10 dezembro, 2010

Cap. 1 – Coração de gelo


O passado está sempre conosco,
apenas esperando para bagunçar o presente.
--Gossip Girl--

Estava frio. E escuro. Mas não era por causa do inverno. A culpa era do lugar. O único lugar no mundo capaz de despertar temores, arrepios, dores. Um lugar que enlouquecia. E de fato, poucos eram os que conseguiam sair de lá sem nenhum resquício de loucura.
Um sorriso brotou dos lábios dela. Um sorriso puro e perverso, que revelava parte de sua beleza, qualidade esta que se tornara pouco vista na mesma. Já fora bela, muito bela, mas a vida a destruíra. Anos passaram-se e ela já não era a mesma jovem de antes. Colocou suas mãos pálidas e frias na grade suja. Sabia que logo estaria longe de lá. Era isso que dava mais força a ela. Não. Não era isso. Saber que logo se uniria ao seu lorde que a fortalecia. Apenas isso.
Por anos estivera ali e quando finalmente estava aproveitando sua liberdade, fora presa novamente. Tudo culpa de uma sangue-ruim. E de Draco. Vingar-se-ia. Nem que isso a trouxesse de volta à Azkaban.
A névoa encobria os dementadores, mas ela podia senti-los movimentar-se lentamente. Eles não tomariam sua felicidade. Não deixaria.
Sorriu de forma prazerosa. Apenas uma questão de tempo e estaria longe dali.

:::  :::

O salto dela, ao bater no chão, produzia um barulho característico. Andava calmamente pela Plataforma 9 ¾ sem importar-se muito com as crianças do primeiro e segundo ano que faziam quase um escândalo ao reencontrar os amigos. Usava uma saia até a metade da coxa, uma meia preta, uma camisa branca simples e um casaco negro, mas ainda assim, atraia olhares para ela. Seus cabelos haviam crescido um pouco nas férias e seus cachos castanhos estavam perfeitos. O tempo que transcorreu teve um ótimo efeito sobre ela, até mesmo sua postura era diferente, como se sua personalidade, aparentemente, tivesse sido modificada.
Hermione não via seus amigos na plataforma.
–Onde estão todos? – Anthony perguntara aproximando-se dela.
–Não sei. – a castanha falara e consultou seu relógio – Ainda é cedo, eles costumam se atrasar. Acho melhor procurarmos uma cabine.
Juntos eles se dirigiram para o Expresso de Hogwarts, entraram e alguns alunos assustaram-se com a aparência dela. Aquela não parecia Hermione Granger, definitivamente. Era uma nova garota. Anthony seguia atrás dela, seus cabelos estavam negros como nunca e seu olhar escuro e intimidador, mas ainda preservava sua ironia e divertimento.
Eles seguiram procurando uma cabine calmamente, no entanto, como num passe de mágica a atmosfera tornou-se mais densa ao redor de Hermione. A magia dentro dela agitava-se. Hermione olhava calma para um ponto a sua frente, o olhar cinzento inconfundível, os cabelos loiros caídos e o sorriso debochado. Tudo ainda estava lá. Hermione permanecia indiferente, não conseguia sentir nada naquele momento. O olhar castanho estava frio e perdido em meio às brumas. Ela estava quase alienada e continuaria assim se isso a ajudasse a manter a barreira que construíra entre o mundo e seus sentimentos.
Olhou para o lado e percebeu que a cabine estava livre, entrou nela, seguida por Anthony, que lançou à Draco um olhar tão gelado tanto o da grifinória.
O corvinal sabia o quanto fora difícil para a garota as últimas semanas e era culpa de Draco. Entretanto, não conseguia aceitar a postura dela, e arrependia-se por ter contribuído de certa forma.
–É minha última viagem a Hogwarts. – Anthony lembrou-se olhando pela janela a paisagem coberta de neve.
–Como se sente? – o tom dela voltara ao normal tão rápido mudara.
–Velho. – Anthony falara e ela rira.
Hermione só não sabia o perigo que corria enquanto aprisionava seus sentimentos dentro de si própria. Encostou a cabeça no vidro e permitiu-se ser preenchida de lembranças, simples e resolutas. Traziam a ela uma sensação que não conseguia definir. As férias em Roquefort fora muito bom a ela, mas ainda assim, descobrira coisas que preferia não saber.     

Flashback
:::Uma semana após o baile:::

Acordou sobressaltada. Sonhara com algo ruim, mas não se lembrava do que se tratava. Suspirou irritada. Não sabia o que era pior: Não lembrar-se ou querer lembrar-se de seus pesadelos. Levantou-se e fitou os fracos raios de sol invadir o quarto. Era uma bela cena. E pensar que fazia só uma semana que deixara Hogwarts...
Alguém bateu na porta e entrou sem ao menos ser convidado. Ela sabia quem era sem ao menos olhar.
Bonjour mademoiselle... – a voz de Tony chegou aos seus ouvidos.
–Por que não para de invadir meu quarto? – Hermione perguntou sentando-se na cama e espreguiçando-se.
Olhou Anthony, ele ficara muito mais divertido do que era antes. Podia jurar que já o considerava um ótimo amigo, mas naqueles dias ele tinha um ar estranho e olheiras profundas.
–Porque é divertido. – ele respondera.
–Espera até a Lucy saber disso... – Hermione comentara e Tony fechou a cara na hora.
–Não estou comprometido, Granger. – Tony respondeu, mas pensou seriamente em acrescentar um “ainda” à frase.
A verdade era que não conseguira resolver as coisas com a loira e esta parecia estar desaparecida, uma vez que não respondia suas cartas. Já enviara quase meia dúzia delas, apenas nessa semana que transcorrera e até agora nada. Se a loira queria brincar, que os jogos retornassem.
–Então, meu café da manhã vem ou não?
–Você está ficando metida. Não é porque é minha convidada que pode exigir as coisas assim – o garoto dissera ironicamente, pegando o telefone na cômoda ao lado da cama e discando alguns números.
Hermione deixou-o sozinho e seguiu para o banheiro. Aquilo era irônico. Estava hospedada no hotel do avô de Anthony. Não poderia prever isso há uma semana. Quando Anthony dissera que iria com ela à Roquefort, não sabia que a família dele era importante na cidade, que, aliás, era muito pequena, tendo em médio dois mil habitantes apenas, muito menos sabia que iria aproximar-se tanto dele. O destino reservava surpresas.
Tirou suas roupas deixando-as caídas no chão e ligou o chuveiro, deixando a água deslizar pelo seu corpo. Era tão boa a sensação. Realmente, estar na França fazia bem para ela. Esquecia-se do mundo. Nem ao menos abrira ainda os presentes de Natal que recebera de Harry e Rony, deixara-os de lado. Tudo relacionado à sua vida normal deveria ser esquecido, por hora.
Pegou a toalha e secou-se, colocando em seguida a roupa que separara. Depois de cuidar de sua higiene, saiu do banheiro, encontrando Anthony numa poltrona e seu café da manhã em uma mesinha perto dele.
Dégustez votre café. – Aproveite seu café, ele dissera com seu sotaque francês e Hermione pegou algumas torradas e um suco.
–E então, vai me dizer onde é o castelo do meu sonho ou vou ter que descobrir sozinha? – ela perguntou séria.
–Eu preferiria não ter que dizer, mas você descobriria mesmo assim... – dissera olhando ela com censura – Então, eu vou te levar até lá.
–Está falando sério?
–Não, não estou, o castelo fica depois de um monte de rochas, um lugar em que quase não há ladrões e animais selvagens, além de ser muito fácil chegar lá, principalmente porque aparatar lá não é permitido. Acorda, Granger! Você se perderia muito fácil, além de ter que voltar pra cá sem nada, isto é, se voltasse.
–Ok, ok, não exagera Sr. Ironia. – Hermione falara irritada voltando sua atenção para a comida.
Anthony a olhara, em todos aqueles dias, ela não dera o mínimo vestígio de que tinha sido ferida no baile, estava sempre alegre, não demonstrando seus reais sentimentos. Seria esta a solução que encontrara? Ignorar os fatos? Seja o que fosse aquela máscara, não daria certo para sempre.
–Qual a história desse castelo misterioso? – Hermione perguntou.
–É só um castelo antigo. Sabe como é, os castelos antigos eram frios, tinham os cavaleiros... acredito que seja como qualquer outra história medieval. Mas alguns dizem que é um lugar amaldiçoado. Para falar a verdade, eu não acredito nisso.
–Bom... Nunca se sabe – a garota falou, por fim.
Por um instante seus olhos se detiveram num jornal e ela reconheceu como sendo o Profeta Diário. Na primeira página havia uma notícia que a arrepiou.
Nova fuga em massa.
Assim que Hermione pegou o jornal e o leu, percebeu que mais um pesadelo começara. Bellatrix Lestrange estava solta, novamente.

