Estamos aqui hoje reunidos pela memória de Rosie Weasley, a garota nerd de Hogwarts que está prestes a ser assassinada pelo pai, Ronald Weasley, auror do Ministério da Magia, caçador, portanto, de bruxos das trevas.
Acusação número um: namorar Scorpius Malfoy, filho do seu inimigo, o babaca que vivia inclusive ofendendo minha mãe nos tempos de Hogwarts, babaca conhecido como Draco Malfoy, ou sogrão.
Acusação número dois: esconder isso do pai, Ronald no caso.
Acusação três: ajudar o primo, Albus Severus Potter, a esconder também o seu namoro com Alynna MacIntyre, filha de um bruxo que conspirou no passado com Lord Voldemort.
Sessão do julgamento aberta!
– Esconder um namoro. ESCONDER UM NAMORO, ONDE JÁ SE VIU ISSO? – papai ia dizendo pela centésima vez e eu rolei os olhos. Albus estava sentado ao meu lado de qualquer jeito, com os braços cruzados na frente do corpo e uma expressão de tédio na face.
Tio Harry tinha vontade de trucidá-lo, e eu agora não sabia onde o cara calmo estava. Tudo bem, esconder por alguns dias um namoro era até compreensível, mas por meses? Era um pouco insano, algo descuidado.
– Rose Weasley, como você sequer cogita namorar o filhote da doninha, como...
– Ronald, acho que Rose sabe muito bem o que escolher, e lembre-se de que Scorpius não é Draco – mamãe foi dizendo e eu sorri.
Ela estava do meu lado. Yeah!
– Meu amor...
– “Meu amor” nada Ronald, eu não quero ver você brigando com a Rosie por causa disso, não quando ela estava sim planejando te contar, mas você por ser um cabeça dura iria com certeza dar seu show, então não venha com meu amor e não comece a difamar o menino que você sequer conhece!
– Mione...
– E não quero saber de você proibindo-a de namorar, porque me lembro muito bem de você na idade dela! – mamãe foi dizendo e eu vi tia Ginny e Harry se entreolharem e trocarem sorrisinhos e eu me peguei super interessada no passado dos meus pais.
– O que papai fazia? – perguntei, aproveitando que a situação mudou totalmente.
Ambos me olharam e eu vi mamãe realmente irritada, não comigo, mas com as lembranças, e uma veia pulsava em sua testa. Ela então saiu bufando e papai foi atrás dela, tentando redimir-se. Eu, recém livre, olhei então para meus tios e eles riam.
– Er, o que foi isso? – perguntei.
– Sua mãe ainda não deve ter superado o primeiro namoro do seu pai, sabe? – tio Harry falou – Ela sofreu muito quando ele namorava Lilá Brown...
– E o Rony também ficou louco quando sua mãe foi a um baile com Vitor Krum, um jogador famoso de quadribol – Ginny completou e eu ri. – Mas agora, mocinho, uma coisa é a Rose esconder namorar o Malfoy, mas você não nos contar sobre si mesmo?! Não parece ser algo típico de você, meu querido – ela foi dizendo.
Albus suspirou e eu percebi que ele estava bem despreocupado, parecia inclusive melhor, agora que a carga lhe foi tirada dos ombros.
– Bem, você conhece os MacIntyre... – Albus falou diretamente ao pai. – Alynna já teve, bem... acesso a conhecimentos que vão além dos ensinados na escola, é algo de família, as mais tradicionais sempre instruem os filhos nas artes antigas. Com ela não seria diferente. Ally é incrível e uma bruxa magnífica, e poderosa como toda a sua família. Um dia eu estava todo atrapalhado tentando fazer um simples feitiço e ela aparece rindo. Uma garota que tinha acabado de entrar em Hogwarts! Eu tinha sido nocauteado pelo Malfoy no duelo daquele dia, e agora vinha ela tirar sarro de mim e me desafiar.
– E você aceitou? Duelou com uma garota do primeiro ano? – tia Ginny perguntou repreendendo o filho.
– Sim – Albus falou e suas bochechas coraram. – Eu aceitei, porque ela era muito irritante! – ele exclamou vi pura sinceridade e vergonha nele e em seguida ele estava mais vermelho. – Então ela me atacou e eu tentei repelir, mas o ataque era forte e...
– Uma garota te venceu?! – Harry falou transtornado e Ginny lhe deu um tapa no ombro.
– Garotas podem sim vencer, ouviu Sr. Potter? – ela falou e se virou para o filho. – Continue, querido.
Percebi que minha tia estava adorando a história de Albus e ele riu da cena entre os pais.
– Bem... nós brigamos depois disso e ela me azarou. Fiquei um dia inteiro na enfermaria até madame Pomfrey me fazer parar de me coçar inteiro. – Albus falou com certa raiva. – Toda vez que nos víamos eram apenas olhares de ódio um para o outro. Até o ano passado. O clube de duelos abriu e eu me inscrevi logo que soube. E quem eu ganho de par? Alynna. Ela era um ano mais nova, mas estava num nível superior aos outros de sua turma, então o professor a colocou comigo.
