Eu amava ler, era algo que eu apreciava desde que
mamãe me ensinara, mostrando-me aqueles livros grossos com belas histórias de
princesas, castelos e dragões encantados. Eu mal largava Hogwarts, uma História e era exatamente esse o livro que agora eu
folheava distraída.
Três dias e eu não ouvia notícia alguma dele. Três dias e a cena dele caindo metros e
mais metros não saia da minha mente. Até mesmo doente, ferido, adormecido...
ele era irritante! Qual a grande dificuldade em espalhar um mínimo boato que
seja? As pessoas fofocavam tanto nessa escola... e quando eu precisava de
noticias, ninguém sabia de nada!
“Malfoy
está morrendo”
“Malfoy
será que ele já abriu os olhos?”
“Pensei
que Malfoy e Weasley se odiassem”
Seja o que fosse, eu precisava de notícias, mas
aquele traste do seu melhor amigo não falava nada, apenas me encarava pelos
corredores e dava um sorrisinho sacana, como se risse de alguma piada interna.
Albus provavelmente entendia no que eu estava metida, mas aquele idiota não
fazia nada para me ajudar a me afastar do Malfoy.
– Por que está escondida? – uma voz falou e eu me
assustei, o livro caiu das minhas mãos e eu estava agora fitando os olhos
claros de Liam Davies.
– Eu não estou escondida – respondi de mau humor.
– Ninguém vem aqui na biblioteca, ninguém vem para
esse cantinho, tampouco ficam sentados no chão lendo... – Liam espiou o título
do livro – algo inútil.
Eu quis protestar, mas o sonserino sentou-se ao meu
lado e eu o fitei atônica.
– Eu te vi na enfermaria.
– Eu não fui
à enfermaria – respondi.
– Você foi até a porta, quis entrar, mas foi embora
correndo. Três vezes.
Okay, o que eu poderia dizer?
ISSO É MENTIRA! BLASFÊMIA! INJÚRIAS!
Era exatamente isso que eu queria gritar, mas Liam
me vira lá, seria inútil negar.
– Olha...
– Você está apaixonada pelo Scorpius.
Momento para gargalhadas!
Eu? Apaixonada? Pelo... Malfoy?
Era no mínimo uma grande piada!
– Quem bateu a cabeça foi ele, não você! Mas parece
o contrário – falei levantando-me, mas ele me puxou de volta.
Sua face agora era séria e o garoto me olhava com
atenção.
– Como ele está? – me vi perguntando e ele quebrou o
contato que havia entre nossos olhos. – Por Merlin! Diga algo! Ele me odeia?
Quer me azarar por ter levado o balaço destinado a mim? Quer matar Merlin por esse
acaso tão...
– Pare de dizer besteiras, Weasley – Liam falou e eu
me calei, surpresa.
– Como?
–Scorpius ainda não acordou.
Eu não sabia o que me deixava pior. O fato de que
ele estava na pior por minha causa ou o fato de que eu me importava com aquela
cobra maldito. Ok, éramos ainda os tais inimigos mortais, mas ele me salvara,
isso muda muito entre nós, mas não tudo.
– Você deveria ir vê-lo.
Olhei para Liam como se ele acabasse de confessar
ser uma bailarina.
– Para que? Para as pessoas terem uma prova de que
eu estou supostamente apaixonada por ele? – contestei com raiva.
– Weasley...
– Sabe o quanto é frustrante TODOS nesse castelo
fofocarem sobre você? Eu o salvei, Liam, porque ele me salvou primeiro. Eu fui
atrás dele, porque ele estava ferido. Não é minha responsabilidade visitar o
Malfoy. Ponto final.
Eu sabia que estava sendo infantil, mas eu não
aguentava mais as fofocas, todos olhando-me como se fosse a nova garota popular
de Hogwarts, agora não bastava a fama dos meus pais, eu tinha a fama de ser
mais uma das garotas enfeitiçadas por Scorpius Malfoy.
Ele fora o estúpido por não ver o balaço, ele fora o
idiota da história. Não deveria ser ágil? Era um jogador! Um dos melhores, mas
não conseguia ver nem ao menos um balaço vindo em sua direção.
E então eu percebi que chorava, Liam me olhava com
espanto, enquanto eu tentava em vão não soluçar.
– Ele é um estúpido! – falei ainda controlando tom
da minha voz antes que madame Pince me expulsasse dali – Um idiota cego e
que...
– Weasley... – Liam falou segurando meus ombros. –
Está na gora de você parar de negar que se importa com ele, porque claramente
você gosta de Scorpius.
Afastei-o de mim e levantei-me.
– Isso é o que você pensa, Davies! – falei com raiva
e sai dali em passos largos.
***
Respiração calma
demais.
Face calma
demais.
Merlin! Onde diabos estava o todo alegrinho Malfoy?
Onde estavam seus olhos cinzentos? Bufei e me
aproximei de sua cama, toquei seus cabelos loiros sem jeito enquanto tentava
imaginar o que ele tanto sonhava para ter uma expressão tão... calma.