Fim do flashback

A garota andava pelo corredor lentamente, acabou por achar a pessoa que queria e abriu a cabine, entrou e sentou-se, largando sua bolsa de mão num compartimento na parte de cima da cabine. Quando se sentou percebeu o olhar surpreso de Draco e o fitou com indiferença.
–O que foi? – perguntou calmamente.
–O que aconteceu com você? – Draco perguntou olhando-a de cima a baixo.
Lucy olhou seu reflexo pelo vidro, embora fosse fraco dava para ver sua aparência. Lucy usava agora uma maquiagem pesada, negra, contrastando mais ainda seus olhos castanhos caramelados. Usava também uma roupa mais justa, que destruíra completamente seu visual de menininha. Seus cabelos loiros estavam bem maiores do que antes, grandes demais para terem crescido em um espaço de tempo tão curto, com certeza ela usara magia para torná-los maiores.
–Não há nada de errado comigo. – ela sussurrou.
–Seus problemas refletem na sua aparência agora? – Draco contestou olhando-a entediado.
–Apenas cansei de ser quem eu era.
–Ótimo, e parece que não foi só você. – Draco resmungou.
–O que quer dizer?
Granger. – dissera fitando a janela – ela está diferente. E a culpa é toda minha.
–Talvez finalmente ela tenha se tornado a bruxa que nasceu para ser, você só... ajudou um pouco. – a garota sussurrou.
Draco olhou-a entediado e depois percebeu que ela estava tensa, ainda que sua aparência quisesse mostrar o oposto disso.
–E você, Lucy? Já sabe o que fará? – Draco perguntara mudando de assunto.
–Não faço a mínima ideia.
Pela primeira vez desde que ela entrara, Draco conseguiu deixá-la desprotegida, tocando no seu mais novo ponto fraco. Lucy não fazia ideia de como sair dos problemas que arranjara.
Flashback
:::Uma semana depois do baile:::

A loira fitava a janela, o campo estava totalmente enfeitado com a neve. Era lindo.
Ficava imaginando como garotos podiam ser tão complicados. Draco especificamente. Uma hora, queria, mais do que tudo estar com Hermione, e na outra, a traía, mesmo que não quisesse realmente. Uma cena não saía de sua mente. Draco com a cabeça em seu colo, segurando com força, sem perceber, o colar que dera a Hermione.
Fazia uma semana que saíra de Hogwarts. Aquela era a manhã de Natal e, assim, alguns presentes estavam amontoados em um canto do seu quarto. Pelo menos alguém se lembrava dela.
A porta fora aberta repentinamente e uma garotinha entrara apressada e subira na cama.
–Oi Lucy! Sabia que hoje é Natal? – ela dissera com sua voz doce e pulando na cama.
–É verdade, Lauren? – perguntara infantilmente para a prima – E o que você ganhou?
–Isso. – a menininha falara mostrando a boneca que carregava junto com ela.
Lucy sorrira. Lauren tinha seis anos e seus cachinhos loiros eram o que contrastava mais sua inocência infantil. Mal tivera tempo de respondê-la quando uma mulher entrou no quarto.
–Lauren, pare de pular na cama – a mulher dissera severamente – Ah, bom dia, Lucy... Será que você pode tomar conta da Lauren e do Theodore hoje?
–Claro, tia Meredith... – a garota respondeu mecanicamente.
–Ótimo, eu e o Paul vamos visitar uns amigos e eu não quero levar as crianças com esse frio. – Meredith comentara, mas a sonserina não prestara atenção.
Voltara seus olhos para a janela e visualizou a paisagem fria. Aquilo lhe trazia lembranças. Tristes lembranças.
Voltou, então, seus olhos para o quarto. Meredith tentava tirar a filha da cama, mas a menininha não parava de brincar, de sorrir. Daria tudo para ter aquilo. Mas sabia que nunca mais teria essa chance.

Lucy saiu do quarto e quase trombou com Theodore na escada. O garoto a olhou desanimado e seguiu para o próprio quarto. Lucy ainda não conseguia entender o primo. Ele agia tão despreocupado, sempre. Mas não tinha tempo para isso agora. Entrou na cozinha e comeu uma torrada e café. Estava com saudade de Hogwarts, lá pelo menos era mais agitado. E tinha Anthony...
“Garoto idiota...” pensara irritada. Por que ele tinha que beijá-la? Por que tentar brincar com ela? No entanto, algo dentro dela dizia que ele não estava brincando.
–Tanto faz... – murmurou consigo e mal percebeu Theodore entrar – Merlin! Um dia você vai me matar de susto.
O garoto apenas a olhou sem emoção, seus olhos verdes continham certa tristeza que nenhuma criança merecia. Ele pegou um pedaço de bolo na mesa e subiu novamente para seu quarto.
“Garoto estranho” pensou indo para seu próprio quarto, onde Lauren já devia ter quebrado sua cama.

:::  :::

–Vamos brincar de outra coisa, Lucy? – Lauren pedira pela décima vez segurando sua bonequinha.
–Lauren, já estamos brincando há horas, estou cansada. E já era para você estar dormindo. Você não tem um botãozinho de desligar?
–Tenho seis anos, quero brincar. – a menina protestou.
–Ok, que tal uma música? – Lucy perguntou olhando para o piano na sala.
–Sabe tocar? – Lauren perguntou animada.
–Sei o básico. – Lucy responder lembrando-se de quando sua mãe a ensinou.
Sentou de frente para o piano e tocou as teclas do velho piano, fazendo uma melodia tomar conta da sala e embalar a menininha. Lucy concentrou-se, tentando lembrar a canção e na medida em que o som escapava por entre seus dedos lembrava-se da letra. 

I don’t know what I've done
Eu não sei o que eu fiz
Or if I like what I've begun
Ou se eu gosto do que eu comecei
But someone told me to run
Mas algo me disse para fugir
And honey you know me it's all or none
E querido você sabe que eu sou tudo ou nada
There were sounds in my head
Havia sons em minha mente
Little voices whispering
Pequenas vozes sussurrando
That I should go and this should end
Que eu deveria ir e que isso deveria terminar
Oh and I found myself listening
Oh e eu me peguei escutando

Lauren estava quieta agora, apenas ouvindo a voz da prima. Era estranho ver a criança tão calma, sem fazer bagunça alguma ou pedir para que brincassem com suas bonecas. A loirinha estava completamente entretida na canção, assim como Lucy que se lembrava de si própria naquela letra. Ela ouvia vozes, pensamentos... e não havia feito muitas coisas boas ultimamente. Suas mãos deslizaram rápidas pelas teclas, aumentando o ritmo da melodia.

`Cause I don’t know who I am, who I am without you
Por que eu não sei quem eu sou, quem eu sou sem você
All I know is that I should
Tudo o que eu sei é que eu deveria...
And I don’t know if I could stand another hand upon you
E eu não sei se poderia permanecer na contra mão por você
All I know is that I should
Tudo o que eu sei é que eu deveria...
`Cause she will love you more then I could
Porque ela te amará mais do que eu poderia
She who dares to stand where I stood
Ela que ousou estar onde eu estive

Lucy pensou em parar de tocar, eram palavras falsas aquelas. Ela sabia muito bem quem era e nunca sucumbiu a nenhum desejo por estar apaixonada. “Talvez um” pensou lembrando-se do baile e do beijo entre ela e Anthony. O corvinal simplesmente a pegara de surpresa. Mas afinal, ela havia feito a mesma coisa depois da festa na sala precisa, ainda que embriagada.

See I thought love was black and white
Veja, eu pensei que o amor era preto e branco
That it was wrong or it was right
Que era certo ou errado
But you aren't leaving without a fight
Mas você não está partindo sem uma luta
And I think I am just as torn inside
E eu penso, eu estou despedaçada por dentro