– Oh meu Merlin! – Harry exclamou – é por isso que você me pedia aulas de duelos antigamente? Você queria ganhar dela!
Tia Ginny olhou de um para outro. E sorriu. Albus estava da cor dos meus cabelos.
– Não, amor... – minha tia falou. – Albus queria impressioná-la.
Céus! Ela sabia tudo sobre o filho e sobre garotos, porque nesse momento Albus parecia parte da poltrona, visto que se afundou nela e colocou uma almofada no rosto, para evitar ver qualquer um, como se assim, também não pudessem vê-lo.
Então, nesse momento, ocorreu-me uma lembrança, algo que eu não fazia idéia de que ainda pudesse lembrar.
***
Uma garota de estatura mediana ergueu-se de forma nobre ao ser chamada. Ela usava uma saia de um cinza muito forte, quase negro e uma camisa branca. As meias três quartos e a sapatilha combinavam com ela perfeitamente. Não usava a gravata do uniforme e tinha já se livrado do pulôver que usava há pouco. Apenas o brasão esverdeado e com uma serpente destacava-se na frente de sua camisa, onde ela colocara o broche e aparecia nem se dar conta disso. Os cabelos negros estavam presos num coque. A garota parecia entediada.
Um homem olhou a sala, à procura de sua vítima. Ele era um senhor excêntrico, com vestes roxas e uma capa verde caindo-lhe pelas costas. Usava óculos na ponta do nariz e os cabelos eram de um castanho quase loiro.
“Sr. Potter?” o professor chamou procurando o garoto por entre os alunos. Meu primo me olhou entediado e eu dei de ombros e o empurrei para o meio do salão. Quando fitei a turma da sonserina, alguém me olhava fixamente e eu fuzilei o ser com os olhos. Scorpius Malfoy era um idiota e eu esperava que ele fosse nocauteado pelo duelista que fosse seu adversário.
“Cumprimentem-se” o professor pediu e meu primo fez uma reverência à menina sonserina. Ela fez o mesmo e eu percebi ambos sorrirem um para o outro. Outro aviso foi dado e o duelo principiou. Albus desviou do primeiro feitiço, porém quase foi pego pelo segundo. A garota tinha movimentos belos e leves, não duelava com violência, mas sim, calma. Como se aquilo fosse algo comum a ela e natural, o que eu não duvidava que fosse. Ela conjurou aranhas e as mesmas pularam de sua varinha e foram direto para Albus, que se assustou por um segundo. No outro ele as incendiou e pegou-a de surpresa. A menina preparou outro ataque, porém Albus já tinha sua varinha em sua direção. Ambos pararam, não se moveram por alguns instantes e fitaram-se de forma intensa.
“Muito bem, Sr. Potter” o professor falou batendo palmas. “Belos movimentos, Srta. MacIntyre!” completou, mas eu vi a garota fuzilar meu primo com o olhar.
***
– Ally queria me matar depois que eu venci, porém ela não o fez, obviamente. – Albus falou.
– E como vocês acabaram juntos? – perguntei estranhando aquilo tudo.
– Eu e ela? Rose, acorda! Eu gostava dela desde o duelo quando eu estava no segundo ano! No terceiro havia um sapo de chocolate dela nas minhas coisas, bem no dia dos namorados, não sabia que Alynna era a dona do presente, mas descobri depois, e no quarto ano, depois desse duelo, ela veio até mim e disse que eu era um ótimo duelista. – Albus foi falando. – Então eu a convidei para ir a Hogsmeade. Ela disse não.
– Céus! Por quê? – eu me peguei falando.
– Pelo mesmo motivo que você não queria falar sobre Scorpius. Pelo mesmo motivo que eu guardei segredo até agora.
Meu primo olhou para os pais e desviou o olhar logo em seguida. Eu me sentia meio péssima por dar tanta magnitude ao meu segredo quando Albus estava com mais problemas.
– Ainda não entendo, filho... – Ginny foi dizendo.
– Ally e eu começamos a namorar quando eu terminei o quarto ano. – Albus falou. – Desde então ela tenta dizer aos pais isso, mas é complicado, sabe? Como dizer, “hey pai, eu to namorando o filho do Potter, o cara que quase te condenou a Azkaban...” – respirou então de forma pesada. – Não dá... ela não consegue. E eu disse que só contaria depois dela.
Albus então olhou para a mãe como se fosse um bebê com fome e todo choroso. E só então eu percebi que não era só os filhos do trio maravilha que tinham problemas para lidar com essa situação. Alynna era sonserina. E namorava um grifinório. O mesmo acontecia com Scorpius. Céus! Ele seria torturado pelo Sr. Malfoy! O que eu faria sem o meu Malfoy?!