Então ele
fizera uma careta de dor, mesmo com sua testa enfaixada, eu sabia que ele havia
um corte feio. Mas eu não me importava com isso agora, o fato era que ele estava
se mexendo e sentia dor. Ele ficaria bem, afinal. Peguei-me sorrindo, incapaz
de me controlar e vi seus olhos se abrindo devagar. As íris cinzentas me
fitaram, surpresas e confusas.
And the hardest part
Was letting go not taking part
And the strangest thing
was waiting for that bell to ring
It was the strangest start
– Weasley? – ele me chamou, e lembrei-me de que meu
nome fora a última coisa que ele falara. – Você está viva –falou quase
sussurrando e fez outra careta.
Levou uma mão até a têmpora e gemeu de dor. Eu quis
ajudá-lo de alguma forma, dizer um simples “Obrigado”,
mas antes que eu pudesse me mover, a porta da enfermaria foi aberta e eu me
abaixei, indo para baixo da cama de Scorpius Malfoy.
Ok, pausa! Eu estava escondida numa enfermaria por
causa de um Malfoy! Era muita sorte, SORTE DEMAIS!
– Filho! – uma voz feminina e maternal falou e
percebi uma movimentação na cama, como se alguém tivesse sentado ao lado do
Malfoy. – Como você está, querido?
Opa! Filho? Querido? O-ou. Impressão minha ou era a
mãe dele ali? Bem perto de mim? Pronta para pegar uma garota embaixo da cama do
filho?!
– Estou bem, mamãe – ouvi a voz de Scorpius e
percebi que ele estava ligeiramente nervoso.
Maldito!
Cadê seu teatrinho quando EU preciso? Se ele me denunciasse...
– Oi, pai – ouvi novamente a sua voz calma, mas
levemente tensa.
– O que aconteceu, Scorpius? – uma nova voz
contestou, dessa vez masculina, mais fria e eu agora entendia o porquê dele
temer o pai. Draco Malfoy parecia ser alguém rígido com a educação do filho.
– Eu fui acertado, simples assim. – Scorpius falou
mal-humorado.
– Você é um jogador.
– E acidentes acontecem, pai!
Eu estava agora morrendo de raiva do Sr. Malfoy.
Quem ele pensava que era para brigar com Scorpius assim que ele acordava?
Certo, era o pai! Mas mesmo assim, era injusto, ele me salvara, ele levara
um balaço, isso era quadribol, acidentes realmente aconteciam.
– Astie, vou falar com McGonagall – o Sr. Malfoy
falou e eu sentia cada vez mais vontade de azará-lo.
Ouvi a porta abrir e ser fechada e em seguida a voz
raivosa de Scorpius.
– Só queria saber o que fiz agora para ele estar
desse jeito.
– Seu pai está preocupado, Scorp! – A Sra. Malfoy
falou, censurando o comportamento do filho – você corria risco de vida, é
normal ele estar tenso, ninguém sabe de onde veio o balaço...
– Por favor, mamãe, não diga que ele ainda está
obcecado com aquilo!? – Scorpius
perguntou e eu senti uma pontada de curiosidade.
– Querid...
– Isso faz ANOS! Eu não quero que minha vida seja
diferente por algo estúpido.
– Algo que poderia custar sua vida.
– Os erros do passado são dele – Scorpius falou. –
Não meus.
– Filho...
A Sra. Malfoy não pode dizer nada, por a porta fora
aberta novamente.
– Tia, me disseram que ele... – uma voz doce começou
a falar e parou – SCORPIUS!
A garota gritou e seu grito era agudo e algo nela me
irritava, percebi que o peso na cama aumentou novamente, olhei para o lado,
pela sombra dos lençóis que me escondiam e percebi que a Sra. Malfoy estava agora
de pé, próxima a cama. E a garota pulara na cama.
– Por Merlin! Mia, eu estou bem – Scorpius resmungou
e eu percebi a intimidade em sua voz. Quem diabos era essa garota Mia?
– Bem?! – ela gritou. – Bem é a última coisa que
você está!
– Mia...
– Querido, irei atrás do seu pai antes que ele
destrua todo o castelo – a Sra. Malfoy falou, deixando-os a sós. – Tchau, Mia!
– Au Revoir
– a garota falou animada e em seguida saiu da cama.
Ela abaixou-se e eu senti meu coração bater forte
contra meu peito. Eu fora descoberta e agora ela me fitava divertida.
– Vou me lembrar de Rose Weasley se escondendo para
sempre! – a garota falou e eu me levantei, saindo de lá.
– Mia... – Scorpius começou.
– Nem vem primo, eu vi a Weasley entrar, mas fiquei
para fora, e quando percebi seus pais entrando, bem, eu sabia que isso iria dar
um rolo danado – a loira foi falando. – Mas então entro aqui e tudo está calmo demais.
– Quem é você? – perguntei avaliando ela da cabeça
aos pés.
– Ela é Mia Beckham – Scorpius foi falando. – Filha da
minha tia Dafne.
Ela sorriu e percebi suas vestes da corvinal, ao
menos não era sonserina, tampouco estava me esculachando.
– Desde quando vocês namoram? – a garota perguntou e
eu arregalei os olhos.
A expressão de Scorpius era idêntica a minha.