Continuou a tocar e cantar, mas assim que ia continuar, ouviu um grito vindo do andar superior e parou de uma vez, perdendo todo o encanto da canção. Era Theodore que gritava. Lucy fora até o pé da escada, pronta para subi-la, quando viu o menino nos últimos degraus, preso por um homem. Rodolpho Lestrange. Quase pode prever a porta de entrada ser arrombada e dois homens entrarem por esta. Lauren agarrou-a por trás em um visível medo daqueles estranhos.
Lucy estava com sua varinha a postos assim que ouvira o grito do primo e assim, atacou quase que simultaneamente os homens. Conseguiu fazer com que Rodolpho se desequilibrasse e Theodore desceu correndo a escada, indo até ela.
O comensal às suas costas lançou-lhe um feitiço, prontamente repelido por ela, mas o que estava a sua frente também a atacou, fazendo um corte em seu braço que sangrou.
Não podia fazer muito contra eles, eram três contra uma, e não podia arriscar a vida das crianças. No fim tentaram dominá-la com o Imperius. A maldição entrou em sua cabeça, deixando-a vazia, apenas com uma mensagem. Pare de nos atacar. Era certo que eles a temiam de certa forma, em razão do último ataque que fizeram a ela, na floresta proibida, e assim, iriam querer contê-la. Mas Lucy não sucumbia facilmente a maldições. Estava treinada para não receber ordens, ainda que esta fosse dada pela Maldição Imperius. Conseguiu livrar-se dela, e assim, tentou um último feitiço, facilmente repelido pelos homens.
Percebeu que agarraram Theodore e Lauren e finalmente parou seus ataques, apenas as crianças eram importantes.
–Finalmente estamos frente a frente de novo, Lucy Moore. – Lestrange dissera divertido.
–Realmente, mas sempre precisa de capangas quando me encontra, só porque não consegue enfrentar uma garotinha em um duelo? – a garota falara provocante e recebeu um tapa do homem.
“Maldito!” pensara Lucy contento a dor e ainda fitando-o com superioridade.
Um ar que o comensal já vira em outra pessoa, mas nada falara.
–Por que está aqui? O que quer de mim? – Lucy fora direta adivinhando as pretensões do homem.
–Como sabe que quero algo de você? – o homem perguntou ainda apontando a varinha para ela.
–Não viriam à toa aqui se não tivessem um objetivo e ou é isso, ou querem me matar. Mas prefiro ser otimista e escolher a primeira opção.
–Com uma esperteza igual a essa você poderia ser uma ótima seguidora do Lorde das Trevas.
–Pensei que não precisasse de inteligência para isso, já que seus atuais seguidores não apresentam tanta...
Outro tapa atingiu a face dela e um filete de sangue escorreu de seu nariz. Lucy, com certeza, queria os provocar, era divertido fazê-los perder a paciência, e descobriu que ainda que seu corpo doesse, queria mais do que tudo, irritá-los.
–Vai me fazer de saco de pancadas o dia todo ou vai me dizer o que quer?
O silêncio que se seguiu foi incômodo, quase irritante. Lucy conjurou um lenço e limpou seu sangue calmamente. Se eles queriam algo, provavelmente tinha a ver com a pedra, isto é, se já soubessem que ela tinha conhecimento sobre tal artefato. Mal concluíra isto e Rodolpho disse o que desejava, no entanto, o que pedira era algo que Lucy não podia aceitar, entretanto sabia que não tinha o privilégio de negar. Olhou para as crianças assustadas, que talvez nada entendiam sobre o que o homem falava. Eles a olhavam com medo e, assim Lucy aceitou o que o homem propunha. Mal sabia ela que se arrependeria amargamente de sua escolha.
–Quero que apague a memória das crianças – Lucy pediu – Não quero que elas lembrem-se do que aconteceu aqui.
–Posso fazer isso – Lestrange falou fitando as crianças.
Enquanto Lucy virava-se para a menininha loira, o comensal olhou para o chão e viu um lenço manchado de sangue. Lembrou-se de que a garota limpara seu sangramento com ele. Por um instante ignorou aquilo, mas recordou-se de algo importante e, assim, pegou o lenço sem que ela visse, e colocou-o no bolso. Aquilo teria uma boa utilidade, futuramente.       

Fim do flashback

Draco fitou Lucy, sabia que ela estava presa em pensamentos, mas nada podia fazer para ajudá-la. Precisava pensar, e muito. Não sabia como tirá-la daquela situação em que ela se metera. Quando recebeu a carta dela, já sabia que algo lhe acontecera. Não exatamente o que, mas já sabia.
Incrível como algumas semanas mudaram totalmente a sua vida. Vira que cometera um grande erro ao largar Hermione, e pelos poucos segundos que a vira, não conseguira encontrar nenhum resquício da velha Hermione. Parecia que as férias a transformaram em uma nova pessoa. Ela estava fria, provocante e podia jurar que o frio repentino naquele corredor fora provocado por ela. Por alguma razão, Hermione estava mais... poderosa.

Já era noite quando o expresso chegou a Hogwarts. Draco cochilava e acordou com Lucy cutucando-o para que acordasse. Pegou sua mala de mão com alguns pertences e saiu da cabine, percebendo que a maioria dos alunos já estava nos corredores do trem. Teria que enfrentar, mais uma vez, as aulas, para sua profunda tristeza. Por um segundo vira Hermione de relance e teve outra impressão de sentir um frio corroer seu corpo. Agora ela já estava com o uniforme, mas ainda assim, parecia provocante, como se suas saias tivesse diminuído de tamanho e sua camisa tivesse ficado mais justa. Decididamente algo acontecera a Hermione Granger.
Então sentiu raiva e saiu do trem, com Lucy em seu encalço. Encontrara mais uma vez Hermione com o Potter e o Weasley e sorriu. Eles eram tão idiotas. E decididamente, precisava fazer algo com esse grifinórios que pensavam serem heróis.
–Vamos brincar um pouco, Lucy? – perguntou com sua voz rouca e seguiu na direção deles.
O antigo Draco estava de volta.
–Veja se não é o testa-rachada e o pobretão... como foi o Natal comendo os restos dos Weasley, hein? – provocara e o moreno fora para cima dele.
Draco deu um passo para trás na mesma hora que Rony segurou Harry.
–Saia daqui, Malfoy. – o ruivo falara com raiva.
–Se não...? – Draco continuou com seu tom debochado.
–Se não irá se arrepender depois. – fora Hermione quem respondera, postando-se entre os garotos e encarando Draco desafiadoramente.
Por um segundo ele parou de rir, mas por que deveria temer aquela garota?
Draco riu descaradamente.
–Realmente, eu sempre me arrependo depois. – falara cruelmente e virou-se novamente para seu caminho.
–Você é em completo idiota, Malfoy – Lucy falou com ódio, enquanto andava ao lado dele – Uma coisa é mantê-la longe, outra é provocá-la. Estou falando. Ela não irá se controlar para sempre. Uma hora você vai se ferrar.
Com essa última declaração a loira subiu para uma das carruagens e Draco estacou. Lucy tinha razão. Mas ainda assim, precisava fazer aquilo. Quanto mais a machucasse, mais iria esquecê-la e isso se tornaria uma rotina, como era antigamente.
Suspirou e permitiu-se ser preenchido com suas próprias lembranças, pois agora seu destino estava praticamente definido. E este não incluía nenhuma grifinória.

Flashback
:::nove dias, depois do baile:::

As luzes no corredor iluminavam fracamente o ambiente, um passo abafado foi ouvido pelas paredes escuras. Outro passo em direção à escada principal da mansão. Os fios claros se destacavam, bem como os olhos azuis. Ele não estava com sono, deixara a algum tempo de sentir, dormir era torturante, seus sonhos contribuíam somente para ocasionais gritos e dores. Não conseguia dormir, sem ter que acordar com um pesadelo. Preparou-se para descer a escada, mas ouviu vozes. Uma era de sua mãe, a outra, para seu espanto, era de Bellatrix. Seus músculos se contraíram ao som da voz esganiçada dela. Sua mente viajou no tempo e distinguiu claramente os gritos de dor de Hermione em meio à voz prazerosa de Bellatrix.
Draco forçou-se a voltar para aquele lugar escuro e abaixou-se entre o corrimão da escada, como uma criança, pronta para espionar.
–Não seja idiota, Ciça – dissera Bellatrix esganiçada – Charles sumiu, é óbvio que ele foi atrás da menina. Ele nega, mas sabemos qual é a verdade. Ele teve a filha com aquela sangue-sujo.
–Bella, porque ele mesmo iria propor algo contra ela se existisse algum laço entre eles? Ele está destruindo a vida dela! – Narcisa falara com raiva. – 15 anos e condenada por um homem idiota que passou os últimos anos em Azkaban.
–Com 15 anos pode-se fazer muita coisa, Ciça... e esses atos tem conseqüências futuras.
–O que está insinuando? – a mulher loira perguntou com evidente irritação.
–Seu filhinho. Ele é o culpado por eu ter ido para Azkaban, de novo. – a morena falara com raiva e sentando-se de qualquer jeito no sofá.
–Ora, o que está dizendo? Draco não fez nada.
–Ele me estuporou! E minutos depois havia dois aurores me prendendo. Por culpa dele e daquela sangue-ruim maldita!
–Como é? – Narcisa perguntara alterada. – Ele não teve culpa.
–Ora, Ciça, não vai adiantar seus argumentos sem fundamentos. Seu filho é o culpado e merece um castigo por sua desobediência ao Lorde.
–Desobediência? – Narcisa agora se levantara com raiva – Meu filho passou os últimos quatro meses pesquisando sobre uma maldita pedra. Esta era sua tarefa. E ele a cumpriu. Já entregou tudo o que descobriu ao Lorde das Trevas. Não fazia parte de sua tarefa assumir que tinha uma ligação com a tia foragida, nem admitir que fosse ligado ao Lorde. Draco não pode estar sob suspeitas em Hogwarts.
Draco tinha que admitir, sua mãe era genial. E com certeza, conseguiria absolvê-lo de todos aqueles erros.
–Agora você, Bella, desobedeceu ao Lorde. Suas ordens eram de aterrorizar as pessoas, deixá-las temerosas, não de atacar estudantes em Hogsmeade, principalmente com a quantidade de aurores que há lá agora. O erro foi seu. Arque com as suas consequências.
Bella, por um momento bufara irritada com a irmã, mas sabia bem no fundo que ela estava certa. Ainda assim, queria sua vingança. A sangue-ruim era culpada. Assim como Draco. Ambos pagariam e muito caro.
Draco, sabendo que sua mãe vencera a batalha, voltou para o quarto, sabendo também que a última coisa que queria era ser descoberto pela tia. Com sorte ela iria embora no dia seguinte para reunir-se ao Lorde. Entrou no quarto e viu uma alvíssima coruja empoleirada na janela. Desamarrou a carta que ela trazia e percebeu que era de Lucy. Leu atentamente para logo descobrir que sua melhor amiga encontrava-se em um problema que ele não poderia ajudar. Era quase tão pior que seu destino.
De uma forma ou de outra, nem ele, nem ela poderiam renunciar às suas escolhas. Era um trabalho para toda a vida. Em alguns meses, assim que completasse dezessete anos, Draco não teria escolha, seria feito um comensal da morte e teria que cumprir uma missão que não queria.
Respirou fundo, sabendo que não teria escapatória.