Foi então que eu vi Roxanne e Liam aparecerem na porta e sorrirem. Eles tinham as mãos juntas e minha prima parecia bem feliz.
– Adivinhem! Teddy e Vick então aqui! – Rox falou e Albus pulou de onde estava. Agora bem mais animado saiu à procura do mais velho.
Cheguei à sala e vi Victoire Weasley, linda, loira e maravilhosa, rindo junto com Molly. Teddy agora apertava as mãos do vovô e quando olhou para mim, abriu um sorriso enorme.
– Veja se não é a pequena Rosie! – falou e veio correndo me abraçar e levantou-me do chão, desarrumando todo o meu cabelo. – Eu e Vick temos um trabalho para você, Rox, Molly e Nick.
– O que é? – perguntei.
Ele sorriu e olhou para tio Bill e tia Fleur. Victoire aproximou-se dele e ele pegou-lhe a mão. Eles eram um casal tão lindo que eu me peguei com certo ciúmes, será que eu um dia teria o que aqueles dois tinham? Ela o olhava de forma tão apaixonada e eu não via menos nos olhos de Teddy Lupin.
– Eu e Vick vamos nos casar!
Minhas primas cobriram as bocas com as mãos, que agora estavam convertidas num perfeito “o”. Eu estava muito feliz por eles e fui logo abraçando Vick.
– Você será uma das madrinhas, Rose! Diga que sim! – ela disse. – Ficará linda com um vestido todo rosa!
Eu ri, sabendo que adoraria experimentar vestidos com as garotas e aceitei na hora.
– Não acredito! Vocês se casando! – Roxanne foi falando. – É como um conto de fadas!
Nick falava animadamente com Molly e Vick sobre vestidos e preparativos, enquanto vovó insistia na cerimônia ser no jardim, como a de Bill e Fleur foi. E a francesa dizia que a filha ficaria linda com seu vestido de noiva.
Acabei me afastando deles e sai da casa, resolvendo por andar no jardim, estava já cansada de todo o movimento desde o almoço e queria sossego. Um casamento! Isso seria ótimo! Vi-me pensando e sentei-me perto de uma árvore. Estava frio, porém eu não me importava muito com a neve, até achava-a bela demais.
– Você deveria falar com Lily – uma voz falou e olhei para cima. Lysander estava agora empoleirado num dos galhos e eu havia me esquecido de como ele conseguia ser bizarro às vezes. Agora prestando atenção nele eu me recordava disso. Havia ao redor de seu pescoço um colar colorido e com vários pingentes estranhos.
Ele percebeu o que eu olhava.
– Isso protege contra maus espíritos – Lys foi dizendo. – Eles geralmente infestam os sonhos. E eu odeio ter pesadelos – falou com uma voz meio distante, mas em seguida me fitou mais animado. – E siga meu conselho: fale com Lily.
O loiro então agarrou o galho com força e girou o corpo, deixando o mesmo pendurado. Ele estava a pelo menos três metros do chão e eu temia que ele despencasse.
– Lysander, cuidado! – falei e me levantei.
Entretanto, meu medo era desnecessário, ele acabou indo para um galho mais baixo e pulou os metros que restavam, caindo bem próximo a mim.
– Ela está arrependida do que fez – ele falou e um vento bateu em mim e eu me arrepiei. – Tenho que ir... – falou em seguida. – Lorcan queria jogar um pouco de quadribol com os garotos ainda hoje e eu quero vencê-lo.
Eu ri tristemente e abaixei a cabeça.
– Lys... me desculpe pelo que houve, sabe? Eu deveria saber que eu estava bebendo alguma poção, deveria ter reconhecido e...
– Você estava drogada, Lorcan não, Rose. Essa é a diferença. – o loiro falou e suspirou – Você foi meu primeiro amor, Rosie – disse de forma tão melancólica que eu quis abraçá-lo – Mas você nunca foi minha, e eu... eu já penso em você assim.
Lysander sorriu bobamente e eu estranhei.
– Lys... você está gostando de alguém? – perguntei e o garoto sorriu mais ainda e me abraçou forte.
Era tão bom tê-lo como amigo. Sentia-me horrível por tê-lo usado um dia. Como eu conseguia ser tão estúpida? Lysander afastou-se e beijou minha testa.
– Talvez, Rosie. Talvez...
O loiro afastou-se e largou-me de vez. Vi ele entrar na casa e eu olhei então para o céu esbranquiçado. Um pássaro voava longe e eu me peguei pensando em Scorpius.
– Rosie! – ouvi alguém me chamar e ao olhar para a fonte de som vi Albus e James com suas vassouras. – Venha jogar!
Eu sorri. Não era fã de esportes, mas adorava estar perto daqueles malucos.
– Estou indo!
Acho que agora tudo ia ser mais fácil.
Era o que eu esperava.