornei a garrafa mais uma vez.
Peguei minha varinha e concentrei-me, segundos depois meu violão fora transfigurado em minhas mãos. Eu sorri, mágica era fascinante.
Toquei alguns acordes testando-o e em seguida comecei a dedilhar e a cantar alguns versos.

I tear my heart open, I saw myself shut
Despedacei meu coração, fechando-me
My weakness is that I care too much
Minha fraqueza é me preocupar demais
And my scars remind me that the past is real
Minhas cicatrizes me lembram que o passado é real
I tear my heart open just to feel
Despedacei meu coração, só pra sentir

“Vou me arrepender disso depois...” pensei sarcasticamente. E tocava agora uma sequência de acordes.
Pensei em Hermione e no dia anterior, quando a ouvira cantar. Era óbvio que ela nem ao menos suspeitava... e pelo jeito, nunca saberia.
No entanto ficar trancado com ela fora um sufoco. Queria tocá-la, mas sabia que não devia. O cheiro dela simplesmente tomara conta daquele armário minúsculo.
“Ela ainda é uma sangue-ruim...” dissera para mim mesmo.
“Será que teria algum problema se eu...” comecei a contestar a mim mesmo, mas parei. Era óbvio que tudo que a envolvia era um problema.

Drunk and I'm feeling down
Bêbado e depressivo
And I just wanna be alone
E eu só quero é ficar sozinho
I'm pissed 'cause you came around
Estou nervoso porque você está por perto
Why don't you just go home?
Por que você simplesmente não vai pra casa?
'Cause you channel all your pain
Você canaliza sua dor
And I can't help to fix yourself
E eu não posso ajudá-la a se recuperar
You're making me insane
Você está me deixando louco
All I can say is...
Tudo que eu posso dizer é

Por que ela simplesmente não desaparece? Morre? Maldita garota! E ainda por cima está apaixonada por um cara idiota que se faz de herói. O santo-Potter! Outro que merece a morte. Mas tenho que confessar, eu sei o quanto cruel foi forçá-la a ver o testa-rachada beijando a pobretona, mas mesmo assim, quanto mais rápido ela cair na real, menos ela sofre, eu acho.
Onde será que ela deveria estar agora? Já está escuro, não a vi no salão comunal depois do que fiz com ela, muito menos a vi em alguma aula. Que seja, eu não me importo.

I tear my heart open, I saw myself shut
Despedacei meu coração, fechando-me
And my weakness is that I care too much
Minha fraqueza é me preocupar demais
And our scars remind us that the past is real
Nossas cicatrizes nos lembram, que o passado é real
I tear my heart open just to feel
Despedacei meu coração, só pra sentir

Quem quero enganar? Eu me importo sim. Eu a quero. E vou fazê-la esquecer o Potter. Ele não a merece. Que ironia, nem eu a mereço... Mas que seja. Eu quero estar perto dela. Quero tocá-la. Eu preciso disso, pode ser a única chance que terei.
Engraçado, eu não quero nenhuma garota daqui, a não ser ela. Será porque todas são fáceis demais? Será que é um desafio que eu estou procurando todo esse tempo?

I tried to help you once
Eu tentei ajudá-la uma vez
Against my own advice
Contra meu próprio conselho
I saw you going down
Vi você caindo
But you never realized
Mas você nunca percebeu
That you're drowning in the water
Que está se afogando
So I offered you my hand
Então ofereci "minha mão"
Compassion's in my nature
Compaixão é uma qualidade minha
Tonight is our last stand
Ficaremos juntos uma ultima noite

Eu parei de tocar repentinamente, cansei-me daquela canção. Queria vê-la naquele mesmo instante. E talvez sabia onde encontrá-la.
 –Sangue-ruim... – saboreei minhas palavras e o som delas. – Hermione. – dissera o nome dela e pareceu-me que era a primeira vez que o falava.
Levantei-me e tomei o resto do hidromel. A bebida não fizera efeito. Não estava bêbado, mas que importância isso tinha? Eu era um monitor, ninguém me pararia àquela hora.
Saí da cozinha, sabendo exatamente onde estava meu alvo.