Fim do flashback

Hermione saia calmamente da carruagem puxada por um testrário, ao qual a garota conseguia ver. Rony a ajudava a sair. Estava também com Gina e Harry. Eles se juntaram a ela minutos depois que Hermione encontrara uma cabine no trem. Os três tiveram ótimas férias juntos, na toca e Hermione sentiu-se ligeiramente deslocada. Sentia também os olhares dos amigos sobre ela e sua nova aparência. Contestaram-na, mas nada respondera sobre isso.
Agora, olhando o castelo tão de perto se sentia estranha, como se fizesse séculos que ela não o via. Era só uma impressão.
Encontrou no saguão de entrada e logo estava indo rumo à sua mesa. Dera um rápido olhar à mesa da sonserina e o vira. Draco parecia ótimo, no entanto Lucy... A aparência dela mudara tanto quanto a sua própria, mas ela parecia muito mais sombria. Sabia o motivo disso, mas apenas porque vira em uma visão, no instante em que pensara nisso, recordou-se exatamente do momento em que vira.

Flashback
:::Uma semana depois do baile:::

Os dois andavam pela estradinha tortuosa. Hermione, por vezes, tropeçava, mas logo continuava a andar.
–Eu ainda não entendo porque simplesmente não aparatamos até lá. – ela dissera com raiva e cansada.
–Pela centésima vez, Granger. Não dá para aparatar lá. E fica quieta senão eu te largo no caminho. – o corvinal respondeu estressado.
–Até parece... – Hermione sussurrara.    
Ela já estava cansada de andar, e o frio não ajudava em nada. Alguns minutos depois, Anthony virou-se para ela.
–Daqui a pouco nós chegamos, a área que é proibido aparatar já está quase no fim. Aí podemos ir direto até o castelo.
–Finalmente... – ela sussurrou aliviada.
Por um momento ela pensou em ficar em silêncio, mas uma questão passou pela sua cabeça.
–Você é francês?
–O que? Não. Sou Britânico, como meu pai. Minha mãe é francesa.
–Onde eles estão? – a garota perguntou e mal percebeu quando a face de Anthony endureceu. Obviamente ele não queria discutir sobre aquele assunto, no entanto prosseguiu.
–Meu pai está em Londres. Trabalha no ministério. Minha mãe é herbologista. Viaja pelo mundo.
–Sério? Que interessante.
–Acredite, não é. – falou duramente e Hermione percebeu que era melhor não insistir no assunto, mesmo que não entendesse o motivo para eles não celebrarem o natal com o filho.

Alguns minutos depois estavam de frente para um grande castelo, no topo de rochas centenárias e de onde provavelmente vinha o nome da cidade, Roquefort, rocha forte.
Hermione admirou-se com a vista e olhou para Anthony ao seu lado.
–Pegue na minha mão. – ele disse estendendo-a e Hermione obedeceu.
Sentiu um gancho invisível puxá-la, depois a sufocante sensação de ser empurrada por um estreito cano, para então firmar seus pés no chão e poder respirar. Aparatara pela primeira vez e decididamente, odiara.
–Ótima sensação, não? – Tony perguntou divertido.
Hermione limitou-se a lançar-lhe uma careta, a ânsia que sentia estava passando e olhou ao seu redor. À sua frente estava a entrada para o imenso castelo. Anthony adiantou-se e tentou abrir a porta, seja manualmente ou por feitiços, esta não abrira. Hermione aproximou-se da porta e sem querer encostou a mão na parede, a superfície pareceu ter afundado onde sua mão tocara e a porta abriu-se.
–Como fez isso? – Anthony perguntou assustado.
–Eu... encostei aqui – a grifinória respondeu temerosa e olhou para o interior do lugar.
Havia um enorme saguão e muito pó e sujeira. O cheiro indicava que ninguém habitava aquele lugar há anos. Via teias enfeitadas com algumas aranhas e alguns ratos. O lugar não agradara em nada, mas sabia que estava no caminho certo. Entrou, mesmo sob os protestos de Anthony. Sentia-se estranhamente ligada àquele lugar. Fora até o salão principal e percebeu que aquele era o salão com que sonhara, quando vira a fantasma misteriosa. Mesmo estando com tanta sujeira, podia imaginar o salão de modo que fosse imponente, belo, minimamente enfeitado.
Sem saber para onde estava indo, fora até a escadaria e a subira.
–Granger! Pare! Você não sabe o que tem aqui. – Anthony brigara arrependendo-se de tê-la trazido ali, mas ela não lhe dera atenção.
Continuou subindo, degrau a degrau, até chegar a um amplo corredor, abriu uma das portas e viu um cômodo vazio, tornara a fechá-lo, fora para o próximo, era uma biblioteca, ou pelo menos o que sobrara desta. Tornara a entrar no corredor e abriu a próxima porta, como se adivinhasse, sabia que aquele era o cômodo que procurava. Ao entrar reconheceu-o de seu sonho.
–Finalmente veio até mim, Guardiã. – uma voz doce e bela dissera e assim que Hermione olhou para trás, ouviu a porta bater com estrondo e trancar-se.
–Hermione! – a voz de Anthony do outro lado a chamou, intensa e urgente.
–O que pretende com isso? – Hermione perguntou a fantasma e tentou destrancar a porta.
Fora em vão.
–Apenas para evitar que ele me atrapalhe. – a mulher dissera deslizando de forma elegante para o chão.
Hermione a olhou. Percebeu que era a mesma mulher com que sonhara.
–Quem é você exatamente?
– Juliette Granreister. Vivi em 1480, nesse castelo, com meu pai e minha irmã. Era a herdeira do trono, até minha morte, em 1504.
–Você é uma princesa? – Hermione perguntou e ela assentiu. – E morreu aos 24 anos. Por quê?
–Fui assassinada por ordem do meu pai. Ele não aceitou minha fuga com um plebeu e bem... eu era a herdeira da pedra, sabe? E Gerhard era o único que podia me ensinar sobre ela.
–Quem é Gerhard? – a garota perguntou visivelmente irritada com a outra, pelos poucos detalhes.
–Um ferreiro. Vivia num povoado vizinho, assim que nos vimos, nos amamos e tentamos ficar juntos. – ela falou nostálgica – Mantivemos contatos e ele descobriu sobre meus poderes. Ele era bruxo também, mas nascido trouxa. Mesmo assim, Gerhard podia me ajudar com a pedra, mas meu pai, o rei, nunca entenderia. O preconceito contra o sangue já era intenso naquela época. – a jovem mulher dissera. – Vê esses ferimentos? – ela perguntou mostrando seu colo e Hermione entendeu que os ferimentos eram os brilhos que havia nela – São marcas de sangue. Esfaquearam-me. – A garota estava impressionada com a frieza da mulher ao relatar a própria morte. – Mas eu não sou importante, nem minha história. O importante é que o poder foi passado adiante e você é hoje a Guardiã, tem a promessa de proteger a pedra.
–Não fiz juramento algum.
–Seus ancestrais fizeram. E hoje em dia é tão difícil encontrar a herdeira... os genes das bruxas escolhidas se disseminaram rápido demais. Praticamente sumiram tantos séculos depois.
–Espera! – Hermione pedira totalmente perdida – Genes? Eu sou sua descendente?
–Sim... você, Melanie, Lucy... Todas as herdeiras, mas obviamente é mais poderosa que herda o poder. – a mulher respondeu – Você é nascida trouxa, eu sei. Mas você herdou isso de um de seus pais, obviamente.
–Homens podem ser guardiões? – A castanha perguntara.
–Não. O poder não é despertado neles. Mas já houve casos... especiais.
–O que quer dizer? – a garota pediu, interessada.
–Alguns homens podem afetar o poder da guardiã. Esse é o caso de Melanie e Charles.
Então Hermione parara de falar, tentando absorver tudo.
–E eu não tenho escolha?
–Realmente. Nenhuma de nós tem. – a fantasma falara desconsolada, prova de que também não escolhera ser a guardiã.
–E o que devo fazer?
–Lembra-se de seus sonhos? Lembra-se do que eu disse?
Então fora realmente ela que penetrara em seus sonhos, de alguma forma.
As palavras dela se fizeram nítidas em sua mente.