– Mia, nós não
namoramos.
A loira continuou a sorrir de forma cínica, o que me
lembrou Liam. Isso era irritante.
– Okay, vou... hm, dar privacidade para os
não-namorados – ela piscou e saiu andando da enfermaria numa pose nobre, típica
de alguém de uma família antiga.
A porta fechou-se num estalo e eu percebi que estava
sozinha com Malfoy.
Virei-me para ele e o silencio tornou-se sepulcral,
como se palavras tivessem sido abolidas de nossas vidas. Sentei-me na ponta de
sua cama e fitei o chão.
– Então... como está? – perguntei sem fitá-lo.
– Maravilhosamente bem – ele falou irônico e deixou
uma risada escapar – Poxa, Weasley, como acha que estou?
Eu o olhei emburrada e ele riu mais ainda, embora eu
visse ainda dor em seus olhos.
– Como você não viu aquele balaço? – perguntei com
raiva. – Poderia ter morrido.
Os olhos cinzentos pareciam surpresos e eu não
poderia negar, também estava surpresa, e muito, com minhas próprias palavras. A
mão dele foi até a minha, apoiada no colchão de qualquer jeito.
– E aquela história? O que aconteceu no seu passado?
O que poderia custar sua vida? – contestei lembrando-me das palavras da Sra.
Malfoy.
Ele ficou repentinamente receoso, como se a verdade
fosse feia demais para ser dita em voz alta, e percebi claramente que ele não
me daria resposta alguma.
O silêncio se prolongou e eu desejava que ele
abrisse a maldita boca. Fitei-o e percebi seus olhos brilhantes, como se ele
lutasse contra lágrimas. AI MEU MERLIN! Ele iria mesmo chorar?
– Scorpius, você não precisa me dizer se não quiser...
– comecei a falar e ele olhou-me com mais receio ainda.
– Por que é tão boa comigo?
Aquela pergunta, mais do que qualquer outra, me
pegara totalmente desprevenida. Scorpius era o último que poderia dizer isso
sobre mim.
– Boa? Hum, boa não é o que me define, eu te azaro,
te lanço feitiços e te deixo inconsciente por dias. Boa não é algo que sou... –
falei e ele me cortou mais uma vez.
– Você é mais do que boa, Weasley. – Malfoy falou e
sorriu. – Definitivamente.
Uma sensação estranha tomou conta do meu corpo e
senti minha face esquentar. Era impressão minha ou ele estava me elogiando
demais? O choque em sua cabeça devia ter destruído todos os seus miolos.
Levantei-me.
– Acho melhor você descansar... – ia dizendo, mas a
mão dele, que estava sobre a minha, segurou-me.
Olhei para ele e percebi seu pedido mudo.
“Fique”
Seu toque me causava arrepios e contra todas as possibilidades
eu me permiti ficar ali. Voltei-me novamente para ele, sentando-me na cama e
vendo-o sorrir. Olhei para a janela. O sol já havia partido há muito tempo e
agora uma lua brilhava fortemente no manto negro que era o céu.
– Seus pais podem voltar.
– Eu não me importo.
I could feel it go down
Bittersweet I could taste in my mouth
Silver lining the clouds
Oh and I
I
wish that I could work it out
Sua atitude era impressionante e lembrei-me do
garoto que outrora estava enfrentando o próprio pai. E então percebi o quanto
eles realmente eram parecidos, não só na aparência, mas no modo de ser. Talvez
a Sra. Malfoy estivesse certa, talvez Draco Malfoy amasse tanto o filho que
temesse perde-lo, afinal, para todos os efeitos, o filho correra um grande
perigo. E agora eu via, Scorpius também escondia que se importava, escondia tão
bem quanto o pai.
– Eu me importo – falei. – E você deveria descansar.
– Preocupada comigo, Weasley?
Não respondi, apenas percebi o quanto estava
cansada, o quanto meus olhos pesavam. Eu mal dormia, todas as vezes que fechava
os olhos eu o via, caindo. Desmoronando.
Senti uma dor no peito, um desconforto repentino e
fechei os olhos.
– Weasley? – a voz de Scorpius parecia distante, mas
ao abrir os olhos, estava próximo demais, segurando-me junto a ele.
Percebi que eu havia me curvado para frente, levei
minhas mãos às têmporas e respirei calmamente.
– Você está bem?
– Sim, estou. – respondi quando a dor passou.
– Weasley?
– Sim?
– Venha ao baile comigo.
Everything I know is wrong
Everything I do it just comes undone
And everything is torn apart
Fitei-o. Percebi
que Malfoy estava sendo sincero. Eu desviei meu olhar, incapaz de encará-lo por
mais tempo.
– Malfoy...
And the hardest part
– Não me importo com o que dizem...
– Mas...
Was letting go not taking part
– Não ligo para o que seus primos vão falar, não
tenho medo... da sua família, nossa inimizade pode ser apenas passado.
– Deixe-me falar!
– E...
You
really broke my heart
– Malfoy! – eu gritei e ele fitou-me finalmente,
ficando em silêncio. – Eu não posso ir com você. Eu... eu irei com Lysander.
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