:::  :::

Eu folheava mais uma vez meu livro de canções, já estava cansada de ler os outros ao meu redor, eles me entediavam. O meu não. Fazia-me sorrir ao menos. Naquele dia inteiro minha raiva pelo Malfoy aumentou drasticamente, mas agora, eu não sentia absolutamente nada. No fim, ele tinha razão, doía pensar em Harry. E eu era burra por ainda desejar algo com ele.
Voltei a escrever uma canção que eu parara no meio. Mas para meu completo azar, eu ouvira uma voz conhecida dizer atrás de mim.
E eu sei que ficarei bem, embora meus céus se tornem cinza.
–Não cansa disso? – perguntei cansada. Nem ao menos força para sentir raiva eu tinha. Eu estava fraca demais e, mesmo que eu não admitisse, eu estava com fome também.
–Para falar a verdade, não. – Draco dissera divertido e até aquele sorriso debochado me irritava. – Logo logo você pode se mudar para cá... – ele comentara. – Você vive nessa biblioteca.
Simplesmente dei de ombros, eu me sentia bem aqui e meus amigos quase não vinham me importunar. Juntei minhas coisas. Já não queria ficar ali, mas ele segurou meu pulso. Olhei para Draco, os olhos azulados tinham algo novo, algo próximo à alegria. Com certeza não parecia aquele sonseriso idiota de sempre. Até que eu me lembrara. Ele ainda era o mesmo, a prova fora o que fizera mais cedo comigo. Quis me afastar, mas a profundidade daquele olhar me desarmou. Eu não estava pedindo para ele se aproximar de mim a cada instante. Eu também não estava pedindo para ele parar.
Ele puxou meu pulso, ao qual já estava segurando, e com isso, eu fiquei mais perto ainda dele. Se alguém me perguntasse como aquilo começou, eu não saberia responder.
Mas só lembro-me de Draco me puxar pela cintura de encontro a ele. Eu encontrei seus lábios. Estavam frios. Mas eu não me importei. Estava mais preocupada em explorar sua boca e mordiscar seus lábios. Senti o gosto de alguma bebida, mas eu não me sabia qual era. Tive sensações que nunca na vida eu sentira. Era uma mistura de desejo, prazer. E eu sabia que me arrependeria disso depois. No entanto sentir ele me beijando de volta era a melhor coisa do mundo.
Perdia-me entre seus beijos. Eu arranhava sua nuca levemente com minhas unhas, mal percebia o tempo transcorrer-se. Eu nem ao menos me lembrava do motivo de estarmos ali naquele lugar.
Sem intenção de fazer algo que eu não deveria eu me afastei. Fora tão rápido como começara. Eu arfava e sentia minha face corar. Não deveria ter feito aquilo, o arrependimento viera antes do que eu pensara. Eu olhei para ele. Draco estava tão transtornado do que eu e também respirava com dificuldade. Havíamos esquecido de que precisávamos de ar.
Eu o beijara. Ou ele me beijara. Eu já não fazia ideia. Mas o pior de tudo, eu sabia, era ter de enfrentar Draco Malfoy. Não o olhei. Eu estava mais preocupada em me esconder, talvez até de mim mesma. Eu beijara meu pior inimigo.
–Granger... – ele começara a dizer e eu o cortara.
–Ninguém precisa saber o que ouve aqui, Malfoy. – eu sussurrei recobrando minha consciência – Muito menos precisamos ter alguma ligação. – eu dissera cortando-o. Minha face ainda estava vermelha.
Eu sentia vergonha. Mas ainda assim, eu o desejava. Eu ainda queria beijá-lo. E isso era pior do que tudo. Era exatamente por isso que eu não poderia voltar a encontrá-lo. Não sozinha. Não à noite. Não quando eu estivesse à mercê de sentimentos tão perturbadores.
Draco Malfoy era uma droga. E eu não poderia, sob hipótese alguma, me viciar nele.
Eu fora contra todos meus princípios. Minha cabeça começou a doer e meu estômago reclamava. Mas eu não poderia fazer nada quanto a isso.
Estava tão confusa que sai de lá, pegando minhas coisas e colocando-as na bolsa enquanto andava. Deixei-o para trás e podia jurar que vi um sorriso brotar nos lábios dele, mas talvez fora somente impressão. Eu não reparara nele, precisava da minha cama. E de um belo banho para eu voltar ao normal.

N/a: E as coisas começam a esquenter agora. O que acontecerá entre Draco e Hermione? Espero que tenham gostado. A música é Scars do Papa Roach

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