–O segredo logo se revelará, a magia da guardiã já está se mostrando e o controle sobre esse poder será difícil de conseguir.
–O que? Do que está falando?
–Você saberá logo e seu destino será do lado da luz, e não importa o quanto o seu poder se desenvolva, haverá sempre alguém que poderá destruí-la, mas que também será o único que poderá ajudá-la a não cair em conseqüência de sua magia.
–De quem você está falando?
–Falo do único capaz de parar seu poder caso você se descontrole. Do único que irá lutar até o fim por você. E quem você irá salvar de um destino cruel.
–Mas...
–Não há tempo para se desperdiçar. O escolhido das trevas terá que cair para que veja o quanto tem e o quanto já perdeu, para só então recuperar tudo aquilo que lhe foi tirado.

–Aquilo tudo... – Hermione começou a dizer, fazendo suas palavras refletirem seus pensamentos – Suas palavras... eram uma profecia?
–Sim querida. É a sua profecia.
O choque das palavras da mulher abateu-se sobre Hermione. Deixou-se cair no chão e permaneceu ali sentada. Dor, surpresa, aflição. Ela não conseguia separar uma da outra.
Ouviu, se repente, um barulho, como se alguma porta estivesse sendo forçada e percebeu que realmente era isso que estava acontecendo. Mas não era a porta a qual ela entrava, era outra, do lado oposto dela.
Quando a porta se escancarou, um homem alto entrou. Vestia uma capa negra e quando retirou o capuz, ela viu seus cabelos loiros. Seus olhos eram castanhos, tão intensos como o de alguém que ela conhecia. Reconheceu-o instantaneamente de suas visões e levantou-se. Puxou sua varinha, antes que pudesse atacá-lo, ele a desarmou.
–Não sou seu inimigo, Hermione Granger. – Charles Steiner falou calmamente e se dirigiu para a fantasma – Há quanto tempo, Julie.
–Charles, Charles, a que devo essa visita tão repentina? – a mulher perguntara – Afinal, já faz 15 anos que não vem aqui.
–Estar preso contribuiu para isso... – o homem respondeu, mas logo seus olhos sobre caíram em Hermione – mas é melhor deixar o passado no passado.
–Você estava em Azkaban – a castanha dissera. – É por isso que Lucy não te conhece?
–Sim e não.
Charles aproximou-se da garota, fitando-a com atenção nos olhos, concluiu que ela era uma boa oclumente, mas não como ele, ou como sua filha, pelo que sabia.
–Juliette, estou me apresentando para ser o mentor da guardiã, assim como fui da antiga. – Charles fora direto, olhando fixamente ora para uma, ora para outra.
–Hermione Granger já tem seu protetor, e você já tem uma protegida. – a fantasma respondeu de modo superior e de certa forma, arrogante.
–Tenho? – a garota perguntou, mas foi ignorada
–Sua missão, por hora, é proteger o sangue da guardiã Melanie. Sua filha é preciosa, não a deixe cair nas mãos sujas do homem de seu país que se auto-intitula “Lorde”. Hermione está em boas mãos e aprenderá a controlar seu poder tão bem quanto suas ancestrais.  
–Será que alguém poderia preocupar-se em falar para mim quem é meu protetor? – Hermione praticamente gritara, e no outro instante sentira algo forte puxá-la, sua mente fora projetada para algum lugar longe de onde estava.
A garota sentiu um feitiço atingi-la no braço esquerdo e gritou de dor. Havia três comensais a atacando e duas crianças assustados. Fora então que ela ouvira uma ordem. Pare de nos atacar. No entanto ela não cedera, embora quase não tivesse forças para lutar contra a maldição. Ela lançara alguns feitiços mirando os homens. As crianças! Não posso deixá-las em perigo. Pensou e depois de mais alguns ataques ela parou. Não teria chance de derrotá-los com os dois ali.
Ela sorriu e provocou o líder dos comensais, recebendo um tapa que ardera em sua face. Cuspira sangue.
“Por que está aqui? O que quer de mim?” perguntou finalmente.
O homem falou depois de uns minutos e ela não pode acreditar.
“Apenas uma coisa, Srta. Moore. Algo que tenho certeza que você conseguirá, afinal, você é filha da herdeira. E devo dizer, Melanie praticamente implorou a morte. A questão é, você faria diferente dela?”
Sentiu raiva. Muita raiva, mas controlou-se. Não queria aceitar o que ele propunha. Mas como escapar da morte quando se está encurralada? Podia escolher a morte, como sua mãe, ou ser fraca e cooperar com eles, ganhando mais alguns dias de vida. Antes de poder pensar ela já sabia qual opção seria.
Era uma fraca, afinal.

Hermione percebeu que estava de joelhos no chão frio. Suas mãos estavam nas têmporas e pela primeira vez deu-se conta do quão forte fora sua visão. Ela estava ali. Ela era Lucy.
Sua cabeça doía profundamente e ouviu gritos.
–Hermione! – era Anthony que gritava do outro lado da porta, incapaz de abri-la.
–Abra a porta – Hermione pediu para Juliette. – Deixe Anthony entrar.
Ela nem percebera que estava com lágrimas nos olhos. A fantasma erguera uma das mãos e a porta abriu-se.
Anthony correra até ela, preocupado.
–O que houve? Por que você gritou? – ele perguntou apressado, abaixando-se na direção dela.
Hermione só sabia de uma coisa. Anthony não pode saber o que aconteceu com Lucy. Ela precisava de uma desculpa. Algo que ele acreditasse. E rápido, antes que se denunciasse.
–Tive uma visão... do passado... – a garota falou – De uma das guardiãs... sendo torturada. – era o melhor que podia inventar. Seu cérebro não queria funcionar. Ela queria apenas saber como Lucy estava.
–Não adianta. – Charles dissera como se tivesse lido seus pensamentos – O que você viu já aconteceu.   
Anthony percebera a presença dele pela primeira vez desde que entrara na sala. Pegou sua varinha e apontou para o homem.
Charles o desarmou por puro reflexo.
–Não precisa me atacar, Sr. Wolhein. – ele dissera.
–Por que não a encontra? Lucy... – Anthony tentou falar.
–Não comece com os “Por quês” – Charles pedira irritado – Não é da sua conta garoto. O fato de eu não ter procurado por Lucille não diz respeito a você. – o homem continuou.
–Lucille? – Anthony perguntou estranhando e sorriu – Esse é o nome inteiro da Lucy?
–Lucille Marie Moore. – Charles confirmou sem humor.
–Sr. Steiner. – Hermione chamou ainda impressionada com a visão.
A grifinória tinha certeza de ter vislumbrado um temor no homem, mas sua expressão era uma máscara, ela não conseguia decifrá-lo e também não entendia o motivo dele estar tão calma sendo que a filha acabara de ser atacada.
–Está tudo bem. – ele dissera enfatizando suas palavras – O que você viu aconteceu, de qualquer modo. Você não pode fazer nada contra isso. – Charles falou sentando-se calmamente numa poltrona empoeirada.
Hermione percebeu que ainda que quisesse discutir e ir até a sonserina, sabia que de algum modo aquele homem tinha razão. Algo em seu olhar a paralisava, dizia para acalmar-se e, de fato, ela o fez.
–Não entendo... – Anthony falou – O que ele faz aqui e o que aconteceu a você. Quero dizer... por que você gritaria? – o garoto perguntou sentado no chão ao lado de Hermione.
Como contar a ele o que acontecera sem precisar envolver Lucy nisso?
–Eu vi um ataque, Tony. – falara de uma vez – Não sei quem ela é, mas simplesmente senti o que ela sentiu. – Hermione explicara omitindo como sempre o nome – Mas isso não importa agora. – a garota virou-se então para Charles Steiner – E o que está fazendo aqui?
Ele a encarou por alguns segundos e a olhou entediado, como se fosse óbvio.
–Você tem potencial garota. Eu ouvi muito a seu respeito. Sei o que você fez no Ministério da Magia, ano passado. Lucius com certeza sente raiva de você e seus amigos por colocá-lo em Azkaban. Era para eu estar lá, mas não fui. – Charles respondeu olhando fixamente para ela. – Mas o que eu tenho observado é uma decadência. Sempre pensei que encontraria uma bruxa forte e poderosa. Decepcionei-me. Havia apenas uma garota frágil e indefesa.
–“Garota frágil e indefesa”? – Hermione repetiu com uma raiva controlada.
–Exatamente. O relacionamento com o garoto Malfoy te deixou fraca. Vulnerável. – o homem falou e a garota abriu a boca para protestar. – Não adianta negar. Sei que mal está saindo do hotel e que é Anthony Wolhein quem te tira da cama e tenta animá-la todos esses dias.
Hermione colocou as mãos nos ouvidos. Ela não precisava ouvir aquilo. Mas ainda assim continuava a ser perfurada pelas palavras de Charles Steiner, como se algum feitiço a fizesse ouvir, mesmo não querendo. Draco Malfoy a destruiu. Não. Draco não importava mais. Ela não queria ouvir esse nome. Ainda doía, como percebeu. Fraca. Poderes oscilantes. Magia não-desenvolvida.
Não. Ela não era indefesa.
–Não! – Hermione gritou segurando as têmporas ainda – Mentiras! Apenas mentiras! – ela sabia que estava chorando e sentia as mãos de Anthony sobre as suas, tentando acalmá-la.
Uma descarga de energia parecia atingi-la. Indo do seu corpo para o chão, onde estava sentada. Sua cabeça doía e um vento fraco e estranho entrava pela janela.
–Por que faz isso? – Tony perguntou – Por que tornar tudo pior para ela?
Hermione, ao ouvir essa pergunta, deu-se conta de que Lucy fizera a mesma coisa com ela na floresta. Lucy gritou. Provocou-a. Charles fizera o mesmo naquele momento.
–Para despertar minha magia – fora Hermione quem respondera a pergunta de Anthony, dando-se conta daquilo quando despertou sua lembrança.
–Correto. – Charles respondeu e levantou-se, indo até Hermione.
Ele estendeu suas mãos e a garota colocou as próprias mãos frias sobre as dele. Hermione Granger levantou-se, encarando o homem mais alto nos olhos.
–Você é uma guardiã. Não prenda sua magia e comporte-se como tal. – Charles dissera.
Por um segundo ele tivera uma ideia e, então, fitou Anthony. O garoto parecia-lhe preocupado e responsável, naquele momento. No entanto sabia que era apenas uma questão de tempo e seu tom debochado e irônico voltaria. Ele era o tipo de pessoa que adorava diversão. E, com isso, ajudaria Hermione.
–E você, Sr. Wolhein, também tem uma tarefa. – falara encarando-o – Transforme Hermione Granger na bruxa que ela nasceu para ser. Nada de bibliotecas, nada de livros e pesquisas, por hora. Agora ela deve aprender a entender as pessoas.
–E como eu seria útil? – o garoto perguntou, fitando o homem com seus olhos negros.
–Você conhece essa cidade mais do que ninguém. Mostre a Srta. Granger os perigos, as armadilhas, para que ela aprenda a lidar com elas.    
Anthony olhou para o homem a sua frente como se ele tivesse dito algo insano, algo completamente sem nexo. Afinal, para que uma sabe-tudo como Hermione Granger usaria um conhecimento daquele tipo? Por que ela deveria aprender a lidar com os perigos que ele lidava?
Antes que Anthony proferisse alguma de suas perguntas, ele entendeu. Armadilhas. Aprender a lidar com as pessoas. Perigos.
Charles Steiner queria que Hermione fosse inteligente.
Ou melhor, mais inteligente.
Ele queria acabar com a ingenuidade dela.
E nesse ponto, Anthony tinha que concordar.
–Desafio aceito. – ele dissera agora mais animado.
Acontecesse o que acontecesse, Hermione Granger se transformaria.
–E Granger... – Charles continuou encarando a menina – Quero que você treine sua oclumência. Esvazie sua mente antes de dormir e medite sempre. A primeira coisa que precisa fazer é aprender a controlar seu poder.
Hermione olhou-o, ele tinha razão. Portanto assentiu. Faria o que ele mandara.
Só então percebeu que a fantasma havia sumido. Sua chance de saber mais se fora e tampouco acreditava ainda que a pedra estivesse ali. Teria que continuar buscando-a, como deveria ser.

