16 novembro, 2010

Cap. 2 - Games


Eram dez horas. Eu não estava cansada, muito menos com sono. A monitoração já estava me deixando entediada, não havia nenhum aluno idiota quebrando alguma regra da escola, no entanto, mesmo assim, eu estava andando em um corredor escuro e frio, cumprindo minha tarefa de monitora. Eu sei que isso soa totalmente dramático. Não me importo.
Sento-me no chão, cansei de andar. Abro meu livro de canções, talvez, o mais precioso que eu tenho. Passo meus dedos sobre as folhar amareladas, eu gostava tanto daquele livro...
Naquela mesma manhã eu descobrira algo horrível. Talvez nem tanto, mas eu senti algo dentro de mim contorcer-se quando eu soube. Harry e Gina estavam namorando. Fora ela quem me contara, o que era natural. Gina e eu somos amigos, mas eu não queria que fosse assim. Eu queria arrancar o Harry dela, lutar para consegui-lo, sem me importar com nenhuma amiga. Mas não era isso que estava acontecendo.
Abri o livro e, sem querer, parei em uma página que eu já havia preenchido com uma música. Eu, então, olhei para os lados. Não havia ninguém ali, e também não haveria mal nenhum se eu cantasse. Eu precisava fazer isso.

I Climb, I Slip, I Fall
Eu subo, eu tropeço, eu caio.
Reaching for your hands
Para alcançar suas mãos
But I lay here all alone
Mas eu deito aqui sozinha
Sweating all your blood
Suando todo o seu sangue.
If I could find out how
Se eu pudesse descobrir como
To make you listen now
Fazer com que você ouça agora
Because I'm starving for you here
Porque eu estou desesperada por ter você aqui
With my undying love and I
Com meu amor eterno e eu
I will
Eu vou

Eu amava cantar, mas essa era uma das coisas que ninguém sabia ao meu respeito. Nem mesmo Harry. E, agora que eu estava sozinha naquele lugar, e eu me lembrava de momentos únicos. O primeiro ano em Hogwarts, o quanto eu odiava Harry e Rony, tão desleixados e irresponsáveis eram. Pensei, então, na vez em que eu abraçara Harry, quando voltei ao normal depois de ser petrificada. Foi um dia tão feliz. Mas ver a felicidade de Harry e Sirius foi o melhor que eu pude acompanhar. Os dois iriam viver juntos. Se não fosse por Bellatrix Lestrange o matar. Sinceramente, esse é o motivo pelo qual eu mais a odeio. Ela acabou com a felicidade do meu melhor amigo.

Breathe for love tomorrow
Respirar por amor amanhã
Cause there's no hope for today
Porque não há nenhuma esperança para hoje
Breathe for love tomorrow
Respirar por amor amanhã
Cause maybe theres another way
Porque talvez haja outra maneira

Ouvi um barulho e parei de cantar na mesma hora. Havia alguém ali e eu tinha que descobrir quem era. Levantei-me agarrando meu livro e o coloquei no bolso de minhas vestes. Andei quase correndo, mas não encontrei ninguém, por fim, decidi ir até o jardim. Estava frio, principalmente porque já estava em novembro e a neve enfeitava os terrenos da escola, mas, ainda assim, eu amava aquele lugar.  A neve enganava meus olhos à noite, me fazia ver coisas no escuro, me pregava peças. E eu nada podia fazer contra isso a não ser fingir que tudo estava bem. Afinal. Era isso que eu sempre fazia. Fingir.
E, enquanto eu observava a paisagem tão deslumbrada, senti algo extremamente úmido e frio ser jogado em mim. Olhei para trás e lá estava ele. Era incrível como Draco Malfoy tinha o poder de me estressar. Não importava o quanto eu pedisse. Ele nunca iria parar, e isso porque, segundo ele, eu estaria livre de suas brincadeiras idiotas. Ledo engano. Eu me iludia tão facilmente!
–Malfoy, não comece. – eu pedi e só o que tive como resposta foi outra bola de neve.
Agora chega! Era hora de contra-atacar. Formei uma bola de neve com minhas mãos e joguei nele, acertando-o em cheio. Mal percebi que alguns instantes depois eu estava rindo. Pior, eu estado rindo com o Malfoy.  Quando percebi, eu já estava com muito mais frio do que antes e com a face completamente gelada. E ao tacar outra bola de neve nele e me desequilibrei e cai na neve. O mais incrível era minha capacidade de cair naqueles dias. Eu estava ficando, perigosamente, mais distraída. O Malfoy foi me ajudar, com certeza automaticamente, talvez esquecendo-se de quem eu era.
Já de pé e olhei para ele, os olhos maravilhosamente azuis contrastavam com aquele ambiente e eu me perdi, cada vez mais, naqueles olhos. Era como se ele tivesse levado toda a dor que eu sentia embora naqueles minutos. Fora divertido. Isso eu não podia negar.
–Isso é estranho... – ele dissera com sua voz arrastada.
–O que é estranho? – eu perguntei.
Ele me olhou avaliativo. Eu não queria admitir, mas realmente era estranho estar com ele.
–Você é apenas uma sangue-ruim, então por que eu me sinto tão bem estando com você? – Malfoy perguntou afastando-se de mim e ficando de costas.
Ouvi-lo dizendo sangue-ruim não me afetara. Não dessa vez. O que mais me preocupou foi ele dizer que sentia-se bem ao meu lado.
Eu me aproximei, querendo que ele voltasse a ser o cara legal que estava brincando comigo. Como se fosse um velho amigo ao qual eu acabara de reencontrar.
–Por que importa tanto se eu tenho ou não sangue-puro? – perguntei querendo entender aquilo. Nunca fizera sentido para mim.
Ele não me respondeu. E acho que nem iria. Apenas virou-se e me olhou, então sorriu e eu tive a impressão que ele estava, realmente, diferente.
–Vamos nos divertir, Granger! – exclamara jogando outra bola de neve em meu cabelo.
E a brincadeira recomeçou.
Mas, se eu soubesse o que isso desencadearia, talvez eu não tivesse prosseguido.