Fim do flashback

Hermione descansou a cabeça na mão e ficou assim por alguns segundos durante o jantar. Não estava com fome alguma, mas também não sairia dali, queria passar um tempo com os amigos. Sem querer, acabou desviando seus olhos para a mesa da Corvinal e encontrou Anthony. Ele, por sua vez, olhava para a mesa da sonserina, exatamente para uma loira. Hermione o entendia. Ambos estavam encrencados se dependessem de sonserinos.
–O que aconteceu exatamente com você? – Harry perguntou repentinamente e ela deu de ombros.
Não estava com a mínima vontade de discutir sobre isso. Sua aparência não importava, eles não entenderiam mesmo...
Hermione então pegou uma tortinha qualquer e começou a comê-la. Harry ainda fitava-a esperando por uma resposta que ela simplesmente não queria dar.
A castanha jogou os cachos para trás da orelha e virou-se para o garoto.
–Você queria que eu me afastasse do Malfoy e eu fiz isso. Você queria que eu fosse forte e agora eu sou. Se não queria que eu mudasse, Harry, desculpe-me, mas já é tarde para evitar essa mudança.
Ela então saiu andando, passando pelas mesas e atraindo olhares de cobiça e inveja. Aquela garota não parecia nada mesmo com a sabe-tudo Hermione Granger.
Ela fora até o saguão e olhou para trás, certificando-se de que ninguém a estava seguindo. Não queria ser importunada logo agora, mas tão logo se virou bateu de frente com alguém. Destino ou acaso, era Draco Malfoy.
A mão dele agiu automaticamente e a segurou pela cintura, evitando que ela levasse um tombo. A mão fria dele agia estranhamente como brasa, ardendo até mesmo por cima de suas roupas.
Mas ele não a abalaria. Não mais.
–Boas férias, Malfoy? – perguntou cínica.
O loiro levou alguns segundos para perceber do que ela estava falando, até que a soltou e apenas olhou para sua face, estranhando aquela reação tão natural.
–Mas é claro. – respondera baixo – E as suas?
–Melhores impossível. – exclamou colocando uma mecha do cabelo para trás.
Draco a olhava de cima a baixo, tentando encontrar a fragilidade dela, a mesma que vira no baile de máscaras. E Hermione não parecia com raiva pelo o que ele fizera mais cedo, no desembarque. Parecia nem lembrar-se. Não havia mais nada em Hermione.
–O que aconteceu com você? – perguntou por fim.
–Nada. – Hermione respondeu.
–Nada? Não sei... Isso é tudo, menos nada. Aposto que optou por essa estúpida indiferença para não se machucar, é mais fácil assim não é? Quando você não precisa se preocupar em importar-se.
Draco calou-se e esperou que ela dissesse algo. Estava quase desistindo quando ela começou a falar, calma e perigosa.
–Você destruiu todas as minhas esperanças e sonhos em relação a nós, Draco. Agora eu vejo que esse nós nunca existiu, era sempre você e eu sempre. Sinta-se a vontade para voltar com seu precioso hobbie de me odiar, Malfoy. Afinal, é o que você sabe fazer melhor. E não reclame do modo como segui em frente. – a castanha dissera num tom que nunca usara, desafiante e cheio de arrogância.
–Esta não é você. – o loiro sussurrou.
–Tem razão. Você matou Hermione Granger, isto é uma carcaça, a que vai te destruir caso você entrar em meu caminho.
Antes que Draco pudesse responder aquela provocação percebeu que alguém se aproximava.
–Hermione! – alguém a chamou e a castanha virou as costas para Draco.
–Sim, Parvati? – falou para a menina, ignorando seu olhar avaliativo.
–Hum… vamos ter uma festa no salão comunal hoje. Avisei o Rony e o Harry agora, então vê se aparece daqui a pouco por lá...
–Mas é claro.  
Assim que a garota saiu de lá, Hermione olhou novamente para os lados. Não havia mais sinal algum de Malfoy. A grifinória encostou-se na parede de pedra e respirou fundo. Sabia que seria difícil enfrentar Draco, mas nunca pensou que fosse tanto assim.

Draco andava em passos largos por um corredor. Assim que teve chance, saiu de perto da grifinória. Sentia-se péssimo toda vez que a via daquele modo.

Pela primeira vez em muito tempo, Draco chorava. Suas costas estavam apoiadas na parede fria. Não fazia barulho, não queria que ela o visse. Pela fresta da porta ouvia-a cantar de forma dolorosa. E a canção o atingia mais do que a ela. Pensara tanto que a magoaria que se esquecera de pensar em como ele próprio se sentiria. Agora, era tarde. Hermione era quem o machucava, com a canção.

Draco sentia mais raiva ainda. Queira socar algo, nem que fosse a parede e pudesse quebrar seus dedos.  Parou de andar e sentou-se no chão, massageando as têmporas. Controle. Não podia perder o controle.
Você matou Hermione Granger, isto é uma carcaça, a que vai te destruir caso você entrar em meu caminho.
Será que sempre seria assim? Sempre aquela maldita garota o afetaria?
–Você não vai fazer isso comigo, Hermione. Não mais. – Draco falou veemente e foi inundado por mais lembranças.

Flashback

–Concentre-se, Malfoy. – Draco falara para si mesmo enquanto segurava sua varinha.
O loiro olhou ao seu redor. Havia seis comensais a sua volta. Deu um passo para trás e lançou um feitiço no primeiro que avistou.
Outras cinco labaredas vieram em sua direção enquanto um deles caía.
Draco fez um escudo e, depois, uma luz cegou os homens. Acertara outro. Fora quando resolver esconder-se nas sombras e rumou para um pilar, enquanto os últimos vestígios da luz que lançara se dispersava.
Percebeu que os quatro que faltavam o procuravam, atentos. Draco, entretanto, virou-se para eles, azarando um deles e amarrando outro com cordas invisíveis.
Um feitiço acertou seu braço esquerdo e o fez gritar de dor. Sua camisa foi pintada de vermelho púrpuro e Draco sentiu ódio do homem que o ferira. Saíra então do seu esconderijo e ergueu sua varinha. Conjurou um chicote transparente e o usou contra um dos homens, fazendo-o urrar de dor. O outro veio por trás e assim que veio agarrá-lo por trás, Draco conjurou uma faca de prata e deslizou para o lado, pegando-o por trás e levando a arma para seu pescoço. Dez dias de treino haviam o transformado. Não lutava mais com medo. Não pensava duas vezes antes de lançar qualquer feitiço e, principalmente, não se importava em ferir ou não o oponente.
–Muito bem, Draco. – a voz de Bellatrix soou prazerosa – Aprendeu muito bem.
A mulher estava radiante. Pela primeira vez encarava o sobrinho com esperança.
–No final das contas... talvez você não seja tão inútil quanto eu pensei... – ela sibilou.
Draco largou o comensal que segurava. Ele cambaleou para o chão e olhou os companheiros. Todos no chão. Derrotados por um adolescente de dezesseis anos.
Draco olhava a tia. O treinamento dela era puxado, mas aprendera tudo que a mulher ensinara. O ruim de tudo aquilo era que se passasse mais tempo com a comensal, se tornaria mais cruel. Menos humano. Esse era seu medo.
–Em junho, quando você completar dezessete anos, você será um perfeito seguidor do Lorde, Draco. Poderoso e temido.
Draco permaneceu indiferente. Junho. Quase seis meses. Seis meses para o fim da vida que conhecia.

Fim do flashback

Draco passou suas mãos uma última vez em seu rosto e levantou-se. Precisava esquecer o passado. Era a única forma de seguir em frente. Mal começou a andar, alguém apareceu na sua frente.
–Draco! – a menina falara aproximando-se.
–Ah não! – ele resmungou baixo.
Pansy Parkinson estava agora quase o abraçando.
–Draco... eu não te achei no vagão e no jantar mal consegui falar com você...
–E o que você tinha de tão importante para me falar? – o loiro perguntou seco.
–Nada. Queria só te ver agora que estamos juntos... – a morena falou abraçando-o pelo pescoço.
–Nós o que? – Draco contestou tirando as mãos dela de seu corpo – Desde quando?
–Desde o baile, oras. – a menina falou sorrindo.
–Não, Pansy. Não estamos juntos. Eu só te beijei. Só isso. Não quer dizer que somos namorados agora, porque nunca seremos, e eu já te avisei sobre isso. – o garoto falou e começou a andar na direção do seu salão comunal, deixando-a para trás.
Foi então que ele parou e nem ao menos teve o trabalho de encará-la ao dizer:
–O fato de eu e a Granger termos terminado não quer dizer que eu vá namorar você, Pansy.
E, depois, ele retomou seu passo, deixando a morena para trás, como sempre fazia.

:::  :::

Lucy andava despreocupada pelo corredor em direção às masmorras. Sentia um frio penetrar em seu corpo e puxou sua capa para mais perto ainda do corpo. Então seu caminho foi bloqueado. Ela quase trombou de frente com o garoto se não tivesse parado de andar antes.
O que viu nos olhos de Anthony foi somente acusação e certa raiva.
–Anthony, eu sei que você quer gritar comigo e... – começou, mas foi interrompida.
–Por que não respondeu minhas cartas?
Lucy respirou fundo, não queria ter que enfrentar ele agora, era tarde demais para discutir, mas ainda assim, inevitável.
–Você está fugindo de mim de novo.
Não era uma pergunta. Era uma afirmação. E era verossímil. Quanto menos ele soubesse sobre o que aconteceu, melhor. E quanto menos envolvido, mais seguro estaria.
–Lucy, olhe para mim! – Anthony exigiu, levantando o rosto dela pelo queixo.
Nos olhos da menina havia somente a indiferença.
–O que eu fiz? – perguntou, sem saber o que pensar.
Lucy afastou-se dele, permanecendo longe antes que traísse a si mesma.
–Nada, você não fez nada, Anthony – respondeu incapaz de mentir e acusá-lo em vão.
–Mas algo aconteceu. – ele sussurrou e Lucy não falou nada contra isso – Lucy, eu sei que você tem seus segredos, mas será que não está na hora de deixar alguém se aproximar de você.
O garoto deu um passo para frente encarando a menina fixamente nos olhos enquanto causava arrepios inevitáveis nela. Sua forma de falar a tranquilizava, mas ainda assim, ela não cederia.
–Pessoas têm segredos, Anthony, e até mesmo eu sei qual é o limite para interferir na vida dos outros. – Lucy dissera desafiante.
Percebeu somente um segundo depois o movimento dele e fora tarde demais. Anthony a prensou na parede fria, sem dó ou sensibilidade.
–Isso vindo da garota que atirou o Malfoy na Hermione é realmente reconfortante. – ele atirou sem piedade – Acorda Lucy! Você mentiu para mim, para o Draco e para qualquer outra pessoa nesse castelo. Você me fez levar um soco na cara e tem acesso ao meu maior segredo. Você praticamente torturou a Hermione e humilhou o Weasley! E agora vem me falar sobre limites? Olhe-se no espelho, garota!
Ele ofegava, sentia raiva dela e de repente percebeu que sempre quis dizer aquelas palavras para a loira. Mas tinha medo e pena, pois por mais que sentisse ódio, não deveria feri-la daquele modo. Entretanto, sabia que Lucy precisava abrir seus olhos. Precisava realmente acordar de seu mundo intocável, porque agora nem tudo seria como costumava ser e ou ela entendia isso, ou sairia ainda mais machucada.
–Você não tem o direito de dizer isso! – ela gritara indo para cima dele com uma raiva que nunca sentira na vida.
Lucy tentava feri-lo do mesmo modo como fizera há pouco, mas diferente dele, ela continha muito mais um ódio físico. Precisava fazê-lo sentir dor. Porém era fraca. Não conseguia acertar um só tapa, já que Anthony segurou suas mãos com força, prendendo-a entre ele e a superfície da parede.
Ainda que tentasse nunca conseguiria se livrar dele, e aqueles olhos negros estavam perto demais, chamativos demais. A respiração dele regular e a dela, tensa. O olhar dele calmo e o dela, afetado.
Lucy então se inclinou para frente e tocou os lábios dele. Já fazia semanas que queria fazer aquilo e agora não importava se estivessem brigando, ela aproveitaria o momento. Sem máscaras. Sem álcool. Eram apenas os dois naquele momento.
Anthony explorava sua boca com calma, como se tivesse todo o tempo do mundo. Prensava-a contra seu corpo como se já o conhecesse há a um longo tempo. E então ele percebeu que talvez fosse o único que a conhecesse mesmo. Anthony soltou as mãos dela e segurou-a pela cintura, puxando-a contra si ao mesmo tempo em que Lucy arranhava o pescoço dele com suas unhas.   

And I won’t be far from where you are if ever you should call
E eu não estarei longe de onde você está se você chamar
You meant more to me than anyone I've ever loved at all
Você significa mais pra mim do que qualquer um que eu sequer amei
But you taught me how to trust myself
Mas você me ensinou como confiar em mim mesma
And so I say to you, this is what I have to do     
E então eu lhe digo, isto é o que eu tenho que fazer

–Lucy – Anthony falou, segurando o rosto dele entre suas mãos – Você não precisa fazer tudo sozinha.
A menina encarou-o, os olhos castanhos sobre os negros. Não sabia o que fazer. Estava condenada. E por mais que seu coração implorasse para que ela falasse tudo a Anthony, seu cérebro trabalhava mais arduamente e esconder tudo. No fundo ela sabia quem ganhava essa competição. Sempre usaria sua razão, para não ferir-se.
–Eu sei. – Lucy respondeu tirando as mãos dele de sua face – E é por isso que você precisa confiar em mim.
A menina olhou para ele uma última vez e, depois, continuou a seguir para seu salão comunal. Cada passo mais longe dele, cada centímetro mais sozinha. Entendia Draco e suas ações agora, para seu azar.