Não era nada bom dois monitores estarem brincando na neve como duas crianças e ainda por cima à noite, e por isso, assim que ouvimos barulhos de passos, nos entreolhamos, cessando a guerra que estávamos travando. Draco me puxou pela mão e corremos.
Passamos apressados por duas gárgulas no saguão de entrada e seguimos para um corredor, eu tropeçava, não conseguindo acompanhá-lo direito e deixei um castiçal cair no chão ao esbarrar nele. Continuamos correndo e vimos uma porta, sem pensar Draco me empurrou para dentro dela e eu, com medo do Filch nos pegar, entrei. Mas a última coisa que eu esperava era perceber que aquilo era um armário de vassouras. Quase desisti e saí, mas Draco não me deixou, prendendo-me lá.
–Ficou doida, Granger? – ele sussurrara e eu podia sentir perfeitamente o hálito quente de sua boca. – Se alguém nos pegar, já era, entendeu? É detenção na certa.
Eu, então, continuei ali, tentando não aspirar o cheiro dele. Mas era difícil. Eu nunca pensei que estaria em uma situação dessas. Eu estava trancada em um armário com Draco quase tocando-me, ou melhor, a mão dele me tocava às vezes, não havia espaço para nós dois. Por sorte não havia nenhum barulho de passos do lado de fora.
Eu quis me mexer, minha perna estava formigando já, mas não era possível fazer nada naquele cubículo. Acabei empurrando-o.
–Para, Granger! – ele disse me empurrando também.
Ficamos nessa, eu o empurrava e ele, devolvia, até que, para minha mais adorável sorte eu fui junto com ele quando o empurrei, e assim eu apoiei minha mão no corpo dele, no peito mais precisamente, e descobri que ele não era tão fraco quanto parecia ser. Num segundo eu o olhava nos olhos e, depois, me sentia completamente embriagada com o cheiro dele. Com certeza eu não estava bem. Eu precisava definitivamente de ar.
Afastei-me dele, tentando o máximo possível não tocá-lo, mas como Merlin realmente me adorava, isso era difícil. E eu ainda sentia os olhos fixos dele em mim. Olhando-me de forma avaliativa e estranha. Não. Se eu o olhasse, com certeza iria me trair. Ele saberia que eu não estava nada bem com aquela aproximação.
–Será que ainda tem alguém lá fora? – eu perguntei e agradeci pela minha voz estar normal.
Draco abriu um pouco a porta e olhou o lado de fora, pela tranqüilidade dele eu poderia jurar que, realmente, não havia mais ninguém nos procurando ali. Fosse quem fosse, já estava longe. Mas o pior, eu sabia, era ter de enfrentar Draco Malfoy. Eu dei um passo e sai do nosso esconderijo. Ele saíra depois de mim. Não o olhei. Estava mais preocupada em me esconder, talvez até de mim mesma. Eu estava me sentindo atraída pelo meu pior inimigo. Aquele que por anos me importunara. Aquele que Harry odiava tanto quanto Voldemort. Eu sou uma péssima pessoa. Uma péssima amiga. Uma péssima garota.
Não. Eu não sou tudo isso. Se fosse, nem ao menos conseguiria me olhar no espelho.
–Granger... – ele começara a dizer e eu o cortara.
–Acho melhor voltarmos. – eu dissera. Minha face só demonstrava indiferença, já que eu não desejava, sob hipótese alguma, que ele lesse meus pensamentos.
Eu sentia vergonha. Não deveria estar ali com ele, muito menos deveria ter entrado naquele armário. Fora divertido brincar com ele, jogar seu joguinho infantil, uma guerra de bolas de neve, como crianças. Mas a graça já fora. Era hora da realidade voltar. Porque eu sabia, não importava quantos momentos assim eu tivesse com Malfoy, no dia seguinte, tudo voltaria ao que era antes.
Eu não sentia absolutamente nada por ele. E eu não poderia, de nenhum modo, sentir.
Afastei-me, andando até meu dormitório, onde estaria bem.
O pior de saber que Draco Malfoy seria o mesmo sonserino amanhã era saber que eu ainda amava Harry Potter. E ele não sabia disso.

N/a: A música é Breathe do Paramore. É lenta, mas achei perfeita pra Hermione nesse capítulo. Espero que tenham gostado :*

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