:::  :::

Ronald Weasley conversava animado com Parvati enquanto Lilá o fitava do outro lado da sala. Era óbvio que a menina estava com raiva da amiga por simplesmente conversar com seu ex. Mas nada podia fazer, assim que se aproximasse o garoto a ignoraria completamente, deixando humilhada.
Mas fora ela quem pedira por isso. “Maldito Wolhein!” pensou pegando uma cerveja amanteigada. E começando a conversar com Dino.
Do outro lado da sala uma garota observava a sala completamente absorta em pensamentos. Ela não via a sala, mas a sala com certeza a observava. Hermione Granger tornara-se um destaque.
Fora então que Simas aproximou-se dela.
–Tudo bem, Hermione?
A castanha demorou uns segundos para perceber a presença dele, mas então o vira.
–Mas é claro... – respondera ainda distraída.
–Sabe o que seria ótimo? – o garoto perguntou e Hermione balançou a cabeça negativamente – Você animar essa festa com uma música.
Mal ele acabara a frase, Hermione foi dizendo um sonoro não. Mas as insistências começaram e ela não sabia como fugir daquilo.
–Por que não jogamos algo? – ela perguntou agarrando-se àquela salvação.
–Pode ser. – Simas falou desanimado – Snap Explosivo?
–Não, pensei em algo mais... interessante. Sabe como se joga blackjack? – a garota perguntou e ele acenara positivamente.
Hermione, então, conjurou um barulho e começou a embaralhá-lo. A mesinha de centro da sala fora desocupada e a garota, Simas, Dino e Colin sentaram-se em um dos lados. Hermione, então, deixou o barulho sobre a mesa.   
–Quem quer ser o carteador? – ela perguntara.
–Eu serei. – Gina falou animada, levantando-se do sofá e deixando Harry agora sozinho. – Apostas?
–Aposto 16 sicles – Simas falou colocando o dinheiro sobre a mesa.
–14.
–16 também.
–Aposto 2 galeões. – Hermione falou depositando as duas moedas junto com as outras.
Vários pares de olhos a encararam, estupefatos. Até que Gina distribuiu duas cartas para cada um ao estilo de Londres e virou uma de suas cartas para cima. 7 de copas.
–O que vai ser, Simas? – Gina perguntou sorrindo.
O garoto olhou para suas cartas, pensando seriamente no que fazer. Suas cartas somavam 19. Precisava de um 2 ou um Ás. Optou por manter suas cartas já que se pedisse outra, com certeza quebraria.
– E você, Dino?
Ele tinha um seis de ouros e um valete. 
–Hit. – o garoto falou e recebeu outra carta, ultrapassando os 21 pontos em seguida – Droga! – exclamou com raiva.
–Você quebrou, Dino... – Gina falou divertida – E você Colin?
–Eu mantenho. – O garoto falou fitando suas cartas. Era o mais inteligente a fazer, já que somavam 18 pontos.
Por último, a ruiva olhou para Hermione.
Ás de ouro e três de paus.
–Mais uma carta. – a castanha falara, olhando atentamente para suas duas cartas.
Quatro de ouros
–Outra, Gina.
Cinco de copas
Hermione sorrira. Nem ao menos precisara pensar muito ou usar qualquer estratégia. Gina tinha um sete em sua mão. O máximo que ela poderia fazer eram 17 pontos, e ela não arriscaria pegar outra carta. Colin e Simas tinham mais de 18. Dino estava fora do jogo. A castanha olhou sua mão, sorrindo. 4 cartas. 13 pontos. Sabia o que fazer, mas sabia, principalmente, que ganharia.
–Outra carta, Gina.
7 de espadas.
20 pontos.
Cinco cartas Charlie.
Hermione fitou Gina e a garota virou sua carta, revelando um rei. Tinha razão quando pensou nas possibilidades da pontuação da ruiva. Gina não iria conseguir um Blackjack com aquele sete, e automaticamente, Hermione era a vencedora. Conseguira cinco cartas sem estourar os pontos.
–Isso, Hermione, foi sorte de principiante. – a garota falara emburrada.

A expressão dela lembrou outra pessoa. Um garoto de cabelos castanhos escuros, quase negros. E umas belas férias na França.

Flashback

–Eu não vou conseguir fazer isso, Tony! – exclamou, tentando acompanhá-lo pela rua – Odeio trapaças!
–Bem... agora você vai começar a gostar. – o garoto falou despreocupado – É só ler a mente do carteador. Você descobre qual a carta escondida e eu enfeitiço o baralho. Mas não olhe para mim. Se descobrirem que estamos juntos no cassino, vamos ser expulsos.
–Vão nos prender, isso sim!
Hermione resmungou e ao passar na frente de uma vitrine, olhou para seu reflexo. Seus cabelos castanhos estavam presos em um coque frouxo e a maquiagem escura deixa-a mais velha, com a face mais madura e sensual. Seu vestido vermelho evidenciava isso mais ainda, mostrando suas curvas. Mas sua expressão mudara um pouco. Anthony mudara sua feição com alguns feitiços, assim como fizera com si mesmo. Ninguém poderia reconhecê-los.
–Hermione! – o garoto chamara ao vê-la parada na rua.
Hermione continuou seu caminho, alcançando-o.
–Esse vestido que você comprou, essas maquiagens e toda essa trapaça que me ensinou... É tudo para cumprir o que prometeu ao Steiner? Que eu mudaria?
O garoto olhou-o pelo canto dos olhos, esperando uma resposta.
–Isso não é por ele. – Anthony dissera – É por você. Hermione, você vai voltar a Hogwarts bem, não quero que o Malfoy te veja como eu te vi naquele dia, no baile. Você é poderosa, é inteligente. É a melhor bruxa que eu já conheci. Está na hora das pessoas verem isso também.      
Os dois pararam de andar, olhando atentamente para as luzes à frente. Um edifício todo movimentado e repleto de pessoas.
–E o vestido... É meu presente de Natal para você. – o moreno completou sorrindo – Entre primeiro. Daqui a dez minutos estou aí dentro. Não esqueça nada do que eu ensinei.
Hermione sentiu um frio na barriga. Não podia fazer aquilo. Era ruim. Não precisava trapacear para mudar. Quis dizer isso a Anthony, mas ele começou a andar para longe e viu-se sozinha. Fazia três dias que os dois praticavam algumas estratégias. E se esquecesse tudo?
Disse então, para si mesma, que não se esqueceria. Era uma grifinória e precisava de coragem, embora naquele momento, quisesse ter qualidade sonserinas. Seria mais fácil de enfrentar tudo aquilo.
Hermione, então, entrou no cassino, ficando encantada com a quantidade de pessoas e jogos. Mas já sabia o que fazer. Aquela noite seria divertida.

Fim do Flashback

Hermione sorriu a lembrar-se. Naquela noite ela conseguira ler a mente do carteador e descobriu qual carta ele possuía. E Anthony fez de tudo para ela ganhar. Todas as cartas eram favoráveis, com exceção de alguns jogos, que os dois decidiram perder de propósito, para manter os olhos atentos longe deles. Qualquer cassino que se preze odiava os vencedores e, se descobrissem a trapaça, os expulsaria sem dó.
Ficou então jogando com seus amigos até tarde, quando decidiu descansar da viagem.
Assim que entrou no dormitório feminino deparou-se com seu malão, teria que arrumar tudo no dia seguinte. Ainda assim, o abriu e tirou de lá um caderno com capa de couro. Folheou-o procurando qualquer detalhe que revelasse de onde viera. Não encontrou nada. Ganhara aquele caderno de natal, ele aparecera entre seus presentes. Não havia remetente, nome, ou cartão. Simplesmente nada. Desistiu daquilo e deitou-se na cama. Mas assim que fez isso, foi inundada por lembranças e pelas palavras de Draco.
Esta não é você.
Não. Não deveria importar-se com aquilo. Respirou fundo e limpou sua mente. Sua única meta agora era si mesma.
Draco Malfoy era apenas um sonserino.
E ela, a guardiã de um amuleto poderoso.

Cause I don’t know who I am, who I am without you
Porque eu não sei quem eu sou, quem eu sou sem você
All I know is that I should
Tudo o que eu sei é que eu deveria
And I don’t know if I could stand another hand upon you
E eu não sei se poderia suportar outra mão sobre você
All I know is that I should

Tudo o que eu sei é que eu deveria

:::  :::

N/a: Mais uma temporada, mais intrigas, mais brigas e mais paixões.
É, eu não podia abandonar tudo isso, e principalmente, vocês leitores queridos.
Agora... o que acharam desse começo?
Confuso? Interessante?
Hmm, ainda tem mais detalhes das férias... trarei isso em mais flashbacks.
Sobre a Hermione... gostaram da mudança? Querem que ela recupere um pouco do que era?
Sobre o Draco... bem, ele ainda vai se encrencar mto ;D
Lucy... o que houve com ela nas férias?
A música que ela canta é Where I stood da Missy Higgins.  
Anthony... um amigo perfeito? Talvez... esperem por mais hsuhshuhs
É isso... provavelmente o próximo capítulo só sai ano que vem, como presente de ano novo... depende da minha outra fic Magic and Mistakes, que vem tirando um pouco do meu tempo.
Mas é isso.
Espero que todos já estejam de férias, assim como eu (:
Feliz Natal para todos.
E um ótimo ano-novo *autora adiantada*
xoxo











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